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CAPÍTULO II A LUDICIDADE E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

2. Desenvolvimento cognitivo

2.1. Primeiros estudos e definição de desenvolvimento cognitivo

O desenvolvimento cognitivo tem forte relevância entre os domínios da psicologia mais dinâmicos. Ao longo de várias décadas, este foi um dos domínios de maior pesquisa que fez surgir várias teorias, sendo a de Jean Piaget a mais conhecida e a que mais contribuíu significativamente para a revolução das ciências cognitivas, no final dos anos sessenta.

A teoria de Piaget, acerca do desenvolvimento sensoriomotor, publicada em 1952, fez emergir o estudo sobre o bebé. Ao acumularem-se conhecimentos durante os últimos quarenta anos, descobriu-se que “o desenvolvimento cognitivo não corresponde a uma simples progressão linear para habilidades mais complexas em função da idade” (Blaye & Lemaire, 2007, p. 13), mas constatou-se que “a atividade cognitiva do bebé e da criança pequena é muito mais sofisticada do que os trabalhos de Piaget faziam supor, ao passo que a criança mais crescida é menos <competente>” (Flavell, Miller e Miller, 2002 cit in. Blaye & Lemaire, 2007, p.13).

Os grandes fundadores da cognição humana estão funcionais desde os primeiros meses de vida. Por isso, ao contrário do que as teorias tradicionais defendem, a psicologia cognitiva atual do desenvolvimento, não descreve o bebé de uma forma negativa em relação à criança com mais idade, ou seja, não o apresenta como um ser incapaz de atividades cognitivas como a representação mental e a memória. Desta forma, cada vez mais nos afastamos da perspetiva que William James descreveu, no final do século XIX, em que era visto “o mundo do recém-nascido como uma <buzzing, blooming confusion>” (Blaye & Lemaire, 2007, p. 13)

Hoje em dia, o bebé é visto como um “aprendiz ativo, que está equipado com competência inatas, as quais, embora primitivas, lhe permitem tirar proveito de forma ideal das suas experiências com o ambiente físico e social” (Rochat, 2006 cit in. Blaye & Lemaire, 2007, pp. 13, 14), uma vez que “essas experiências levarão a criança a enriquecer e a rever as suas primeiras compreensões do mundo, e mesmo a substituí- las por novos conhecimentos” (Blaye & Lemaire, 2007, p. 14). Contudo, esta descrição contrasta com a perspetiva de Piaget, que “postulava que a criança pequena tinha

unicamente como recursos reflexos e processos de aquisição como a assimilação e adaptação” (Piaget, 1936, 1937 cit in. Blaye & Lemaire, 2007, p. 14).

De uma forma geral, o desenvolvimento cognitivo, segundo Piaget, durante a primeira infância faz-se por fases e implica conhecimentos de natureza sensoriomotora, ou seja, uma criança só percebe o mundo, tendo em conta uma perceção dele e atuando sobre ele.

Até aos anos sessenta, existia um consenso geral na medida de “atribuir a subestima das habilidades cognitivas da criança muito pequena à ausência de ferramentas metodológicas adequadas” (Clifton, 2001 cit in. Blaye & Lemaire, 2007, p. 14). Quer as competências verbais, quer as motoras, são limitadas e uma resposta motora ou verbal incorreta, pode omitir uma compreensão parcial do desenvolvimento cognitivo.

Além disso, à medida que os fundamentos do desenvolvimento cognitivo são mais elaborados do que o que se pensou, incomodou a visão tradicional da cognição infantil que até ali tinha dominado uma significativa parte do século XX. Esta incerteza, segundo Meltzoff e Moore, em 1998, levou alguns especialistas da psicologia do desenvolvimento cognitivo a concluir que este domínio da psicologia encontra-se atualmente em crise (cit in. Blaye & Lemaire, 2007, p. 14). E esta provém de já não existir uma estrutura teórica comum à natureza da competência cognitiva durante a primeira infância. Consequentemente, os últimos anos correspondem a um período tanto estimulante como frustrante a todos os empenhados em estudar a cognição do bebé.

De referir ainda, que a cognição tem um passado de aproximadamente quase quatro biliões de anos, mas apenas com cem anos de história.

Segundo uma perspetiva filogenética, Cruz & Fonseca (2002, p.13) abordaram a emersão da cognição apartir da ação e motricidade ideacional, inerente à espécie humana, o que permite

“pôr em jogo a sua planificação, e simultaneamente predizer os seus efeitos e antever em que circunstâncias deveria ser regulada e controlada, com o objetivo de atingir determinados fins, ora de sobrevivência, ora de prazer pessoal ou de utilidade social” (Cruz & Fonseca, 2002, p. 13)

Além do mais, os autores referem ainda que a essência da cognição passa pela “propensibilidade para a resolução de problemas”, ou seja, da capacidade que a

espécie humana tem em se adaptar, uma vez que esta foi operada ao longo do passado e, hoje em dia, se opera e certamente, num futuro próximo, irá ser operada.

Contudo, definindo o conceito de cognição, este é sinónimo de “ato ou processo de conhecimento” (Cruz & Fonseca, 2002, p. 20), onde sabemos que envolve a contribuição de vários componentes, sendo eles, a atenção, a perceção, a emoção, a memória, a motivação, a integração e a monitorização central, o processamento sequencial e simultâneo, a planificação, a resolução de problemas e a expressão e comunicação da informação, isto é, a natureza da cognição “compreende os processos e produtos mentais superiores, (...) através dos quais percebemos, concebemos e transformamos o envolvimento (...) Não é uma coleção, mas um sistema complexo de componentes” (Cruz & Fonseca, 2002, p. 21).

Desta forma, este tema tão mencionado na área da neuropsicologia e do desenvolvimento infantil, não se apresenta simples de definir e entender. Na nossa investigação, entendemos que falar acerca do desenvolvimento cognitivo implica, anteriormente, abordar o conceito de cognição. E para isso, até hoje, não é clara como deveria ser, uma vez que se atribui um significado de “qualquer coisa que tem a ver com o cérebro”. Posto isto, entendemos que a cognição refere-se ao conjunto de habilidades cerebrais e mentais que são necessárias à obtenção de conhecimento acerca do mundo. Contudo, este conceito remete-nos aos processos cognitivos que se desenvolvem desde a mais tenra idade, até aos anos do envelhecimento. Todo este desenvolvimento é relacionado diretamente com a aprendizagem, ou seja, não ocorre um sem o outro. Assim, este processo acontece e dá-nos a noção de desenvolvimentos no crescimento:

Desenvolvimento

Adaptação Aprendizagem

Deste modo, podemos então falar de desenvolvimento cognitivo como sendo um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo e tudo o que os rodeia, ao longo da vida. E é desta forma, que ao falarmos em conhecimento ao longo da vida, nos referimos sobretudo, à ação a que estamos sujeitos de adaptação ao meio.

Por conseguinte e após uma definição de desenvolvimento cognitivo, importa saber qual é a principal questão a ser respondida pelo estudo deste tipo de desenvolvimento e interessa-nos responder de que forma os especialistas se preocupam com o modo em que os processos relacionados com a cognição se vão estruturando em etapas específicas do desenvolvimento.

Em jeito de conclusão, podemos admitir que o desenvolvimento cognitivo nada mais é, do que um desenvolvimento do conhecimento, todos os dias, com vários tipos de conhecimento, e com isso, permite-nos aprofundar ainda mais determinado saber, estando sujeito então, a um desenvolvimento complexo ao nível da cognição.

2.2. Perspetivas psicológicas sobre o desenvolvimento