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CAPÍTULO II INOVAÇÕES E ESPECIFICIDADES DO “NOVO” SISTEMA

2. Princípios da avaliação do desempenho

A avaliação do desempenho subordina-se a determinados princípios referidos no art. 5.º da Lei n.º 66-B/2007.

Antes de prosseguir, convém ter presente a distinção entre regras e princípios. Nesta análise vamos seguir de perto a distinção de Gomes Canotilho, segundo o qual as regras «são normas que, verificados determinados pressupostos, exigem, proíbem ou permitem algo em termos definitivos, sem qualquer exceção (direito definitivo)»; os princípios «são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fácticas e jurídicas. Os princípios não proíbem, permitem ou exigem algo em termos de “tudo ou nada”; impõem a otimização de um direito ou de um bem jurídico, tendo em conta a “reserva do possível, fáctica e jurídica”»102.

De acordo com o referido art. 5.º o SIADAP subordina-se aos seguintes princípios:

i. Coerência e integração, alinhando a ação dos serviços, dirigentes e trabalhadores na prossecução dos objetivos e na execução das políticas públicas: participação ativa de todos os intervenientes (trabalhadores, dirigentes, organização);

ii.Responsabilização e desenvolvimento, reforçando o sentido de responsabilidade de dirigentes e trabalhadores pelos resultados dos serviços, articulando melhorias dos sistemas organizacionais e processos de trabalho e o desenvolvimento das competências dos dirigentes e dos trabalhadores;

iii. Universalidade e flexibilidade, visando a aplicação dos sistemas de gestão do desempenho a todos os serviços, dirigentes e trabalhadores, mas prevendo a sua adaptação a situações específicas;

101 Cfr. art. 59.º da Lei n.º 66-B/2007.

iv. Transparência e imparcialidade, assegurando a utilização de critérios objetivos e públicos na gestão do desempenho dos serviços, dirigentes e trabalhadores, assente em indicadores de desempenho. Ou seja, transparência na condução do processo avaliativo, desde a contratualização (regras contratualizadas com todos e conhecidas por todos) à homologação, com publicidade de atos obrigatórios, concedendo visibilidade interna e externa;

v. Eficácia, orientando a gestão e a ação dos serviços, dos dirigentes e dos trabalhadores para a obtenção dos resultados previstos;

vi. Eficiência, relacionando os bens produzidos e os serviços prestados com a melhor utilização de recursos;

vii.Orientação para a qualidade nos serviços públicos: a qualidade é hoje universalmente reconhecida e aceite como a satisfação do cliente a custos adequados e tornou-se um imperativo para todas as organizações públicas e privadas, face à crescente consciencialização que os consumidores e utentes de bens ou serviços possuem dos direitos que lhes estão atribuídos. Mais do que uma nova teoria, a qualidade é uma filosofia de gestão para qualquer organização que queira ser credível ou socialmente útil, tendo-se tornado num movimento irreversível e imparável. A Administração Pública não pode ficar imune a esta nova forma de gestão, uma vez que está sujeita às mesmas pressões e aos mesmos constrangimentos que as empresas, o que a obriga a reconverter métodos de gestão e funcionamento, sistemas de organização e princípios de legitimação, tendo em vista a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos e à ação governativa. A ideia de qualidade nos serviços públicos é hoje um imperativo, quer porque os cidadãos são cada vez mais exigentes em relação aos serviços que a Administração Pública lhes presta, quer porque os funcionários e agentes aspiram a que o seu trabalho seja mais responsável, mais gratificante e mais rico sob o ponto de vista do seu conteúdo funcional. Além disso, os custos económicos e sociais resultantes da ausência de qualidade dos serviços públicos são cada vez maiores e mais pesados para o cidadão e para os agentes económicos. Não é sustentável manter por muito mais tempo a convicção que ao dinamismo das empresas, correndo contra o tempo em busca da qualidade, se contrapõe uma

administração Pública paralisante, formalista, desmotivada, de modelo burocrático, muito pouco preocupada com a ideia da qualidade do serviço prestado. A Administração Pública, quer pelo volume de trabalhadores que enquadra, quer pelas verbas orçamentais que movimenta, é uma importante organização produtiva, influenciando direta ou indiretamente toda a nossa economia. Por isso, não fazia sentido que ignorasse o movimento mundial para a qualidade, pois condenaria o País a um a um atraso progressivo e irreversível em relação aos países que já fizeram a opção pela qualidade103;

viii. Comparabilidade dos desempenhos dos serviços, através da utilização de

indicadores que permitam o confronto com padrões nacionais e internacionais, sempre que possível;

ix. Publicidade dos resultados da avaliação dos serviços, promovendo a visibilidade da sua atuação perante os utilizadores;

x. Publicidade na avaliação dos dirigentes e dos trabalhadores;

xi. Participação dos dirigentes e dos trabalhadores na fixação dos objetivos dos serviços, na gestão do desempenho, na melhoria dos processos de trabalho e na avaliação dos serviços;

xii.Participação dos utilizadores na avaliação das unidades orgânicas.

Neste âmbito, importa sublinhar que Ana Fernanda Neves sintetiza os princípios da avaliação do desempenho da seguinte forma: «os princípios determinantes da correção (otimização e validade) da avaliação de desempenho são o princípio da predeterminação dos parâmetros avaliativos, o princípio da objetividade, o princípio da igualdade, o princípio da publicidade e o princípio da coordenação»104.

No que concerne ao princípio da predeterminação dos parâmetros avaliativos, destaca que «a essência da avaliação reside na possibilidade do trabalhador poder adequar o seu débito laboral ao pretendido pelo empregador em cada ciclo avaliativo. Se os resultados e

103Cfr. preâmbulo do Decreto-Lei nº 166-A/99 de 13 de maio, que cria o sistema de qualidade em serviços públicos.

competências, que o traduzem, não forem fixados no início desse ciclo, ou com a antecedência necessária a essa adequação, a própria avaliação fica prejudicada»105.

Relativamente ao princípio da objetividade defende que o mesmo «reclama o conhecimento informado (em regra, advindo do contacto funcional) do trabalho do avaliado por parte do avaliador, a possibilidade de demonstração do juízo avaliativo e a garantia de não intercorrência de motivo que possa obstar a uma avaliação justa (imparcial e isenta)»106.

No que se refere ao princípio de coordenação sublinha que o mesmo exige «articulação entre os três níveis de avaliação (do serviço, dos dirigentes e dos trabalhadores) e entre os parâmetros de avaliação dos trabalhadores na relação entre si numa dada unidade orgânico- funcional. A coordenação é um instrumento de justiça da avaliação. Por isso, prevalece o entendimento do órgão de coordenação no caso de divergência com o órgão avaliador»107.

Quanto ao princípio da publicidade acentua que «a avaliação pauta-se pelo princípio da publicidade dado o respetivo caráter funcional, não existirem elementos subtraíveis ao conhecimento no exercício do direito à informação procedimental e do direito de acesso aos arquivos e registos administrativos (art. 268.º, n.os 1 e 2, da CRP), nem à divulgação, para conhecimento geral, dos seus resultados. A avaliação do desempenho tem uma relevância central na situação laboral do trabalhador, por ditar as possibilidades de evolução profissional. Os trabalhadores podem, ademais, ter interesse em impugná-la, pois a remoção ou correção da notação de um trabalhador pode reverter em seu benefício. Pressupõe-se, como tal, o seu conhecimento»108.

Por fim destaca o princípio da igualdade «no sentido da atribuição de menções qualitativas e quantitativas segundo o desempenho (diferenciado) dos trabalhadores, para garantia do que são suscetíveis de contribuir a fixação de percentagens máximas para as menções superiores. A igualdade postula, previamente, a fixação de critérios equitativos de avaliação para um dado conjunto de trabalhadores e a sua fixação em termos tais que previna o risco do seu afeiçoamento (e de parcialidade)»109.

105 IDEM, ibidem. 106 Ibidem, pp. 490-491. 107 Ibidem, p.491. 108 IDEM, ibidem. 109 IDEM, ibidem.