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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.4 A ocupação das terras do Paranapanema

2.4.4 Quinto período: a produção agropecuária atual no Pontal do Paranapanema (1990-2010)

Agropecuária atual

Ao longo dos anos o Pontal do Paranapanema passou a ter uma diversidade de culturas muito grande. Nas décadas de 90 e primeira década do século XXI as principais culturas foram a soja e cana-de-açúcar. Mesmo com a presença de algumas culturas mais marcantes, o desenvolvimento de culturas alimentícias tivera participação na porção espacial da região, como feijão, milho, mandioca, etc. Contudo, no transcorrer dos anos estas culturas aos poucos foram perdendo espaços enquanto o monocultivo cresceu na região.

O desenvolvimento da cultura da soja na região fez parte de um processo de expansão em nível nacional. Neste período, o governo destinou uma grande soma de capital para subsidiar a expansão da soja com a finalidade de dar conta da demanda de consumo da soja no mercado internacional. Deste modo, a soja, que já tinha uma presença um pouco mais tímida na região até a década de 90, conforme o gráfico 1, inicia um processo de expansão da área de produção a partir do ano de 2001. Sua expansão durou até o ano de 2005 visto que a cultura não se adaptou bem à região devido às dificuldades implicadas pelo fenômeno veranico. Com o decréscimo da cultura da soja na região a cultura canavieira passa a ganhar mais destaque e expandir suas porções territoriais, sobretudo, nas áreas anteriormente ocupadas pela soja (ver gráfico 1).

José Sobreiro Filho A origem da cultura canavieira no Pontal do Paranapanema remete à década de 70 devido à medida estabelecida pelo programa do governo federal através do Proálcool - Programa Nacional do Álcool. De acordo com Thomaz Junior (2002), o crescimento da cana no estado de São Paulo ocorreu em várias regiões do estado. Na região do Pontal do Paranapanema o programa visou desenvolver a monocultura da cana com a finalidade de integrar a região na corrente produtora cujo objetivo era de precaver o país da dependência do petróleo129. Tal objetivo tinha sua base na ocorrência de crises petrolíferas que afetaram a economia mundial. No entanto, mesmo com a expansão da cultura em diversas regiões, o programa começou a ruir com a queda do preço do petróleo. Assim, logo no seu início a cana não tivera muito sucesso e sua área produtora persistiu com pouca significância em relação às demais culturas.

A cultura canavieira passou a ter mais importância na década de 90 e no século XXI quando a produção de energia começa a ganhar mais destaque e então emerge a imagem do agronegócio como um complexo agroindustrial extremamente articulado sofisticado que passa a modernizar a imagem do latifúndio atrasado e improdutivo. Sua expansão na região do Pontal do Paranapanema emergiu agregando aspectos de modernidade à produção e propagandeando seu estabelecimento à imagem sinonimizada ao “desenvolvimento”. Apesar de uma imagem modernizada e desenvolvimentista o agronegócio canavieiro não mudou as feições mais encarniçadas e

José Sobreiro Filho desumanas do latifúndio. Pelo contrário, somente mudou a roupagem utilizada e intensificou ainda mais a questão agrária da região, ou seja, acirrou processos como desemprego, exclusão, concentração, desigualdade, expropriação, exploração, problemas trabalhistas, etc., Assim, tal conjuntura problemática continuou afetando a região, mas agora sobre a “moderníssima” e “vistosa” imagem “promotora do desenvolvimento” emergida pelo agronegócio na região.

É fundamental tomar como referência o desenvolvimento do agronegócio na região porque compõe parte das apostas governamentais que acreditavam que o desenvolvimento de uma monocultura, a concentração e a propriedade capitalista dariam conta de solucionar graves problemas sociais e o histórico de ocupação ilegal da região. O processo não se comportou diferentemente de seu histórico de desenvolvimento concentrado e contraditório, apenas, como uma estratégia tomada por uma pequena parcela de latifundiários que corroborou ainda mais os processos e a conflitualidade que compreende a questão agrária. Apesar de embotada de um discurso bem estruturado e amplamente apoiado pelo governo federal o agronegócio canavieiro não mudou as feições mais bárbaras causadas pelo desenvolvimento do capitalismo ao longo dos anos na região. Apenas engendrou mais problemas, complexificando a questão agrária e se prostrou como uma barreira para os movimentos socioterritoriais camponeses por se territorializar em áreas passíveis de reforma agrária, avançar no plantio de cana dentro dos assentamentos, assalariar assentados, etc. De fato, seria muito ou uma fábula esperar que a nova roupagem da concentração resolvesse solidariamente os problemas da sociedade e produzisse benesses a todos, pois é parte de sua natureza desenvolver-se com base na desigualdade e nas contradições.

Neste cenário, como já mencionado, a cultura canavieira, que já apresentava crescimento e relativas variações desde 2005 na região, passa a iniciar significativo processo de expansão da área de produção a partir de 2001. Seu estabelecimento na região seguiu a escala crescente (ver gráfico 1) e, devido à expansão das exportações de etanol, passou a soar como a “Salvação da Lavoura” (THOMAZ JUNIOR, 2007). Juntamente com a expansão da cultura canavieira na região estabeleceram-se várias destilarias e usinas de álcool na região. Atualmente há sete usinas na região: Destilaria Alcídia S/A no município de Teodoro Sampaio; Cocal Comércio e indústria Canaã Açúcar e Álcool no município de Narandiba; Atena – Tecnologia em energia Natural Ltda. no município de Martinópolis; Umoe Bioenergy S.A. no município de Sandovalina; Usina Alvorada do Oeste Ltda. no município de Santo Anastácio; Usina

José Sobreiro Filho Alto Alegre S/A Açúcar e Álcool no município de Presidente Prudente; e a Usina Conquista do Pontal S/A no município de Mirante do Paranapanema.

O forte estabelecimento da monocultura canavieira na região ocorreu simultaneamente ao refluxo das culturas alimentícias (ver gráficos 1 e 2). A área de produção das culturas alimentícias sofreu forte refluxo desde a década de 90 até o ano de 2010. Somente o cultivo de milho se apresentou crescente no curto período entre 2002 até 2005, no entanto decaiu nos anos posteriores assim como as demais culturas alimentícias. Como vemos no gráfico 2 e 3 as duas principais áreas voltadas para a produção de alimentos que vão para a mesa do consumidor como arroz e feijão foram as que mais apresentaram refluxo ao longo das duas últimas décadas.

Conforme o quadro 06 a cultura do arroz, apesar de não ter área significativa com 4.101 hectares no ano de 1990, se comparada à área das demais culturas da região, também refluiu para 52 hectares em 2010, ou seja, a área reduziu em cerca de 98,73% da área de produção existente no ano de 1990 e a sua produção que em 1990 era de 5.408 toneladas em 2010 passou para 56 toneladas, ou seja no ano de 2010 foi produzido apenas 1,03% do que foi produzido em 1990 (redução de 98,7%). A cultura do feijão que em 1990 tinha área de 44.051 hectares no ano de 2000 caiu para menos da metade com 15.204 hectares e em 2010 para 1.770 hectares, ou seja, o ano de 2010 produz apenas 4,01% da área que era produzida em 1990 e a redução foi de 95,99% (ver tabela 04). A produção em toneladas em 1990 foi de 24.609 toneladas enquanto em 2010 caiu para 2.148 toneladas, ou seja, houve uma queda para 8,72% do que era produzido em 1990 (redução de 91,27%) (ver tabela 04). Ambas as culturas tiveram drástica queda no transcorrer dos 20 anos (ver gráfico 3).

Além do refluxo do feijão e do arroz, a área de produção de café, compôs também a linha de refluxo da produção. A área de produção de café refluiu de 8.489 hectares no ano de 1990 para 2.003 hectares no ano de 2010, ou seja, no ano 2010 a área plantada correspondia apenas a 23,59% da área de 1990 (redução de 76,41% da área). A mandioca foi uma das culturas que apresentou crescimento da área plantada. Em 1990 a área plantada era de 980 hectares e em 2010 passou para 4.488 hectares, ou seja, ocorreu um crescimento de 357,95% da área cultivada (ver tabela 4). O crescimento da área plantada de mandioca, sobretudo a partir do ano de 1994 deve-se em sua grande maioria à criação de assentamentos rurais na região, visto que a mandioca é uma cultura que não requer muitos investimentos iniciais, cuidados de manutenção e tem fácil comercialização é preferida e realizada por muitos assentados da região. De acordo com

José Sobreiro Filho o quadro 6, quadro 7 e com o gráfico 2, apesar dos relativos e ocasionais aumentos registrados por cada cultura, em geral todas as culturas alimentícias registraram refluxo ou não tiveram um crescimento significante em relação às áreas da monocultura da soja e da cana-de-açúcar na área de produção.

Quadro 6 – Pontal do P

Fonte: IBGE/SIDRA/PAM – Produção Agrícola Mun

Quadro 7 – Pontal do Paranapan

Fonte: IBGE/SIDRA/PAM – Produção Agrícola Mun

o Paranapanema – Área das principais culturas da região 1990

unicipal Elaboração: José Sobreiro Filho

apanema – Quantidade produzida pelas principais culturas da r

unicipal Elaboração: José Sobreiro Filho

José Sobreiro Filho

ão 1990-2010

José Sobreiro Filho

Tabela 4 – Pontal do Paranapanema - Área da produção em hectares por cultura dos anos de 1990 e 2010

CULTURA 1990 2010 % ALGODÃO 71.729 1.548 -97,84 AMENDOIM 3.340 4.625 38,47 ARROZ 4.101 52 -98,73 CAFÉ 8.489 2.003 -76,40 CANA 55.559 263.973 375,12 FEIJÃO 44.051 1.770 -95,98 MAMONA 8.763 104 -98,81 MANDIOCA 980 4.488 357,96 MILHO 36.160 29.128 -19,45 SOJA 21.410 37.424 74,80 Fonte: IBGE/SIDRA/PAM Org: José Sobreiro Filho

Culturas que tiveram grande importância durante período de ocupação da região como o algodão, o amendoim e, em menor proporção, a mamona apesar de crescimentos pontuais e ocasionais também tiveram significativa redução da área plantada. No gráfico 4 podemos observar como a cultura do algodão decaiu significativamente e as culturas do amendoim e da mamona não apresentaram crescimento durante o período de 1990 até 2010. Dentre essas culturas da região o refluxo mais significativo da área de produção registrado foi da cultura do algodão que ao longo das duas décadas decaiu de 71.729 hectares em 1990 para 1.548 hectares em 2010, ou seja, 2,15% da área inicial (redução de 97,85%).

José Sobreiro Filho De um modo geral, além da cultura canavieira todas as culturas, mesmo as que apresentaram crescimentos ocasionais, apresentaram redução da área de produção. Dentre as culturas alimentícias, o milho foi a única que apresentou significativo aumento durante 2002 até 2005. As demais culturas decaíram enquanto a área de monocultivo de cana se ampliou. Outra cultura significativa na região durante o período de 1990 – 2010 foi a soja, que apensar ter alcançado significativa porção espacial na região teve algumas implicações naturais e refluiu dando condições para que a cana pudesse adentrar em suas terras.

A expansão da cana foi a mais significativa de todas. Em 1990 a área de cana plantada era de 55.559 hectares e em 2010 passou a ser de 263.973, ou seja, nessas duas décadas ocorreu crescimento de 375, 12 % da área. A produção de cana que em 1990 era de 3.477.157 toneladas passou para 20.440.019 toneladas em 2010, ou seja, ocorreu um crescimento de 487,84% da produção. Tal crescimento, como já mencionado, deve- se, sobretudo aos forte incentivos e subsídios governamentais e à construção de várias destilarias na região. Deste modo, com o surgimento de várias destilarias criou-se também significativa demanda de cana-de-açúcar que, por sua vez, teve como desdobramento o crescimento da área de produção. Na atualidade podemos verificar no gráfico 6 que a cana-de-açúcar é a responsável por 77% da área das principais culturas da região, sendo que arroz e feijão, que são culturas de consumo cotidiano, são responsáveis por menos de 2%.

José Sobreiro Filho Como forma de deixar mais claro os avanços das culturas, as expressões do refluxo e a presença de cada cultura nos municípios que compõem a região do Pontal do Paranapanema durante o período de 1990 - 2010 elaboramos algumas representações cartográficas em forma de pranchas para nos permitir análises comparativas. Deste modo, realizamos pranchas (figuras 5-14) dos anos de 1990, 1995, 2000, 2005 e 2010 sobre as culturas de algodão, amendoim, arroz, café, cana, feijão, mamona, mandioca, milho e soja. Por fim, realizamos também uma prancha comparativa destas culturas com base no ano de 2010 (figura 15), onde além da pouca área destinada à produção de alimentos também podemos verificar a larga distancia que a cana-de-açúcar tem em relação às demais culturas da região.

José Sobreiro Filho Apesar dos ciclos de produção da agricultura e de seus impactos e contribuições para a economia e ocupação do Pontal do Paranapanema foi a pecuária bovina a principal responsável pela base econômica da região desde o início de seu povoamento. No transcorrer do período de 1974 – 2010 apesar de ter ocorrido poucas variações na pecuária obteve-se predominantemente aumento do número de cabeças de gado e da quantidade de aves. Durante o período de 1974 até 2003 o crescimento do rebanho bovino foi de 73,49%. Apenas registrou um decrescimento de 20,24% no número de cabeças de gado a partir do ano de 2003. Quanto à produção de aves durante o período de 1974 até 2008 ocorreu aumento de 112,57%. Apenas no ano de 2009 ocorreu uma queda de produção de 10,87% do número de aves, no entanto em 2010 retornou o crescimento na região. Podemos vislumbrar o crescimento e as variações nos quadros 8, 9 e 10.

O gráfico 7 e as figuras 16 e 17 evidenciam a estabilidade da pecuária na região. No entanto, mesmo com a estabilidade da pecuária, sobretudo a pecuária de gado bovino, nos últimos anos ocorreu uma redução de números de cabeças de gado. Esta redução está atrelada ao crescimento de algumas monoculturas como a soja e a cana-de- açúcar na região, pois áreas anteriormente destinadas à criação de gado passaram a investir na produção sojeira e canavieira. Entretanto, a participação da pecuária ainda é muito forte na região. Durante todo o período destaca-se na pecuária a criação de aves que nos períodos anteriores tinha participação ainda mais tímida. Como forma de expressar o crescimento da agropecuária nos municípios que compõem a região do Pontal elaboramos as figuras 16 e 17.

José Sobreiro Filho

Quadro 8 – Pontal do Paranapanema – Pecuária – 1974-1989

PECUÁRIA 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989

GADO BOVINO 1.157.677 1.383.827 1.473.784 1.453.790 1.453.865 1.448.799 1.565.162 1.504.852 1.452.957 1.507.954 1.501.087 1.480.397 1.574.541 1.614.508 1.604.088 1.591.577