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Problemas da Representação Política

No documento Paula Angela de Figueiredo e Paula (páginas 51-57)

1. O CAPITALISMO E A ESTRUTURA DE SEUS DISCURSOS

1.7 Problemas da Representação Política

O Estado clássico liberal, embora representasse um avanço sobre o absolutismo, se mostrou extremamente limitado como verdadeira democracia, pois a formação da vontade política ficou limitada por três grandes problemas: os “representantes do povo” eram os representantes da burguesia (mercadores, industriais, banqueiros e proprietários de terra), os mesmos que pagavam os tributos e contribuíam para a manutenção dos encargos do Estado23; os deputados designados pelos eleitos, já não tinham que pleitear em nome de seus constituintes, mas, ao contrário, podiam decidir por eles; e, por último, os parlamentos, que

23 Várnagy (2006) nos lembra que no contexto histórico da Inglaterra na época de Locke, a maioria dos seus habitantes não tinha direito à representação porque não eram cidadãos, e apenas uma ínfima minoria possuía direito ao voto. Utilizava-se o chamado “voto censitário”, isto é, podiam votar apenas aqueles que atendessem aos requisitos estabelecidos para participarem do chamado “censo eleitoral”. O censo era exigido não apenas para os que podiam votar, mas também para os que podiam ser votados. Por esse instrumento, a burguesia excluía do eleitorado a maior parte da população. De acordo com Várnagy (2006), na Grã- Bretanha em 1831, somente 4,4% votavam, já em 1914, 30% o faziam. Foi somente em 1931 que o eleitorado atingiu 97% da população com idade superior a 20 anos.

eram assembleias que representavam os eleitores perante o Estado passaram a exercer parte dessa “soberania” e, por consequência, passaram a integrar o Estado.24

A desigualdade sócio-político-econômica ficou acentuada, sobretudo na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, em meados do século XIX, sem haver uma legislação de proteção ao trabalhador ou qualquer forma de associativismo. O operário assalariado só dispunha do esforço de seu trabalho e tinha que aceitar necessariamente as condições impostas pelo empregador.

Com o enorme desemprego no campo, que estava se mecanizando, o êxodo rural para as cidades foi incontrolável. Isso aumentava a oferta de mão-de-obra para a indústria e provocava a consequente desvalorização dos salários, aumentando a miséria e agravando as duras e indescritíveis condições de trabalho da época.

O trabalhador, que até então não tinha poder político para mudar a situação de penúria econômica, se lançou contra o sistema, valendo-se das mesmas armas que, um século antes, tinham usado os burgueses para derrubar o bastão do absolutismo: o direito à representação. Isso se deu amparado em quatro aspectos: a organização e desenvolvimento do movimento sindical; a tentativa de internacionalização das correntes filosóficas de esquerda; a universalização do direito de voto com implantação do sistema eleitoral proporcional; e o surgimento dos partidos de massa como instrumentos de mobilização, de canalização e de disputa do processo eleitoral.25

Na Inglaterra dessa época, tal processo se realizou mediante a ampliação da participação eleitoral até o limite último do sufrágio universal. O progressivo processo de democratização, decorrente da ampliação do direito de voto, considerado como uma ameaça à liberdade, acabou pondo em cheque o Estado liberal clássico. O receio de que a sociedade democratizante viesse a mostrar-se incompatível com a distinção individual tornou-se bastante comum entre os pensadores liberais do século XIX.26

24 Esses problemas são apontados por Badiou (1994, p. 54) como responsáveis por confinar a política no âmbito da representação, o que acaba por destruir a possibilidade de uma política verdadeira acontecer. Os partidos são o laço entre as tendências ideológicas diferentes da sociedade com o Estado e o objetivo deles em um sistema de democracia parlamentarista é o de ocupar o poder de Estado e utilizá-lo para seus objetivos. Badiou (1999, p. 44) diz que essa política está dominada pelo princípio de interesse e pela gestão do necessário, e que, estando dentro da máquina pública, os representantes do povo precisam obter o consenso para que o próprio Estado sobreviva, anulando as rupturas e a singularidade.

25 A universalização do voto não se conseguiu sem luta e sem muita resistência. Com a exceção da França, onde a conquista é do século XIX, na maioria dos demais países europeus esse direito só foi reconhecido nas primeiras décadas do século XX. No Brasil só foi reconhecida (com exclusão dos analfabetos), pelo Código Eleitoral de 1932 que, também, assegurou o voto feminino.

26 Segundo Bobbio, no largo espectro do pensamento liberal pode-se destacar a contraposição entre um liberalismo radical, ao mesmo tempo liberal e democrático, e um liberalismo conservador, liberal, mas não- democrático. Para os liberais radicais, liberalismo e democracia estão necessariamente relacionados um ao outro,

A burguesia manifestou preocupação em defender os direitos do indivíduo ao mesmo tempo contra o Estado e contra as massas, estas recém-incorporadas ao processo de tomada de decisões. Essa atitude revela dois aspectos: primeiro que os liberais que sempre ligaram liberdade e propriedade com direito natural temiam perdê-las com a democracia, o que significa que eles não tinham tanta certeza de que a liberdade fosse mesmo um direito natural; e o segundo é que os liberais sabiam que quando uma coletividade se levanta em defesa de seus interesses ela consegue derrubar o poder instituído, pois fizeram parte das revoluções.

A democracia foi a grande preocupação de Tocqueville (1987) porque ele identificou nela dois grandes perigos: a tirania da maioria e o despotismo do Estado. No primeiro caso, Tocqueville temia que os hábitos e os costumes de uma maioria destruíssem as vontades de minorias ou de indivíduos isolados. Quanto ao despotismo do Estado, sua preocupação era de que os cidadãos, por terem alcançado a igualdade, passassem a se dedicar cada vez mais aos seus assuntos privados, abandonando o interesse pelos negócios públicos. Essa situação abriria espaço para o surgimento de um Estado que primeiro se apoderaria de toda a administração pública e, depois, passaria a intervir nas liberdades fundamentais dos indivíduos. Para compatibilizar igualdade e liberdade Tocqueville (1987, p. 14-17) propôs um remédio aos seus contemporâneos que foi a liberdade política.

Chevallier (1980, p. 256) disse que nos Estados Unidos, onde a constituição federativa fundou um liberalismo democrático, a igualdade se associou aos mecanismos da liberdade política, pois os americanos foram sábios o suficiente para evitar o despotismo, estabelecendo os princípios da soberania popular. “O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas; tudo sai do seu seio, e tudo se absorve nele.” (TOCQUEVILLE, 1987, p. 52).

O jusnaturalismo deu lugar ao utilitarismo de Stuart Mill27, que recusou a teoria dos direitos naturais para fundar a sua defesa da liberdade (BALBACHEVISKY, 1999, p. 198). Segundo Stuart Mill, o legislador deveria propor leis com o objetivo de produzir a maior felicidade (entendida como o prazer ou a ausência da dor) para o maior número de pessoas. Seu objetivo era oferecer uma fundamentação coerente e racional das estratégias sociais e jurídicas em contraposição às ficções e abstrações dos direitos naturais.28

no sentido de que apenas a democracia tem condições para realizar plenamente os ideais liberais e apenas o Estado liberal pode ser a condição de realização da democracia, o que no limite nos parece discutível. Para os liberais conservadores, liberalismo e democracia são antitéticos, no sentido de que a democracia, quando levada as suas consequências últimas, provoca a destruição do Estado liberal (BOBBIO, 1988, p. 52-53).

27 O utilitarismo é uma doutrina ética desenvolvida pelo filósofo inglês do direito Jeremy Bentham (1748-1832). 28 Como salienta o estudioso italiano Norberto Bobbio, “na tradição do pensamento anglo-saxão, que certamente é a que forneceu a mais duradoura contribuição ao desenvolvimento do liberalismo, a partir de Bentham o

Em seu ensaio sobre a liberdade, Stuart Mill propôs formular um princípio com base no qual fosse possível estabelecer limites à interferência da opinião coletiva em relação à independência individual. De acordo com Balbachevsky (1999), o princípio proposto por Mill foi o de que “o único objetivo a favor do qual se pode exercer legitimamente pressão sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a vontade dele, consiste em prevenir danos a terceiros.”

Segundo Balbachevsky (1999), as contribuições dadas por Stuart Mill à filosofia liberal são a sua consideração de que a liberdade não é apenas um bem individual, mas também social, advogando, com isso, em favor da completa liberdade de expressão; e o seu esforço em pensar uma legislação que pudesse ser um meio de criar, aumentar e igualar as oportunidades, não cabendo ao liberalismo impor limites arbitrários aos seus usos.

Mas o utilitarismo só corrobora a busca pela eficiência, que é a marca registrada do liberalismo. Nesse sentido, nada muda em relação ao despotismo do livre mercado e ele continua sendo o mecanismo ideal de regulamentação social, por ser considerado o mais eficiente. O Estado deve se limitar a proteger os cidadãos das ameaças externas, mantendo a ordem interna e garantindo a propriedade privada e a liberdade individual. Tudo se passa como se o Estado atuasse tal um juiz esportivo que está preocupado apenas em manter as regras do jogo, sem se preocupar se elas são justas ou não.

Como vimos, em meados dos séculos XVIII e XIX, o desenvolvimento da indústria e do comércio forçou o alargamento das bases sociais do sistema político, com a incorporação do proletariado.29 As divergências entre as classes (capitalistas e operários) se intensificaram, fazendo aparecer uma visão crítica da sociedade liberal. Duas correntes de pensamento socialista apareceram no cenário para se contrapor à ordem liberal-burguesa: o “socialismo utópico” e o “socialismo real”30. Marx foi fundamental neste momento da história, utilitarismo e o liberalismo passaram a caminhar no mesmo passo, e a filosofia utilitarista torna-se a maior aliada do Estado liberal. A passagem do jusnaturalismo ao utilitarismo assinala para o pensamento liberal uma verdadeira crise dos fundamentos, que alcançará o renovado debate a respeito dos direitos do homem desses últimos anos.” (BOBBIO, 1988, p. 63-64)

29 De acordo com Castel (1998 apud CARDOSO 2010), o proletariado, enquanto classe, se movimentou primeiramente para afirmar desde sua origem a dignidade do trabalhador braçal e sua proeminência social enquanto verdadeiro criador de riquezas, visto que na primeira metade do século XIX o trabalho industrial foi considerado como “corruptor das faculdades mentais”. Castel diz que o proletariado era visto como “vil multidão” e “bando de bárbaros”, o que configurava o que ele chamou de racismo anti-operário, que era difundido amplamente entre a burguesia. De acordo com Cardoso (2010), esse estigma vinha da transição lenta que se dava entre a impossibilidade do uso da mão de obra escrava e o trabalho assalariado nas fábricas, pois eram os escravos negros, agora livres e sem trabalho, juntamente com as pessoas da classe mais baixa da sociedade, que compunha o proletariado. O trabalho braçal sempre tinha sido feito por escravos e, por isso, nada havia mudado no imaginário social.

30 O “socialismo utópico” e o “socialismo real” foram as duas correntes que se tornaram adversárias políticas inconciliáveis na Europa. Os “socialistas utópicos” eram assim denominados por Marx por entenderem ser

demonstrando o quanto o Estado liberal (burguês) funciona como puro e simples “instrumento de domínio.” A concepção de Marx a respeito do Estado é puramente técnica, contrapondo a concepção “ética” prevalecente nos escritores que o precederam (BOBBIO, 1988, p. 163).

Carnoy (1994, p. 65-71) observa que os discípulos de Marx sempre partiram de pressupostos comuns a respeito do Estado. Todos eles consideram que as condições materiais de uma sociedade, consubstanciadas no modo e nas relações de produção, formam a base de sua estrutura social, da consciência humana e da sua forma de Estado. Por isso, o Estado não busca o bem-comum para todo mundo, porque é a expressão política dos interesses da classe dominante. Assim, o Estado não está separado e nem acima dos conflitos sociais, mas profundamente envolvido neles. O Estado é visto também como uma instituição socialmente necessária, pois é responsável pela mediação do conflito de classes e pela manutenção da ordem capitalista. Por último, o Estado é encarregado da repressão na sociedade burguesa.31 possível conciliar o capitalismo industrial burguês com as necessidades sociais dos operários, através da boa vontade e participação de todos, desconsiderando o conflito entre as classes. São eles: os franceses Charles Fourier (1772-1837), Claude-Henry de Rouvroy Saint Simon (1760-1825) e Pierre-Joseph Proudhon (1809- 1865) e o inglês Robert Owen (1771-1858). Eles se dividiram em três grupos de partidos que ainda hoje têm significativa influência e poder nos principais países da Europa ocidental: os socialistas democráticos (não marxistas), os sociais-democratas alemães e os trabalhistas ingleses. Marx e Friedrich Engels (1820-1895), pensadores alemães que passaram grande parte da vida na Inglaterra, tornaram-se os maiores críticos desse grupo, e foram os responsáveis pelos partidos comunistas que, depois da revolução de outubro de 1917, na Rússia, tornaram a sua vertente socialista conhecida como a do socialismo real. Distantes de ambas as correntes estão os anarquistas Proudhon e Mikahil Bakunin que, entre 1869 e 1872, lutaram contra Marx pelo controle da Primeira Internacional (BOBBIO, 1988).

31 Carnoy (1994) diz que apesar de haver esses pontos em comum, os discípulos de Marx se dividiram em quatro grandes grupos em relação a uma teoria sobre o Estado capitalista. São elas: o Instrumentalismo, o Estruturalismo, o Criticalismo e o Estatismo. Os instrumentalistas (Lenin, G. William Domhoff, Ralph Miliband e Paul Sweezy) afirmam que o Estado capitalista é um instrumento utilizado pela burguesia para se manter como classe dominante. Esse modelo de Estado, cuja função principal é dirigir a coerção, é controlado diretamente pela burguesia e representa a força armada desta última. Por estar tão diretamente vinculado à luta de classes, o Estado só existe enquanto perdurar esse conflito. Os adeptos dessa corrente pregam a tomada violenta do poder, a destruição do aparelho estatal burguês e a construção do Estado Socialista, o qual extinguirá a propriedade privada dos meios de produção, permitindo o advento do comunismo e a extinção do próprio Estado. Os estruturalistas (Nicos Poulantzas, Louis Althusser e Antonio Gramsci) e os estatistas (Claus Offe, Erik Olin Wright e James O’Connor) baseiam-se numa relativa autonomia do Estado em relação à burguesia. Entretanto, apesar de não ser um mero instrumento da burguesia, o Estado continua tendo suas ações limitadas pela luta de classes. Para eles, a burocracia adquire autonomia em duas situações. A primeira, que ocorre muito mais frequentemente, deriva dos conflitos internos da própria classe dominante, que são solucionados com maior facilidade por uma burocracia independente, porque os burgueses nem sempre participam diretamente do aparelho estatal. A segunda situação decorre do fato de a burocracia, apesar de permanecer como agente da classe dominante, lutar constantemente por mais poder. Assim sendo, em determinadas situações muito especiais, como, por exemplo, quando há um relativo equilíbrio entre as classes em luta, ela pode se afirmar como autônoma. Por outro lado, mesmo esse Estado autônomo depende economicamente da burguesia dominante para desenvolver o país e obter recursos – via arrecadação de tributos. Além disso, depende do suporte político proveniente das classes em luta. Logo, essa burocracia não é nunca inteiramente autônoma. A corrente critica (Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse e Jürgen Habermas) funda-se na análise político- econômica do Capital, especialmente no que concerne às leis econômicas do desenvolvimento capitalista definidas por Marx. Joachim Hirsch (apud CARNOY, 1994, p. 77) define o Estado burguês como “a expressão de uma forma histórica específica de dominação de classe, e não simplesmente como o portador de funções sociais particulares”. Acrescenta que ao Estado cumpre criar a infra-estrutura que os capitais privados não podem gerar, devido aos seus limitados interesses de lucro. Além disso, o Estado capitalista deve intervir para

De acordo com Mészáros (2007, p. 289) “o Estado foi formado não como um resultado mecânico unilateral, mas por meio de sua inter-relação recíproca necessária com o fundamento material do surgimento histórico do capital, não apenas modelado conforme este, mas também como algo que o modela ativamente tanto quanto historicamente possível nas circunstâncias vigentes – bem como mutáveis, precisamente em virtude dessa inter-relação.”

Agamben (2002, p. 135-138) analisa o fundamento jurídico da cidadania como inscrição da vida natural (zoé) na ordem jurídico-política do Estado-nação, tomando-o enquanto paradigma central de funcionamento das leis que normatizam o campo da política e da ação social, de maneira que a inscrição do Estado é sempre através da lógica da exceção. Agamben (2002, p. 139) nos alerta para uma das características essências da biopolítica moderna, que é a descontinuidade entre os direitos do homem e os do cidadão, pondo em crise a ficção originária da soberania do Estado-nação, o que implica, de acordo com Zizek (2003, p. 120), que não existe espaço para o projeto democrático apenas renegociando o limite que separa o cidadão de pleno direito do homem enquanto vida nua. A posição de Zizek é a de que “na ‘pós-política’,32 o próprio espaço público democrático é uma máscara que esconde o fato de, em última análise, sermos todos homo sacer.” Não há, para Agamben, no entendimento de Zizek, uma redução da política à “biopolítica”, no sentido exato de ser a política apenas a administração e a regulação da vida nua, deixando claro que a “vida nua” já não é o terreno ultimo da política (ZIZEK, 2003, p. 120).

A pós-política demonstra o caráter contraditório do processo que determina o insuturável descolamento entre os direitos do homem e os direitos do cidadão, pois para este cabem ações políticas, mas para a vida nua cabem apenas ações de caráter “unicamente humanitário e social” (AGAMBEN, 2002, p. 140). Isso acontece com as campanhas e organizações humanitárias que não podem, em última análise, fazer mais do que compreender a vida humana na figura da vida nua e, por isso mesmo, mantêm a contragosto uma secreta

compensar as reduções decorrentes da lei da taxa decrescente de lucro e restabelecer a acumulação de capital. Nessa visão, o Estado atua para facilitar a extração do excedente dos trabalhadores. É essa extração, e não a luta de classes, a variável fundamental para a compreensão da forma do Estado capitalista.

32 A pós-política é a redução da política à “biopolítica” foulcaultiana no sentido exato de administrar e regular a vida nua. Pensar que Agamben prevê uma saída via democracia liberal ou parlamentarista é interpretá-lo mal. Zizek (2003, p. 121) diz que ele se inscreve contrario a um projeto democrático emancipatório de uma política em si concebida como um processo sem fim, capaz de desestabilizar a estrutura do poder, mas sem jamais solapá-la efetivamente. O objetivo último desse tipo de política é o de deslocar gradualmente o limite da exclusão social, aumentando o poder dos agentes excluídos (minorias sexuais ou étnicas) pela criação de espaços marginais em que possam articular e questionar a própria identidade. Para Zizek (2005) essa é a característica principal do multiculturalismo. Essa discussão retornará no capítulo que abordaremos a política implicada no desejo do analista.

solidariedade com as forças que deveriam combater. São apenas políticas de vitimização nas quais as pessoas estão jogadas em zonas de anomia (AGAMBEM, 2002, p. 140).

Bauman (2000, p. 194) nos lembra que os ativistas do movimento “Médicos sem fronteira” queixaram-se de que sua iniciativa foi apresentada pela mídia como humanitária e cinicamente explorada pelos poderes instituídos para justificar sua própria inação e aliviar a consciência de seus súditos, por exemplo, na Bósnia ou em Ruanda.33

No documento Paula Angela de Figueiredo e Paula (páginas 51-57)