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Capítulo 1. Áreas protegidas no mundo e no Brasil

1.1 Aspectos evolutivos no mundo

1.1.2 Princípios e categorias

Área protegida é definida pela IUCN, em 1998, como uma superfície terrestre e/ou marinha especialmente consagrada à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados e manejados por meios jurídicos ou outros meios eficazes. São espaços essenciais para a conservação da biodiversidade, com importância nacional e internacional por manter o funcionamento do ecossistema natural; são áreas de refúgios de espécies de fauna e flora que favorecem a manutenção e a integridade dos processos ecológicos (UICN, 2008).

Paralelamente ao crescimento da quantidade de áreas de proteção no mundo, ocorreu a ampliação da quantidade de categorias de manejo e a diversificação de finalidades, objetivos e normas para as mesmas (WWF-BRASIL, 2008). Até o início da década de 1990, as categorias de áreas protegidas eram estabelecidas de acordo com diferentes formas de conservação da natureza e da cultura em cada país.

Em 1992, durante o IV Congresso Nacional de Parques realizado em Caracas, na Venezuela, destacou-se, pela primeira vez, a importância do aumento da quantidade de áreas protegidas no mundo, a fim de ampliar a condição de sustentabilidade mundial e abranger desde países com áreas naturais mundialmente “famosas” até países com paisagens de importância cênica e cultural singulares. Entretanto, não havia uma linguagem mundial igualitária para a classificação das categorias de manejo, com princípios voltados à conservação4 e manutenção desses espaços. Em estudos da UICN (1998), identificou-se mais de cento e quarenta nomes de áreas protegidas no mundo, o que levantou a necessidade de ordenar essa diversidade com o objetivo da conservação mundial igualitária. Com isso, iniciou-se um projeto de deiniciou-senvolvimento das categorias de manejo com terminologia mundial, a fim

4 Conservação da natureza é o manejo dos recursos do ambiente - ar, água, solo, minerais e espécies viventes, incluindo o homem - de modo a conseguir a mais alta qualidade da vida humana sustentada. Nesse contexto, o manejo dos recursos inclui prospecção, pesquisa, legislação, administração, preservação, utilização, educação e treinamento (UICN, 1999).

de direcionar os diferentes usos dessas áreas e sua manutenção, conservação e sustentabilidade (UICN, 1998).

Essas categorias foram desenvolvidas por meio de alguns princípios básicos de manejo:

investigação científica, proteção das zonas silvestres, preservação das espécies e diversidades genéticas, manutenção dos serviços ambientais, proteção das categorias naturais e culturais específicas, turismo e recreação, educação ambiental, utilização sustentável dos recursos derivados dos ecossistemas naturais e manutenção dos atributos culturais e tradicionais (UICN, 2008).

Considerando que os princípios básicos de manejo para conservação e manutenção podem ser estabelecidos em diferentes áreas protegidas, com diferentes usos dos seus recursos e classificados de acordo com critérios para a sustentabilidade, estabeleceram-se as categorias descritas no quadro 1.

Ressalta-se que toda categoria de manejo é uma contribuição para a biodiversidade e deve ser escolhida por meio de suas particularidades ambientais, sendo que nem toda categoria é utilizada igualmente em diferentes situações. As categorias são representativas da qualidade de preservação das áreas, sendo numeradas de I a VI, sendo que I possui a menor escala de degradação da natureza e VI, a maior escala de degradação (IUCN, 2008).

Tal classificação permite uma abordagem diferenciada de formas de manejo para a proteção dos sítios, estabelecendo condições mínimas para conservação do ambiente com a visitação, em ambientes previamente identificados para o uso público. Com o objetivo voltado à preservação, restrições são impostas, muitas das quais podem anular as atividades extrativistas de comunidades locais e tradicionais, proibindo as práticas não aliadas à retirada dos recursos de forma sustentável.

A proposta de um sistema de áreas protegidas em âmbito global permite interpretar que esses espaços naturais deveriam funcionar como um conjunto de ações que contribuam para a conservação da biodiversidade in situ em todo o planeta. Sugere ainda que as áreas protegidas dos diferentes biomas mundiais funcionem em conjunto para integridade da conservação da natureza e que, para isso, devem ser estabelecidas categorias de conservação desses espaços (IUCN, 2008).

Quadro 1 - Categorias de áreas protegidas

Como o interesse desta dissertação recai sobre os parques nacionais, desenvolveremos o aprofundamento e a conceituação dos mesmos. Segundo a UICN (2008), parques nacionais são áreas protegidas manejadas principalmente para a conservação do ecossistema e com fins de recreação, o que permite sua abertura para o uso público direcionado ao lazer e ao turismo.

Trata-se de uma:

[...] área terrestre e/ou marinha, designada para proteger a integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para as gerações atuais e futuras, excluindo todo tipo de ocupação e exploração na área, proporcionando atividades espirituais, científicas, educativas, recreativas e turísticas, estas sempre direcionadas a objetivos voltados à conservação ambiental. (UICN, 2008: 3p.)

Nas primeiras criações de áreas protegidas, como já citado, havia apenas uma categoria de classificação - o parque nacional. Ao se examinar o emprego da denominação “parque nacional”, percebe-se que esse termo passou a se tornar mais importante do que seu próprio significado, sendo inclusive empregado “para o convencimento político e popular da necessidade de criação de Áreas Protegidas no caso de países menos desenvolvidos”

(MARETTI, SALLES e COSTA, 1992).

O movimento de criação de parques nacionais foi levado a efeito por pessoas que acreditavam na conservação e proteção dos lugares mais selvagens e “bonitos” do mundo. Com o passar do tempo, a linha desenvolvimentista foi ganhando espaço com a ideia da conservação ao lado do desenvolvimento. Quintão (1983), por exemplo, justifica a criação de um parque nacional na Suíça, em 1914, da seguinte forma: “[...] um laboratório de pesquisa de flora e fauna a longo prazo nos Alpes, que não provocasse alterações nas condições naturais e nem permitisse efeitos decorrentes de qualquer atividade humana”.

Mesmo com a criação de vários parques nacionais no mundo, não havia um consenso sobre a sua definição como áreas protegidas. Foi apenas em 1933, com a Convenção para a Preservação da Fauna e Flora em seu Estado Natural, realizada em Londres, que se passou a considerar os seguintes espaços como parques nacionais:

 Áreas controladas pelo poder público e cujos limites não poderiam ser alterados, em que nenhuma parte poderia estar sujeita a alienação, a menos que decidido pelas autoridades legislativas competentes.

 Áreas estabelecidas para propagação, proteção e preservação da fauna silvestre e da vegetação nativa e para preservação de objetos de interesse estéticos, geológicos, pré-históricos, arqueológicos e outros interesses científicos, para o benefício e desfrute do público em geral.

 Áreas onde a caça, o abate ou a captura de fauna e a destruição ou coleta de fauna deveriam ser proibidos, exceto sob a direção ou controle das autoridades responsáveis.

 Áreas nas quais poderiam ser construídas instalações para auxiliar o público em geral a observar a fauna e flora (BRITTO, 1995, p. 23).

1.2 Aspectos evolutivos no Brasil