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A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 217/2003 sugeria alterar o caput e acrescentar três parágrafos ao artigo 212 da Constituição Federal com vistas a instituir um mecanismo de ampliação de recursos para as universidades públicas, através da Contribuição Social para Educação Superior (CES), feita pelos profissionais que obtiveram diplomas nessas instituições.

A contribuição seria recolhida em favor das instituições públicas de ensino superior por aproximadamente dois milhões de brasileiros que se beneficiaram de curso gratuito de graduação ou pós-graduação stricto sensu e estavam, como pessoas físicas, nas categorias superiores de renda.

Essa contribuição social, segundo a parlamentar proponente, Selma Schons (PT-PR), conjugava dois princípios: o de progressividade no pagamento dos tributos e o da retribuição, ou seja, de uma equidade temporal que iria diminuir as desigualdades sociais no País. Oportunamente ela atenuaria uma injustiça que se acumulou historicamente: a de que poucos se beneficiaram mais dos impostos pagos por todos.

A deputada salientava que a cobrança de contribuição não suprimiria a gratuidade dos cursos superiores públicos e viabilizaria a abertura de mais vagas no ensino terciário gratuito.

As estimativas de aumento de arrecadação com a contribuição foram apresentadas pela parlamentar juntamente com os dados do Ministério da Fazenda e da Educação. Embora não haja uma explicação mais detalhada dos números apresentados, estimava-se que 50% dos portadores de diplomas de graduação e mais de 90% dos mestres e doutores tivessem renda bruta anual acima de R$

25.000,00 anuais, o que corresponderia a um salário de pelo menos R$ 2.000,00 mensais em 2003.

Havia aproximadamente 7.000.000 diplomados em cursos superiores, dos quais cerca de 2.000.000 graduados em instituições públicas federais, estaduais e municipais, e quase 100.000 pós-graduados.

Eram previstas na regulamentação duas alíquotas – uma delas de 2% e outra de 3% –, e a expectativa de arrecadação da CES era da ordem de R$ 2.170.000.000,00, assim distribuída: 1.600.000 contribuintes na faixa de 2%, com renda bruta média de R$ 35.000,00 e contribuição média anual de R$ 700,00, totalizando R$ 1.120.000.000,00; e 500.000 contribuintes na faixa de 3%, com renda bruta média de R$ 70.000,00 e contribuição média de R$ 2.100,00, somando R$ 1.050.000.000,00 por ano.

Salientava-se que esta receita adicional, que superaria R$ 2,5 bilhões de reais por ano, seria creditada na conta da universidade ou instituição de ensino superior onde o contribuinte obteve o diploma. Esses novos recursos, distribuídos entre as universidades federais, estaduais e municipais, seriam destinados principalmente à oferta de novas vagas e melhoria salarial dos profissionais da educação.

Estimando-se em R$ 4.000,00 anuais o custo-aluno das novas vagas nas instituições públicas de educação superior, e em R$ 2,4 bilhões a receita arre-cadada com o início da contribuição, haveria a possibilidade de abertura de 600.000 novas vagas.

A parlamentar apontava que são formados aproximadamente 150.000 graduados e pós-graduados na educação superior pública, que gerarão pelo menos 100.000 novos contribuintes e, por consequência, 25.000 novas vagas anuais. Dentro de quatro anos, conforme previsão, ocorreria um aumento de concluintes em progressão aritmética, 400.00032, 500.000, 600.000, criando, segundo a proponente da PEC, um círculo virtuoso para o financiamento adicional da educação superior pública.

Ela entendia que, caso a proposta de criação da contribuição dos ex-alunos fosse aprovada, isto poderia representar mais um tributo à classe média. No entanto, defendia que a conta de um aumento de recursos para as universidades tem que ser paga por toda a sociedade. Mais precisamente, pelos setores da sociedade com maior capacidade contributiva.

A medida da contribuição ficava regulada pela progressividade da alíquota, o que alivia a classe média, que na PEC era identificada como a que aufere renda bruta de R$ 25.000,00 e R$ 50.000,00 anuais.

32 Em 2003 as Instituições Públicas de Ensino Superior matriculavam 1.136.370 alunos nos cursos de graduação presenciais.

Ainda segundo a parlamentar, quem mais paga tributos proporcionalmente era a população com renda anual inferior a R$ 15.000,00, que estaria totalmente isenta e, ainda, contaria com mais chances de estudar em uma instituição pública devido às novas vagas geradas.

Não houve discussão legislativa em torno da PEC 217/2003. Depois do parecer favorável emitido pelo relator em 28 de junho de 2005, a matéria não chegou a ser objeto de pauta na reunião da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). A Proposta de Emenda Parlamentar foi arquivada, conforme o Diário da Câmara dos Deputados – SUP. A ao N.º 21, de 1.º de fevereiro de 2007, nos termos do artigo 105 do Regimento Interno, que prevê o arquivamento das proposições que tenham sido submetidas à deliberação da Câmara mas ainda encontram-se em tramitação no momento em que finda a legislatura do parlamentar que propôs.

Contudo, a proposta repercutiu fora do ambiente parlamentar. Um argumento contrário à PEC aventava que o ensino superior brasileiro é um bem público, e, como tal, deve eximir alunos ou ex-alunos de qualquer contribuição para as instituições de ensino superior. Conforme documento de 2003 da então presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Superior (ANDIF), Wrana Panizzi, que argumentava contra a Emenda Constitucional:

Minha divergência de fundo com a cobrança de contribuição social, através de alíquota do Imposto de Renda, de diplomados da rede pública de educação superior, diz respeito à ameaça que isso representaria para a educação como bem público.

Por outro lado, a PEC pode ganhar respaldo quando o ensino superior brasileiro é classificado como um bem semipúblico, pois, conforme apontado na seção 2.1, o ensino superior público brasileiro não pode ser classificado como um bem público, pois não atende às características de não exclusão e não rivalidade. Ele deve ser classificado como um bem semipúblico, devendo contar, portanto, com recursos públicos e privados para financiá-lo, conforme sugeria a PEC 217/2003.