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b O problema presente II: A defesa civil como a defesa do futuro

II. O futuro impensável: imaginando o futuro deformado

II.1. b O problema presente II: A defesa civil como a defesa do futuro

Um dos componentes principais da defesa dos EUA, para Kahn, era a defesa civil, ou seja, a defesa da população, que era uma das frentes possíveis de ataque do inimigo e sobre a qual a RAND desenvolvia análises. Assim como a área da estratégia, a concretização da defesa civil passava pela – e acentuava ainda mais a – diferenciação entre os tipos de experiência militar e a dos cientistas e tecnólogos. Essa distinção também resultava em uma cisão dentro da tarefa do planejamento da defesa do país.

A compreensão de Kahn de defesa civil estava na linha da concepção inglesa, constituindo a defesa não militar dos EUA, que cuidaria da proteção das pessoas e da

37 KAHN, H. A escalada, 1969, p. 368-369, 393 395; KAHN, H., 1968, p. 259, 240-241, 258.

38 KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.164, “we are working on his mind as well as his body” (tradução

nossa).

39 KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.126; KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.557;

propriedade. Essa concepção foi formada dentro de uma interpretação que o bombardeio a áreas populacionais era justificado de forma estratégica como um ataque a uma capacidade de mobilização do inimigo e ao seu potencial industrial.40

Conforme Kahn, nos EUA, até meados da década de 50, a defesa dos alvos estratégicos e dos alvos civis estavam integradas. Porém, após essa data, tornaram-se duas áreas distintas, resultado direto do fim do monopólio dos EUA sobre a bomba atômica, no início dos anos 50, seguido pela disseminação de tais artefatos a partir daquela década e pelo desenvolvimento dos mísseis intercontinentais soviéticos. O conjunto desses fatos, para Kahn, abalou a sensação de inatingíveis dos estadunidenses, a qual se assentava na crença de uma capacidade militar exagerada, no mal-estar das bombas de Hiroshima e Nagasaki, fazendo parecer que elas nunca seriam usadas novamente, e em não perceber que a dissuasão era um fator psicológico.41

A partir de então, conforme Kahn, a DC não era mais eficaz em relação aos objetivos militares tradicionais. Devido à potencialidade e à surpresa de um ataque nuclear, a proteção civil era mais difícil. Por outro lado, a população civil não era mais o alvo principal, pelos fatores já vistos e por sua destruição estar de dentro uma destruição mais ampla, que seria rápida, impedindo a organização de uma base de mobilização após o ataque. Com isso, a DC adquiriu, para Kahn, outro estatuto, que relaciona o projeto de defesa civil dos EUA com questões que estavam além dos limites internos do país, tornando-se também um assunto do governo. Primeiramente, Kahn aponta que a DC era uma função do DoD, o que já demonstra a defesa civil por um viés de projeto governamental. Por fim, Kahn concorda com os argumentos que apontam que uma guerra atômica poderia representar o fim da democracia. Portanto, a preparação da defesa civil para a recuperação pós-guerra passava também por manter os valores e as instituições da democracia. Se um governo democrático conseguisse se preparar e manter uma nação viva e recuperada após um guerra aniquiladora, seria uma vitória dos valores da democracia e do Ocidente para o futuro.42

Frente a essa constatação, Kahn diagnostica uma situação de praticamente negligência com a DC, em prol do fortalecimento da dissuasão pela corrida armamentista e de preparativos para limitar e findar a guerra. Kahn acreditava que era preciso mais: um programa de abrigos civis e planos referentes às áreas médica, econômica, social e política em

40 KAHN, Herman. Some specific suggestions for achieving early non-military defense capabilities and initiating

long-range programs (RM-2206-RC), Santa Monica: RAND Corporation, 1958, iii; KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p. 275.

41 KAHN, H., 1971, p. 113-114; KAHN, H., 1962, p. 103-104; KAHN, H., 1962, p. 81; KAHN, H., 1971, p.87. 42 KAHN, H., 1971, p. 87-88, 90-91, 100; KAHN, H., 1962, p. 81-82, 98-99, 109; KAHN, H. On

um mundo pós-guerra. O alvo da DC deveria ser, portanto, a capacidade de resistir a um ataque soviético. Era a proteção do povo como um fim necessário ao reerguimento do país no caso de um conflito nuclear. Assim, se os preparativos fossem bem feitos, a recuperação poderia ocorrer em cinco anos ao invés de vinte. Dessa forma, acresceu-se às duas atividades principais de defesa, uma terceira, que é a proteção da capacidade de recuperação, o que corresponde à resposta às três possibilidades de ataque do inimigo pontuadas anteriormente. Era um projeto de futuro que englobava, portanto, a proteção dos alvos militares, a proteção civil e a de potencial de recuperação e que, para Kahn, não podia estar restrito somente aos militares.43

Kahn reforça e ressalta a necessidade da participação civil no planejamento militar – ou do que, até ali, costumava ser essencialmente militar – a partir da análise sistemática e de abordagens que pensassem as diversas alternativas. Havia, portanto, uma reinterpretação do papel militar e das forças armadas. Kahn defendia que os planejadores eram obrigados a pensar a guerra como experiência, sobrevivência e reconstrução e não como um fim da história. Isso, para ele, propiciaria a preparação psicológica adequada, a qual conduziria à constituição de uma defesa civil e aérea que evitaria ficar a mercê do inimigo e fugiria da máxima que Kahn considerava falaciosa de que não havia alternativa para a paz. A defesa era, destarte, evitar que o inimigo transformasse os cidadãos em reféns, o que, também, representaria um entrave às estratégias inimigas. Isso seria alcançado por uma análise ampla que planejaria uma defesa que conhecesse todas suas fraquezas, uma vez que bastaria para o atacante encontrar apenas uma para obter sucesso.44

Com isso, Kahn tentava abrir uma porta para a entrada do planejamento civil que já era feito por ele. Além da porta, ele também tentava abrir janelas e porões, pois via poucas organizações aptas a desenvolver um programa de estudo da defesa civil, estando a maioria ligada ao DoD, seguindo um viés militar, o qual, para Kahn, deveria ser superado na análise e no planejamento da defesa civil. Kahn não acreditava na autoridade militar acima da autoridade de físicos, acadêmicos e civis, pois, a guerra nuclear precisaria de todos os tipos de especialistas, fardados ou não, já que sua prevenção envolvia diferentes aspectos da sociedade. Portanto, para ele e seus colegas, “a paz é demasiado importante para ser confiada a generais”.45

43 KAHN, H., 1971, p. 89, 107-108; KAHN, H., 1962, p. 82-83, 99.

44 KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.160, 173,230,535; KAHN, H. A escalada, 1969, p.345; KAHN,

H., 1968, p.224.

45 KAHN, H., 1971, p.30. Conforme Kahn, essa frase foi uma paráfrase feita por Wohlstetter sobre uma frase de

Visando a realização desses intentos, a equipe de estudo de DC de Kahn na RAND foi formada por dezesseis pessoas e, entre elas, havia um engenheiro civil, um médico, um físico especialista em fallout46, um bielorrusso especialista em defesa civil soviética e um suíço com doutorado sobre o impacto social de bombardeios pesados. A equipe contava ainda com ajudas esporádicas de outros membros da RAND. O grupo de Kahn trabalhou nos moldes da SA e da OR, desenhando e analisando algumas possibilidades de ataques e defesa e calculando seus custos e benefícios, pontuando situações futuras e como alcançá-las e otimizando o orçamento para alcançar os fins postulados. Kahn também trabalhou com temas polêmicos, cogitando a possibilidade de ataques maiores, com bombas na casa dos megatons. Assim, vários aspectos após um ataque foram abordados, como os de habitação, de alimentos, de cuidados médicos e de recuperação econômica. Pelos resultados da pesquisa, Kahn e sua equipe ganharam destaque.47

Conforme Kahn, até o estudo de defesa civil da RAND, em 1957, não havia nenhum estudo sério sobre quão demorado seria para se recuperar dos efeitos da guerra termonuclear. Para Kahn, apesar dos gastos, os sistemas militares em tempos de paz tinham defeitos sérios e que poderiam ser fatais em caso de uma guerra. Ele atribuía a existência dessas falhas à dificuldade psicológica que as pessoas tinham ao lidar com o conceito de guerra termonuclear como um desastre que poderia ser vivido e superado e por planejadores considerarem difícil avaliar com seriedade o desempenho dos sistemas em tempos de guerra, por acreditarem que tais sistemas nunca seriam usados, pois, se fossem, o resultado seria destrutivo. Tudo isso, para ele, era agravado pela falta de entusiasmo, no Ocidente, em jogar jogos militares e por muitos se assentarem na crença daquilo que Kahn chamou de profecias autorrealizáveis48. Para Kahn, as pessoas acreditavam no poder mágico das palavras ou das ações, que poderiam atrair a coisa dita ou feita – por exemplo, a construção dos abrigos causar o seu uso. Contra isso, Kahn argumentava que, ao se falar sobre abrigos, a ideia era ter uma forma de limitar a quantidade de dano que poderia ser causado na guerra e aumentar a capacidade dos EUA resistir às provocações e chantagens. Dessa forma, estabelecer o programa não significava esperar usá-lo de fato, apesar de sua construção já carregar um aspecto dissuasivo.49

para ser confiada a generais” (“war is too importante to be left to generals”) KAHN, H., 1962, p. 30-32; KAHN, H., 1971, p.30-32; KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.160, 550.

46 É, de forma geral, o ambiente após um ataque atômico, que lançaria várias partículas radioativas na atmosfera. 47 BRUCE-BRIGGS, B., 2000, P., 56-58.

48 Em inglês, self-fulfilling prophecy, que Kahn explica assim: se há suspeita ou hostilidade com uma pessoa,

tende-se a agir conforme isso. A pessoa, então, percebe isso e age conosco de forma hostil e suspeita. O que confirma nossa suposição. KAHN, H., 1962, p. 28-29; KAHN, H., 1971, p.26-27.

49 KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.225, 518, 535, 552-553; KAHN, H., 1962, p. 28-29, 92-93;

Se, por um lado, havia a defesa do pensamento sobre abrigos com base na não garantia total do funcionamento da dissuasão, por outro, uma política de construção de abrigos funcionava ela mesmo como uma dissuasão, já que daria a sensação de capacidade de redução do número de fatalidades, de limitação de dano e de aumento da capacidade de recuperação, tudo para demonstrar que haveria alguma forma de triunfo que não fosse a vitória. Com isso, Kahn intentava inculcar confiança nos estadunidenses e nos aliados a partir de uma imagem de segurança e de defesa. Os EUA não deveriam parecer perigosos para os aliados, assumindo, pelo contrário, a aparência de uma política de dissuasão que desencorajasse o inimigo, de uma posição firme frente a crises, ou mesmo de saber conduzir as guerras e sobreviver a elas, se necessário. Em troca, com isso, os EUA conquistariam importantes elementos estratégicos, como disposição de bases e dispositivos bélicos em outros territórios. Essa imagem de segurança e controle deveria também ser passada para os países neutros.50

No relatório de 1958, questões sobre abrigos e defesa já apareciam dentro de uma argumentação que requisitava a atenção do governo à defesa civil, o que significava, também, investimentos em R&D nessa área. Os resultados obtidos pela equipe de Kahn concluíram que os gastos e as obras para uma defesa efetiva, mas não totalmente segura, eram caros e grandiosos, girando em torno de 200 a 500 milhões de dólares, confirmando o custo alto de tais projetos. Por trás dessa argumentação desenvolvida no relatório de 1958, havia também uma crítica à postura de defesa dos EUA e a necessidade de sua revisão, que foi apresentada nos três livros posteriores. Kahn distingue as posturas militares e as estratégias correspondentes, realizando um trabalho pretensiosamente técnico de análise dos sistemas de defesa dos EUA. De forma geral, em um primeiro momento, a intenção de Kahn é formular a política de dissuasão ideal. Isso passaria por algumas questões básicas: pela análise da política de defesa americana, tanto no âmbito nacional quanto internacional, e pelas propostas e possibilidades da defesa, incluindo sua ausência ou falha.51

A análise de defesa civil do grupo de Kahn, apresentada pelo relatório de 1958, era grandiosa, uma análise sistemática de como constituir a defesa do país, considerando diversos fatores – como o uso de minas para construir os abrigos subterrâneos em Nova Iorque – as questões de reconstrução, as plantas industriais subterrâneas, a descontaminação, a produção,

New York Times. ProQuest Historical Newspapers, Feb 5, 1961, p. 42.

50 KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.24, 155-156. É importante ressaltar que Kahn fala, aqui,

pensando essencialmente em parte da Ásia e na Europa. A América Latina ainda não era um problema até a data de lançamento do TATU e só se torna realmente um objeto para Kahn, em meados dos anos 60, frente a problemas dentro de seu Instituto, o que veremos nos próximos capítulos.

51 RINGS, 1961; GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p., 183-184, 194-201; cf. KAHN, H., 1958; KAHN, H. On

o processamento, a estocagem e a distribuição de comida, as doenças e o incentivo aos setores privados. Foi justamente a exposição dessa análise integrada que mais impressionou o governo, já que oferecia uma visão do mundo pós-ataque e a preparação necessária e gigantesca para evitá-lo. A grande polêmica gerada por Kahn foi tentar suprir essa carência de análise da defesa civil que ele acreditava existir. A análise fria dos resultados da guerra e de um ambiente após uma guerra nuclear chocou muita gente quando veio a público.52

Afora as análises polêmicas de Kahn, a DC por si só já enfrentava bastante resistência. Primeiramente, porque ela possuía um viés político: a DC era uma postura da esquerda, que Kahn apontava como já praticada inclusive na URSS. Essa característica política também estava presente na crítica de Kahn à postura de defesa do país, quando aponta que a postura dissuasiva própria da visão do homicídio mútuo era defendida por aqueles que não viam razão em proteger pessoas e propriedades, pois acreditavam que, após um ataque nuclear, não haveria sobreviventes. Essa era uma posição da direita Republicana dos EUA, principalmente de Eisenhower, a qual era acompanhada, ainda, por uma ideia de ameaça de retaliação massiva contra os soviéticos em caso de agressão, porém, de forma barata, ou seja, sem todos os preparativos de abrigos e outras coisas, como Kahn defendia. Além disso, Kahn costumava enfatizar que o dever de proteger as pessoas não era individual, mas do governo.53

Em um primeiro momento após a reeleição de Eisenhower, em 1956, Kahn encontrou, um ambiente favorável e convidativo às suas ideias sobre a defesa civil. Primeiramente, o grupo de aconselhamento sobre o tema do presidente estadunidense era liderado pelo presidente da Ford Foundation e que também fazia parte do conselho que dirigia a RAND Corporation, H. Rowan Gaither. Kahn foi convidado para fazer parte dessa comissão como consultor informal, o que o levou a participar com frequência das reuniões do grupo, chegando a apresentar briefings para alguns conselheiros do presidente. Outro fator foi a influência do trabalho de Wohlstetter e o surgimento da RAND no ambiente público, principalmente com uma reportagem na revista Fortune, em 1955. Até esse período, a RAND era praticamente desconhecida fora dos círculos em que atuava.54

Contudo, o ambiente político em torno do presidente Eisenhower, e ele próprio, se mostraram céticos em relação à defesa civil. Além disso, por não acreditar na sobrevivência

52 GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p. 183, 197-200; cf KAHN, H., 1958).

53 KAHN SAYS NATION Needs Billion Dollar Federal Program. Los Angeles Times. ProQuest Historical

Newspapers. Oct 29, 1961, p. B2; KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p.17, 99; BRUCE-BRIGGS, B., 2000, p. 55, 58-59, 83, 152-153; GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p. 186-187, 207-208; DICKSON, P., 1971. p. 110-111; U.S. SPURS 1961.

54 BRUCE-BRIGGS, B., 2000, p. 58-60, 81, 84; GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p. 55, 186-188; RICH, A.,

no caso de um ataque, o governo não via vantagens em investir em abrigos e sistemas de defesa civil e de reconstrução após um ataque desse tipo. Havia, ainda, a questão orçamentária, uma vez que as propostas dos projetos de defesa civil eram onerosas, o que levantava dúvidas se os gastos nesse setor se refletiriam em eficácia. Para piorar ainda mais a situação da DC, alguém na comissão de aconselhamento ao presidente vazou algumas das recomendações ao Washington Post. Isso irritou profundamente Eisenhower e barrou o acesso da RAND e de outras instituições civis contratadas à CIA. Por fim, Eisenhower agradeceu a comissão, mas dispensou seus conselhos, já que mantinha sua visão sobre o aspecto aniquilador de uma guerra nuclear.55

Havia também oposição à DC dentro da RAND e na sua contratante, a Força Aérea. O DoD foi um grande financiador de estudos de defesa civil em indústria e universidades, todavia, os estudos de defesa civil feitos por Kahn na RAND – que depois ganhariam a atenção do DoD – estavam inseridos na revisão da postura de defesa dos EUA feita pela Corporação sob contrato com a Força Aérea56. O programa de defesa civil era encarado, dentro da RAND, como um setor que sugava muitos recursos da Força Aérea, por isso, passou por uma revisão e programas mais baratos foram buscados57 e em 1958, sob o pedido da Força Aérea, o grupo de defesa civil da RAND foi desfeito. Apesar disso, Kahn fez o relatório produzido pelo seu grupo de defesa civil circular entre colegas, jornais e até na Inglaterra, dando destaque midiático a Kahn. A defesa civil não deixou de ser abordada na RAND,

apesar da ausência de uma divisão própria para isso. Kahn, por exemplo, realizou palestras e briefings sobre defesa civil para os militares.58

Frente a essas barreiras, Kahn fez contatos com um dos pesquisadores do Center for International Studies da Universidade de Princeton, Klaus Knorr, um economista e cientista político alemão que se dedicava às questões políticas e econômicas em um mundo nuclear. O interesse por Princeton existiu, pois ela era a principal universidade de pesquisa e publicação de assuntos políticos-militares. Em Fevereiro de 1959, Kahn foi para Princeton. Lá, J.

55 BRUCE-BRIGGS, B., 2000, p. 60, 83; GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p. 189-192; KAHN, H., 1971, p.102-

103; KAHN, H., 1962, p. 94-95.

56 DoD foi, nos anos pós-guerra, um grande investidor em R&D. O ápice foi no final dos anos 50 e início dos 60,

quando os gastos do departamento nessa área chegaram a ser quatro vezes maior do que os gastos durante a II Guerra, KAHN, H. On thermonuclear war, 1969, p., 314. O DoD era um tradicional investidor em R&D, através de universidades e indústria, Cf. KEVLES, D., 1990, p 241-247, 251, 262; Cf. AASERUD, F., 1995, p. 187-188, 20.

57 A posição de defesa também representava diferentes enfoques nas diferentes forças armadas. Por exemplo, a

dissuasão finita era uma postura da Marinha e de alguns líderes civis, enquanto a Força Aérea tendia à estratégia de Força Contrária, NORRIS, J. G., 1960.

58 GHAMARI-TABRIZI, S., 2005, p. 187; BRUCE-BRIGGS, B., 2000, p. 62-67; UNNA, Warren. U.S. Could

Rebuild After Suffering Heavy A-Blow, Defense Planner Says. The Washington Post and Times Herald. ProQuest Historical Newspapers, Sep 21, 1958, p. B11.

Oppenheimer apresentou Kahn a Einstein e Kahn participou de uma conferência da OTAN. Kahn deu palestras – e não briefings – no Centro. Eram três palestras que duravam em torno de quatro horas. As palestras de Kahn foram requisitadas por outras instituições e tinham bastante público, principalmente pela atualidade dos assuntos tratados. Kahn teve que adaptar suas palestras para durações menores e, por isso, em alguns momentos, recuperou os briefings. Essa atuação de Kahn nas palestras também resultou em críticas pontuais, ora, sendo acusado de neo-nazista e propagandista da corrida armamentista, ora, criticado por jornais comunistas, que eram contrários à defesa civil estadunidense.59

No mesmo período, em Princeton, suas palestras foram transcritas e os manuscritos circularam entre colegas da RAND e amigos, que ajudaram na revisão do texto e no processo editorial. O manuscrito resultou no OTW, ao qual foram somados os trabalhos sobre a questão nuclear e de defesa, contando com a influência de outros membros da RAND, mas não de toda a RAND. Nesse sentido, o OTW está estruturado como três palestras que, conforme o autor, buscam apresentar aspectos da guerra termonuclear centrais entre EUA e URSS e da dissuasão.60

II.2. Racionalidade e imaginação: as ferramentas para pensar um futuro