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Quadro sinóptico das instituições estudadas segundo Lauwe (1976)

ATL FM

As crianças frequentam a instituição desde os 3 meses de idade

ATL PT

As crianças frequentam a instituição a partir dos 6 / 7 anos de idade

Tipo de criança Adolescentes - crianças em crescimento que ainda precisam de muito carinho e apoio

Adolescentes - jovens que têm de se preparar para continuar a escolaridade e ser alguém na vida

O que se pretende das crianças Que tenham um desenvolvimento saudável apropriado à sua idade e condição social

Que consigam obter “sucesso” na instituição escolar ; que se preparem para o futuro Necessidades das crianças Afectivas Educativas e sociais

Como se perspectiva o futuro das crianças

Jovens criativos, autónomos, responsáveis (atitude pedagógica)

Jovem responsável (atitude preventiva) Estatuto do Jogo

Actividade lúdica que promove a socialização

Entreter e ocupar

Estatuto do Brincar

Interagir, muito importante “as crianças adoram quando podem ir para o recreio ou para o parque”

“O momento de brincar no recreio à hora do lanche é o mais apreciado pelas crianças “

Estatuto da actividade lúdica

“Permite ensinar e aprender de maneira informal e democrática todas as áreas de saber”

Importante

Recursos materiais Poucos Poucos

Tipo de actividades Plástica, corporal, culinária, brincar na casinha

Plástica, culinária e ginástica Educadores em contacto

directo regular

Educadora Social e Auxiliares de Acção Educativa

Auxiliares de Acção Educativa Outros educadores em contacto

indirecto

Educadores de Infância e Assistente Social

Educadora Social e Assistente Social

Quadro 6 – quadro comparativo dos discursos nas instituições estudadas

Expectativas dos Diferentes Actores Sociais

ATL FM

As crianças frequentam a instituição desde os 3 meses de idade

ATL PT

As crianças frequentam a instituição a partir dos 6 / 7 anos de idade

da Direcção Espaço de apoio socioeducativo Espaço de apoio socioeducativo dos/as Educadores/as

“O ATL é visto como prolongamento do trabalho iniciado na creche e jardim” Processo de aprendizagem

O ATL é sobretudo para as crianças fazerem os trabalhos de casa

da Segurança Social

Espaço de apoio socioeducativo - continuidade do trabalho desenvolvido na creche e/ou jardim de infância

Espaço de apoio socioeducativo muito condicionado pela instituição escolar

dos pais e encarregados de educação

Deixar as crianças em segurança enquanto trabalham, apoio nas refeições, levar e buscar as crianças à escola,

apoio nos trabalhos escolares

Apoio nos trabalhos escolares

das crianças

É um sítio onde fazemos trabalhos, desenhos, para brincar, para comer e lanchar, serve para conviver com os colegas, ver filmes...

... fazemos coisas, desenhos, pinturas, olha, sei lá... tudo... Quadro 7 - quadro comparativo das expectativas dos diferentes actores sociais

72 As crianças e os espaços

De uma maneira geral, as crianças não se referem ao ATL como sendo seu, como lugar a que pertencem; não se referem a ele da mesma forma como quando falam da sua casa, quando dizem, frequentemente, a casa da minha mãe ou da minha avó, e poucas vezes do pai ou dos pais. A casa não é somente o espaço, o quarto, a cozinha ou o canto onde guardamos os nossos objectos pessoais, mas um espaço familiar comum que partilhamos geralmente com outras pessoas, lugar de convívio que pode dizer que a condição de eu o habitar será também cuidar dele, participar no seu arranjo, propondo- me voluntariamente para a sua organização (Gorz, 1988: 197). Se a casa não é somente o lugar onde se habita, também o ATL não pode ser o espaço de transição entre a escola e a casa, dividido em salas reservadas às “actividades”.

É comum a dificuldade que alguns adultos têm em ceder ou partilhar o espaço

com as crianças para que elas também possam organizá-lo, decorá-lo e vivê-lo, sentindo-o como seu. Apesar dos desenhos, pinturas e outros materiais das crianças decorarem estes espaços de ATL, notamos que no caso de PT, alguns educadores manifestam dificuldade em preparar e escolher os materiais para essa finalidade em conjunto com as crianças, que se constituiriam, assim, como parceiras na organização e tomada de decisão sobre as suas próprias actividades. Como resultado deste processo, identificamos espaços acolhedores e cuidados do ponto de vista estético (na óptica daqueles adultos), mas mais dificilmente apropriáveis pelas crianças. No caso de FM, os materiais elaborados pelas crianças decoram as paredes e são na maior parte das vezes por elas colocados e arranjados (eventualmente, com a ajuda dos adultos); no entanto, a vontade de dar visibilidade às actividades (gráficas) desenvolvidas dá origem, muitas vezes, a uma profusão de objectos decorativos, todos muito semelhantes (dado as actividades principais se circunscreverem a actividades manuais como a pintura e a colagem). Estes procedimentos parecem limitar as possibilidades de alargar as referências em termos de cultura visual.

Uma das dificuldades mencionadas por algumas educadoras prende-se, por um lado, com o facto dos espaços serem muito pequenos e tornar-se necessária uma grande capacidade de organização, que não é compatível com o tempo que as crianças precisariam para se consciencializarem da necessidade de os manter em ordem de modo a serem acolhedores para todos e, por outro, porque os adultos percepcionam os espaços

como “seus” ou porque têm um perfil mais directivo e assumem totalmente para si as actividades que deveriam contar com a participação, ou, até, com o protagonismo central das crianças. Considerando ser essa a sua função, acabam por monopolizar uma série de acções como arrumar, arranjar e prever tudo, alegadamente para o bem das crianças, sem se aperceberem que esta poderia constituir uma oportunidade para as envolver, aproveitando as suas ideias, vontade e disponibilidade, e até, de conhecerem as preferências culturais próprias dessa fase da vida das crianças. Aliás, o espaço pertence sempre a quem o habita e o ATL é organizado e pensado como espaço para crianças. O difícil neste caso será entendê-lo como espaço para adultos.

Os espaços institucionais como o ATL (e até a escola) têm esta dificuldade, que é perceber se o espaço é concebido como espaço de e para crianças, onde estas podem brincar e desenvolver actividades a seu gosto ou se é um espaço para resolver problemas sociais que são apenas problemas dos adultos (educadores e pais). Ter uma ou outra perspectiva faz toda a diferença, já que a questão do espaço é também uma questão de fundo, do nosso ponto de vista.

O processo de partilha de tarefas desenvolve a sociabilidade e a solidariedade, mas tal supõe um contexto que favoreça os encontros, as trocas, as iniciativas e as práticas comuns, assim como a apropriação de espaços comuns, o que permite a livre e equitativa expressão de todos os participantes. É na experiência das actividades microsociais que podemos falar de direitos e deveres, e quando se é reconhecido como membro, os direitos implicam o dever de corresponder. A cooperação solidária é a base por excelência da integração social e da produção de laços sociais, como observa Gorz (1988: 199).

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