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Processos de inclusão no município de João Pessoa

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS PROCESSOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO

3.3 Processos de inclusão no município de João Pessoa

Neste tema apresentaremos um breve resgate sobre a crescente expansão das instituições e dos serviços que envolvem a educação especial em nosso município, partindo da década de 80 até os dias atuais. Levando em consideração a ordem cronológica do surgimento dos serviços, instituições e fundações que ora são citadas, como: a Educação Especial na UFPB (1980, 1990, 2003); Biblioteca Braile (1980); Sistema Universal Verbonal de Audição Guberina SUVAG (1983); Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiente FUNAD (1989); Núcleo de Educação Especial NEDESP/UFPB (1990); Comitê de Apoio aos Estudantes Portador de Necessidades Especiais COMPORTA ESPECIAL (2003); Centro de Atividades Especiais Helena Holanda CAEHH (2005); APAE/PB, PESTALOZZI, Centro de Referência e Inclusão para Pessoas Deficientes CRIPD (2006) (HOLANDA, 2007, p. 68-89).

Data de 1945 as atividades pioneiras da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, para suprir as necessidades de livros para estudantes e pessoas cegas9. Na mesma década foi

9 FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS, ANTIGA Fundação para o Livro do Cego no Brasil, foi

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inaugurada oficialmente em 29 de abril de 1947, a biblioteca do Centro Cultural São Paulo10 que conta com cerca de 140 usuários em todo o país - é composta por aproximadamente 6.500 títulos. É a maior do gênero no Brasil. O acervo de livros abrange obras de referência, ficção, literatura brasileira e portuguesa, literatura infantil, além de periódicos nacionais e estrangeiros.

Esta biblioteca foi criada por Dorina Nowill, com intuito de suprimir a necessidade de se transcrever, para o sistema, os livros que compunham o acervo da Biblioteca Infanto juvenil Monteiro Lobato. Possibilitou pela primeira vez no país, que crianças com deficiência visual tivessem um acervo especializado destinado a elas. Na UFPB, o acervo que se encontra na biblioteca central, foi a primeira iniciativa da educação especial para alunos cegos. Construída em 1980, contemplou através de um setor de braile alunos cegos, permitindo assim uma maior interação com os livros e o saber (HOLANDA, 2007 p. 87).

As entidades de cunho não governamental ganharam força, aliados e espaços públicos para se expandirem. Nos anos 1980, no Brasil, as pessoas surdas também são priorizadas, com instituições voltadas para elas, por força de um movimento que teve início ainda na década de 1950. E João Pessoa não ficou fora deste contexto, aderiu o que se considera um trabalho de grande credibilidade direcionado as pessoas com deficiência auditiva o Sistema Universal Verbonal de Audição Guberina / SUVAG.

O SUVAG foi divulgado em 1954 pelo professor de línguas estrangeiras, lingüista e foneticista o iugoslavo Peter Guberina. A partir daí, a Metodologia Verbotonal11 vem sendo utilizada em mais de 3000 centros espalhados por diversos paises, filiados ao centro SUVAG Internacional, com sede em Zagrev, Croácia. No Brasil, o Centro SUVAG é uma respeitada instituição de caráter cientifico e integrador dos quinze centros com a mesma denominação registrados no nosso país. Em nosso município, este centro teve seus primeiros passos na década de 80, por iniciativa de um grupo de pais de crianças surdas. Funcionou na Avenida Santa Catarina, Bairro dos Estados, onde começou o trabalho para a criação, que se deu em 02 de março de 1983, sob o registro no. 42.746, tendo sido, porém fundada em 1984.

O SUVAG nasceu com fins de desenvolver programas de recuperação e reeducação auditiva, estudo de foniatria, de logopedia e de pesquisas da educação de pessoas com Adelaide Reis Magalhães, com a colaboração de um grupo de voluntários. Disponível em http://www.fundacaodorina.org.br. Acesso em out/2007.

10 bibliotecaccsp@prefeitura.sp.gov.br. In 2004, agenda da Revista dos Sentidos, Ed. 40, p.200. 11 Um método de educação da audição e linguagem que a partir da estimulação da motricidade, da afetividade e

de todos os canais sensoriais, inclusive, e, principalmente, o auditivo, objetiva criar condições para que a expressão oral aconteça através de uma fala o mais natural possível. Disponível em http://www.arpef.org.br/htms/metodo_verbo.htm#metodo. Acesso em Out. 2007.

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deficiência auditiva e da fala. O referido serviço tem sua sede no Campus I da UFPB Universidade Federal da Paraíba. Esta aquisição se deu no ano de 1984, por conta de um convênio entre estas instituições, ainda na gestão do reitor Berilo Borba que também era integrante do Lions Clube de João Pessoa. De acordo com a Profa. Benedita Dutra, diretora do serviço. [...] foi realmente registrada em 1984. Foi instalado na Universidade, inclusive o prédio já foi construído com este objetivo. Foi justamente por força do convênio SUVAG e UFPB que funciona na UFPB.

O Núcleo de Educação Especial da UFPB foi fruto do trabalho desenvolvido no Setor de Educação Especial do Centro de Educação, pela necessidade de atendimento apresentado por alunos universitários deficientes visuais, no campus I, a partir de 1977. Segundo consta no Manual do NEDESP (1997), a disciplina Educação de Excepcional é ministrada no curso de Pedagogia desde 1976, por professores especialistas na área de visão. A repercussão deste trabalho levou o Departamento de Fundamentação Pedagógica (atual Centro de Educação) a reestruturar-se e apoiar novos investimentos no setor de educação especial (HOLANDA, 2007, p. 85).

A criação do NEDESP deu-se em conseqüência das ações de atenção e defesa dos direitos, em prol das pessoas com deficiência. Sua criação se deve ao empenho da equipe de professores responsáveis pela área de Educação Especial do Centro de Educação e às professoras: Helena Ferreira e Maria da Piedade Resende da Costa, que elaboraram projetos com seus subprojetos de atendimento psicopedagógico, nas áreas visual e mental e de problemas de aprendizagem. Além disso: Elaborou o regimento interno do Núcleo de Educação Especial que foi aprovado pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão CONSEPE em 17.05.1990, através da resolução no. 09/90, no Reitorado do Professor José Jacson Carneiro de Carvalho (HOLANDA, 2007, p. 85).

Na dissertação de Holanda (2007) a atual coordenadora do NEDESP, Profa. Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues e outros, fizeram um relato de que apesar da resolução para aprovação do referido núcleo ter acontecido em 1990, desde 1988, o núcleo vem desempenhando ações concretas à comunidade. Segue seu relato, fazendo

referência

a estrutura e o inicio do seu funcionamento. Segue o transcrito da entrevista:

[...] o NEDESP começou como uma parte do departamento de educação. Em 1988 foi construído esse prédio inteiro, essa frente do lado direito para escola de música e a frente do lado esquerdo para essa mata tão bonita, para funcionar o Núcleo de Educação Especial. A princípio, o núcleo foi ligado ao centro de educação e pertencia ao centro de habilitação pedagógica através da disciplina de Educação Especial. Nos anos de 1988 1989, houve

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um empréstimo dessa parte final do NEDESP ao SUVAG, o tempo foi passando e o SUVAG ficou aí. Nós ficamos com uma parte e meia do NEDESP funcionando e o SUVAG com aparte restante, mas o SUVAG não tem nada a ver com o NEDESP (HOLANDA, 2007, p. 85).

O NEDESP, assim como todo o departamento da universidade, oferece ensino, pesquisa e extensão, mas o que oferece de mais peculiar é o aprofundamento na educação especial para o curso de Pedagogia e para os diversos cursos da universidade que realizam pesquisas e se utilizam de sua biblioteca especializada. O referido núcleo não tem fins lucrativos, oferece à comunidade atendimentos em grupo ou individualizado. Também conta com um trabalho especializado para os alunos cegos, projetos voltados para alunos surdos, mercado de trabalho e assessoria educacional. Reforçado pela coordenadora quando diz que [...] o NEDESP vai alem das ações da educação especializada. Com um leque de projetos se estende também ao Hospital Universitário Lauro Wanderley e às alunas mães do turno da noite.

Portanto, qualquer seguimento educacional que queira ser inclusivo necessita de sua própria política de inclusão, para que ela se concretize. O NEDESP se apresenta como um núcleo da UFPB comprometido com a educação especial e a inclusão social. Trabalha na perspectiva direta de atender às necessidades especificas dos alunos universitários com deficiência, capacitar a geração atual docente para atuar na educação especial, na formação para professores da rede comum e especializada de ensino, entre outros desafios que torne o aluno mais inclusivo.

Com iniciativa da professora Iguatemi Lucena, que era pró-reitora da UFPB, surgiu em 28 de novembro de 2003, o COMPORTA através da portaria R/GR/No. 069/2003. É mais um organismo que se soma às iniciativas existentes na instituição, no âmbito da educação especial. Assim a profa. Benedita Marta coordenadora do COMPORTA, discorre quando aborda sua criação:

[...] a idéia surgiu com intuito de juntar, fazer um trabalho onde se verificasse o setor de educação especial que já existia dentro da universidade e trabalhava isoladamente. Então o objetivo primeiro era juntar esses setores formando o COMPORTA ESPECIAL para que pudéssemos trabalhar juntos e melhor, em prol dos estudantes portadores de necessidades especiais da graduação (HOLANDA, 2007, p. 82).

Analisando o cenário da educação especial, Rodrigues (2006, p. 48) afirma que a omissão do poder público em relação à Educação Especial resultou no fortalecimento da

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abertura de serviços de iniciativa privada, para absorver o contingente de pessoas com deficiência que não conseguem atendimentos nos serviços oferecidos pelo estado. O Centro de Atividades Especiais Helena Holanda - CAEHH, atualmente sem fins lucrativos, foi uma dessas iniciativas na grande João Pessoa. Sua criação foi fruto do trabalho de mais de 30 anos da educadora física e atual presidente Helena Maria Duarte de Holanda. Que também, desenvolveu trabalhos relevantes, na APAE/PB, Pestalozzi/PB e FUNAD. Por ocasião da sua aposentadoria, dedicou-se mais ainda a causa da pessoa com deficiência, abrindo inicialmente uma academia com fins lucrativos, direcionada para esse segmento social na perspectiva da inclusão social. Desde 2000 até os dias atuais o CAEHH transforma-se em uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos.

O Movimento das APAEs é o maior movimento filantrópico do Brasil e o segundo maior do mundo. Este movimento deu origem às diversas APAEs do Brasil, como também em João Pessoa, quando: Aos vinte e nove dias do mês de março do ano de 1957, ás vinte horas e trinta minutos, na residência do senhor José Régis [...] teve lugar a reunião de instalação provisória da associação de Pais e Amigos dos Excepcionais da Paraíba [...] Os sócios fundadores efetuam depósito inicial para despesas de impressão dos Estatutos, ficha de sócio e talões de recibo, e é a professora Olívia Pereira que recebe o título honorário. Assim começou a APAE (HOLANDA, 2007, p.38).

Atualmente a APAE é dirigida pelo Sr. Ivaldo Araújo e a instituição conta com um quantitativo de pouco mais de quatrocentos alunos. Seus serviços têm como base três tipos de atendimento: clínico, escolar e educação profissional. O clínico está diretamente ligado à reabilitação; o escolar é reconhecido pelo conselho de educação, em condição de escola regular de ensino e a educação profissional é oferecida através de oficinas de informática, tecelagem, jardinagem, horta e artes que também se amplia á comunidade desde que apresente algum déficit de algum aprendizado.

A criação da escola na APAE-JP se confunde com a fundação12 dessa instituição, porque o propósito inicial do grupo de pais fundadores foi criar um espaço que possibilitasse a escolarização de seus filhos, deficientes mentais. Isto aconteceu no ano de 1957. Mais tarde a escola teve sua primeira autorização de funcionamento em Educação Infantil e Ensino Fundamental, na modalidade educação especial, expedida em 17 de outubro de 2002 como Escola de Educação Especial.

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A sociedade também tem um papel relevante nesses benefícios efetivados em relação às pessoas com deficiência. O surgimento de escolas especializadas governamentais é uma resposta a esses atos da sociedade, transformadas em leis, ainda que de modo tímido, vêm a garantir o direito fundamental de educação, minimizando, assim, a exclusão educacional.

Durante o governo de Ernani Sátyro (1971-1975), cumpre-se a Lei Federal 72.425 de 03 de julho de 1973 que determinava que a educação especial no Brasil fosse implantada, ficando a cargo do CENESP - Centro de Educação Especial, a estruturação nas unidades federais, inclusive na Paraíba.

Dois meses após este ato, criou-se em três de setembro de 1973 a primeira escola de Educação Especial do Estado, ligada á Secretaria de Educação e Cultura do governo, na gestão do então secretário Carlos de Freitas, a quem coube autorizar a criação da referida escola de Educação Especial. A escola foi criada com o objetivo de dar assistência às crianças portadoras de deficiência mental (HOLANDA, 2007, p. 51).

A primeira Sociedade PESTALOZZI do Brasil foi fundada na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, em novembro de 1932, iniciando assim o movimento PESTALOZZI brasileiro. Este movimento totaliza atualmente cerca de 100 instituições espalhadas por todo o país, cuja missão é contribuir para a melhoria da qualidade de vida, através de ações que valorizem o ser humano, tendo como objetivo criar o maior número possível de escolas para as crianças excepcionais.

A responsável por esse movimento no Brasil foi a grande pesquisadora e educadora, a professora Helena Antipoff, que implantou, no país, uma política de educação e assistência á criança portadora de deficiência mental. A PESTALOZZI em João Pessoa, também integrante do movimento PESTALOZZIANO, foi fundada no ano de 1977, no governo do Sr. Ivan Bichara Sobreira, e teve como primeira presidente a senhora Josete Campos.

Como providencia para funcionamento da Sociedade Pestalozzi da Paraíba, a Senhora Myrtes Bichara conseguiu o prédio da antiga Escola de Formação de Oficiais da Policia Militar do Estado, onde se manteve em funcionamento somente até 1986. No ano de 1986, voltou a funcionar com a ajuda do governo Burity. A primeira dama do Estado, D. Glauce Burity empenhou-se na sua reabertura, passando a funcionar no Bairro do Cristo, onde ainda funciona nos dias atuais (HOLANDA, 2007, P. 52 54).

A Prefeitura Municipal de João Pessoa criou o Centro de Referência Municipal e Inclusão para Pessoas com Deficiência CRMIPD, antiga instalações do Centro de Educação da Paraíba LTDA. Sendo dado continuidade parte das atividades de reabilitação, lúdicas e

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educacionais voltadas para pessoas com deficiência nas áreas motora, mental visual e audiocomunicação.