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Mobilizada por questões que envolvem a aprendizagem no cotidiano escolar e considerando a problemática da investigação A partir da percepção de estudantes

da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, como as Culturas de Intervenção Pedagógica de reprodução, recomendação, disciplina, outorga/transferência e emancipação potencializam a aprendizagem?, propus-me a saber sobre os direitos,

as experiências e as percepções discentes acerca das próprias experiências de aprendizagem ao longo de suas trajetórias no Ensino Fundamental, conforme anunciado anteriormente.

Considerando que provocar o pensar e a narrativa de estudantes acerca do vivido no cotidiano da Educação Básica pode contribuir para a identificação de intervenções pedagógicas potenciais à promoção de aprendizagens significativas, defini do seguinte modo o objetivo geral desta pesquisa: Por meio de narrativas

sobre as experiências estudantis, estabelecer possíveis conexões entre as Culturas

de Intervenção Pedagógica (de reprodução, recomendação, disciplina,

outorga/transferência e emancipação) e a promoção da aprendizagem e, a partir disso, propor possibilidades de intervenções pedagógicas com vistas à efetivação do direito à aprendizagem.

Dado o objetivo geral, os objetivos específicos foram assim detalhados: a) discutir o direito à aprendizagem no contexto das políticas educacionais nacionais;

b) analisar a percepção dos(as) estudantes da RME de Caxias do Sul acerca do direito à aprendizagem, com base em seus percursos escolares;

c) identificar a presença das Culturas de Intervenção Pedagógica (de

reprodução, recomendação, disciplina, outorga/transferência e

emancipação) sob a perspectiva dos(as) estudantes da RME de Caxias do Sul;

d) descrever a percepção sobre as experiências de aprendizagem dos(as) estudantes da RME de Caxias do Sul por intermédio de suas narrativas; e) estabelecer possíveis conexões entre as Culturas de Intervenção Pedagógica e a promoção da aprendizagem;

f) identificar as intervenções pedagógicas significativas para a

aprendizagem, a partir da percepção dos(as) estudantes da RME de Caxias do Sul; e

g) propor possibilidades de intervenções pedagógicas com vistas à efetivação do direito à aprendizagem.

O caminho delineado (e possível) para o desenvolvimento do estudo ora apresentado contempla uma metodologia qualitativa, desenvolvida em uma perspectiva teórico-empírica, cujos procedimentos práticos metodológicos envolvem entrevista narrativa e análise textual discursiva.

Os(as) colaboradores(as) da pesquisa empírica foram estudantes com idades entre treze e quinze anos, matriculados em escolas da Rede Municipal de

Ensino de Caxias do Sul – representantes de regiões administrativas e distritais4 –,

em turmas de nono ano, portanto, concluintes do Ensino Fundamental em 2020. Para fins de organização e aprofundamento, a tese foi estruturada em nove capítulos. Conforme se pode observar na Introdução, inicia-se este estudo com a apresentação de uma narrativa pessoal sobre parte do inacabado processo de constituir-se pesquisadora em educação a partir das experiências vivenciadas em âmbito familiar e profissional e significadas no movimento de pensar sobre o vivido.

Na sequência, expõe-se a problemática, justificativa e relevância desta investigação. Já ao final do capítulo, antecedendo a síntese sobre a estruturação da tese, apresenta-se os objetivos e definições metodológicas da pesquisa.

No capítulo dois, intitulado "Institucionalização da aprendizagem no cotidiano escolar: uma proposta de Revisão Sistemática de Literatura (RSL)", diante do entendimento de que a problemática da institucionalização da aprendizagem no cotidiano escolar representa uma dimensão importante para esta investigação, que envolve experiências de aprendizagem e percepções estudantis, apresenta-se uma proposta de Revisão Sistemática de Literatura que teve por intuito buscar subsídios para o entendimento de que modo o processo de institucionalização da educação no Brasil, e a consequente institucionalização escolar da infância e da adolescência, têm influenciado a naturalização da institucionalização da aprendizagem.

No capítulo três, "Sobre direito e aprendizagem", teoriza-se sobre a aprendizagem enquanto um direito universal, inalienável, inviolável e indispensável à formação e ao desenvolvimento humanos subjacente ao direito à educação. Problematizam-se concepções de direito à aprendizagem em correlação aos dados quantitativos utilizados para expressar os alcances e os limites do desempenho dos(as) estudantes e da qualidade da Educação Básica nacional – dados esses que, descontextualizados, se tornam mecanismos de desconsideração das conquistas

4 Regiões administrativas e regiões distritais são divisões e subdivisões artificiais por bairros (zona

jurídicas, uma vez que servem de argumento e prova da ineficiência do ensino público e, por conseguinte, promovem (in)diretamente a mercadorização da educação.

No capítulo quatro, "Sobre cotidiano e aprendizagem", desenvolvem-se elementos relacionados a algumas conquistas (semissatisfeitas e mal-satisfeitas) alcançadas no âmbito da educação nacional, problematizando-as para enfatizar que a lógica da educação é, antes de tudo, a lógica das relações sociais que envolvem a aprendizagem. Busca-se chamar a atenção para os contextos de interação, para as diferentes trajetórias e para as significações atribuídas pelos sujeitos às experiências de aprendizagem que se dão no cotidiano escolar, mas que a ele não se encontram circunscritas, visto que o cotidiano é algo que transcende ou até precede a escola.

Assim, ancorada na teoria da Sociologia do Cotidiano, discute-se o conceito de cotidiano escolar enquanto fragmento do social e situa-se o conjunto das experiências de aprendizagem estudantis no cotidiano da vida, buscando aprofundar o diálogo em torno da vinculação entre cotidiano escolar, relação pedagógica e

aprendizagem a fim de tornar evidente o potencial da relação pedagógica – ampla,

profunda e sensível ao cotidiano da vida dos sujeitos aprendizes – na promoção da aprendizagem.

No capítulo cinco, "Sobre experiência e aprendizagem", desenvolve-se inicialmente a concepção de experiência a partir da interlocução entre Dewey (1971), Freire (2013) e Dubet (1994) em diálogo com o conceito de geração discutido por Mannheim (1993). Na sequência, busca-se dirigir o olhar para as experiências cotidianas, em especial, para os fragmentos do cotidiano escolar, em que parte das experiências estudantis se desenvolvem. O objetivo é explicitar aspectos e princípios teórico-metodológicos que merecem ser observados quando se busca trabalhar com percepções estudantis sobre as próprias experiências de

aprendizagem, dentre as quais a metacognição – e sua potencialidade na

consciência, monitoramento e autorregulação da própria aprendizagem – e a

memória, com seus mecanismos de reconstrução de vivências sociais subjetivadas que, por conseguinte, são criadoras de experiências novas, as narradas.

No capítulo seis, "Processo reflexivo e constituição de narrativas: decisões metodológicas e imprevistos", apresentam-se os caminhos teórico-metodológicos delineados (e os possíveis) para o desenvolvimento desta tese. Assim, após a descrição do processo de constituição de narrativas docentes, resultado do estudo

investigativo em nível de mestrado, que resultou na definição e categorização de cinco Culturas de Intervenção Pedagógica, a saber: reprodução, disciplina, recomendação, outorga/transferência e emancipação, adentra-se a explicitação, fundamentação e justificativa dos referenciais metodológicos que ancoraram a análise do corpo empírico desta investigação, seguido dos critérios para a definição dos(as) colaboradores(as) da pesquisa e o processo de constituição de narrativas discentes.

No capítulo sete, "Sobre superfície e profundidade: iniciando o mergulho", apresenta-se um retrato sociográfico do cotidiano da vida dos(as) estudantes da pesquisa, expressa-se aprendizagens que se processam pela experiência escolar, sentidos atribuídos e significados construídos pelos(as) estudantes à escola, percepções estudantis sobre os vínculos entre os seus contextos de interações sociais escolares e não escolares e identificam-se características humanas positivas na composição da relação pedagógica (respeito, empatia, paciência, bom humor, humildade, responsabilidade e criatividade).

No capítulo oito, "Sobre superfície e profundidade: completando o mergulho", identificam-se elementos condicionantes da aprendizagem escolar (bem- estar, reconhecimento, escutas e escolhas, tempo e afeto) e intervenções pedagógicas potenciais à aprendizagem, caracterizadas pela exploração da criatividade e dinamização do ensino.

Finalizando a tese, no capítulo destinado à Conclusão, retoma-se o objetivo geral da pesquisa e apresentam-se as conexões estabelecidas entre as Culturas de

Intervenção Pedagógica (de reprodução, recomendação, disciplina,

outorga/transferência e emancipação) e a aprendizagem, bem como a formulação da tese. A tese desenvolvida é a de que as intervenções pedagógicas potenciais à aprendizagem são aquelas caracterizadas pela exploração da criatividade e dinamização do ensino, que têm como princípios o fortalecimento das características humanas positivas na composição da relação pedagógica e a atenção aos elementos condicionantes da aprendizagem.

2 INSTITUCIONALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO COTIDIANO ESCOLAR: