• Nenhum resultado encontrado

Princ’pio da presun•‹o de inoc•ncia ou presun•‹o de n‹o culpabilidade

1. PRINCêPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

1.5 Princ’pio da presun•‹o de inoc•ncia ou presun•‹o de n‹o culpabilidade

A Presun•‹o de inoc•ncia Ž o maior pilar de um Estado Democr‡tico de Direito, pois, segundo este princ’pio, nenhuma pessoa pode ser considerada culpada (e sofrer as consequ•ncias disto) antes do tr‰nsito em julgado se senten•a penal condenat—ria. Nos termos do art. 5¡, LVII da CRFB/88:

LVII - ninguŽm ser‡ considerado culpado atŽ o tr‰nsito em julgado de senten•a penal condenat—ria;

O que Ž tr‰nsito em julgado de senten•a penal condenat—ria? ƒ a situa•‹o na qual a senten•a proferida no processo criminal, condenando o rŽu,

0

Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 54

Aula 00 Ð Prof. Renan Araujo

n‹o pode mais ser modificada atravŽs de recurso. Assim, enquanto n‹o houver uma senten•a criminal condenat—ria irrecorr’vel, o acusado n‹o pode ser considerado culpado e, portanto, n‹o pode sofrer as consequ•ncias da condena•‹o.

Este princ’pio pode ser considerado:

⇒! Uma regra probat—ria (regra de julgamento) - Deste princ’pio decorre que o ™nus (obriga•‹o) da prova cabe ao acusador (MP ou ofendido, conforme o caso). O rŽu Ž, desde o come•o, inocente, atŽ que o acusador prove sua culpa. Assim, temos o princ’pio do in dubio pro reo ou favor rei, segundo o qual, durante o processo (inclusive na senten•a), havendo dœvidas acerca da culpa ou n‹o do acusado, dever‡ o Juiz decidir em favor deste, pois sua culpa n‹o foi cabalmente comprovada.

CUIDADO: Existem hip—teses em que o Juiz n‹o decidir‡ de acordo com princ’pio do in dubio pro reo, mas pelo princ’pio do in dubio pro societate. Por exemplo, nas decis›es de recebimento de denœncia ou queixa e na decis‹o de pronœncia, no processo de compet•ncia do Jœri, o Juiz decide contrariamente ao rŽu (recebe a denœncia ou queixa no primeiro caso, e pronuncia o rŽu no segundo) com base apenas em ind’cios de autoria e prova da materialidade. Ou seja, nesses casos, mesmo o Juiz tendo dœvidas quanto ˆ culpabilidade do rŽu, dever‡ decidir contrariamente a ele, e em favor da sociedade, pois destas decis›es n‹o h‡ consequ•ncias para o rŽu, permitindo-se, apenas, que seja iniciado o processo ou a fase processual, na qual ser‹o produzidas as provas necess‡rias ˆ elucida•‹o dos fatos.

⇒! Uma regra de tratamento - Deste princ’pio decorre, ainda, que o rŽu deve ser, a todo momento, tratado como inocente. E isso tem uma dimens‹o interna e uma dimens‹o externa:

a)!Dimens‹o interna Ð O agente deve ser tratado, dentro do processo, como inocente. Ex.: O Juiz n‹o pode decretar a pris‹o preventiva do acusado pelo simples fato de o rŽu estar sendo processado, caso contr‡rio, estaria presumindo a culpa do acusado.

b)!Dimens‹o externa Ð O agente deve ser tratado como inocente FORA do processo, ou seja, o fato de estar sendo processado n‹o pode gerar reflexos negativos na vida do rŽu. Ex.: O rŽu n‹o pode ser eliminado de um concurso pœblico porque est‡ respondendo a um processo criminal (pois isso seria presumir a culpa do rŽu).

Desta maneira, sendo este um princ’pio de ordem Constitucional, deve a legisla•‹o infraconstitucional (especialmente o CP e o CPP) respeit‡-lo, sob pena de viola•‹o ˆ Constitui•‹o. Portanto, uma lei que dissesse, por exemplo, que o cumprimento de pena se daria a partir da senten•a em primeira inst‰ncia seria inconstitucional, pois a Constitui•‹o afirma que o acusado ainda n‹o Ž considerado culpado nessa hip—tese.

0

Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 54

Aula 00 Ð Prof. Renan Araujo

CUIDADO! A exist•ncia de pris›es provis—rias (pris›es decretadas no curso do processo) n‹o ofende a presun•‹o de inoc•ncia, pois nesse caso n‹o se trata de uma pris‹o como cumprimento de pena, mas sim de uma pris‹o cautelar, ou seja, para garantir que o processo penal seja devidamente instru’do ou eventual senten•a condenat—ria seja cumprida. Por exemplo: Se o rŽu est‡ dando sinais de que vai fugir (tirou passaporte recentemente), e o Juiz decreta sua pris‹o preventiva, o faz n‹o por consider‡-lo culpado, mas para garantir que, caso seja condenado, cumpra a pena. Voc•s ver‹o mais sobre isso na aula sobre Pris‹o e Liberdade Provis—ria! J

Ou seja, a pris‹o cautelar, quando devidamente fundamentada na necessidade de evitar a ocorr•ncia de algum preju’zo (risco para a instru•‹o ou para o processo, por exemplo), Ž v‡lida. O que n‹o se pode admitir Ž a utiliza•‹o da pris‹o cautelar como Òantecipa•‹o de penaÓ.

Vou transcrever para voc•s agora alguns pontos que s‹o pol•micos e a respectiva posi•‹o dos Tribunais Superiores, pois isto Ž importante.

¥! Processos criminais em curso e inquŽritos policiais em face do acusado podem ser considerados maus antecedentes? Segundo o STJ e o STF n‹o, pois em nenhum deles o acusado foi condenado de maneira irrecorr’vel, logo, n‹o pode ser considerado culpado nem sofrer qualquer consequ•ncia em rela•‹o a eles (sœmula 444 do STJ).

¥! Regress‹o de regime de cumprimento da pena Ð O STJ e o STF entendem que NÌO Hç NECESSIDADE DE CONDENA‚ÌO PENAL TRANSITADA EM JULGADO para que o preso sofra a regress‹o do regime de cumprimento de pena mais brando para o mais severo (do semiaberto para o fechado, por exemplo). Nesses casos, basta que o preso tenha cometido novo crime doloso ou falta grave, durante o cumprimento da pena pelo crime antigo, para que haja a regress‹o, nos termos do art. 118, I da Lei 7.210/84 (Lei de Execu•›es Penais), n‹o havendo necessidade, sequer, de que tenha havido condena•‹o criminal ou administrativa. A Jurisprud•ncia entende que esse artigo da LEP n‹o ofende a Constitui•‹o.

¥! Revoga•‹o do benef’cio da suspens‹o condicional do processo em raz‹o do cometimento de crime Ð Prev• a Lei 9.099/95 que em determinados crimes, de menor potencial ofensivo, pode ser o processo criminal suspenso por determinado, devendo o rŽu cumprir algumas obriga•›es durante este prazo (dentre elas, n‹o cometer novo crime), findo o qual estar‡ extinta sua punibilidade. Nesse caso, o STF e o STJ entendem que, descoberta a pr‡tica de crime pelo acusado beneficiado com a suspens‹o do processo, este benef’cio deve ser revogado, por ter sido descumprida uma das condi•›es, n‹o havendo

0

Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 54

Aula 00 Ð Prof. Renan Araujo

necessidade de tr‰nsito em julgado da senten•a condenat—ria do crime novo.

CUIDADO MASTER! Recentemente, no julgamento do HC 126.292 o STF decidiu (entendimento confirmado posteriormente) que o cumprimento da pena pode se iniciar com a mera condena•‹o em segunda inst‰ncia por um —rg‹o colegiado (TJ, TRF, etc.). Isso significa que o STF relativizou o princ’pio da presun•‹o de inoc•ncia, admitindo que a ÒculpaÓ (para fins de cumprimento da pena) j‡ estaria formada nesse momento (embora a CF/88 seja expressa em sentido contr‡rio). Isso significa que, possivelmente, teremos (num futuro breve) altera•‹o na jurisprud•ncia consolidada do STF e do STJ, de forma que a•›es penais em curso passem a poder ser consideradas como maus antecedentes, desde que haja, pelo menos, condena•‹o em segunda inst‰ncia por —rg‹o colegiado (mesmo sem tr‰nsito em julgado), alŽm de outros reflexos que tal relativiza•‹o provoca (HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 17.2.2016).

Documentos relacionados