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COMUNICAÇÃO LINGUAGEM DOMINANTES CAPACIDADES DE EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

1.2.4 A proposta pedagógica de Ramos

Coerentemente com o quadro teórico que assumimos e complementando de forma prática a concepção de gênero textual, a quarta e última perspectiva se consolida na proposta pedagógica de Ramos (2004). Essa proposta integra a gradação e a progressão de conteúdo, mostrando preocupações em “apresentar o

gênero, ensinar os alunos a reconhecer seus componentes e ao mesmo tempo fazer com que se apropriem desse conhecimento para seu uso prático.” (Ibidem.: 110)

A partir das premissas básicas do pensamento de Swales (1990, 1992, 2002), Ramos (2004) propõe uma definição de gênero. Em suas conclusões, a autora (Ibidem.: 115) afirma que o gênero é:

um processo social dinâmico, com um ou mais propósitos comunicativos, altamente estruturado e convencionalizado, reconhecido e mutuamente compreendido pelos membros

da comunidade em que ele rotineiramente ocorre. Além disso, entende-se que ele opera não só dentro de um espaço textual, mas também discursivo, tático (estratégico) e sócio-cultural.

A autora reconhece que tanto o propósito comunicativo quanto a comunidade discursiva são elementos importantes para a identificação do gênero, assim como são fatores que influenciam também na estrutura e nas escolhas léxico-gramaticais do gênero.

Por isso, Ramos (Ibidem.: 116) compreende que o trabalho de aplicação de gênero textual em sala de aula está diretamente relacionado ao texto, uma vez que “propicia ao professor desenvolver um trabalho em que o uso de textos e questões

de conhecimento sistêmico são trabalhados não mais de forma estanque, mas observando-se suas condições e situação de produção.”

Dentro dessa perspectiva, a autora considera o gênero textual como um

recurso pedagógico poderoso (Ibidem.: 116) que deveria ser incluído nos conteúdos

programáticos de ensino-aprendizagem de línguas. Dessa forma, Ramos (Ibidem.: 116-117) aponta os seguintes objetivos para implementar uma proposta de gêneros no planejamento de cursos:

a) conscientizar o aluno do propósito e da estrutura textual dos diferentes gêneros, bem como de suas características lingüísticas, contextuais e sócio-culturais significativas e representativas;

b) criar condições para que o aluno não só entenda textos como construção lingüística, social e significativa, mas também desenvolva habilidades de compreensão crítica do uso desses gêneros no mundo em que vive;

c) propiciar o conhecimento de formas textuais e de conteúdos bem como dos processos pelos quais os gêneros são construídos;

d) fazer com que o aluno use estratégias necessárias para usar essas características na sua própria produção.

Com os objetivos delineados no planejamento, a autora sugere que sejam elaboradas atividades para garantir a concretização de quatro aspectos, que considera relevantes, descritos a seguir.

Em primeiro lugar, segundo a autora, deve-se considerar a contextualização do texto, pois é fundamental que se discuta seu propósito, audiência, crenças e

valores institucionais. Além disso, Ramos (Ibidem.: 117) insiste que “a discussão de

traços lingüísticos possa sempre ser feita dentro do contexto de suas funções do texto”. Assim, a partir da discussão e reflexão desses pontos, o aluno possa

conhecer e/ou reconhecer o gênero criticamente, já que suas reais “intenções nem

sempre são explicítas.” (Ramos, Ibidem.: 117)

O segundo aspecto refere-se às estruturas do gênero. Para isso, Ramos sugere atividades que levem o aluno a perceber as variações genéricas oriundas de fatores culturais e mesmo individuais. Esse aspecto conduz ao caráter não- prescritivo do gênero em sala de aula, a saber, evita apresentar fôrmas genéricas para o aluno. Dessa forma, Ramos (Ibidem.: 117) aponta a importância desses fatores, pois “possibilita em primeira instância capacitar o aluno a ser um produtor

competente, a apropriar-se do gênero e explorá-lo criativamente.”

O terceiro aspecto focaliza a autenticidade e adequação do gênero, a fim de “assegurar que o aluno se familiarize e vivencie o que circula no mundo real.” (Ibidem.: 118)

Finalmente, a autora (Idibem: 118) enfatiza que “as atividades precisam

garantir a adoção de procedimentos que facilitem e promovam a interação”.

A partir desses aspectos, Ramos apresenta três fases que dão continuidade a sua proposta pedagógica de aplicação de gênero em sala de aula: apresentação, detalhamento e aplicação. A autora propõe uma progressão de conteúdo de forma espiralada, a saber, uma abordagem que parte da exposição geral do conteúdo para a específica. Dessa maneira, Ramos sugere que se faça a apresentação de itens novos com a retomada dos pontos já apresentados. A seguir, apresentamos as três fases da proposta pedagógica de Ramos.

Na fase apresentação, Ramos (Ibidem.: 118-119) sugere que o gênero seja observado sob uma perspectiva ampla (contextualização), a saber, visando o contexto de situação e de cultura. Para isso, a autora propõe que se sensibilize o aluno (conscientização) para aspectos do contexto de situação e cultura, enfocando onde o gênero circula, quem são seus usuários (seu produtor e sua audiência), os porquês da circulação do gênero, a que propósitos, grupos e interesses ele serve. Também é necessário identificar o conhecimento que o aluno já tem sobre o gênero estudado (familiarização) e, se necessário, “a disponibilização de acesso às

informações necessárias que ele ainda não possui sobre determinado gênero.”

(Ibidem.: 118)

Na segunda fase, detalhamento, Ramos (Ibidem.: 121) propõe que se aborde aspectos mais específicos do gênero, a saber, sua organização retórica e suas características léxico-gramaticais, na tentativa de conduzir o aluno a usar e vivenciar na prática esses componentes. A autora visa os seguintes objetivos dessa fase: (a) fornecer condições satisfatórias para a compreensão/produção geral e detalhada dos textos, bem como explorar a função discursiva e os componentes léxico- gramaticais particulares ao gênero em pauta; e (b) compreender os significados e a relação entre um texto e seu contexto de situação.

Na terceira e última fase, aplicação, a autora (Ibidem.: 124) propõe a consolidação do gênero através de atividades diversas. A idéia é expor o aluno a muitos exemplos do gênero anteriormente estudado. Dessa forma, o aluno será exposto às várias situações da vida real em que o gênero circula na sociedade para que esse aluno possa ser um usuário mais competente do gênero trabalhado. Nessa fase, articula-se o trabalho feito nas duas fases anteriores. Assim, o objetivo dessa última fase é “fazer o aluno trabalhar com o gênero como um todo, reintegrando os

vários conhecimentos que veio adquirindo.” (Ibidem, loc. cit.)

A proposta pedagógica de Ramos, portanto, concebe novos subsídios alternativos para o professor trabalhar o gênero textual em sala de aula. Além disso, a autora considera que:

esta proposta deixa evidente minha preocupação em explorar, no decorrer das três fases de implementação, a função social, o propósito comunicativo e a relação texto-contexto, visando a desenvolver um trabalho, que, partindo das necessidades dos alunos, propicie a realização de atividades socialmente relevantes, utilizando a língua-alvo em uma situação real na qual conhecimento lingüístico, genérico e social são construídos. Em suma, que propicie ao aluno fazer uso da linguagem como prática social. (Ibidem.: 126)

Em síntese, o que Bakhtin, Swales, Mascuschi e Ramos postulam sobre gênero, nos servirá de guia para a análise de nossa pesquisa a respeito das capacidades envolvidas na leitura de gêneros textuais nos livros didáticos em língua inglesa. Uma vez considerados os aspectos de gêneros à luz dos referidos pesquisadores, apresentamos, a seguir, uma revisão teórica para a (re)construção de significados no ensino e aprendizagem de leitura em língua estrangeira.