• Nenhum resultado encontrado

Princípios Específicos da Seguridade Social

III – PROTEÇÃO SOCIAL E O IDOSO NO BRASIL

3.1 A proteção social na Constituição Federal de

3.1.2 Princípios Específicos da Seguridade Social

A Seguridade Social apresenta princípios afeitos à especificidade de sua matéria, servindo de corolário às demais normas. O artigo 194, da Constituição Federal de 1988, prescreve como princípios da Seguridade Social86:

- universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação do custeio; diversidade da base de financiamento; caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

O Artigo 195, caput e § 5, por sua vez, contempla dois princípios da Seguridade Social, quais sejam, o princípio da solidariedade e o princípio do custeio prévio, como adiante transcrevemos:

Art. 195 - A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos

86 O artigo 194, da Constituição Federal de 1988, prescreve como objetivos o que a doutrina entende

como princípios, senão vejamos a letra da lei: Art. 194: A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único - Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Alterado pela EC 20/98).

LXXXV

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

[...]

§ 5. Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

No entanto, de conformidade com o objeto do presente trabalho, abordaremos apenas os princípios a seguir relacionados:

i. da universalidade;

ii. da seletividade e distributividade;

iii. da gestão democrática e descentralizada; iv. do custeio prévio;

v. da solidariedade.

Desta feita, passemos a análise dos princípios supracitados: i. Princípio da universalidade:

O artigo 194 da Constituição Federal de 198887 consubstancia o princípio da

universalidade, na medida em que retrata a necessidade de implantação de um sistema de participação de todos os membros do Estado Brasileiro, visando assegurar o direito à saúde, à previdência e à assistência social.

Nessa acepção, Zélia Luiza Pierdoná defende no artigo intitulado, A Proteção Social na Constituição de 1988:

A seguridade social, fruto do constitucionalismo social que conferiu dignidade constitucional à questão social, é o instrumento utilizado pelo Estado para realizar o bem-estar e a justiça sociais, o que somente será realidade quando todos tiverem acesso a um padrão mínimo. Por isso, o princípio da universalidade é intrínseco à seguridade, na medida em que cabe ao Estado e à sociedade garantir a todos o mínimo necessário (Pierdoná, 2007, p. 04).

87 O art. 194 da Constituição Federal de 1988 traz em seu texto: “A seguridade social compreende um

conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.

LXXXVI

A realidade protetiva de nosso ordenamento jurídico, porém, sob a égide do princípio da universalidade, é um vir a ser, isto é, consubstancia-se na implementação progressiva. De forma que segundo Zélia Luiza Pierdoná (2007, p.5), somente haverá proteção universal quando todos os riscos sociais forem atendidos.

E, ainda, que a Seguridade Social, pelo princípio da universalidade seja um direito a ser paulatinamente implementado, conforme a capacidade do Estado e da Sociedade, certo é que, como desenhado, a universalidade do sistema se dá por meio de todas as áreas componentes da Seguridade Social.

Os três pilares da Seguridade Social se complementam, conforme Zélia Luiza Pierdoná (2007, p. 4), expressa:

A universalidade deve ser entendida no sistema de seguridade social como um todo: em relação à saúde, todos são seus destinatários. Já no que tange aos recursos para a sobrevivência, quando diante da incapacidade de auferi- los por conta própria, temos a previdência, a qual é dirigida aos trabalhadores e seus dependentes, e a assistência que é destinada aos necessitados. O mencionado princípio relaciona-se às prestações e aos beneficiários da seguridade social.

ii. Princípio da Seletividade e da distributividade:

Uma vez que os riscos sociais tendem a ser protegidos em sua universalidade, depreendemos que essa tendência à proteção universal é de natureza progressiva. Desta maneira, cabe ao legislador infraconstitucional eleger quais são os riscos sociais que serão amparados pela lei.

Isso, contudo, não quer dizer que, aos poucos, o legislador não caminhe para a universalização da proteção social, nem tampouco que o alvo de combate e erradicação do risco não se modifique, conforme as necessidades sociais e a realidade socioeconômica do país sejam compatíveis.

A distributividade e a seletividade, como revela o texto constitucional, é um dos atributos consequentes ao princípio da universalização da proteção social que, segundo Zélia Luiza Pierdoná (2007, p. 6) “revela uma contenção provisória”.

LXXXVII

Em relação à distributividade, esse princípio revela a necessidade de que as escolhas do legislador cumpram os ditames constitucionais e, como consequência, realizem os objetivos da ordem social, distribuindo, por isso, justiça social.

iii. Princípio da gestão democrática e descentralizada:

Referido princípio encontra-se insculpido no inciso VII, do parágrafo único do art. 194 da Constituição Federal, nos seguintes termos: VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

Esse princípio convalida o próprio Estado Democrático de Direito, na medida em que envolve toda a sociedade e os destinatários da proteção social prevista na Seguridade Social, na forma estabelecida no artigo 1º da Constituição Federal de 1988, conforme Zélia Luiza Pierdoná (2007, p. 6) : “A participação dos destinatários na gestão da seguridade social, referidas no parágrafo anterior, é uma das formas do

exercício direto do poder a que se refere o parágrafo único do art. 1º da CF/88”.

iv. Princípio do custeio prévio:

Os custos, envolvidos na proteção social daqueles que se encontram em situação de risco social, exigem recursos e, por isso, somente podem ser criados e/ou majorados benefícios dessa natureza se houver, em contrapartida, a fonte de recursos capaz de suportar o aumento ou a criação da proteção social, conforme previsto na Constituição Federal, em seu artigo 195, § 5: “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”.

Referido dispositivo, de caráter principiológico, atuando como norteador de todo o arcabouço legal, determina em outras palavras que, como regra básica de todo o sistema de seguridade social, será preciso antever os recursos necessários para a execução de determinados serviços e ou prestações pecuniárias aos beneficiários do sistema de seguridade social.

LXXXVIII

De forma que não basta a implantação de lei e ou outra medida protetiva, sem que haja, pari passo, fonte de recursos capazes de custear referida medida de proteção social. Segundo sustenta Zélia Luiza Pierdoná (2007), no artigo intitulado Proteção Social na Constituição Federal de 88, referido princípio faz vir à tona duas realidades importantes, a primeira delas é a capacidade de financiamento da sociedade para as questões protetivas, e a segunda refere-se às escolhas políticas feitas pelos representantes acerca dessa mesma proteção social.

A necessidade da fonte de custeio para a implantação de determinada proteção social, é realidade anterior à própria Constituição de 88, vez que previsto no texto constitucional de 1946, com a redação dada pela Emenda Constitucional de n. 11, de 31 de março de 1965, que acrescentou um parágrafo ao artigo 157, o qual dispunha: nenhuma prestação de serviço de caráter assistencial ou de benefício compreendido na previdência social poderá ser criada, majorada ou estendida sem a correspondente fonte de custeio total.

v. Princípio da Solidariedade:

O início histórico da proteção social está na caridade e, por consequência, no espírito de solidariedade entre as gentes. Nesse mesmo sentido, agora sob outra estrutura, a seguridade social calca-se toda ela no princípio da solidariedade que permeia todos os demais princípios, ao mesmo tempo em que norteia e dirige a própria finalidade do sistema protetivo brasileiro.

O artigo 195 da Carta Magna estabelece que, compete ao poder público e à sociedade o financiamento da seguridade social. Consequentemente, nas fontes de custeio da seguridade é que se dá o verdadeiro alcance da solidariedade. A universalidade da proteção às situações de risco social somente poderá se dar algum dia, diante da escolha da nação em solidarizar-se com os necessitados, contribuindo para o financiamento das medidas de proteção, destinadas a quem delas precisar.