• Nenhum resultado encontrado

5. A terceira geração do processo de harmonização do asilo 1 O Tratado de Amesterdão

5.2. O Protocolo Aznar

O Tratado de Amesterdão foi também responsável pela criação do Protocolo relativo ao direito de asilo de nacionais dos Estados-membros da União Europeia, também conhecido por Protocolo Aznar, que previu uma limitação no acesso ao procedimento de asilo.

Neste sentido, este Protocolo dispunha que “cada Estado-membro será considerado pelos restantes como constituindo um país de origem seguro para todos os efeitos jurídicos e práticos em matéria de asilo”, pelo que um pedido de asilo apresentado por um nacional de um Estado-membro não deverá ser tomado em consideração a não ser que satisfaça os requisitos previstos no Protocolo79. Desta forma, estes pedidos só poderiam ser declarados admissíveis se o Estado- membro adotasse medidas derrogatórias às suas obrigações decorrentes da Convenção sobre a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais ou se o Conselho tivesse constatado uma violação grave dos direitos humanos nesse Estado80/81.

Assim, o Protocolo Aznar veio alterar a noção de Estado seguro e admitir que em situações muito excecionais um Estado-membro da União Europeia pudesse aceitar a tramitação processual de um pedido de asilo de um nacional de

79 Segundo TERESA CIERCO, “a introdução desta restrição geográfica no acesso de refugiados ao procedimento de asilo no espaço único, foi considerado inconsistente com as responsabilidades internacionais assumidas pelos Estados europeus, que ratificaram a Convenção de 1951, que garante, entre outros direitos, o acesso sem restrições ao procedimento de asilo.” (Ibidem, p. 125). 80 Cfr. Artigo único do Protocolo relativo ao direito de asilo de nacionais dos Estados-membros da União Europeia do Tratado de Amesterdão.

81 Sobre esta temática, JOSÉ NORONHA RODRIGUES refere que “o asilo é instrumento de uso restrito dos estrangeiros e dos apátridas. Na realidade, este tem como destinatários exclusivos os nacionais de países terceiros. (…) Contudo, não podemos esquecer que no âmbito regional nomeadamente no seio da União Europeia, o Protocolo Aznar prevê a possibilidade de igualmente conceder-se asilo a cidadãos da União Europeia, em três situações muito específicas, mas todas correlacionadas com o respeito pelos direitos fundamentais do homem e com os princípios gerais no qual assenta a própria União Europeia.” (Cfr. RODRIGUES, José Noronha: Política Única de

outro Estado-membro82. A definição de Estado seguro já havia sido desenvolvida no âmbito do terceiro pilar da CJAI, no quadro das Resoluções de Londres e designadamente através das Conclusões sobre os países onde, regra geral, não se verificam graves riscos de perseguição, onde se defendia a análise em processo acelerado dos pedidos provenientes dos países sem sério risco de perseguição.

No entanto, ao dar-se a possibilidade de os Estados-membros decidirem segundo os seus próprios critérios se querem ou não apreciar determinado pedido de asilo, reforçando-se de certa forma a manutenção da sua soberania, dificultou-se a harmonização das políticas de asilo no seio da União. Verificava- se, assim, uma discrepância dos procedimentos aplicados por cada Estado- membro, colocando os requerentes de asilo numa situação de incerteza quanto aos critérios a que estariam sujeitos em cada um deles83. E, por esta razão, o Protocolo Aznar é atualmente considerado como um retrocesso na política de asilo da União Europeia.

82 As situações excecionais descriminadas no Protocolo são as seguintes: “se o Estado-membro de que o requerente for nacional, invocando as disposições do artigo 15.º da Convenção para a

Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, tomar, após a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão, medidas que contrariem, no seu território, as obrigações que lhe incumbem por força dessa convenção; se tiver sido desencadeado o processo previsto no n.º 1 do artigo 7.º do Tratado da União Europeia [risco manifesto de violação grave dos valores da União Europeia], e enquanto o Conselho não tomar uma decisão sobre a questão; se o Conselho, deliberando com base no n.º 1 do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, tiver verificado, relativamente ao Estado-membro de que o requerente é nacional, a existência de uma violação grave e persistente, por esse Estado-membro, de algum dos princípios enunciados no n.º 1 do artigo 6.º; se um Estado-membro assim o decidir unilateralmente em relação ao pedido de um nacional de outro Estado-membro: neste caso, o Conselho será imediatamente informado; o pedido será tratado com base na presunção de que é manifestamente infundado, sem que, em caso algum, o poder de decisão do Estado-membro seja afetado.” (Cfr. Artigo único do Protocolo

relativo ao direito de asilo de nacionais dos Estados-membros da União Europeia do Tratado de

Amesterdão).

83 “Talvez por isso alguns Estados-membros optaram por anexar, também, ao Tratado de

Amesterdão três declarações (…). Deste modo, a Declaração n.º 48 reiterou que este Protocolo não prejudicaria o direito de cada Estado-membro de tomar as medidas de organização que considerasse necessárias para dar cumprimento às obrigações decorrentes da CRER (…); a Declaração n.º 5 da Bélgica afirmava que esta continuaria a proceder a uma análise específica de qualquer pedido de asilo apresentado por um nacional de outro Estado-membro ; e, finalmente, a Declaração n.º 49 respeitante à alínea d) do artigo único do referido Protocolo, reconheceu a importância das Resoluções relativas aos pedidos de asilo manifestamente infundados e relativos às garantias mínimas nos processos de asilo.” (Cfr. RODRIGUES: Política Única de Asilo na União