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2 OUTROS PRINCêPIOS DO DIREITO PENAL

2.10 Princ’pio da insignific‰ncia (ou da bagatela)

As condutas que ofendam minimamente os bens jur’dico-penais tutelados n‹o podem ser consideradas crimes, pois n‹o s‹o capazes de lesionar de maneira eficaz o sentimento social de paz16. Imagine um furto de um pote de manteiga, dentro de um supermercado. Nesse caso, a les‹o Ž insignificante, devendo a quest‹o ser resolvida no ‰mbito civil (dever de pagar pelo produto furtado). Agora imagine o furto de um sandu’che que era de propriedade de um morador de rua, seu œnico alimento. Nesse caso, a les‹o Ž grave, embora o bem seja do mesmo valor que anterior. Tudo deve ser avaliado no caso concreto. Para o STF, os requisitos OBJETIVOS para a aplica•‹o deste princ’pio s‹o:

⇒!M’nima ofensividade da conduta

⇒!Aus•ncia de periculosidade social da a•‹o

⇒!Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento

⇒!Inexpressividade da les‹o jur’dica

O STJ, no entanto, entende que, alŽm destes, existem ainda requisitos de ordem subjetiva:

⇒!Import‰ncia do objeto material do crime para a v’tima, de forma a verificar se, no caso concreto, houve ou n‹o, de fato, les‹o

16 BITENCOURT, Op. cit., p. 60

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Na verdade, esse requisito n‹o passa de uma an‡lise mais aprofundada do œltimo dos requisitos objetivos estabelecidos pelo STF.

Sendo aplicado este princ’pio17, n‹o h‡ tipicidade, eis que ausente um dos elementos da tipicidade, que Ž a TIPICIDADE MATERIAL, consistente no real potencial de que a conduta produza alguma les‹o ao bem jur’dico tutelado. Resta, portanto, somente a tipicidade formal (subsun•‹o entre a conduta e a previs‹o contida na lei), o que Ž insuficiente.

Este princ’pio, em tese, possui aplica•‹o a todo e qualquer delito, e n‹o somente aos de ’ndole patrimonial. Contudo, a jurisprud•ncia firmou entendimento no sentido de ser incab’vel tal princ’pio em rela•‹o aos seguintes delitos:

Ø! Furto qualificado Ø! Moeda falsa Ø! Tr‡fico de drogas

Ø! Roubo (ou qualquer crime cometido com viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa) 18

Ø! Crimes contra a administra•‹o pœblica19

Podemos resumir o entendimento Jurisprudencial no seguinte quadro:

PRINCêPIO DA

17 Este princ’pio (princ’pio da bagatela) n‹o pode ser confundido com o princ’pio da bagatela impr—pria.

A infra•‹o bagatelar impr—pria Ž aquela na qual se verifica que, apesar de a conduta nascer t’pica (formal e materialmente t’pica), fatores outros, ocorridos ap—s a pr‡tica do delito, levam ˆ conclus‹o de que a pena Ž desnecess‡ria no caso concreto

Ex.: O agente pratica um furto de um bem cujo valor n‹o Ž insignificante. Todavia, logo ap—s, se arrepende, procura a v’tima, repara o dano e passa a manter boa rela•‹o com a v’tima. Trata-se de agente prim‡rio e de bons antecedentes, que n‹o mais praticou qualquer infra•‹o penal. Neste caso, o Juiz poderia, por este princ’pio, deixar de aplicar a pena, ante a desnecessidade da san•‹o penal.

18 STF, RHC 106.360/DF, Rel. Ministra ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de 3/10/2012

19 Anteriormente havia decis›es judiciais em ambos os sentidos. Atualmente, o tema se encontra SUMULADO pelo STJ (sœmula 599 do STJ), no sentido da IMPOSSIBILIDADE de aplica•‹o de tal princ’pio aos crimes contra a administra•‹o pœblica.

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Ø! Crimes contra a administra•‹o pœblica

Import‰ncia do objeto material para

a v’tima*

SOMENTE PARA O STJ

CUIDADO! Em rela•‹o ao crime de descaminho h‡ um entendimento pr—prio, no sentido de que Ž CABêVEL o princ’pio da insignific‰ncia, pois apesar de se encontrar entre os crimes contra a administra•‹o pœblica, trata-se de crime contra a ordem tribut‡ria. Qual o patamar considerado para fins de insignific‰ncia em rela•‹o a tal delito? O STF sustenta que Ž R$ 20.000,00. O STJ, mais recentemente, tambŽm adotou este entendimento.

CUIDADO MASTER! A reincid•ncia Ž uma circunst‰ncia que pode afastar a aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia. Contudo, esse afastamento Ž discutido na jurisprud•ncia. A QUINTA TURMA do STJ possui entendimento no sentido de que n‹o cabe aplica•‹o deste princ’pio se o rŽu Ž reincidente (RHC 48.510/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 15/10/2014). A SEXTA TURMA entende que a reincid•ncia, por si s—, n‹o Ž apta a afastar a aplica•‹o do princ’pio (AgRg no AREsp 490.599/RS, Rel. Ministro SEBASTIÌO REIS JòNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 23/09/2014, DJe 10/10/2014), havendo decis›es, contudo, no sentido de que a reincid•ncia espec’fica (ou seja, reincid•ncia em crimes contra o patrim™nio) afastaria a aplica•‹o do princ’pio (RHC 43.864/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 17/10/2014).

O STF, por sua vez, firmou entendimento no sentido de que somente a reincid•ncia espec’fica (pr‡tica reiterada de crimes da mesma espŽcie) afastaria a aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia:

(...) Afirmou, ademais, que, considerada a teoria da reitera•‹o n‹o cumulativa de condutas de g•neros distintos, a contum‡cia de infra•›es penais que n‹o t•m o patrim™nio como bem jur’dico tutelado pela norma penal (a exemplo da les‹o corporal) n‹o poderia ser valorada como fator impeditivo ˆ aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia, porque ausente a sŽria les‹o ˆ propriedade alheia. HC 114723/MG, rel. Min. Teori Zavascki, 26.8.2014. (HC-114723) Ð Informativo 756 do STF20

20 Embora este tenha sido o entendimento firmado, h‡ decis›es no sentido de que a reincid•ncia, seja de que natureza for, NÌO PODE impedir a caracteriza•‹o do princ’pio da insignific‰ncia, por uma quest‹o l—gica:

A insignific‰ncia Ž analisada na TIPICIDADE (tipicidade material), de maneira que, nesta fase, n‹o se procede ˆ nenhuma an‡lise da pessoa do agente.

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Objetivamente, sugiro adotar o entendimento do STF: apenas a reincid•ncia espec’fica Ž capaz de afastar a aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia.21

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