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Receitas provenientes das Participações Locais

No documento As receitas patrimoniais das autarquias locais (páginas 102-105)

PARTE III AS RECEITAS PATRIMONIAIS DAS AUTARQUIAS LOCAIS

1.5. Receitas provenientes das Participações Locais

276 Cfr. ALMEIDA, Carlos Ferreira, “Serviços Públicos, Contratos Privados”, in Estudos em Homenagem à Professora Doutora Isabel

de Magalhães Collaço, volume II, Almedina, Coimbra, 2002, p. 122/123

277 Cf. n.º 4 do art.º 1.º da Lei dos Serviços Públicos Essenciais

278 O art.º 15.º da Lei dos Serviços Públicos Essenciais estabelece que “os litígios de consumo no âmbito dos serviços públicos

essenciais estão sujeitos a arbitragem necessária quando, por opção expressa dos utentes que sejam pessoas singulares, sejam submetidos à apreciação do tribunal arbitral de conflitos de consumo legalmente autorizados”.

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De acordo com o art.º 3.º do RJAEL, as participações locais são “todas as

participações sociais detidas pelos municípios, pelas associações de municípios, independentemente da respetiva tipologia, e pelas áreas metropolitanas em entidades constituídas ao abrigo da lei comercial que não assumam a natureza de empresas locais”.

De acordo com a LFL, uma das formas obrigacionais de os municípios arrecadarem receitas, diz respeito à “participação nos lucros de sociedades e nos

resultados de outras entidades em que o município tome parte”279. Note-se que igual possibilidade não está prevista para as freguesias, pois quer a LFL, quer o RJAEL apenas

preveem a possibilidade de participação em entidades privadas para os municípios280.

Também as empresas locais estão vedadas de constituir ou adquirir participações em

sociedades comerciais281. Em suma, pode retirar-se do art.º 3.º do RJAEL a conclusão de

que, no quadro legal atual, os municípios podem deter participações locais em sociedades que não assumam a natureza de empresas locais.

A aquisição de participações locais pelos municípios poderá mostrar-se bastante útil em setores estratégicos para os quais pode existir necessidade de parcerias entre entidades públicas e entidades privadas, como por exemplo na área dos transportes. Todavia, a detenção de participações locais pode ter na sua origem o único propósito de arrecadação de receitas ou de controlo de certos setores de atividade.

As participações locais estão reguladas no RJAEL, resumindo-se em quatro pontos os aspetos fundamentais deste regime:

279 Cf. al.i) do art.º 14.º da LFL

280 Contudo, apesar de não existir habilitação legal para a participação pelas freguesias, nada impede que, se assim for deliberado pela

assembleia de freguesia, sob proposta da junta de freguesia, se autorize a freguesia a estabelecer formas de cooperação com entidades privadas, ou até apoiar ou comparticipar essas entidades.

281 Cf. O art.º 38.º do RJAEL estabelece que “1 - Sem prejuízo do disposto no artigo 68.º, as empresas locais não podem constituir

nem adquirir quaisquer participações em sociedades comerciais, nem criar ou participar em associações, fundações ou cooperativas”. A este propósito, cf. ainda Acórdão do Tribunal de Contas nr.º 16/2013, de 14/11/2013, em que este recusou o visto às minutas dos contratos de aquisição de participações no capital social da Portas da Lagoa, S.A., pela EML – Empresa Municipal de Urbanização, Requalificação Urbana e Ambiental e Habitação Social de Lagoa, E.M. (EML, E.M.). Ora, no caso, a EML, E.M., pretendia adquirir participações no capital social da Portas da Lagoa, S.A., tendo submetido a fiscalização prévia as minutas dos contratos de aquisição de ações. Contudo, nos termos do n.º1 do art.º 38.º do RJAEL, as empresas locais não podem adquirir participações em sociedades comerciais. Em consequência, o Tribunal de Contas vedou à EML, E.M., a possibilidade de aquisição de quaisquer participações na Portas da Lagoa, S.A., por entender nulos os atos e contratos em violação do n.º2 do art.º 38.º do RJAEL.

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1- Permite-se a aquisição de participações sociais em sociedades comerciais de responsabilidade limitada, desde que estejam assegurados fins de relevante

interesse público local282;

2- Não são admitidas entradas em espécie pelas entidades públicas

participantes283;

3- Não são permitidos contratos-programa entre entidades públicas participantes

e sociedades comerciais participadas284;

4- Quanto ao objeto social, as sociedades comerciais participadas devem prosseguir fins de relevante interesse público local, compreendendo-se o respetivo objeto social no âmbito das atribuições das entidades públicas

participantes285.

Quanto à competência para adquirir participações locais, cabe à assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal, deliberar relativamente à aquisição das participações locais, devendo a sua fundamentação integrar os pressupostos justificativos

do relevante interesse público local286. À semelhança do que acontece aquando da

constituição das empresas locais, também a aquisição de participações locais deve ser precedida dos necessários estudos demonstrativos da viabilidade e sustentabilidade

económica e financeira287. Esta preocupação com a sustentabilidade e racionalidade

económica financeira na atividade empresarial local está também presente no art.º 66.º do RJAEL, quando dispõe que as participações locais “são objeto de alienação obrigatória

sempre que as sociedades comerciais participadas incorram em alguma das situações tipificadas no n.º1 do art.º 62.º”288. O ato de aquisição de participações locais está sujeito

282 Cf. n.º1 do art.º 51.º do RJAEL 283 Cf. n.º2 do art.º 51.º do RJAEL 284 Cf. n.º3 do art.º 53.º do RJAEL 285 Cf. art.º 52.º do RJAEL 286 Cf. art.º 53.º do RJAEL

287 Cf. n.º2 do art.º 53.º e art.º 32.º do RJAEL

288 Por seu lado, o n.º1 do art.º 62.º estabelece que: “Sem prejuízo do disposto no artigo 35.º do Código das Sociedades Comerciais,

as empresas locais são obrigatoriamente objeto de deliberação de dissolução, no prazo de seis meses, sempre que se verifique uma das seguintes situações: a) As vendas e prestações de serviços realizados durante os últimos três anos não cobrem, pelo menos, 50 /prct. dos gastos totais dos respetivos exercícios; b) Quando se verificar que, nos últimos três anos, o peso contributivo dos subsídios à exploração é superior a 50 /prct. das suas receitas; c) Quando se verificar que, nos últimos três anos, o valor do resultado operacional subtraído ao mesmo o valor correspondente às amortizações e às depreciações é negativo; d) Quando se verificar que, nos últimos três anos, o resultado líquido é negativo”.

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a fiscalização prévia do Tribunal de Contas, independentemente do montante associado à

aquisição289.

Para além da aquisição de participações locais pelos municípios em sociedades comerciais de responsabilidade limitada, o RJAEL prevê ainda a possibilidade de aquisição de participações em outras entidades, nomeadamente em Fundações,

Cooperativas, Associações de Direito Privado290 e ainda em outras associações de

natureza privada ou cooperativa, para além das referidas. De notar que a este tipo de participações são aplicáveis as mesmas restrições acima referidas para as participações locais em sociedades comerciais.

Por fim, as receitas derivadas da participação nos lucros de sociedades e nos resultados de outras entidades em que o município tome parte, consubstanciam-se nos dividendos inerentes à distribuição de lucros, quer nas mais-valias resultantes da alienação das participações (a diferença entre o valor de realização e o valor de aquisição da participação local).

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