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Produção do conhecimento e ética

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 42-52)

2.1 Ética

2.2.1 Produção do conhecimento e ética

Na abordagem do tema, ética na pesquisa científica, se faz necessário estabelecer relações entre a ética e a ciência. A princípio, cabe diferenciar o senso comum do conhecimento científico.

Köche (2005) distingue senso comum da ciência e aponta que senso comum é resultado de generalização da constatação ou observação de fatos diariamente vividos e que sustentam opiniões e crenças, é um tipo de conhecimento com grandes limitações, fragmentado, dotado de baixo poder de crítica, não proporcionando uma visão global e unitária dos fenômenos, tendo grande utilidade na solução de problemas diários ligados à sobrevivência humana.

Por outro lado, Köche (2005) destaca que, o conhecimento científico é dotado de alto poder de crítica, utiliza linguagem mais precisa, delimitada, com conceitos definidos, sendo construído através de procedimentos que denotem atitude científica, oferecendo maior segurança e confiabilidade nos seus resultados, além da capacidade de discussão dos resultados na comunidade científica. Pode-se observar que, o autor refere-se a um processo de pesquisa científica em que se destacam aspectos, tais como: visão crítica, delimitações, procedimentos e discussão dos resultados.

Chauí (2006) também discorre sobre as diferenças entre senso comum e ciência, e coloca que o senso comum está baseado na tradição e nos hábitos, não é necessariamente coerente, é utilitário e imediatista. São subjetivos, levando a uma avaliação qualitativa das coisas. São individualizadores, mas também generalizadores. Já a atitude científica, na visão da autora, em contrapartida, tem as seguintes características: aspectos objetivos; é quantitativa; homogênea; generalizadora; diferenciadora; só estabelece relações causais depois de investigar a natureza do fato estudado; procura a renovação e modificação constante. A ciência baseia-se em pesquisas, exige teorias coerentes e verdadeiras.

A partir da diferenciação entre o senso comum e a ciência, Chaui (2000) apresenta as concepções de ciência, e discorre que no decorrer da história, três têm sido as principais concepções de ciência: a racionalista, que era hipotético-dedutiva, ou seja, definia o objeto e suas leis e disso deduzia propriedades, efeitos e previsões, baseando-se no modelo matemático; a empirista, que era hipotético-indutiva, ou seja, baseava-se em observações e experimentos, que permitiam estabelecer induções, onde a experiência tem a função de produzir conceitos, além de verificá-los e de confirmá-los; e a construtivista, que iniciou no século XX, combinando aspectos do empirismo (construção experimental do objeto) e do racionalismo (construção lógico-intelectual do objeto), entende a ciência como uma construção de modelos explicativos da realidade.

A autora apresenta uma evolução histórica da classificação das ciências, abordando a classificação a qual se costuma usar até hoje foi resultado de inúmeras classificações

anteriores e daquelas propostas por filósofos alemães e franceses do século XIX, que são: ciências matemáticas, ciências naturais, ciências humanas ou sociais, e ciências aplicadas.

No século XX, com a fenomenologia e o estruturalismo, passou-se a considerar que cada campo deva ter seu próprio método. Assim, o método dedutivo ou matemático é apropriado para as ciências exatas, estudando objetos que são construídos inteiramente pelo nosso pensamento; ao contrário daquele, o método experimental, indutivo ou hipotético, é próprio das ciências naturais, que observam seus objetos e realizam experimento, partindo de hipóteses. Já o método compreensivo-interpretativo é próprio das ciências humanas, tendo como objeto as significações dos comportamentos, das práticas e das instituições produzidas pelo ser humano. (CHAUI, 2006).

Assim, cabe destacar alguns conceitos do que se trata uma pesquisa científica. “Pode- se definir pesquisa como o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas, mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL, 1987, p.43) .

Outro aspecto a ser destacado na construção do conhecimento é a distinção de pesquisa pura e pesquisa aplicada. Gil (1987) coloca que, a pesquisa pura ao buscar o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas. A pesquisa aplicada, por sua vez, apresenta muitos pontos de contato com a pesquisa pura, pois depende de suas descobertas e se enriquece com o seu desenvolvimento, todavia, tem como característica fundamental o interesse na aplicação, utilização e consequências práticas dos conhecimentos. É este o tipo de pesquisa a que mais se dedicam os psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e outros pesquisadores sociais.

Para Chizzotti (1991), as pesquisas são designadas pela denotação especial que se quer dar:

• teórica ou fundamental (orientada mais para a verificação de uma teoria que para a aplicação imediata dos conhecimentos);

• aplicada (visa uma utilização imediata dos conhecimentos produzidos); • descritiva (se restringe à descrição dos fatos);

• analítica (faz análises interpretativas dos dados e extrai conclusões);

• qualitativa (para ressaltar as significações que estão contidas nos atos e práticas); • nomotéticas (para evidenciar o intuito de extrair leis- nomos- da regularidade e da

recorrência dos fatos observados para generalizar).

Dessa forma, o autor destaca diferentes tipos de pesquisas, que serão adotadas de acordo com os objetivos de estudo do pesquisador. Já Collins e Hussey (2005) ordenam a classificação dos tipos de pesquisa de acordo com: o objetivo da pesquisa (os motivos pelos quais a pesquisa é realizada); o processo de pesquisa (a maneira pela qual serão coleados e analisados os dados); a lógica da pesquisa (se a pesquisa vai do geral para o específico, ou vice versa), e o resultado da pesquisa (resolução de determinado problema ou fazer uma contribuição geral para o conhecimento). E a partir destes critérios, os autores, classificam os principais tipos de pesquisa, como apresentado na tabela a seguir.

Quadro 3 – Classificação dos principais tipos de pesquisa

Tipo de pesquisa Base da classificação

Pesquisa exploratória, descritiva, analítica Objetivo da pesquisa ou preditiva

Pesquisa quantitativa ou qualitativa Processo de pesquisa Pesquisa dedutiva ou indutiva Lógica da pesquisa Pesquisa aplicada ou básica Resultado da pesquisa Fonte: Collins; Hussey (2005, p. 23).

Por pesquisa exploratória, Collins e Hussey (2005), definem como aquela realizada sobre um problema ou uma questão de pesquisa em que há pouco ou nenhum estudo anterior em que seja possível buscar informações sobre o problema ou a questão. Já a pesquisa descritiva é definida pelos autores como a pesquisa que descreve o comportamento dos fenômenos, usada para identificar e obter informações sobre características de um determinado problema ou questão. A pesquisa analítica é, na visão dos autores, uma continuação da pesquisa descritiva, mas que vai além, pois tem como objetivo entender os fenômenos, descobrindo e mensurando relações causais entre eles. E por fim, a pesquisa preditiva é conceituada, pelos autores, como aquela que vai além do que se propõe a pesquisa

exploratória, objetivando generalizar a partir da análise, prevendo certos fenômenos como base em relações gerais e hipotéticas.

Collins e Hussey (2005) diferenciam a pesquisa também pelo método adotado pelo pesquisador, e colocam que a pesquisa quantitativa envolve coletar e analisar dados numéricos e aplicar testes estatísticos, e a pesquisa qualitativa que é mais subjetiva e envolve examinar as percepções para obter um entendimento de atividades sociais e humanas.

Já com relação à lógica da pesquisa, Collins e Hussey (2005) apontam que, a pesquisa dedutiva é um estudo no qual uma estrutura conceitual e teórica é desenvolvida e depois testada pela observação empírica, ou seja, casos particulares são deduzidos a partir de inferências gerais. Já a pesquisa indutiva é um estudo pelo qual a teoria se forma a partir da observação da realidade empírica, onde as inferências gerais são induzidas a partir de casos particulares, que é o contrário do método dedutivo, pois parte-se de observações individuais e transformam-se em afirmações de padrões gerais.

Com relação a classificação que divide as pesquisas em aplicadas ou básicas, os autores afirmam que, a pesquisa aplicada (fundamental ou pura) é projetada para aplicar suas descobertas a um problema específico existente, e quando o problema da pesquisa é de natureza menos específica, na qual a pesquisa é conduzida basicamente para aumentar o entendimento de questões gerais, é classificada como pesquisa básica.

Outro aspecto abordado por diversos autores se refere à questão da neutralidade do pesquisador. Na visão de Campos e Costa (2007), pesquisar é bem mais do que se envolver em um processo de produção de conhecimento: é aderir a um processo que (re)constrói o pesquisador como ser humano. Da mesma forma, o “mundo externo”, mais do que fonte de insumos sob a forma de “evidências empíricas”, é entendido como um entorno passível de se transformar à medida que a atividade científica produz novos olhares e saberes. Ou seja, os autores destacam que a construção do conhecimento é um processo que pode afetar e transformar tanto o pesquisador como ser humano, quanto o ambiente.

Mas no passado, outros posicionamentos foram defendidos quanto à concepção de conhecimento e quanto à questão da neutralidade do pesquisador. Popper (1980), assim como outros pensadores, defendia sua concepção sobre o conhecimento humano - o dedutivismo, onde as teorias começam na imaginação humana, são submetidas a severos testes para deduzir delas algumas das regularidades do mundo conhecido da experiência comum e poder explicar

essas regularidades, e que essas tentativas de explicar o conhecido pelo desconhecido, ampliaram muito o âmbito do conhecido.

O autor alega que o trabalho do cientista é o de testar suas teorias, eliminando aquelas que não resistam aos mais rigorosos testes que ele possa planejar. Em que a refutabilidade de uma teoria constituiria a própria essência da natureza científica e onde o pesquisador era distante então do objeto do estudo, sem se envolver e sem alterar. Ou seja, o autor defendia a questão da objetividade e da neutralidade valorativa do conhecimento científico.

Em outra abordagem teórica encontra-se, a tese central do livro “Conhecimento e Interesse” de Habermas (1982), relacionada à análise de que todo conhecimento é posto em movimento por interesses que o orientam, dirigem-no e comandam-no.

E Habermas (1982) coloca que, são nesses “interesses” que a pretensão pela universalidade do saber deve ser avaliada. Para o autor, o único interesse legítimo é o da emancipação da espécie. E para isso, o autor propõe a auto-reflexão como um elemento essencial à construção do conhecimento. e como um caminho metodológico capaz de fazer fluir o projeto emancipatório do saber, cujas consequências mais relevantes voltam-se para a liberdade e emancipação do próprio homem.

Também contrário a abordagem de Popper, Adorno (1980), em suas teses defendidas, rejeita a separação entre sujeito e objeto do conhecimento. Os autores Adorno e Habermas rejeitam, assim, a questão da separação entre sujeito e objeto no processo da pesquisa, rejeitando a neutralidade no conhecimento científico.

Chauí (2006) corrobora com a visão de Habermas e Adorno, ao afirmar que é uma ilusão a neutralidade da ciência, respaldada pela separação e distinção entre o sujeito do conhecimento e o objeto, e explica que essa imagem da neutralidade científica é ilusória, visto que o cientista escolhe certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados. Desse modo, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas.

Voltando a Campos e Costa (2007), que ao abordarem a pesquisa em estudos organizacionais, destacam que para uma parcela de pesquisadores desta área observam-se várias transformações na prática da pesquisa e entre elas está a rejeição da neutralidade do pesquisador. Os autores colocam o seguinte:

Ao reconhecer a impossibilidade de o conhecimento ser separado das pessoas e do entorno que o produz, autores como Alvesson e Sköldberg (2000), Morgan (1983a) e Steir (1991) resgatam a reflexividade como essencial ao processo de pesquisa. Isso significa atentar para a natureza interpretativa, política e retórica da ciência; considerar a seletividade do pesquisador, ao invés de eliminá-la; reconhecer a relação notoriamente ambivalente do pesquisador com a realidade que estuda; aceitar como ilusória a ambição de determinar como as coisas são. Em outras palavras, o que faz a boa pesquisa social não é exclusivamente o método, mas, antes, a ontologia e a epistemologia. (CAMPOS; COSTA, 2007, p.38-39).

A partir da visão de que o processo de construção do conhecimento é também processo de construção e reconstrução do mundo e das pessoas, sem espaço para o observador destacado e neutro, Campos e Costa (2007) apontam que, é esperado que o pesquisador se reconheça e se coloque como participante na sociedade; se mostre comprometido em alterar uma situação que o incomoda e o motiva. Essa posição implica entender a pesquisa não como problema puramente técnico, restrito ao método. Sem limitar-se à busca pela certeza de estar encaminhando um conhecimento alinhado a pressupostos, o pesquisador deve também examinar ativamente a natureza e as possíveis consequências da pesquisa. Ou seja, não se trata de dispensar considerações técnicas, sempre relevantes, mas de incluir considerações além do método: redirecionar questões de objetividade e rigor, bem como considerar a dimensão ética no processo de pesquisa, destacam as autoras.

Essa visão abordada pelos autores citados anteriormente, busca enfatizar a questão da reflexão crítica como fundamental no processo de pesquisa científica, de forma a serem avaliadas as prováveis consequências da pesquisa para todos os atores envolvidos e para o entorno.

Rodrigues (2004, p.193) entende que, “a produção científica de qualidade depende da integração entre instituições, organizações (universidades) que produzem o conhecimento científico e o mercado”. A autora coloca que, as instituições desempenham várias funções na sociedade, ao estabelecerem regras, ao formularem políticas de incentivo e ao criarem critérios de desempenho.

Se toda pesquisa tem prováveis consequências, quer seja para todos os atores envolvidos na pesquisa quer seja para o entorno, como colocam Campos e Costa (2007) e Rodrigues (2004), observa-se, assim, um componente ético na necessidade da reflexão por parte do pesquisador acerca destas consequências.

A atividade da pesquisa científica está, então, permeada por questões éticas, visando o avanço da ciência sem causar prejuízos, malefícios ou danos aos pesquisados e a população

em geral. E permeando todo o processo de pesquisa, também encontra-se a reflexão do pesquisador acerca das suas responsabilidades e da sua conduta. Estas visões remetem então à discussão sobre a relação entre ciência e ética.

A verdade da ciência e a ética têm uma origem comum: fazem parte de uma tarefa milenar que o ser humano assumiu para conhecer a si mesmo como sujeito, isto é, como autor de seu próprio saber e de suas próprias normas (MATHEUS, 2006).

Matheus (2006) coloca que, nesta convergência originária, reside o motivo pelo qual é impossível separar a ética da ciência, como também para entender o significado ético da ciência e o processo cognitivo em que a ética se introduz na vida e na história humanas. E reforça essa tese ao afirmar que a ética é a reflexão que todo ser racional deve fazer a respeito de como deve agir, não apenas com relação a si mesmo, mas também em relação aos outros. Se a ciência é uma reflexão que todo ser racional necessita fazer a respeito do mundo, para preservar sua existência, todo conhecimento visa a uma determinada ação. O conhecimento é necessário para orientar a ação porque se refere ao modo de ser da vida e das coisas.

O referido autor enfatiza que seria também possível dizer que a ética é a reflexão relacionada ao conhecimento de como deve ser a ação, da mesma maneira que a ciência é um conhecimento relacionado ao que se deve fazer para si e para os outros.

Conforme a ciência avança, observa-se que, as coisas não convergem para um único ponto, mas que se espalham e se dispersam de forma complexa, tornando-as cada vez mais complicada, o que faz com que a busca de respostas dicotômicas fique cada vez mais distante (MORGAN, 2000).

Ainda relacionando a ética com a ciência, vale ressaltar que, se a pesquisa científica envolve pesquisadores e pesquisados, pesquisadores e participantes, conforme Paiva (2005), e devido à imprevisibilidade das consequências de uma investigação, é imperativo que a ética esteja sempre presente na elaboração de um projeto de pesquisa, principalmente, quando esta lida com seres humanos, ou seja, é importante que a ética conduza as ações de pesquisa, de modo que a investigação não traga prejuízo para nenhuma das partes envolvidas.

A autora, ao elaborar uma análise em quinze livros de metodologia de pesquisa, brasileiros e estrangeiros, e de três manuais de orientações sobre pesquisa, publicados por universidades brasileiras, revelou que apenas um livro, entre os analisados, incluía considerações sobre a ética na pesquisa. As demais obras analisadas não dedicavam sequer

uma seção para discutir o problema e, nos livros que apresentam índices onomásticos, não havia sido localizada nenhuma ocorrência da palavra “ética” (PAIVA, 2005).

Paiva (2005) discorre que, apesar de ser um estudo preliminar e não generalizável, a análise parece indicar que a ética está sendo pouco estudada e adotada na prática nas disciplinas de metodologia e que a reflexão sobre ética na pesquisa é uma preocupação bem recente em todas as áreas da ciência no país.

Matheus (2006), analisando também a relação entre ética e ciência, discute que, ética e ciência vivem, no mundo atual, uma fase de profunda exigência de reaproximação. O autor discorre sobre tempos em que estiveram separadas. Foram épocas nas quais os cientistas invocavam para si a liberdade de pesquisar sem estarem atados a normas ou limitados por qualquer tipo de censura que cerceasse sua liberdade para ampliar os horizontes do conhecimento. Passaram a repelir qualquer critério normativo externo à sua conduta, atribuindo caráter “aético” ao trabalho científico.

O autor destaca ainda que, a atividade científica no mundo atual tende a atribuir ao pesquisador uma crescente autonomia. Na medida em que a ciência progride, a partir de juízos sintéticos a priori, como diz Kant, a observação da realidade se torna o ponto de partida para a evolução dos conhecimentos humanos. O pesquisador é exatamente aquele que liga dados dispersos por alguma relação de causalidade, a partir da qual novos conhecimentos são alcançados. Dada a importância atribuída à observação e também à necessidade de atribuir objetividade aos conhecimentos, os pesquisadores passaram a se preocupar com o controle da influência de sua subjetividade no processo investigativo. Em nome dessa objetividade visada, os pesquisadores pensaram ser possível suprimir totalmente o papel da sua subjetividade, procurando suprimir ao máximo sua participação ao pesquisar.

Ocorre, porém, que a objetividade depende totalmente da subjetividade: não apenas da subjetividade do pesquisador, mas também da subjetividade de todos os seres humanos. Recorrendo ainda a Kant, é importante lembrar que a verdade pode ser definida como um conhecimento subjetivamente e objetivamente suficiente. Isto significa que, a objetividade consiste em que só é verdade o que assim puder ser reconhecido por todo e qualquer ser racional. Em outras palavras, para que um conhecimento seja verdadeiro, é preciso que seja admitido por toda e qualquer subjetividade. (MATHEUS, 2006).

Araújo (2003) também afirma que houve um tempo em que, muitos pesquisadores acreditavam que sua firme determinação de fazer o bem, sua integridade de caráter e seu rigor

científico eram suficientes para assegurar a eticidade de suas pesquisas, porém nos dias de hoje essa concepção já não é mais objeto de consenso.

Por muito tempo a atividade de pesquisa foi considerada isenta de considerações de ordem ética. A neutralidade do pesquisador era exigência inexorável e a confiabilidade dos resultados se depreendia da capacidade de se descolar de seus valores para se ater exclusivamente ao rigor do método. Assim, da pesquisa se cobrava tão-somente a observância rigorosa dos métodos e procedimentos, abstraídas as consequências da aplicação de seus resultados. Desde que "científico", o conhecimento gerado legitimava-se, e o pesquisador poderia ter certeza de servir à causa nobre do progresso da ciência. Na linguagem corrente, "pesquisa" tornou-se denominação genérica para a coleta de dados e produção de informações em áreas variadas. A atividade tem sido valorizada mais pela "confiabilidade" das fontes e rigor dos métodos de coleta, tratamento e análise do que pelas consequências e usos possíveis dos resultados produzidos. (CAMPOS; COSTA, 2007, p.38).

Nos tempos atuais, a independência da ciência passou a ser questionada. Mais recentemente, os próprios cientistas passaram a reduzir essa distância. Não basta notar que há um fundamento ético na busca do conhecimento e na necessidade de aproximação da verdade. Surge também a noção de que não se pode ser verdadeiro e injusto, do mesmo modo que não se pode ser falso, mas justo. (MATHEUS, 2006).

Fourez (1995) discorre sobre a questão de “Como articular ciência e ética?”. Na visão do autor se pode afirmar que os conceitos científicos ventilados nos debates éticos ou políticos se ligam sempre a uma racionalidade particular, por pressupostos particulares. Porém, o autor salienta que, a ciência não pode dar uma resposta às questões éticas, e que a ciência pode apresentar elementos de interpretação “especializada” que podem testar a coerência de uma visão particular, permite analisar melhor os efeitos, contribuir para esclarecer implicações das escolhas, mas não pode fornecer a resposta à questão ética: “queremos assumir tal decisão?”. Assim, o autor discute que a ciência dará parâmetros,

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 42-52)