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Flávia Brassarola Borsani

Bailarina graduada em Dança pela Universidade Federal de Viçosa. Membro do Grupo de Pesquisa Dança: Estética Educação do Programa de Pós-Graduação do IA/Unesp- SP. Membro do Grupo IAdança (2010).

Jaqueline Lamente

Arquiteta, Urbanista e Designer formada pela Universidade Estadual Paulista, coordenadora do Projeto GodLuvDance através da dança e educação. Membro colaboradora do Grupo de Pesquisa Dança: Estética Educação do Programa de Pós- Graduação do IA/Unesp-SP. Membro do Grupo IAdança (2010)

Kathya Maria Ayres de Godoy

Bailarina e coreógrafa; Graduada em Educação Física, Pós-Graduada em Ginástica e Dança; Mestre em Psicologia da Educação (PUC/SP); Doutora em Educação (PUC/SP). Leciona no Instituto de Artes da UNESP no Programa de Mestrado em Artes e nos Cursos de Licenciatura em Artes. É líder do Grupo de Pesquisa Dança: Estética e Educação. Dirige o Grupo de Dança IAdança.

Rosana Aparecida Pimenta

Licenciada em Artes Cênicas e Mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista. Membro do Grupo de Pesquisa Dança: Estética Educação do Programa de Pós-Graduação do IA/Unesp-SP

“A Dança como forma de conhecimento propõe experiências estéticas e expressivas do indivíduo, pois “dançando o sujeito também compreende e

percebe o mundo, a si próprio e às pessoas ao seu redor, através da experiência do fazer artístico.” (ROBATO, 1994, p. 22)

Ao percorrermos a trajetória histórica da Dança, percebemos que ela está presente na cultura de inúmeros povos em diferentes momentos e locais, manifestando-se sob distintas formas a fim de saciar a necessidade de expressão e comunicação do homem.

Dessa maneira, antes mesmo de procurar expressar-se ou comunicar-se por meio da palavra articulada, o homem criou com o próprio corpo padrões rítmicos de movimentos, ao mesmo tempo em que desenvolvia um sentido plástico do espaço.

Crianças e adolescentes exploram o ambiente em que vivem e se comunicam através de seus corpos. Estimular o movimento e suas possibilidades pode levá-los a descobrirem e potencializarem seus aspectos

físico, cognitivo e motor através de atividades coerentes com a faixa etária trabalhada e contexto em que os alunos estão inseridos.

Robato (1994) acredita que a dança é uma linguagem por meio da qual o indivíduo pode sentir-se, conhecer-se, manifestar-se e que mostra possibilidades de transformação e aproveitamento de sua espontaneidade e criatividade com o objetivo de chegar a um aprofundamento e enriquecimento de sua atividade natural.

A Dança, tendo como instrumento o próprio corpo, pode proporcionar o aumento da comunicação pelas sensações, emoções e expressões que somente podem ser explicadas quando são vivenciadas, por meio de atividades que busquem a descoberta do corpo e de sua relação com o outro e com o meio.

A Dança é um maravilhoso meio de integração, capaz de proporcionar momentos de prazer e descobertas, resultando no autoconhecimento e, consequentemente, no desenvolvimento físico, cognitivo e motor das pessoas.

Nesse sentido, encontramos na Dança aspectos educacionais, finalidades e propostas que podem atravessar os muros das escolas, saindo dos salões/salas de academias e de projetos sociais, para invadir salas de aula.

Para Godoy (2003), ao se considerar a Dança como uma experiência de arte criativa e educacional, garantir-se-ia aos alunos uma maneira de vivenciar valores estéticos descobertos na realidade, usando experiências motoras criativas baseadas na instrução.

Embora a Dança seja reconhecida pelo Ministério da Educação como área do conhecimento, integrada nos PCNs desde 1997, com a diretrizes que situam a Dança como umas das linguagens do ensino da Arte nas escolas e com Cursos de Graduação com diretrizes próprias desde a década de 1970, ela ainda não conquistou o seu lugar na escola.

O espaço escolar devia reconhecer-se como um espaço aberto a inúmeras possibilidades de conhecimento das mais diversas áreas, dentre elas a Arte, em busca de uma compreensão do mundo de forma mais sensível, poética, flexível e significativa.

construir conhecimento em dança e por meio da dança com seus alunos, abrindo possibilidades de apropriação crítica, consciente e transformadora dos seus conteúdos específicos.

O ensino de dança na escola pode dar subsídios ao aluno para melhor compreender, desvelar, desconstruir, revelar e transformar as relações que se estabelecem entre corpo, arte e sociedade, de forma a contribuir para que os alunos tomem consciência de suas potencialidades, aumentando sua capacidade de resposta e sua habilidade de comunicação. Seu objetivo englobaria a sensibilização e a conscientização tanto nas posturas, nas atitudes, nos gestos e nas ações cotidianas, quanto em suas necessidades de se expressar, comunicar, criar, compartilhar, interagir na sociedade em que vivemos.

Assim, a dança na escola pode desenvolver na criança a compreensão de sua capacidade de movimento, de suas possibilidades e limites corporais, levando-a a perceber melhor o seu corpo, a fim de poder usá-lo expressivamente com inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade (GODOY, 2007).

A Dança também possibilita o trabalho coletivo, incorporando qualidades individuais em benefício do grupo, como forma de integração e expressão, em que o aluno exercita a atenção, a percepção, a colaboração e a solidariedade.

Além disso, permite-se com a Dança a sensibilização dos alunos, a experimentação da plasticidade de seus corpos, além do desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade, o que deve contribuir para o desenvolvimento integral do aluno.

A linguagem da dança, como um processo de autoconhecimento (do corpo, de seus limites e de suas possibilidades) e instrumento de efetivação das relações sociais, leva o aluno a experimentar novas possibilidades no plano do exercício da criação e de integração de um grupo (BRASIL, 1997).

A dança na educação não existe somente para o prazer de dançar, mas, por meio do esforço criativo em dar forma estética à experiência significativa, espera-se que os alunos desenvolvam sua força criativa e, assim, melhorem como pessoas (MARQUES, 2003).

Podemos dizer que a dança na escola se faz necessária, pois é por meio de nossos corpos, dançando, que os sentimentos se integram aos

processos mentais e que podemos compreender o mundo de forma diferenciada, ou seja, artística e esteticamente.

As reflexões quanto à pertinência e adequação da intervenção pretendida no meio escolar pelo Projeto Movimento e Cultura na Escola: Dança tem ressonância na discussão realizada por Pimenta (2008) sobre a natureza dos projetos sociais voltados para a Arte, Dança e Educação na cidade de São Paulo. Dentre os conceitos articulados pela pesquisadora, destacam-se a “dimensão estética da arte” de Herbert Marcuse, e “Campo”, “Habitus” e “Capital”, de Pierre Bourdieu.

Por esse motivo, é importante que se saiba que a realização do projeto Movimento e Cultura na Escola: Dança está pautada no pressuposto de que a Arte é uma necessidade humana que compõe parte vital do conhecimento humano, sendo que a dança é a linguagem artística capaz de propiciar a experimentação, no corpo de quem dança, das possibilidades imaginativas de o indivíduo ser e estar no mundo.

Dessa forma, valorizar o espaço da dança na escola implica valorizar a pluralidade das danças assim como as múltiplas formas de viver fomentando as diferenças individuais: corpo, raça e sexo, proposta pelas diversas danças e de suas expressões singulares nas diferentes sociedades. O que possibilita, inclusive, o exercício da tolerância e do diálogo de diferentes pontos de vista, criando um clima de compreensão e solidariedade que intencionamos que seja incorporado na vida das crianças e dos participantes do projeto (corpo escolar, integrantes do GPDEE).

Mas, que Dança é essa que realizamos na escola, afinal? Primeiro, ressaltamos que do ponto de vista deste projeto a linguagem da dança é compreendida a partir de sua plenitude estética e educacional.

Dentre os teóricos da área de Dança e de Educação, apresentamos aqui, dois teóricos específicos: Rudolf Laban e Henri Wallon, os quais apresentados e interpretados por Godoy (2007), permeiam o ensino da dança não apenas ao que se refere à execução de movimentos relacionados a um estilo de dança específico ou tão somente à questão da estética, mas também aborda a visão de um corpo que pensa, comunica, sente e que se expressa.

As pesquisas desenvolvidas por Henri Wallon e Rudolf Laban transitam pelo viés da percepção das sensações musculares através do sistema nervoso no qual Henri Wallon nomeia como percepção tônico emocional e Laban chama de sentido cinestésico. E é sobre este aspecto que a Dança trabalha.

Laban dedicou sua vida ao estudo do movimento humano em seus significados e relações com o meio, resgatando os atos espontâneos pela dança e considerando a rotina de movimentos como restrição à expressividade do homem. Sua proposta de Dança não considera apenas a questão da estética ou de um estilo belo de dança, mas a liberdade que possibilita ao homem criar e descobrir movimentações e encontrar a autossuficiência no próprio corpo.

Quando dançamos, interpretamos ritmos e formas no espaço. A Dança representa a cultura, a sociabilidade. Ela é o retrato dos acontecimentos do mundo, é o círculo, dentro do qual vibra o corpo humano (LABAN, 1978). Ou seja, a Dança é movimento, ritmo, forma, expressão, comunicação, representação de uma cultura e estudar esses elementos é pesquisar o ser humano – o corpo – e todos seus limites e possibilidades.

Qualquer movimento executado tem envolvimento com o sistema nervoso. Ele é resultado de impulsos nervosos situados nas fibras musculares em todo o corpo através do qual podemos perceber os esforços musculares, o movimento e a posição no espaço.

O sentido cinestésico é importante no caminho para a consciência corporal e, quando o associamos ao dançar, estamos tratando da percepção do sentido de movimento.

Para Laban (1978), todo movimento deriva de uma intenção do homem a atingir algo que lhe é valioso. Para isso, ele se utiliza de ações corporais intencionais, muitas delas expressivas, ou seja, dá-se significado para o movimento.

Essa expressividade está no tônus, na forma que o corpo assume ao longo dos anos e em situações diversas do dia a dia. Mas para isto acontecer, a pessoa constrói uma imagem do corpo que é composta por elementos como: o reconhecimento do estado e a localização das ações corporais (espaço- temporal); o ajustamento do corpo ou de suas partes às solicitações das situações, possibilitando à pessoa a realização de ações motoras adequadas e

imediatas; e a representação simbólica dessas ações corporais (GODOY, 2007).

A compreensão de toda a estrutura e o funcionamento da máquina humana é fundamental para a expressividade. Ou seja, a escolha ideal de ações corporais, no momento adequado pode transmitir e comunicar uma ideia, mensagem ou algo às pessoas.

No trabalho corporal, quando se traçam objetivos que são externos a nós, prioriza-se este determinado fim e os corpos acabam sendo transformados em instrumentos para atingir algo em algum lugar. No entanto, ao estimularmos a Dança como possibilidade educativa, estamos motivando o ensino da arte por um viés multicultural pelo qual os alunos podem experienciar o movimento e a ação intencional e representativa que ele pode ter. Mais do que isso, se comunicar por meio do movimento e da Dança.

Wallon pensava a escola como o meio onde convivem diferentes grupos e onde a criança exerce suas potencialidades, transformando ou confirmando a imagem que traz de si, da convivência com a família e dos outros meios (MAHONEY, 2000).

Neste processo de descobertas e de experienciações é que a criança se constrói como ser humano. E é nesse sentido que pensamos o papel do professor. Como proporcionar às crianças desafios para esta construção?

O professor não é somente um mediador entre o aluno e a cultura, ele é o próprio representante da cultura para o aluno. Quando transmite uma informação ele está contribuindo para a edificação do intelecto, e, juntamente com a família, para a construção da personalidade da criança. Por isso, é importante o estímulo ao trabalho na escola com as linguagens artísticas.

Apesar da abordagem diferenciada, Laban e Wallon vislumbram o movimento como constituinte da pessoa, possibilitando a ela uma intervenção no meio sociocultural pela expressividade, gerando, entre outras coisas, a linguagem comunicativa do corpo.

Refletir sobre o movimento, o funcionamento do corpo e a autopercepção abre espaço para se pensar na arte do movimento como uma possibilidade de ensino transformador. Assim, esta é nossa premissa de

Bibliografia

BARRETO, D. Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola. Campinas: Autores Associados, 2004.

BRASIL. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares

Nacionais – Arte. Brasília: MEC, 1997.

DANTAS, Mônica. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: UFRGS, 1999.

GODOY, Kathya Maria Ayres de. “Dançando na escola”: o movimento da formação do professor de arte. Tese de Doutorado em Educação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. PUC/SP, 2003.

GODOY, Kathya Maria Ayres de. O espaço da dança na escola. In: KERR, D.M. (org.) Pedagogia Cidadã: caderno de formação: Artes. 2ª Ed. São Paulo: Páginas e Letras Editora e Gráfica, Unesp. Pró-Reitoria de Graduação, 2007.

LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho. Henri Wallon: psicologia e educação. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.

MARQUES, Isabel. Ensino de dança hoje, textos e contextos. São Paulo: Cortez, 1999.

MARQUES, Isabel de Azevedo. Dançando na Escola. São Paulo: Ed. Cortez, 2003.

MORANDI, C., STRAZZACAPPA, M. Entre e arte e a docência: a formação do artista da dança. Campinas, SP: Papirus, 2006.

PIMENTA, Rosana Aparecida. Dança: Difusão e Discussão – Um Projeto

Social na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado. Universidade

Estadual Paulista. Instituto de Artes. UNESP/IA, 2008.

ROBATTO, L. Dança em processo – a linguagem do indizível. Salvador-BA: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1994.