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PROGRAMA RESIDÊNCIA AGRÁRIA E O ESTÁGIO DE VIVÊNCIA

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 59-62)

experiência e os resultados na UFG

PROGRAMA RESIDÊNCIA AGRÁRIA E O ESTÁGIO DE VIVÊNCIA

No segundo semestre de 2004, os professores da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás - UFG foram convidados para participar do “Programa Nacional de Educação do Campo: Forma- ção de Estudantes e Qualifi cação Profi ssional para a Assistência Técnica”, instituído pelo MDA, por meio da Portaria n.º 57, de 23 de julho de 2004. Na seqüência, o MDA e o Instituto de Nacional de Colonização e Refor- ma Agrária publicaram a Norma de Execução n.º 42, de 02 de setembro de 2004, estabelecendo seus critérios e procedimentos operacionais. O Programa Nacional de Educação do Campo foi defi nido como uma po- lítica pública que pressupõe a interconexão entre ensino, pesquisa e ex- tensão, com o objetivo de proporcionar

formação que desenvolva projetos de Extensão com estudantes e a quali- fi cação profi ssional para os egressos dos Cursos superiores por meio de Cursos de Pós-Graduação “Latu Sensu”, a serem desenvolvidos por universidades públicas parceiras, que possuam ações multidimensionais, em termos técnico ambientais, econômicos, culturais e sociais, voltados

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 2 Matriz Regional

Familiar, Camponesa e da Reforma Agrária no país e à promoção do Desenvolvimento Rural Sustentável.

Um total de quatro profi ssionais que atuavam em Programas de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER participaram do Projeto Estágio de Vivência. A seleção desses técnicos foi resultado de uma dis- cussão estabelecida especialmente com o MST e com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Goiás - FETAEG. Essas enti- dades designaram profi ssionais, de nível superior, que prestavam assistên- cia técnica aos assentados fi liados às respectivas entidades. O papel desses técnicos no Projeto era atuarem como “orientadores de campo” dos estu- dantes nos locais de execução do estágio (assentamentos de Reforma Agrária e comunidades de Agricultura Familiar e Camponesa).

Igualmente, para cada estagiário, foi designado um “professor orientador”, participante do Projeto, cuja atribuição era problematizar a experiência vivenciada pelo estagiário, auxiliando-o não apenas no desen- volvimento do próprio Estágio, como criando incentivando o estudo e a refl exão em torno da realidade da Reforma Agrária e da Agricultura Fa- miliar e Camponesa. O “professor orientador” tinha, também, a função de auxiliar o estagiário na elaboração do “relatório fi nal de estágio” – do- cumento obrigatório para conclusão do estágio vivência.

Antes dos alunos serem direcionados aos respectivos locais de estágio, os professores-orientadores indicaram leituras bibliográfi cas e promoveram ofi cinas para discutir com os estudantes estagiários temas relacionados à Reforma Agrária, à Agricultura Familiar e Camponesa, ao Desenvolvimento Rural Sustentável e à Participação Social. Também foram realizados debates com representantes e técnicos das instituições parceiras, para que apresentassem suas propostas de desenvolvimento para os assentamentos rurais, bem como esclarecessem os objetivos, metodo- logias e encaminhamentos das atividades programadas pelo Projeto Resi- dência Agrária. Durante o período do Estágio de Vivência, os professores realizaram as visitas aos assentamentos escolhidos pelo Programa, com o objetivo de avaliar o andamento das atividades e discutir os problemas enfrentados pelos alunos-estagiários.

Na Universidade Federal de Goiás, o Projeto envolveu seis professores, 14 estudantes dos cursos de ciências agrárias e quatro técnicos de assessoria técnica, social e ambiental, que atuavam junto aos assenta- mentos rurais e áreas de Agricultura Familiar e Camponesa defi nidas para a realização do Estágio de Vivência.

Os Estágios de Vivência foram realizados nos seguintes locais: Projeto de Assentamento Canudos: situado em área perten- co potencial para participar do projeto). Ou seja, o Programa Residência

Agrária (cuja intenção era formar estudantes/profi ssionais para atuação em áreas de Agricultura Familiar, Camponesa e Reforma Agrária), além de coadunar com as próprias exigências curriculares dos referidos cursos, passava a oferecer novas oportunidades de realização do estágio curricular aos alunos. Isto porque, muitas vezes, mesmo alunos interessados em exercer atividades ligadas às problemáticas da Agricultura Familiar, Cam- ponesa e da Reforma Agrária se viam constrangidos a estagiar em empre- sas públicas e privadas.

Além disso, a UFG desenvolveu, ao longo dos últimos anos, um conjunto de projetos de extensão universitária nas mais diferentes áreas do conhecimento e, em especial, naquelas pautadas na promoção do desenvolvimento sustentável da região dos cerrados, buscando conciliar os objetivos de melhoria da qualidade de vida das populações locais (agri- cultores familiares e assentados de Reforma Agrária) com a preservação dos recursos naturais do bioma. Vários professores também têm centrado suas investigações científi cas em torno da realidade da Agricultura Fami- liar e Camponesa da região em parceria com organismos internacionais e entidades ligadas aos trabalhadores rurais (por exemplo, o Projeto FAO/ INCRA – “Agricultura Familiar no Centro-Oeste”, em convênio UFG/ CPT/IFAS). Em vista da experiência adquirida e de sua inserção na co- munidade regional, a UFG julgou procedente se inserir na operacionali- zação do “Programa Nacional de Educação do Campo” (Ver Kolling; Cerioli; Caldart, 2002), em parceria com o MDA.

A primeira etapa do projeto, denominada Estágio de Vivência, foi iniciada em fevereiro de 2005 e encerrada em agosto do mesmo ano. A partir da divulgação do Projeto no interior da Universidade, houve um progressivo engajamento de alunos com disposição para trabalhar com agricultores familiares e assentados de Reforma Agrária, gerando uma demanda que se mostrou superior às expectativas inicias (em torno de 10 alunos-estagiários), com 15 estudantes se candidatando ao Projeto.

A Coordenação do Projeto resolveu pela realização de um pro- cesso de seleção dos alunos/candidatos. Correlatamente, foram celebrados convênios com as entidades parceiras que receberiam os estagiários. Ao fi nal do processo, foram aprovados 14 estudantes-estagiários, selecionados segundo os critérios previstos pelo Programa: estarem cursando o último ano dos Cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Engenharia de Alimentos da UFG; terem a disponibilidade de dedicarem, no mínimo, 80 horas mensais ao Projeto e; demonstrarem compromisso com o de- senvolvimento de iniciativas voltadas ao fortalecimento da Agricultura

senvolveram atividades como: levantamento de dados sócio-econômi- cos das famílias assentadas; educação ambiental de crianças; reuniões técnicas com os assentados; análises de solo dos assentamentos; parti- cipação na elaboração de projetos técnicos para fi ns de obtenção de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami- liar (PRONAF); visitas individuais às famílias assentadas; diversos mini-cursos de capacitação para abordar problemas de fi tossanidade, suplementação de bovinos na estiagem e sanidade animal. Também foram realizadas ofi cinas destinadas à elaboração de materiais de uso didático-pedagógico, necessários para a realização de palestras, ofi cinas, encontros, seminários etc.

O conjunto dessas atividades possibilitou um intenso processo de troca de saberes entre estudantes, orientadores, orientadores de campo e agricultores, criando condições favoráveis à refl exão crítica dos proble- mas e necessidades dos agricultores e agricultoras assentados. No proces- so de interação da equipe do Projeto com os agricultores, foi marcante a preocupação em conciliar os objetivos da produção com a preservação ambiental, em conformidade com os princípios agroecológicos.

Para fi nalizar os trabalhos do Estágio de Vivência, os alunos elaboraram um relatório individual das atividades desenvolvidas nos as- sentamentos. Para tanto, os professores orientadores acompanharam os estagiários na elaboração e indicaram bibliografi as específi cas para apro- fundar as discussões dos dados levantados nos assentamentos rurais. Ademais, os estudantes estagiários elaboraram um anteprojeto de pesqui- sa, que serviria como critério de ingresso no Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Camponesa e Educação do Campo.

Igualmente, no fi nal do Estágio, foi realizada uma reunião de avaliação com todos os professores, alunos e representantes das instituições parceiras participantes do Projeto. Os estudantes expressaram que a maior difi culdade encontrada foi em relação ao transporte até os assentamentos e mesmo no seu interior, na medida em que o orçamento do Programa não previu recursos para a manutenção de carros e motos. As entidades parceiras, por sua vez, não dispunham de veículos ou não os possuíam em quantidade satisfatória a atender as demandas da assistência técnica. Os técnicos orientadores manifestaram que nem sempre dispunham de infra- estrutura satisfatória para o trabalho de orientação aos estagiários nos as- sentamentos. Outros problemas, levantados por diferentes participantes da reunião, diziam respeito à falta de conhecimentos dos estudantes para atender às necessidades concretas dos assentados rurais, a precariedade da infra-estrutura nos assentamentos para alojar os alunos estagiários e falta cente aos municípios de Guapó, Campestre e Palmeiras de Goiás (centro

goiano), é formado por 329 famílias e está situado a, aproximadamente, 80 km de Goiânia;

Projetos de Assentamento São Manoel, Santa Marta, Escarla- te e Mãe Maria: situados no município de Novo Mundo (oeste goiano), distantes cerca de 300 km de Goiânia, totalizam 598 famílias assentadas;

Projetos de Assentamento Santa Rita, Rio Paraíso e Rio Cla- ro: localizados no município de Jataí (sudoeste goiano), distantes cerca de 250 km de Goiânia, totalizam 216 famílias assentadas.

A escolha dos assentamentos de Reforma Agrária participantes do Projeto foi orientada pelos critérios de localização geográfi ca (distância de Goiânia), presença na área de profi ssionais de ATER, vinculados ao MST ou à FETAEG, número de famílias assentadas e prévia aceitação da comunidade à participação no Projeto.

A realização do Estágio de Vivência em comunidades de Agri- cultura Familiar e Camponesa foi tentada, todavia problemas de articula- ção inviabilizam, na prática, tal esforço.

A metodologia de trabalho do estágio vivência seguiu as diretri- zes formuladas pelo Programa Residência Agrária, obedecendo aos princí- pios da metodologia participativa, incentivando a constante interação entre assentados, estagiários, orientadores de campo e professores orien- tadores. O planejamento, execução e avaliação das atividades desenvolvi- das pelos estagiários envolveram, igualmente, a participação das organiza- ções dos trabalhadores, possibilitando a construção de propostas coletivas das entidades e instituições parceiras no Programa.

Inicialmente, os estagiários sentiram certo “estranhamento” com a realidade vivida pelos assentados. Aos poucos, com o auxílio dos orientadores de campo, eles foram se incorporando nas atividades cotidia- nas desenvolvidas no Assentamento e conseguiram melhor compreensão e autonomia para desenvolver determinadas atividades recomendadas pelos orientadores. Nas visitas aos assentamentos, os professores puderam constatar a boa receptividade aos alunos estagiários pelos agricultores. Observou-se que os agricultores assentados têm necessidade de receber serviços de ATER, pois carecem de conhecimentos e informações ele- mentares, tanto no que se refere aos sistemas produtivos, quanto à admi- nistração das unidades. Outra constatação evidente foi que o número de profi ssionais era insufi ciente para atender a todos os assentados.

As principais ações do Projeto foram acompanhar as atividades de extensão rural e de desenvolvimento das diversas experiências de inovação tecnológica existentes nas áreas de estudo. Os estudantes de-

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 2 Matriz Regional

ral de Goiás - UFG. Para a coordenação geral do Curso de Especialização foi escolhida a UFMT que, no entanto, desistiu do programa. Visando a continuidade do programa na região Centro-Oeste, o MDA indicou a Universidade Estadual do Mato Grosso - UNEMAT como responsável pela Coordenação Geral e pela administração dos recursos fi nanceiros alocados para a execução do Curso de Especialização. Esse processo e as divergências nas concepções e nos objetivos do curso geraram muitos confl itos ao longo da realização do Curso de Especialização.

Para atender às particularidades administrativas, ambas as insti- tuições universitárias emitiriam certifi cados aos alunos que concluíram o Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Camponesa e Educa- ção do Campo. Assim, a UNEMAT fi cou encarregada de emitir certifi - cado de conclusão dos alunos que residiam no Estado do Mato Grosso, enquanto a UFG certifi cou os estudantes residentes no Estado de Goiás. Cada universidade fi cou responsável em construir as parcerias com os movimentos sociais, representados, na região, pelo MST e pelas Federa- ções de Trabalhadores Rurais dos respectivos estados. No âmbito da UFG, tornou-se necessário aprovar, junto à Pró-reitoria de Pós-Gradua- ção e Pesquisa, o Projeto de Criação do Curso de Pós-Graduação, Latu Sensu, em Agricultura Familiar e Camponesa e Educação do Campo, compreendendo regulamento, projeto político-pedagógico e plano de trabalho (UFG, 2005).

Seguindo as orientações do Programa Nacional de Educação do Campo o Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Camponesa e Educação do Campo adotou, em seu projeto político-pedagógico, a Pedagogia da Alternância entre Tempo Presencial e Tempo Comunida- de. O Tempo Presencial foi estruturado em torno de cinco temas gera- dores, procurando romper com as metodologias tradicionais de transmis- são de conteúdos via disciplinas. Apesar das difi culdades, a transversalida- de e a interdisciplinaridade dos temas geradores foram, parcialmente, contempladas. O Tempo Comunidade consistiu em viagens de campo orientadas pelos professores, a participação-realização de seminários te- máticos e regionais, voltados para aprofundar temas geradores, a realização de visitas a instituições para a coleta de informações e de dados para a pesquisa e outras atividades. A conjugação alternada dos Tempos Presen- cial e Tempo Comunidade visou propiciar a articulação entre os temas geradores e, sobretudo, permitir a construção de uma relação crítica e problematizadora entre os saberes teóricos, trabalhados em sala de aula, e a realidade vivenciada por agricultores e por assentados de Reforma Agrá- ria no Estado de Goiás.

de medicamentos básicos para atender aos alunos que, por ventura, adoe- cessem nos assentamentos durante a realização do estágio.

Um problema ressaltado pelo conjunto dos estagiários foi o constante atraso no pagamento das bolsas. Muitos alunos, ao longo do processo, expressaram vontade de desistir do Projeto. Um aspecto que muito atrapalhou o andamento dos trabalhos foi o atraso do repasse dos recursos. O projeto envolveu um grupo de alunos que desejavam iniciar sua vida profi ssional e, diante das incertezas, eles fi caram apreensivos quanto às possibilidades de permanecer no Projeto.

Avalia-se, por outro lado, que o Estágio de Vivência proporcio- nou uma experiência concreta para alunos dos cursos de Agronomia e Ve- terinária da Universidade Federal junto às famílias dos assentados rurais, ao mesmo tempo em que estimulou os professores da Universidade Federal de Goiás a participar do debate sobre os problemas da Reforma Agrária no Estado de Goiás e no Brasil, bem como a importância do desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão direcionadas à Agricultura Familiar, Camponesa e à Reforma Agrária. A participação no projeto tam- bém foi importante para ampliar as redes e parcerias com as instituições sociais de representação dos assentados rurais, criando as condições de uma efetiva interação da Universidade com essas instâncias sociais.

O Projeto também fortaleceu os programas de extensão univer- sitária junto aos assentamentos rurais e agricultores familiares, facilitou a integração dos grupos de pesquisa e de extensão existentes na Universidade Federal de Goiás e estimulou os estudantes para os trabalhos de extensão e pesquisa sobre as temáticas da Reforma Agrária, da Agricultura Familiar e Camponesa, da Agroecologia e do Desenvolvimento Rural Sustentável.

Na conclusão do Projeto, de um total de 14 estagiários, 11 in- gressaram no Curso de Especialização e os outros optaram por começar a trabalhar em assentamentos rurais, utilizando técnicas agroecológicas. Somados os quatro técnicos, que foram orientadores de campo no Estágio Vivência, o Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Campo- nesa e Educação do Campo foi iniciado com 15 alunos.

A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DO CURSO DE

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