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CAPÍTULO III A METODOLOGIA

3. Processo de recolha de informação

Como a matriz adotada para a investigação segue uma metodologia de natureza qualitativa, privilegiou-se o recurso a formas diversificadas de recolha de dados consentâneo com essa abordagem e os seus fundamentos de modo a poder fundamentar as conclusões em "múltiplas fontes de evidência" (Yin, 2005: 126), conforme a afirmação:

A vantagem mais importante que se apresenta no uso de fontes múltiplas de evidências, no entanto, é o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação, um processo de triangulação (…). Assim, qualquer descoberta ou conclusão em um estudo caso provavelmente será muito mais convincente e acurada se baseada em várias fontes distintas de informação, obedecendo a um estilo corroborativo de pesquisa.

Para a recolha de dados, previa-se o recurso a mecanismos combinados que permitissem uma focagem profunda e ampla das lógicas de ação, quer em termos de processos concretos e realizações, quer em termos de discursos e perceções. Assim, recorreu-se a instrumentos de recolha de dados, como entrevistas semiestruturadas e documentos escritos, nomeadamente atas, com posterior análise de conteúdo. Procurou-se triangular as informações com base no recurso a diversas técnicas de recolha de dados, promovendo o diálogo entre as

fontes de evidência empíricas39 e o quadro teórico-concetual desenvolvido.

Entre as técnicas de recolha de informações apresentadas em metodologia qualitativa, a entrevista adquire uma importância expressiva no estudo de caso, sendo das mais utilizadas. Pois, a partir dela, o investigador percebe a forma como os sujeitos interpretam as suas

39 Yin (2005:112) defende: “Na verdade as várias fontes são altamente complementares, e um bom estudo de caso utilizará o maior número

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vivências já que ela “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan e Biklen, 1994: 134).

Sendo a entrevista “uma conversa entre um entrevistador e um entrevistado que tem o objectivo de extrair determinada informação do entrevistado” (Moser e Kalton, 1971: 271, citado por Bell, 1997: 118 e 119), permite recolher a informação pretendida de forma direta e imediata. Tratando-se da abordagem em profundidade do ser humano, a entrevista constitui um instrumento essencial proporcionando uma compreensão rica e matizada das situações, como afirma Ruquoy (1997: 85): “De que informações dispomos graças à entrevista? (…) aquilo que é dito nos presta informações, em primeiro lugar, sobre o pensamento da pessoa que fala e, secundariamente, sobre a realidade que é objecto do discurso”. Através do discurso dos entrevistados é possível inferir factos relativos a um contexto e apreender conteúdos profundamente interiorizados.

A técnica de entrevista possibilita, também, conhecer o que as pessoas pensam sobre determinado assunto, os seus pontos de vista, respeitando como defende Quivy e Campenhoudt “os próprios quadros de referência – a sua linguagem e as suas categorias mentais” (2005: 194). Neste sentido, a entrevista admite um “grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos” (Quivy e Campenhoudt, 2005: 194) representando uma das principais vantagens desta técnica.

Como exigência na aplicação desta técnica, refere-se a pertinência da adequação das entrevistas ao contexto do entrevistado, a elaboração das questões claras, coerentes e com encadeamento. Como este objeto de estudo envolve relações em torno do comportamento humano, esta técnica de diálogo assimétrico, entre entrevistador e entrevistado, permite através da interação estabelecida alargar o campo de conhecimento.

Para o desenvolvimento do processo de recolha de informação, foram elaborados e utilizados guiões de entrevistas semiestruturadas, para as quais todos os entrevistados tiveram antecipadamente conhecimento da existência de um trabalho de investigação e do referido tema. O guião teve como função “levantar uma série de tópicos” (Bogdan e Biklen, 1994:135) e, durante a entrevista, não permitir o desvio em demasia do assunto em estudo. Quivy e Campenhoudt explicam a função do guião da entrevista semiestruturada a partir das seguintes considerações:

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Geralmente o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado. Mas não colocará necessariamente todas as perguntas pela ordem em que as anotou e sob a formulação prevista. Tanto possível, „deixará andar‟ o entrevistado para que este possa falar abertamente, com as palavras que desejar e na ordem que lhe convier (2005: 192-193).

Foi neste cenário que a investigadora se colocou quando adotou o guião e realizou as

entrevistas desta investigação. Esta técnica de entrevista (semiestruturada), como referem Quivy e Campenhoudt (2005:192), dada a sua flexibilidade e fraca diretividade, permitiu “retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados”, possibilitando, por um lado, analisar o sentido que os atores atribuem às suas práticas e experiências, e, por outro, permitir o contacto direto com os interlocutores para exprimirem “as suas percepções (...) as suas interpretações ou as suas experiências”.

Uma vez que se pretende fazer inferências globais faz todo o sentido constituir-se uma amostra "tipificada" da população a estudar. Assim, a seleção dos entrevistados foi pautada pela preocupação de assegurar uma variedade de atores envolvidos na operacionalização do programa avaliativo, integrando docentes com diferentes experiências e responsabilidades no âmbito do processo de avaliação. Todos os inquiridos são fundamentais para perceber o impacto e implicações que este programa operou na organização. Assim, a amostra para este estudo é composta por 16 entrevistas que foram aplicadas a 10 docentes, 3 discentes, 1 representante dos pais/encarregados de educação, 2 representantes do pessoal não docente, sendo os entrevistados selecionados com base na combinação dos critérios: cargos desempenhados e a participação no processo em causa. Contactaram-se os atores entrevistados no sentido de se conhecer a sua disponibilidade para participar na investigação através da realização da entrevista. Após o consentimento dos participantes, foi agendada a data, a hora e o local para fazer a entrevista. Estas decorreram entre os meses de fevereiro e junho de 2009 e tiveram lugar em diferentes espaços da escola.

Uma entrevista implica sempre uma condição de interação social única sujeita a diferentes leituras e avaliações das partes intervenientes procurando perceber intenções e prever as implicações das respostas. Como afirmam Ghiglione e Matalon (1992: 2) “Conscientemente ou não, ela [a pessoa inquirida] diz-nos apenas o que pode e quer dizer-nos, facto que é determinado pela representação que faz da situação e pelos seus próprios objectivos, que não coincidem necessariamente com os do investigador”. A este propósito, no decurso das entrevistas procurou-se criar um clima de confiança, empatia, credibilidade (Bogdan e Biklen,

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1994) para que o entrevistado se sentisse à vontade para se expressar livremente. Esta tarefa foi acautelada pelo entrevistador em cada situação concreta.

Todas as entrevistas foram gravadas em fita magnética com conhecimento e autorização prévia dos entrevistados. Para além disto, foram consideradas todas as normas éticas recomendadas quanto ao anonimato, à confidencialidade e à utilização exclusiva para os fins enunciados.

À medida que se efetuavam as entrevistas, fazia-se a sua transcrição. Este processo proporcionou um conhecimento aprofundado da informação obtida que se tornou muito útil na fase de categorização das informações. Apesar de alguns autores defenderem que não se

justifica a transcrição das entrevistas e aconselharem a não socorrer-se desse procedimento40,

optou-se pela sua transcrição, por se entender que o tempo investido nesta tarefa poderia ser recuperado no momento de proceder à sua análise, quando surgisse necessidade de recorrer a elementos considerados relevantes.

O significado e o contexto da entrevista podem ser mais e melhor apreendidos se, como suplemento de cada entrevista, o investigador recorrer a notas de campo. Depois de voltar de cada entrevista, é típico que o investigador faça o relato escrito daquilo que ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha (Bogdan e Biklen, 1994: 150). Através do discurso dos entrevistados é possível inferir factos relativos a um contexto e apreender conteúdos profundamente interiorizados.

Segundo Bogdan e Biklen (1994), numa investigação qualitativa, as entrevistas podem representar a técnica principal para a recolha de dados ou podem ser conjugadas com a análise de documentos e outras técnicas. Deste modo, também se efetuou a análise de documentos considerados pertinentes para complementar a investigação.

A consulta de documentos podia constituir uma fonte de informação importante no contexto global da investigação, podendo confirmar e complementar os dados recolhidos por meio de outras técnicas: “Para os estudos de caso, o uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências oriundas de outras fontes (Yin, 2005: 112). Neste âmbito, procedeu-se à leitura de atas referentes aos conselhos dos diferentes departamentos e coordenadores de diretores de turma. Apenas foram encontradas algumas informações

40 A este propósito afirmam Nisbet e Watt: "Do not transcribe interviews (...). One hour of interviewing becomes ten hours' work when transcribed;

and the mass of words and paper interferes with one of the main tasks, which is to identify key statements and graphic illustrations. This is best done from notes, suplemented by a recorder" (1984: 83).

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genéricas relacionadas com o processo da avaliação externa em algumas atas dos departamentos de Ciências Exactas e da Natureza e Expressão Artística, Tecnológica e Educação Física. Nas atas dos outros conselhos, estruturas de orientação educativa (Coordenadores de Diretores de Turma e departamentos de Línguas e Ciências Humanas e Sociais) assistiu-se à ausência de informação referente ao processo de avaliação externa da escola e a aspetos dela decorrentes.

Ao invés do propósito inicial, não foi permitida a consulta das atas dos conselhos da Assembleia de Escola, do Pedagógico e do Executivo, apesar de várias diligências desenvolvidas junto dos responsáveis. Um dos argumentos invocado para justificar esse impedimento prendeu- se com a confidencialidade desses documentos em relação a pessoas estranhas aos conselhos. O facto de não se ter tido acesso a documentos desses órgãos significa estar-se privado de uma fonte de informação que poderia ser relevante para o processo avaliativo. Contudo, as atas nem

sempre refletem todo o conteúdo da reunião, como observa Lima (1998b: 370)41:

(…) as actas não revelam nem esclarecem tudo [...]; tendem a fixar mais as decisões do que os processos e as discussões, escondem, ou simplesmente não registam, certos factos, tendem a oferecer uma versão 'oficial' da realidade, até pelo facto de o seu conteúdo ser 'negociado.

A recolha da informação das atas foi feita in loco durante o mês de julho de 2009, compreendendo as atas elaboradas entre o momento em que a escola tomou conhecimento do processo de avaliação (início do ano lectivo 2007/2008) e o final desse mesmo ano.