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Privatização e reestruturação do sistema siderúrgico nacional e de Minas Gerais

2 INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

3.9 Privatização e reestruturação do sistema siderúrgico nacional e de Minas Gerais

Mesmo com a inauguração da AÇOMINAS, a década de 1980 marcou um período de crise no setor siderúrgico nacional seguindo a tendência do conjunto da economia para aquele período. Observou-se, então, uma queda da demanda interna por aço acompanhada de uma redução dos seus preços internos e externos resultando em queda dos lucros e dos investimentos no setor (ANDRADE; CUNHA, 2002). Deste modo, as siderúrgicas brasileiras apresentavam dificuldades de modernização em seus processos produtivos se distanciando dos padrões internacionais de qualidade e competitividade, gerando perspectivas sombrias para o seu desenvolvimento.

No mesmo período ganhava fôlego um processo mundial de desestatização das companhias siderúrgicas revertendo uma tendência de aumento da participação estatal nesse setor iniciada na década de 1950. Assim, verificou-se casos como o da Alemanha, da Hungria e França entre outros, nos quais o Estado repassava à iniciativa privada o controle das usinas (DE PAULA, 1997; ANDRADE; CUNHA, 2002).

Tudo isso demonstrava que a solução natural para as dificuldades pelas quais passava o parque siderúrgico nacional apontava para a retirada do Estado do controle acionário e decisório destas empresas. Nesse sentido, entre 1991 e 1993 foi implementado o Plano Nacional de Desestatização, pelo qual o governo federal privatizou as companhias siderúrgicas que estavam sob o seu controle (ANDRADE; CUNHA, 2002). Assim, as três usinas presentes em Minas Gerais que estavam sob a égide do governo federal, a USIMINAS, a ACESITA e a AÇOMINAS, foram transferidas ao capital privado. A USIMINAS foi adquirida pelo consorcio composto pelos grupos Cia. Vale do Rio Doce, Previ, Valia e Bozano, em 1991, em 1992 a ACESITA passou ao controle do consorcio

formado pelos grupos Previ, Sistel, Safra e Real e a AÇOMINAS foi vendida aos grupos Mendes Junior, Econômico e BCN em 1993 (PINHO; SILVEIRA, 1998).

A privatização fez com que as siderúrgicas desestatizadas fossem reestruturadas pelos seus novos proprietários, alcançando reduções significativas em suas despesas e melhorias em termos de gestão (PINHO; SILVEIRA, 1998). Nessa linha as siderúrgicas se alinharam a um processo de reestruturação produtiva, pelo qual atravessou esse setor no Brasil a partir da década de 1990. Nesse meio tempo algumas das usinas nacionais buscaram implementar estratégias de compras e fusões com outras usinas sendo ainda afetadas pelos movimentos internacionais de fusões. Ainda naquela década a AÇOMINAS se abriu à participação do grupo brasileiro Gerdau, que no processo de privatização atuara na compra da CIMETAL e da COSIBA16, e que em 1999, já detinha o controle da siderúrgica. O grupo Gerdau juntamente à companhia Natsteel, de Cingapura, adquiriram a participação do grupo Mendes Jr, na siderúrgica de Ouro Branco, sendo que o grupo brasileiro assumiu o controle acionário da empresa já em 2001 (GRECO; COUTINHO, 2002). A USIMINAS atuou adquirindo parte significativa do capital da COSIPA, ampliando seu poder frente ao sistema siderúrgico nacional. E a ACESITA partiu para a compra das demais usinas que operavam em seu segmento de mercado, aços especiais, incorporando a Indústria Villares e posteriormente a Eletrometal, de modo tornar-se a principal produtora desse tipo de aço no país (PINHO, SILVEIRA; 1998).

Dentre as usinas de controle privado, a Cia. Belgo-Mineira também buscou sua expansão passando à condição de controladora da usina de Juiz de Fora da Cia. Siderúrgica Mendes Jr. em fins da década de 1990. Ademais, essa empresa juntamente à ACESITA, que em 1998 se associara à companhia siderúrgica francesa Usinor, sentiria os reflexos do processo internacional de fusões no setor siderúrgico (DE PAULA, 2007). No ano de 2001 foi criada a Arcelor por meio da fusão dos grupos ARBED (Bélgica-Luxemburgo), Usinor (França) e Aceralia (Espanha) (GOMES; AIDAR; VIDEIRA, 2006). Dado que a Belgo- Mineira era controlada desde sua criação na década de 1920 pela ARBED e que a ACESITA se associara à Usinor, as duas passaram então ao controle do mesmo grupo econômico, um dos maiores do mundo no setor siderúrgico àquela época. Posteriormente, a Arcelor foi comprada pela gigante mundial Mittal Steel sendo assim criado o maior

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A CIMETAL Siderúrgica está localizada em Barão de Cocais (MG) e atualmente é mais uma das unidades do Grupo Gerdau, tendo sido adquirida em novembro de 1988. A Usina Siderúrgica da Bahia S. A. foi adquirida pela Gerdau em outubro de 1989 e está localizada em Simões Filho (BA).

conglomerado siderúrgico do mundo, a Arcelor Mittal. O QUADRO 2 resume como ficou configurado o setor siderúrgico mineiro, após os processos de privatização e fusão.

QUADRO 2 – Principais Siderúrgicas de Minas Gerais, estruturação histórica e organização atual

Empreendimento Fundador Localização Início das operações Atual controlador Denominação Atual Capacidade produtiva ton/ ano

Cia. Belgo Mineira Arbed (Bélgica- Luxemburgo)

Sabará,

Monlevade e Juiz de Fora.

1921 Arcelor Mittal Arcelor Mittal

Aços Longos 2.300.000

ACESITA

Percival Farquhar, Amintas J. Morais, Athos Rache

Timóteo 1944 Arcelor Mittal Arcelor Mittal

Inox Brasil 922.000 Vallourec &

Mannesmann

Mannesmann

(Alemanha) Belo Horizonte 1954

Vallourec & Mannesmann Tubes

V&M do Brasil 685.000

USIMINAS Governo Federal Ipatinga 1962 Sistema

Usiminas USIMINAS 4.800.000 AÇOMINAS Governo Federal e

Estadual de MG Ouro Branco 1985 Grupo Gerdau Gerdau Açominas 4.500.000 Fonte: Gomes (1983), Pimenta (1967), Souza (1986), Souza (1985), Gomes; Aidar; Videira (2006), www.acesita.com.br, www.usiminas.com.br, www.vmtubes.com.br, www.belgo.com.br. Elaboração própria. CAPACIDADE

No que diz respeito à produção, mesmo depois dos processos de privatização e reestruturação do setor siderúrgico brasileiro, a produção siderúrgica de Minas Gerais se manteve relativamente estável durante a década de 1990. A produção de aço para esse período esteve sempre próxima ao montante de nove milhões e meio de toneladas passando a oscilar em torno de 11 milhões de toneladas na década de 2000. Esta estagnação pode representar uma conseqüência da ausência de novos investimentos em expansão produtiva após a fase de privatização, seja com a ampliação significativa das unidades já existentes no estado ou com a construção de novas usinas.

Já o consumo aparente de produtos siderúrgicos no Brasil se ampliou a partir de 2004, passando de cerca de 18 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos para 22 milhões de toneladas. Este consumo foi sustentado pela ligeira ampliação da produção do parque siderúrgico nacional que subiu entre 2000 e 2007 de 28 milhões de toneladas para 34 milhões e nas importações que se expandiram, especialmente em 2006 e 2007, quando ultrapassaram o montante de 1 milhão e meio de toneladas (IBS, 2008). Mesmo assim, a posição de Minas Gerais como principal produtor brasileiro de aço permanece assegurada

por meio da grandiosa estrutura produtiva que foi formada no estado no decorrer do século XX.