• Nenhum resultado encontrado

Produção das notícias, editores, participação da Direção Nacional e a

Assim que o MST foi criado, no início de 1984, os produtores do Boletim Sem Terra anunciaram que estava chegando o Jornal Sem Terra, um projeto engajado, em formato de tabloide, que redimensionava alguns dos seus objetivos e condições existenciais. Vem aí o

Jornal Sem Terra. Esta era a chamada para os leitores do boletim na edição nº 35, de abril de 1984. A decisão de transformar o boletim em tablóide foi tomada no I Encontro Nacional de

Trabalhadores Rurais, realizado no município de Cascavel – PR, em janeiro de 1984. Ao enfatizar o lançamento do tabloide, os editores forneceram pistas de que o impresso redimensionaria sua produção, na perspectiva de ser um periódico com um caráter mais profissional. Assim, diziam que “uma equipe de 10 jornalistas trabalhará na edição do jornal que vai contar com a colaboração dos próprios lavradores, pessoas ligadas ao trabalho pastoral, sindicalistas e estudiosos da problemática agrária”136. O nascimento do Jornal Sem Terra não significava a extinção do boletim, mas sua continuidade, com uma nova roupagem e direcionamentos. Também, havia uma preocupação de não excluir os trabalhadores e tradicionais colaboradores de sua produção. O jornal passou a ser pensado em uma perspectiva mais ampla, abrangente, e estava ligado e sob a responsabilidade do recém-criado MST.

Eram agregados novos desafios ao periódico e na edição seguinte, de julho de 1984, nº 36, o nome estampado já era Jornal dos Trabalhadores Sem Terra. O nome do jornal ainda seria modificado em outubro de 1988, na edição nº 77, passando para Jornal dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra. As mudanças de nomenclatura revelam significados e

66 redimensionamentos na produção do jornal. Segundo Bezerra, “revela os níveis de abrangência social de sua atuação, tornando-se um indicativo de seu amadurecimento político, enquanto ferramenta de comunicação e de luta representativa de um Movimento em acelerada construção”137. A partir de 1984, ao ser apresentado como Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, era evidenciado que o periódico, antes de qualquer coisa, seria um jornal da organização do MST.

Na edição de julho de 1984, ao lado do editorial, são elencados os novos desafios que o tabloide teria. No expediente, informa-se que a publicação é de responsabilidade do

Movimento dos Sem Terra da Regional Sul (RS, SC, PR, SP e MS). Verifica-se também que há uma divisão mais delineada das funções e atribuições dos profissionais envolvidos na produção do jornal. Nessa edição, faz-se uma retrospectiva histórica em relação à sua existência e produção, chamando-se a atenção para fato de o jornal ampliar-se na medida em que o Movimento Sem Terra crescia. Nota-se que o periódico era visualizado como um instrumento político do movimento social que se formava e se desenvolvia nacionalmente. Assim, era necessário fazer do jornal um “órgão de divulgação forte, amplo e que atingisse todo o país”138. Para tanto, era preciso contar com um corpo maior de pessoal e de

profissionais jornalistas nos trabalhos de produção da notícia e editoração.

Sendo um jornal dos Sem Terra139, houve preocupação dos responsáveis em enfatizar

que os trabalhadores deveriam participar da produção e auxiliar na divulgação e distribuição do impresso.

Mas o êxito do jornal depende fundamentalmente dos trabalhadores sem- terra. Eles é que deverão sugerir matérias, discutir com seus companheiros, sugerir assuntos e avaliar seu conteúdo. O jornal só será importante se efetivamente contribuir para um avanço da organização dos sem-terra e para o sucesso de suas lutas. Dos lavradores também depende que o jornal atinja um maior número possível de leitores, nos locais mais difíceis e distantes do país. O Movimento vai continuar crescendo na luta pela Reforma agrária e o jornal deve acompanhar esse crescimento, com a participação de todos140.

Por mais que as lideranças do MST, envolvidas na produção do periódico, dissessem que os trabalhadores precisavam participar da composição do jornal, enviando notícias e sugerindo matérias, havia limites sobre isso. De acordo com Perli, “mesmo tendo os

137 BEZERRA, A. A., O Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e seus Temas: 1981-2001, p. 39. 138 Depois de três anos, um novo desafio. Jornal Sem Terra. Porto Alegre, julho de 1984, Ano III, nº 36. p. 2. 139 O Sem Terra com letra maiúscula e sem hífen diz respeito aos sujeitos que integram e pertencem à

organização do MST.

67 acampamentos / assentamentos como ponto de referência para a elaboração de matérias do jornal, as dificuldades de escrita e o alto índice de analfabetismo dos sem-terra tornavam a tarefa restrita a poucos integrantes do movimento”141. Havia então um distanciamento entre o leitor real e o leitor ideal, e o trabalhador ideal criado pelo Movimento.

Nesse momento, era atribuída ao jornal a responsabilidade de contribuir com o avanço da organização do Movimento e com sucesso das lutas. Isto é, o periódico deveria ser um instrumento do MST. Na medida em que sua organização fosse crescendo, o jornal deveria acompanhar esse crescimento. Nessa perspectiva, o Jornal Sem Terra é uma fonte riquíssima e imprescindível para se estudar momentos históricos e aspectos que marcaram a organização do Movimento, haja vista que sua historicidade está intrinsecamente ligada à trajetória histórica do MST. Na edição citada, observa-se que a tiragem de exemplares aumentou para dez mil. A formatação do periódico se modificou consideravelmente, trazendo mais imagens, manchetes de capa e notícias melhores elaboradas, como se pode observar na página nº 2 da edição nº 36, de julho de 1984.

68 Imagem 3 - Jornal Sem Terra. Porto Alegre, julho de 1984, p. 2

Editor responsável: Flademir Araújo

No transcorrer do I Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, realizado em janeiro de 1985, no município de Curitiba/PR, foi deliberada a transferência da

69

Secretaria Nacional do MST de Porto Alegre para São Paulo, bem como a redação do Jornal

Sem Terra. Essa mudança foi vista pelas lideranças do MST como estratégica, pois a cidade de São Paulo era considerada o centro político mais representativo em âmbito nacional e sua localização geográfica era favorável para a articulação com outras lutas.

No que tange ao jornal, sua produção, divulgação e distribuição seriam facilitadas. Também era a oportunidade de conquistar mais leitores e espalhar as edições para as mais variadas regiões do país. A mudança foi explicada na edição nº 43, março/maio de 1985. Em mensagem destinada aos leitores, os produtores do jornal diziam: “a transferência para São Paulo, centro político mais importante do país, indiscutivelmente, é explicada pelas facilidades que trará à organização dos sem-terra, tanto do ponto de vista político, como de estrutura e de divulgação do seu Movimento”142. Nessa mesma mensagem, os editores

agradecem aos leitores e chamam a atenção para que assinem e divulguem o jornal, contribuindo com a luta dos trabalhadores.

Em São Paulo, o Jornal Sem Terra passou a ser composto, montado e impresso na empresa Cia Editora Joruês. A relação com essa editora não era apenas comercial, mas também ideológica. Em 1985, o jornal já havia alcançado a tiragem de vinte mil exemplares, e sua editoração passou a ser mensal, mesmo havendo pequenas oscilações entre os meses de dezembro e janeiro, em que havia uma publicação bimestral. Neste período, até o ano de 1989, o Movimento se consolidava e se territorializava em todas as regiões do país. Sua organização buscava autonomia em relação aos grupos de apoio e investia na formação dos seus quadros de militantes. Nas palavras de Fernandes, entre 1985 e 1989, o MST “foi se consolidando como movimento nacional, ao se fazer presente em todas as regiões do país. Essa fase também foi um momento de definições importantes no estabelecimento de sua estrutura organizativa e de sua identidade política”143.

O período entre 1985 e 1989, em que o Movimento privilegiou as mobilizações como ocupações, acampamentos, passeatas e manifestações diversas foi relevante para a construção de sua identidade política, também para a “expansão, consolidação e aprendizagem do MST”144. Nesse período, o MST centrava forças na sua “terrritorialização”145, ou como Lerrer

142 Aos Leitores. Jornal Sem Terra. São Paulo, março/maio de 1985, Ano IV, nº 43. p. 2. 143 FERNANDES, B. M., Formação e Territorialização do MST no Brasil, p. 169.

144 COLETTI, C., A Trajetória Política do MST: da crise da ditadura ao período neoliberal, p. 142.

145 A territorialização da luta pela terra seria o processo de conquista da terra. Nesse sentido, cada assentamento é

uma fração do território conquistado. Quando o MST conquista uma área para assentamento, ele também se territorializa. Fernandes estudou o processo de territorialização do MST, ou seja, como o Movimento foi se constituindo no Brasil por meio das conquistas de assentamentos. Ver: FERNANDES, Bernardo M. A formação

70 prefere, em seu processo de “nacionalização”146, isto é, ampliou sua organização e

estruturação em todas as regiões do país. Ao passo que o MST expandia sua organização em âmbito nacional, o Jornal Sem Terra acompanhava e registrava as lutas, as mobilizações e denunciava a problemática agrária, a inércia do Estado e os atos de violência contra os trabalhadores rurais.

O jornal passava por um processo de profissionalização. Flademir Araújo, jornalista responsável na época, sublinha que “muda o formato, muda a amplitude, a amplitude editorial, os objetivos, dá um salto, passa para outro patamar completamente diferente daquilo que a gente vinha fazendo até então”. Nesse processo, a demanda foi maior. O periódico “passa a ser efetivamente um jornal com todas as características, com um grupo de colaboradores importante; intelectuais, pensadores desta área agrária e dos problemas sociais, com jornalistas”147. Chico Daniel, que era considerado um dos melhores repórteres de Porto

Alegre, Sérgio Canova, Rafael Guimarães, Caco Schimitt e Issac Akcelrud colaboravam com o jornal. É interessante que, no rol de colaboradores do jornal, havia profissionais que trabalhavam em outros periódicos, com perfil editorial distinto – por exemplo, Issac Akcelrud, que trabalhava no jornal Folha de São Paulo.

Nessa direção, quem eram os editores dos jornais? Como eles chegaram a trabalhar no

Jornal Sem Terra? Como era a produção e escolha das notícias? Em suas visões, quais eram as maiores dificuldades em todo o processo que envolvia a produção do periódico? Em entrevista com alguns editores do Jornal Sem Terra, que trabalharam no periódico entre os anos de 1992 e 2012, observou-se que a inserção deles no exercício de editoração foi semelhante. Ainda no curso de jornalismo, movidos pela crença na luta dos sem-terra e por acreditarem num jornalismo engajado em causas sociais, jovens jornalistas passaram a participar de atividades do Movimento e foram envolvidos por meio do convite do MST a contribuírem nas lutas através do trabalho na área de comunicação.

Como já foi salientado na introdução da tese, foram entrevistados seis editores para a realização da pesquisa, e este momento torna-se oportuno para conhecê-los. Débora Lerrer,

146 Em sua tese, Lerrer estudou a trajetória de militantes sulistas que foram para o Nordeste em meados da

década de 1980 até a metade da década seguinte. Para tanto, reflete sobre os aspectos culturais, sociais e políticos desta migração gaúcha desenvolvida pelo MST. Esse processo contribuiu para o que chama de “nacionalização” do Movimento, fomentando sua metodologia de lutas, desenvolvendo sua identidade política e estilo de militância. Ver: LERRER, Debora F. Trajetórias de Militantes Sulistas: nacionalização e modernidade do MST. 2008. 197 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – CPDA/UFRRJ, Rio de Janeiro.

147 ARAÚJO, Flademir. O Jornal se Transformou com o próprio MST. Entrevista concedida a Miguel Stedile.

Agosto de 2001. Disponível em: http://www.lainsignia.org/2001/agosto/cul_078.htm. Acesso em: 20/09/2011, às 22h14min.

71 natural de Porto Alegre/RS editorou o jornal entre os anos de 1992 e 1997. Durante o curso de Comunicação Social se interessou pelos problemas agrários e pela luta dos sem-terra. Sua inserção inicial no MST ocorreu por meio de visitas a acampamentos e acompanhamento de algumas de suas mobilizações na região de Porto Alegre. No final do curso de graduação, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi convidada a ir para São Paulo editorar o Jornal Sem Terra.

A entrevistada comentou que existiam no Movimento poucas pessoas com curso superior completo na época, em especial, de jornalismo. “Então, apareceu alguém formado em jornalismo que se credenciou como militante de certa maneira, então eles logo me convidaram para ir até São Paulo, pra editar o Jornal Sem Terra”148. Para Lerrer, trabalhar no

MST foi decisivo para sua formação e profissionalização. Ela não se identificava com a denominada grande imprensa e, no MST, exerceria o jornalismo da forma que acreditava. É notável a linguagem de Lerrer no transcorrer da entrevista, isso porque, quando ela se refere ao MST, fala eles, não a gente, nós. Nesse sentido, não se considerava parte do MST. Trabalhou e contribuiu na luta, mas não se sentia pertencente ao Movimento. Em sua entrevista, demonstrou uma relação profissional com o MST; mesmo simpatizando com a luta e com a causa do Movimento, não se referiu a si mesma como uma Sem Terra, uma militante. Depois que parou de trabalhar no Setor de Comunicação do Movimento, Lerrer se dedicou à vida acadêmica149.

Outra editora do jornal foi Sinara Sandri, natural de Cruz Alta/RS e, atualmente, residente em Porto Alegre. Ela é formada em Jornalismo pela UFGRS, no ano de 1995, e possui Mestrado em História pela mesma Instituição. Trabalhou nove meses na editoração do

Jornal, no ano de 1997. Sua relação com o MST começou na faculdade, se envolvendo em projetos de extensão para desenvolvimento de ferramentas de comunicação para o Movimento, como programas de rádio nos assentamentos. Sinara também foi convidada pelo MST, através de sua Direção Nacional, para contribuir nos trabalhos de comunicação. Conforme a entrevistada, ela “não tinha uma relação direta de militância com o Movimento” durante o período em que trabalhou na edição do jornal e na assessoria de imprensa do Movimento150. Sua relação com o MST, além da simpatia com a reforma agrária e a luta pela

terra, foi como profissional da área de comunicação. Em sua fala, disse que foi a São Paulo

148 Debora Franco Lerrer. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. CPDA/UFRRJ. Rio de Janeiro/RJ, 2012. 149 Debora Franco Lerrer é professora adjunta do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em

Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ).

150 Sinara Sandri. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. Realizada por meio de questionário (correio

72 temporariamente para cobrir a ausência de Débora Lerrer e que não tinha pretensão de ficar muito tempo trabalhando no Movimento.

Entre os anos de 1998 e 2003, Nilton Viana, natural de Três Marias/MG, assumiu a editoração do jornal. Apesar de ser mineiro, Nilton foi viver em São Paulo, ainda quando era adolescente, em fins da década de 1970. Sua formação é na área de Jornalismo, mas, antes de se tornar jornalista, foi bancário na empresa Bradesco. Sua trajetória de vida sempre esteve ligada à militância e à luta sindical. Ainda como bancário, identificava-se com o jornalismo, escrevia textos para o sindicato dos bancários e contribuía para a produção de um jornal: “a gente tinha um jornal que se chamava Bradejo, que era um jornal dos funcionários do Bradesco, dos trabalhadores do Bradesco, a gente fazia um jornal basicamente das denúncias, da exploração que o banco fazia com todos trabalhadores na ocasião”151. Nilton, por ser filho

de pequenos trabalhadores rurais e por exercer militância sindical, acompanhava de perto a luta do MST, suas mobilizações e dialogava com suas lideranças. Sua inserção no trabalho de comunicação e editoração do Jornal Sem Terra também foi mediante convite da Direção Nacional do Movimento.

E, depois que eu me tornei um profissional mesmo da comunicação eu fui convidado oficialmente pra integrar o Coletivo de Comunicação do MST que, no momento, estava em processo de formação. Nós criamos um coletivo nacional, ajudamos a desenvolver os formadores, os comunicadores populares, que são os militantes que nos ajudam a fazer e produzir o Jornal

Sem Terra152.

No contexto atual, Nilton Viana é editor responsável pelo jornal Brasil de Fato. Aliás, sua saída da editoração do Jornal Sem Terra esteve ligada à criação do Brasil de Fato, no ano de 2003. Destaca-se que, este jornal é apoiado pelo MST e tem um perfil alternativo, distinto dos grandes meios de comunicação, sobretudo pelo perfil de seus colaboradores, que são intelectuais e militantes em movimentos sociais e, também pelo seu perfil contestador e crítico em relação às políticas do Estado e às ações das elites conservadoras do país. A sede do Brasil de Fato fica no mesmo local em que os profissionais do Jornal Sem Terra trabalham. No dia da entrevista com Nilton Viana, percebeu-se que os profissionais desses dois periódicos dialogam constantemente, trocam informações e se ajudam mutuamente. Ao

151 Nilton Viana. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. Sede do jornal Brasil de Fato. São Paulo/SP, 2012. 152 Nilton Viana. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. Sede do jornal Brasil de Fato. São Paulo/SP, 2012.

73 se remeter ao MST e ao jornal, Nilton revela na entrevista que ainda faz parte do grupo. O uso de nós e de a gente são recorrentes quando se refere ao jornal e ao Movimento.

Cristiane Gomes, nascida em Campinas/SP, editorou o jornal no período de dezembro de 2003 e junho de 2007. Cristiane se formou no curso de Jornalismo na Universidade Metodista de Piracicaba/SP, no ano de 2002. No mesmo ano se mudou para São Paulo com o interesse de trabalhar em favor de alguma causa social. Em suas palavras:

[...] na faculdade mesmo já fui me interessando em fazer um jornalismo engajado socialmente, colocar minha profissão a serviço de alguma causa, enfim, de alguma coisa que eu acreditasse. Que eu pudesse, lógico, ganhar dinheiro, ganhar dinheiro assim, me sustentar, pagar minhas contas etc., mas não queria fazer um jornalismo que eu não acreditasse153.

Recém-formada em Jornalismo, Cristiane não teve muitas oportunidades de trabalho, mas tinha uma certeza: a de que queria colocar seu serviço a favor de algo em que acreditasse. A partir de um idealismo e/ou romantismo, a maior parte dos editores entrevistados tinha essa visão antes de editorar o Jornal Sem Terra: colocar seu serviço a favor de algo em que acreditasse e que fugisse do sonho da carreira tradicional de jornalista (trabalhar em um grande meio de comunicação). E, o jornal do MST era a possibilidade de fazerem uma comunicação em prol de alguma causa, de uma luta social e política. Antes de editorar o jornal, Cristiane desenvolveu alguns trabalhos na área da comunicação em sindicatos como o dos Químicos em Guarulhos/SP e o dos Metroviários. Cristiane narrou que teve contatos com grupos do MST no período em que fazia faculdade, visitando e desenvolvendo trabalhos em assentamentos no estado de São Paulo. Na faculdade, também conheceu militantes do Movimento que estudavam na instituição e essas amizades foram um contato e uma ponte para que ela ingressasse nos trabalhos de comunicação do MST.

A entrada de Cristiane na editoração do jornal é bem interessante, pois ela entra para ser redatora e as circunstâncias do momento fizeram com que se tornasse editora do periódico. Em 2003, a editora responsável, Daniela Stefano, teve de se ausentar devido a problema de saúde de seu companheiro e Cristiane assumiu os trabalhos. Segundo ela: “fiquei super insegura na época porque não tinha muito tempo no Movimento, tinha alguns meses, mas eu gosto de desafios, topei e fui que fui. Foi dessa forma, foi uma conjuntura que fez com que eu me tornasse editora do jornal”154. Cristiane ficou por quase quatro anos na editoração do

153 Cristiane Gomes. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. São Paulo/SP, 2012. 154 Cristiane Gomes. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. São Paulo/SP, 2012.

74 jornal, e, ao sair da editoração, fez o Mestrado em Comunicação e Cultura na Universidade de São Paulo (USP). No ano em que foi realizada a entrevista (2012), Cristiane trabalhava no