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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.4 A ocupação das terras do Paranapanema

2.4.3 Quarto período: estabelecimento da agricultura e pecuária na região

O quarto período foi caracterizado pelo intenso desenvolvimento da agricultura e pecuária na região. As terras, diferentemente dos períodos anteriores em que se concentravam nas mãos de poucos, neste período já se encontra fragmentada em muitas propriedades e em processo integração ao mercado de produção de alimentos para a mesa, produtos para exportação e, sobretudo, referente à pecuária de gado bovino. Assim, por estar muito fragmentada torna-se muito difícil identificar a situação das terras, no entanto sua origem está embasa nos grilos e os problemas referentes à legitimidade da posse da terra persistem.

Visto que a compra das terras e a problemática quanto à sua legitimidade, em abril de 1932 a Secretaria da Agricultura do Estado comunica em nota oficial “ser perigosa a aquisição de terras na Alta Sorocabana”, sobretudo nas comarcas de Presidente Prudente e Santo Anastácio (LEITE, 1998, p. 47). Monbeig (1984) também destaca que as terras da Alta Sorocaba não tinham boa reputação e, portanto, os títulos de propriedades eram os mais duvidosos que das outras regiões do estado (MONBEIG, 1984, p. 203). Contudo, mesmo com os problemas referente à posse das terras e sua legitimidade a atuação e as estratégias do Estado não foram suficiente para barrar este processo, o desmatamento e o desenvolvimento da agricultura e pecuária em terras ilegais. Apresentamos a seguir alguns pontos referentes à continuidade da ocupação das terras, as disputas políticas travadas entre os coronéis e os ciclos de produção das principais culturas que movimentaram a economia da região.

José Sobreiro Filho Reservas ambientais e a devastação ambiental no Pontal do Paranapanema

A ocupação e o povoamento da região continuou caminhando em ritmo acelerado e a devastação ambiental acompanhou também este processo. Cada vez mais o Pontal do Paranapanema ia sendo envolvido e integrado às engrenagens do processo de produção capitalista. As feições mais claras deste processo foi a intensificação da pecuária e de culturas como o café, o algodão e o amendoim. No entanto, mesmo com o avanço da agropecuária e a ocupação da região, os problemas da legitimidade da terra ainda eram uma questão imprescindível para o Estado, sobretudo, porque o estabelecimento da estrutura produtiva tinha base terras ilegais e produziam problemas ambientais devastadores para região, sobremaneira, expressos na imagem do desmatamento e da caça, ou seja, atacando assim fauna e flora.

Visto tal conjuntura e condição da posse da terra, o Estado tomou como opção mudar suas ações e tomar medidas estratégicas no sentido da criação de reservas ambiental com o intuito de barrar o desmatamento e a disputa de terras promovida entre os grileiros. Assim, segundo Feliciano (2009, p. 244), como parte das tentativas de barrar o avanço da devastação da fauna e flora e responder às ações discriminatórias do 1º e 2º Perímetros de Presidente Venceslau, o Estado criou em 1941 o Parque Estadual do Pontal do Paranapanema e, em 06 de novembro de 1942, a Reserva Lagoa São Paulo e logo em seguida a Grande Reserva do Pontal do Paranapanema (ver tabela 1).

Tabela 1 – Reservas florestais do Pontal do Paranapanema

Reserva Área (hectares) Fundamento legal

Morro do Diabo 37.156 (original) 33.845 (atual)

Decreto Lei nº 12.279/91 Decreto Lei nº 25.342/86

(Parque Estadual) Lagoa São Paulo 13.343 (original) Decreto Lei nº 13.049/42

Grade Reserva 271.286 (original) Decreto Lei nº 13.075/42 Total: 321.785

Fonte: Feliciano, 2009, p. 373.

De acordo com Feliciano (2009) essa medida teve como finalidade transferir o caráter devoluto das terras para a questão ambiental e tentar por meio desta barrar o avanço das negociações, grilagens e desmatamento. Ao tornar as áreas reservas ambientais tinha-se como finalidade evidenciar o caráter proibitório da venda de terras em área de reserva. Segundo Feliciano (2009, p. 245), naquela conjuntura surgiram

José Sobreiro Filho muitos esquemas e estratégias de corrupção, que incluía membros importantes do governo, visando burlar a estratégia do Estado:

O governador Adhemar de Barros possuía extrema ligação com o poder político na região, uma vez que quase todos os prefeitos se filiaram ao Partido Social Progressista. Em troca de apoio, durante a sua gestão, de 1947 a 1951, as áreas reservadas por lei foram invadidas e negociadas. (FELICIANO, 2009, p. 245)

Tal processo refletia a incompetência e benevolência do Estado em não barrar o desmatamento e regularizar a problemática da posse da terra (LEITE, 1998, p.16). Entretanto, apesar da tentativa de se frear os processos acerca da ilegitimidade da terra com o direcionamento para a questão ambiental ainda assim o Estado demonstrou-se incompetente, pois a devastação na região tivera proporção significativamente expressiva. Segundo Leite (1998, p. 27) calcula-se que devido às queimadas e desmatamento ocorrido em todo o período apenas 12,5% da vegetação primitiva restou e que muitas espécies da fauna também desaparecerem, sedo que apenas alguns poucos restaram na Reserva Florestal Morro do Diabo (LEITE, 1998, p. 28).

Quanto à devastação ambiental, desde o processo de ocupação da região estabeleceu-se um intenso processo de desmatamentos da mata nativa. Este processo, criado simultaneamente à abertura das fazendas no transcorrer dos anos foi ganhando maiores dimensões e aos poucos alterando a paisagem da região. Segundo Leite (1972, p. 62) nenhum dos produtos desaparecidos foi tão impactante na alteração da paisagem da região como a extração da madeira95. Dentre os diversos fatores que influenciaram no processo de desmatamento durante o século XX a relevância econômica da extração de madeira foi significante enquanto estabeleciam-se os cafezais na região, ou seja, enquanto a cultura cafeeira se estruturava, a comercialização da madeira na região foi a principal fonte de movimentação econômica, sobremodo, comercializando aos grandes centros.

A princípio, no processo de desmatamento, a caixa de fósforos e o machado foram as principais opções para a derrubada da mata, sobretudo o fogo visto que era uma forma rápida e completa de limpar a área (MONBEIG, 1984, p. 87). Segundo Vasques (1973, p. 15) mesmo com a existência de uma polícia especializada em fauna e flora, com esses instrumentos de derrubada da mata iniciou-se um dos maiores e mais rápidos processos de derrubada de todo o país. Levado a cabo pelos fazendeiros,

95 A fauna também fora afetada, sobretudo na caça tanto para o consumo de carnes quanto para a comercialização da pele de algumas espécies (LEITE, 1998, p. 28-9).

José Sobreiro Filho tamanha era a dimensão do processo e uso da prática que o fogo chegava a ameaçar povoados, vilas da região e as reservas, como descreve Vasques:

No Município de Teodoro Sampaio, a Reserva Florestal da Serra do Diabo teve o fogo no seu interior, varrendo-a completamente, pelo menos por duas vezes, como tivemos oportunidade de verificar no local. Em linhas gerais, o quadro é semelhante ao do Pontal; os incêndios se alastram com grande rapidez devido ao vento, aos poucos acidentes da região, aos córregos bastante estreitos para impedir a passagem do fogo, quando há vento e, acima de tudo, devido ao material – o capim – altamente combustível, quando seco. Nem os aceiros abertos a trator foram capazes de reter o avanço do fogo. (VASQUES, 1973, p. 46)

Com a derrubada da mata em seguida semeava-se o capim para o gado de engorda oriundo do estado do Mato Grosso (VASQUES, 1973, p. 71). Outra opção muito utilizada nas inúmeras aberturas de novas fazendas foram as serrarias. Estas, além de realizar a limpeza da terra também comercializava a madeira para os municípios de São Paulo, Sorocaba e Santos para a construção civil, móveis, etc. (VASQUES, 1973, p. 94). E também fornecia os primeiros capitais para o plantio ou para ampliar as melhorias na propriedade ou pagar a mão de obra contratada para a derrubada. A madeira ali extraída inicialmente era escoada pelas inúmeras estradas96 que foram sendo criadas no meio das matas e mais tarde passou a ser transportada pela ferrovia97. A acentuação do processo ocorreu ainda com mais intensidade devido ao estabelecimento da Estrada de Ferro Sorocabana que por cortar os principais núcleos urbanos, entrepostos, e povoamentos, servia dando vazão à matéria-prima extraída rumo à capital São Paulo. Segundo Leite (1972, p. 62) poucas eram as composições de cargas que se diferenciavam de madeiras emparelhadas e troncos. Além disso, a madeira também foi a principal matéria das construções dos núcleos urbanos e pequenos povoados98.

A derrubada da mata e o estabelecimento da pecuária foram processos que ocorreram simultaneamente. Sobre o uso da madeira e a logística montada acerca do processo de desmatamento Vasques (1973) apresenta detalhes:

96 De acordo com Antonio (1984, p. 119) muitas das árvores eram de grande porte e constituíam-se como madeira de lei. Algumas destas “exigiam quatro homens para abraça-las” tamanha o diâmetro. A preocupação que se tinha era, em sua maioria, a abertura das ditas “estradas maestras” para que se pudesse realizar comportar o transito de vários caminhões que carregavam as toras.

97 Mais marcante ainda era a situação no pátio da Estação de Ferro de “Perobal”, com suas esplanadas lotadas e com suas composições – mais de 30 vagões cada uma -, carregadas de madeira aparelhada, principalmente dormentes, saindo diariamente para os centros comerciais distantes. (ANTONIO, 1984, p.120)

98 O processo de desmatamento contribuiu para a abertura de pequenas inúmeras estradas e estabelecimento de numerosas serrarias. (VASQUES, 1973)

José Sobreiro Filho

Para a derrubada a mata inicialmente entram os trabalhadores fazendo a roçada do mato mais baixo – o andar inferior. Um ou dois meses depois esta vegetação está quase seca. É a hora de se atear fogo à floresta para que haja uma limpeza geral e seja facilitada a entrada de caminhões e homens, diminuindo também a quantidade de insetos e matando ou afugentando o resto dos animais perigosos. Então entram os homens das derrubadas com machado e traçadores (serra manual que 2 homens manejam). Tirando uma cunha na base do tronco, abrangendo mais da metade da área circular e do lado onde deve cair a árvore; no lado oposto fazem uma pequena incisão, o suficiente para anular a resistência da parte restante do tronco. Deste modo a arvore tomba do lado previsto, na maioria das vezes. Não tendo o traçador, o trabalhador usava somente o machado, o que dificultava muito o corte das madeiras e diminuía ritmo da derrubada. (VASQUES, 1973. P. 92)

E em seguida aponta:

As grandes perobeiras são derrubadas na mata pelas turmas de trabalhadores que aí residem e têm especificamente esta função. Ali, na mata, o tronco é medido e cortado em toras de acordo com pedidos e necessidades das serrarias, em volume, comprimento e qualidade: toras de 8 ou 10 metros para corte em vigas, “palanquetas” para cerca, madeira para dormentes, para vigas, tábuas, etc. O caminhão, especialmente adaptado para o transporte de toras (caminhão toreiro), entra pela picada até a área das derrubadas. A poder de cabos de aço e guinchos, movidos manualmente, a tora é rolada para cima dele sobre “ trilhos” de grossas vigas aparadas a machado. O cabo de aço as enlaça e os trabalhadores ajudam-nas a rolar com alavancas. Enlaçadas ainda pelos cabos, são transportadas e colocadas, depois de penosa e demorada viagem, por caminho rústico e com inúmeras curvas, na esplanada da serraria ou na barranca do rio Paraná, à espera de corte ou embarque bruto. (VASQUES, 1973. P. 77-8)

A importância em se derrubar a mata não se dava somente pela extração da madeira, mas também por deixar a propriedade mais segura e promover a valorização da terra. Conforme Vasques (1973, p. 99) “O mais importante não era serrar a madeira e sim derrubar a árvore. Quanto mais troncos caídos, mais seguro estaria o patrimônio do fazendeiro.”. Esta estratégia tinha como intuito limpar a terra para que se pudesse produzir e, portanto, dar feição de propriedade privada que não se incluísse na área de reserva e de legítima por estar produzindo. A valorização da terra desmatada era significativamente maior que área não desmata:

Considerando-se os preços das terras, em 1966, um alqueire de terra boa do Varjão, valia cerca de Cr$250,00 a ... Cr$ 300,00, encontrando-se facilmente os sítios para compra. Hoje, com o trato dispensado e o desmatamento – retirada de tocos pequenos, arações, etc., o preço é bastante alto, estimando-se em Cr 4.000,00 a Cr$ 5.000,00 o alqueire, porém, não se encontrando com facilidade terra para comprar. (VASQUES, 1973. P. 154)

José Sobreiro Filho A derrubada da mata também contribuiu para a instalação de alguns núcleos urbanos, visto que demandava mão de obra e, portanto, constituía-se além de mercado consumidor no setor de construção civil99, também como exercito de trabalhadores para a abertura das fazendas, conforme apresenta Vasques (1973) sobre os trabalhadores arregimentas para a derrubada:

Aqueles passavam a semana na mata, derrubando árvores e, nos fins de semana, se locomoviam para a “cidade”. Deste modo todos os fazendeiros das proximidades contavam com um manancial de mão de obra, desobrigando-se da parte residencial familiar. Na mata, um tosco rancho abrigava o trabalhador durante a noite. Em idêntico caso podemos colocar o povoado do Ponto Alegre. Estabelecido bem antes dos demais, lodo depois de Planalto do Sul e situado no alto do espigão, teve como razão principal de sua instalação a necessidade de mão de obra para as grandes derrubadas das matas das glebas recém vendidas. (VASQUES, 1973. p. 80)

Segundo Monbeig (1984, p. 244) os primeiros sujeitos a trabalharem na derrubada da mata na região foram os alemães chegados no período entre 1920 - 1925. Destaca o autor que, foram eles que ensinaram o trabalho aos demais trabalhadores que se aventuravam no desmatamento e também se portavam melhor às dificuldades da vida e ao trabalho que os italianos e espanhóis que migraram para a região. Além do estabelecimento das pastagens voltadas para pecuária de gado de corte e sua engorda, o café também teve participação significativa na promoção do desmatamento da região. Deste modo, ocorreu uma significativa troca das matas pelo estabelecimento tanto da pecuária quanto da cafeicultura. Muitas foram as pequenas propriedades que surgiram criadas pelas companhias de colonização que traziam e alocavam o imigrante100 e pela fragmentação das fazendas de terminavam por contribuir para o processo realizando o desmatamento e servido de mão de obra para realizá-lo e as glebas que mudavam de proprietários visto a periculosidade representada pela falta de legitimidade da posse da terra e o risco de estarem alocadas dentro de áreas de reserva florestal (VASQUES, 1973, p. 86).

Mesmo com o estabelecimento das reservas ambientais, segundo Vasques (1973. p. 91) a derrubada da mata e o estabelecimento dos pastos acontecia sem pressa nem atropelos, somente algumas vezes acontecia autuações da polícia florestal e

99 Neste período a construção de casas de madeira era muito comum (LEITE, 1998, p. 27-8)

100 Os imigrantes muitas vezes através do desmatamento, sobretudo, de madeira de lei como peroba e Jequitibás conseguiam saldar as dívidas da compra do lote com as Companhias de Colonização (ANTONIO, 1984, p.120).

José Sobreiro Filho judiciarização do processo. Assim, a paisagem que até então era homogenia, somente no transcorrer dos anos que ganhou novas feições. Repetidamente notavam-se nos horizontes os ditos “rolos de fumaça” e no ar a fuligem. A dimensão e as estratégias de realização das queimadas101 foram descritas por Vasques:

Os rolos de fumaça, no correr destes anos de 1956 a 1958, enchiam de linhas verticais os horizontes, pairando no ar uma quantidade enorme de fuligem. Os próprios fazendeiros se referem a este período como o de maiores incêndios, “jamais vistos no Pontal”. Tais queimadas eram iniciadas com o derramamento de tambores e mais tambores de gasolina, pouco podendo fazer a Policia Florestal, pois enquanto atendiam a um incêndio, outros vinte se levantavam. Turmas e mais turmas de trabalhadores em derrubadas se espalhavam pela área recém-queimada e derrubavam tudo o que podiam. A separação em vários grupos de cortadores de árvores e a internação das matas eram os meios usados para desorientar a Polícia Florestal. Se aprendiam as ferramentas de um grupo de trabalhadores, vários outros prosseguiam o trabalho de derrubadas dali. (VASQUES, 1973. p. 92)

No entanto, apesar da problemática, habitavam duas concepções antagônicas na região. De um lado evidenciavam a relevância de se proteger as matas e do outro ansiavam o desenvolvimento econômico e a criação de uma ferrovia que cortaria as reservas florestais (VASQUES, 1973, p. 93). A mídia foi um dos espaços onde essa disputa de concepções ficou mais clara. Estabeleceu-se de um lado um grupo jornalístico que defendia a propriedade privada e que se apresentava como “Os Diários” e outro uma grande organização jornalística de São Paulo denominado “As folhas” (VASQUES, 1973, p. 18). Esta disputa iniciada em 1954 durou até 1959 e apesar de muitas críticas de uma luta ferrenha o desmatamento continuou seguindo o fluxo. Mais adiante, com os avanços tecnológicos o processo de desmatamento foi ganhando novas técnicas como, por exemplo, o uso de desfolhadores químicos102 para agilizar o processo e poder então atear o fogo e a serra movida a gasolina que reduziu a necessidade do número trabalhadores para a derrubada da mata (VASQUES, 1973, p. 123). Essas novas técnicas incorporadas ao processo de desmatamento acelerou a abertura das fazendas e nestas as áreas com matas cada vez mais rápidas ia sendo diminuídas. Tamanho era o processo de desmatamento que nas fazendas muito pouco se restava das matas, conforme apresenta a tabela 2 retirada de Vasques (1973, p. 127):

101 Segundo Monbeig (1984, p. 243) o fogo se extinguia em dias. 102 Vasques, 1973. P. 116

José Sobreiro Filho

Tabela 2 – Relação de mata e pastos

Mata Pasto

Fazenda Três Irmãos 5,5% 92,1%

Fazenda Mate Laranjeira 2,2% 94,6%

Fazenda São José 2,6% 94,8%

Média 3,43% 93,8%

Fonte: Vasques, 1973, p. 127.

De um modo geral, o desmatamento continuou avançando ao logo dos anos na região. Tamanha era a sua magnitude que no ano de 1972 no município de Teodoro Sampaio havia ainda 18 cerrarias funcionando conforme apresenta o quadro 2:

Quadro 2 - Município de Teodoro Sampaio: Serrarias ativas no ano de 1972 1- Serraria tipo pica-pau em Rosana. A grande serraria inicial da

Imobilizaria e Colonizadora Camargo Correa Ribeiro S.A., já desmontada e vendida em partes.

2- Serraria na fazenda Alcídia, de Agátipo Lemos. 3- Serraria Coimal de Décio Soares.

4- Serraria Ponte Branca – Ênio Pipino. 5- Serraria Santa Rita – Albano Guímaro.

6- Serraria Três Irmãos, Albano Guímaro (arrendada). 7- Serraria Água Sumida de Melão Nogueira.

8- Serraria Santo Antônio em Teodoro Sampaio. 9- Serraria Pica-pau Figueirense em Teodoro Sampaio. Em Euclides da Cunha:

10 – Serraria São Pedro. 11 – Serraria São Lucas. 12 – Serraria São Judas Tadeu. 13 – Serraria de Estanislau Rebis. 14 – Serraria de Roberto Ferrari. 15 – Serraria Irmãos Cruz. 16 – Serraria de Orlando Rosiani. 17 – Serraria de Aparecido Venancio. 18 – Serraria Pica-pau Francisco Ferreira. Fonte: Vasques, 1973, p. 129

José Sobreiro Filho Política

No contexto de surgimento de muitos povoados e crescimento de pequenos núcleos urbanos até a elevação destes à categoria de municípios surgiram muitas práticas políticas diferenciadas na região. Dentre as mais destacadas havia a presença do coronel103, sujeito de grande prestígio que realizava as principais atividades políticas, mediações e representava a chefia local ocupando lugar de maior destaque no cenário político da região (ABREU, 1982, p. 11-3). Posteriormente, com a diminuição da importância do coronelismo e a expansão dos direitos democráticos, sobretudo do voto, ocorreu a emergência do populismo. O populismo baseava-se na intensa confiança que a massa tinha em determinada liderança e que, portanto, o via como a personificação do projeto do Estado. A confiança que a massa tinha sobre a liderança era a base da relação, portanto cabia também à liderança mantê-la e caso perdida resgatá-la para que fosse restabelecido o laço entre ambos (ABREU, 1982, p. 15).

Na região do Pontal do Paranapanema o coronelismo, que se prostrou ativo mais intensamente de 1917 até 1930, teve como principais representantes os Coronéis Francisco de Paula Goulart e José Soares Marcondes (ABREU, 1982, p. 309). Ambos foram grandes proprietários de terras como mencionamos anteriormente. Segundo Abreu (1982, p. 32) estes coronéis tinham seu quadro político formado por pessoas que se vinculavam a eles por variados motivos, dentre eles destacavam-se: a compra de uma parcela de terras de algum dos coronéis; a localização da propriedade adquirida; empréstimo de dinheiro; parcelamento da compra das terras; concessão ou doação de terras; familiares; empregados; agregados, compadres; etc. Ambos os coronéis eram rivais e mesmo com algumas tentativas de união proposta por Júlio Prestes em 1927 a aliança não tivera bons frutos e terminando em 1930 visto que tinham interesses político-econômicos distintos e disputavam compradores de terras, ou seja, um crescia em detrimento do outro (ABREU, 1982, p. 44).

Aos poucos a configuração política foi sofrendo mudanças, sobretudo, demandadas pela própria organização jurídica e política pela qual o país estava passando. A atuação dos coronéis no cenário político cada vez mais era relegada ao segundo plano e os partidos políticos seguiam ganhando espaço. Contudo, a influência política dos coronéis Goulart e Marcondes continuou fortemente e mesmo mais

103 Normalmente os coronéis eram grandes proprietários de terras ou pessoas com ensino superior (médicos, advogados, etc.) dotadas de grandes poderes políticos.

José Sobreiro Filho afastados continuavam a ordenar “de longe” no cenário político, ou seja, o afastamento de ambos não configurava em uma efetiva perda de influência e poder político104. Além desta realidade aos poucos foi se compreendendo que o lento crescimento da cidade de Presidente Prudente105 devia-se ao conflito de interesses entre os coronéis e, portanto, à