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A rede enunciativa sobre o livro didático da EJA acessada pelo arquivo de

Esquema 4 Esquema referente ao discurso epistemológico

3.1 A rede enunciativa sobre o livro didático da EJA acessada pelo arquivo de

Uma das formas que o professor Choppin (2004) organiza suas reflexões sobre o LD é tomando para análise os estudos históricos realizados sobre este material escolar. Coloca em evidência que “[...] os livros didáticos exercem quatro funções essenciais, que podem variar consideravelmente, segundo o ambiente sociocultural, a época, as disciplinas, os níveis de ensino, os métodos e as formas de utilização” (CHOPPIN, 2004, p. 55). Detalhando estas funções, o citado autor fala sobre cada uma delas:

Função referencial, também chamada de curricular ou programática, desde que exista programa de ensino: o livro didático é então apenas a fiel tradução do programa [...]. Função instrumental: o livro didático põe em prática métodos de aprendizagem, propõe exercícios ou atividades que, segundo o contexto, visam a facilitar a memorização dos conhecimentos, favorecer a aquisição de competências disciplinares ou transversais, a apropriação de habilidades, de métodos de análise ou resolução de problemas, etc. Função ideológica e cultural: [...] Instrumento privilegiado de construção de identidade, geralmente ele é reconhecido, assim como a moeda e a bandeira, como um símbolo da soberania nacional e, nesse sentido, assume um importante papel político. [...] Função documental: acredita-se que o livro didático pode fornecer, sem que sua leitura seja dirigida, um conjunto de documentos, textuais ou icônicos [...] (CHOPPIN, 2004, p. 553, grifos do autor).

Ainda, de acordo com Choppin (2004), as reflexões sobre este material também giram em torno das transformações ocorridas na Europa na primeira metade do século XIX, sobretudo, nos campos político, social e educacional ao lado das tensas relações decorrentes dessas transformações. Ao longo do tempo e, em alguns países, o LD passa a ser concebido como um elemento simbólico, situado em meio às relações estabelecidas entre o Estado e a Educação. Esta importância assumida pelo LD procede, em parte, das interferências operadas pelo Estado, através do campo didático-pedagógico, as quais se materializam historicamente por meio dos atos normativos oficiais, fato que o torna, a um só tempo, um produto escolar, cultural e estatal. Nascido no seio da escola, junto ao Estado e pelas mãos da sociedade que o produziu, o LD continua mantendo estreitas relações com o Estado que regulamenta a sua existência, fazendo-o secularmente permanecer na escola.

Todavia, retomando os acontecimentos históricos ocorridos na Europa no início do século XIX, por ocasião da formação dos Estados Nacionais e pela sua estreita relação com a juventude, o LD, aos poucos, ganha um novo status.

Mas no século XIX, quando os Estados nacionais recentemente constituídos, reivindicam um papel de destaque na formação das novas gerações e aos poucos passam a substituir as famílias, total ou parcialmente, as autoridades religiosas, o livro didático torna-se um símbolo da soberania nacional. (CHOPPIN, 2004, p. 555).

Foi, portanto, este modelo de LD com forte peso político, delineado na Europa, que serviu de inspiração aos países da América Latina, entre eles, ao Brasil. Assim, não é casual que, no mundo ocidental, os estudos e pesquisas neste campo, nos últimos dois séculos tenham se ocupado em analisar estes materiais e os seus conteúdos, sobretudo, trazendo para discussão as questões política e ideológica, tendência que se justifica devido ao forte controle do Estado sobre a educação em geral e, sobre o LD em particular.

O controle da produção nacional contemporânea, de início, foi um ato administrativo pautado pela preocupação em subordinar os manuais ao discurso oficial, ou ainda com o de algum governo de ocupação, em um contexto de censura que tinha como objetivo eliminar ou evitar qualquer desvalorização ou qualquer interpretação nociva aos seus interesses. Tais controles também ficaram a cargo, desde o final do último século, de instituições independentes que se propuseram a extirpar dos livros didáticos, de diversos países, os estereótipos ou as asserções passíveis de suscitar ou de alimentar o desentendimento entre os povos ou de colocar a paz em perigo (CHOPPIN, 2004, p. 555).

No Brasil, no contexto do século XIX, momento da constituição da nação brasileira que alvorece, sobretudo, por meio da independência política da metrópole portuguesa, período que os historiadores, em geral, chamam de “formação da identidade nacional brasileira”, a concepção política encontrava-se ligada ao ideário liberal. No tocante às questões de nação, de direitos políticos e cidadania, estas concepções estavam sendo constituídas e, assim, a educação incluía-se como um dos pilares do novo Estado que emergia. Entre outras heranças, no tocante à educação, a história do LD em solo brasileiro teve sua concepção pautada historicamente em modelos europeus. Nesse contexto, os projetos educacionais, encontravam- se, igualmente, vinculados a uma tensa relação entre o Estado, a Igreja e a sociedade. De fato, sendo a educação vinculada, muito fortemente, ao poder político constituído, uma das preocupações do novo Estado brasileiro, em seu período de formação, foi em relação à

organização de um sistema educacional e, com este acontecimento, a questão do LD entra no debate nacional.

Sendo o LD um objeto visado ideologicamente, recai sobre ele o controle sobre a sistematização do conhecimento e o domínio do saber que o mesmo comporta, sobretudo, considerando o seu poder e alcance na disseminação do conhecimento. Situando-o como tema de pesquisas, discussões e polêmicas em meio aos campos educacional e político, ao longo do tempo, estes dois campos se mantêm ora em acordo, ora em desacordo frente às concepções de educação, de ensino e de materiais didáticos.

Bittencourt (2008) chama a atenção para dois momentos distintos no debate sobre a produção do LD no Brasil do século XIX: o primeiro se refere à autoria deste material, pois os projetos políticos, “[...] insistiam sobre a necessidade de se construir livros seguindo modelos estrangeiros, notadamente os franceses e alemães”. Em um segundo momento, refere-se a documentos como os “Relatórios oficiais relativos à escolarização [...]” que ressaltam a escassez do LD, ao reclamar do Estado sobre a necessidade deste material para todo o sistema escolar nacional, alertando para a falta de suprimento do LD, e mesmo a “[...] ausência de manuais escolares nas escolas” (BITTENCOURT, 2008, p. 25).

Dada a importância cultural, política e ideológica atribuída ao LD, desde os primeiros discursos políticos sobre a organização do sistema educacional brasileiro, reforça-se a tese recorrente do seu significativo poder político. Prova disso é o fato de o Estado brasileiro oitocentista, sob a inspiração europeia, tomar modelos dos Estados europeus, e estabelecer uma prática histórica de organizar, controlar e manter sob o regime de regulamentações jurídicas, a produção, utilização, recepção e circulação dos livros didáticos utilizados nas escolas públicas ao longo da história da educação. (Ver Anexo A – Resumo da genealogia do LD no Brasil segundo o seu ordenamento jurídico).

Ao remontar aos programas curriculares nacionais, pode-se situar o LD, definido e ordenado por estes programas, respeitando níveis de aprofundamento gradual sobre o conhecimento sistematizado, relacionado às disciplinas escolares específicas que veiculam os seus conteúdos. Assim, as formas da estrutura e do funcionamento dos níveis de escolarização e, igualmente, a sua relação aos cursos, a duração das etapas, entre outros regulamentos administrativos e pedagógicos presentes na vida escolar, são, parte dos elementos constitutivos do LD. O conjunto de procedimentos que envolvem o LD se liga diretamente ao que determina o Estado, que, através de normas específicas, elaboradas ao longo da história da educação brasileira, em linhas gerais, define o que deve e o que não deve ser ensinado e aprendido através do LD. O modelo de controle normativo que toma forma enunciativa a

partir da segunda metade do século XIX deixa claro que, desde sua constituição, os enunciados de interdições se dispersam atrelados tanto ao discurso didático-pedagógico, quanto ao jurídico. E, sob o poder do ordenamento do Estado brasileiro, o controle do saber historicamente se faz presente de forma geral no sistema educacional e, particularmente, nos conteúdos do LD.

Contando com a sua espessura histórica, no contexto da formação dos Estados modernos e suas teorias liberais, neste momento da educação nacional, para o ensino de nível elementar, os livros didáticos utilizados no Brasil, encontrando-se sob o controle político, “[...] deveriam ser „compostos debaixo da vigilância, e da inspeção do Estado‟. Haveria livros de leitura com histórias morais para despertar os bons sentimentos, benevolência, amizade e tolerância” (BITTENCOURT, 2008, p. 33, grifos da autora). A vigilância sobre este nível de ensino, principalmente, está relacionada mais a quem esta instrução estava destinada, ou seja, à maioria da população brasileira que deixara para traz um regime escravagista, e, ao dar lugar às relações de trabalho livre, emergia e transformava radicalmente toda a vida societária desta época. Todavia, este fato histórico não garantiu mudanças nos discursos dos dirigentes políticos do país, sobretudo, quanto ao controle dos conteúdos didáticos e a quem deve ser destinado o estudo, organizado e circulado por meio do LD.

O ensino primário como o concebemos hoje, é importante sublinhar, estava sendo criado. As denominações variadas, estudos de primeiras letras, ensino elementar, primeiro grau de ensino, ensino popular e ensino primário, são evidências das dificuldades em construir e sistematizar o ensino elementar. O número de anos destinados a esse grau de ensino, idades apropriadas e organização de classes, horas de estudo, também diferiam mesmo após o estabelecimento da escola seriada, organizada nos grupos escolares do período republicano (BITTENCOURT, 2008, p. 33, grifos nossos).

De acordo com a citação acima, o enunciado “ensino popular” diz a quem se destina esta instrução, ou seja, às classes populares, ensino que, desde os primeiros debates nacionais tem seu correlato na modalidade da escolarização contemporânea EJA. Para além do discurso pedagógico, o discurso jurídico se organiza atrelado ao sistema educacional, sob o regime de Leis, Decretos, Decretos-Leis, Pareceres, Resoluções, Programas, Propostas e Matrizes Curriculares, entre outras normas, construindo, desse modo, uma trama enunciativa na qual, na atualidade, o LD-EJA encontra-se situado.

Inserido neste ordenamento jurídico, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), como é conhecido hoje, teve o seu aparecimento discursivo no cenário jurídico nacional em 1929, ocasião em que “o Estado cria um órgão especifico para legislar sobre o LD [...]”

(BRASIL, 2012b), denominado de Instituto Nacional do Livro (INL). Ao longo da sua história, o INL passou por diferentes denominações, embora a sua função permaneça ao longo tempo, a mesma, ou seja, legislar sobre políticas para o LD utilizado nas escolas públicas do território brasileiro. No panorama atual, o FNDE, apresenta o PNLD, dizendo que este “[...] programa tem por objetivo prover as escolas públicas de ensino fundamental e médio com livros didáticos e acervos de obras literárias, obras complementares e dicionários” (BRASIL, 2012d).

Nesta discussão, merecem relevância as aproximações efetuadas entre os campos da Educação e do Estado, sobretudo as relações transpassadas pelos discursos pedagógico e o jurídico, de espessura histórica no Brasil. Prova disso encontra-se inscrito no segundo mais antigo documento oficial brasileiro sobre o livro, e o primeiro exclusivamente sobre o LD. Trata-se de enunciados inscritos no ano de 1938, cujo texto institui a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD) e estabelece outras providências, iniciando, assim, o controle por meio do ordenamento jurídico, sobre a produção, importação, recepção e circulação do LD. Vinculada à questão do conteúdo didático, à política e à ideologia vigente, o ordenamento jurídico que trata do LD encontra-se permanentemente em processo, e se atualiza historicamente. Esclarecendo como este processo se desenvolve, mais precisamente, o documento Brasil (1938) no Capítulo IV, do Decreto-Lei nº 1006/38, ressalta: “Das causas que impedem a autorização do LD”, e no seu Artigo 20, estabelece as normas para avaliação/autorização do LD, cujo documento oficial diz: “Não poderá ser autorizado o uso do livro didático”:

a) que atente, de qualquer forma, contra a unidade, a independência ou boa honra nacional; b) que contenha, de modo explícito ou implícito, pregação ideológica ou indicação da violência contra o regime político adotado pela Nação; c) que envolva qualquer ofensa ao Chefe da Nação, ou às autoridades constituídas, ao exército, à marinha, ou às demais instituições nacionais; [...]. (BRASIL, 1938, p. 277).

Considerando uma legislação especificamente para o LD como material escolar construído segundo a demanda e especificidade da educação popular, o enunciado legislativo pioneiro nasceu vinculado ao acontecimento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) lançada em 1947. Trata-se de um conjunto de iniciativas que intencionaram fazer frente à situação do analfabetismo do país e atender as necessidades do capitalismo pós- segunda guerra, bem como, às aspirações da Organização das Nações Unidas (ONU)

favorecendo a educação popular. De acordo com Paiva (2003), sobre a especificidade para o ensino de jovens e adultos, no tocante à metodologia, emerge o seguinte enunciado:

A campanha preocupou-se com a elaboração de material didático para adultos e com a procura de uma metodologia mais adequada para a atividade docente junto a esta faixa da população; manteve, por outro lado, suas preocupações com os aspectos e conseqüências políticas do programa (PAIVA, 2003, p. 209, grifos nossos).

Longe de ter havido no âmbito da educação de jovens e adultos momentos em que o Estado brasileiro retirou ou diminuiu seu controle sobre o LD, ao percorrer parte das escrituras normativas, constata-se uma trama enunciativa, materializada por meio de regulamentações oficiais, que evidencia a dimensão deste ordenamento. É devido a este conjunto de normas, que o LD historicamente, jamais saiu totalmente do controle do Estado e em nenhum momento da sua história ficou fora das legislações que o faz permanecer na escola no longo tempo de sua existência.

Como um acontecimento jurídico (BRASIL, 1985) o Estado brasileiro cria o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) que, sob textos de normas e regras, inscreve a forma de organização jurídica e as regras para este órgão atuar, no que concerne ao LD, bem como, garante sua existência, permanência e renovação no sistema educacional brasileiro. A partir da criação deste programa, têm lugar inscrições legais, a exemplo da que registra em seu “Parágrafo único: A execução prevista neste artigo compreenderá a seleção final, a aquisição do livro didático às escolas da rede pública de ensino de 1° grau, bem como, atividade de acompanhamento e controle do programa” (BRASIL, 1985). Na condição de um órgão centralizador da gestão do LD, e pretendendo estender sua oferta a toda a educação básica, este programa entra em relação com diversos outros órgãos oficiais ou não. Neste sentido, liga-se diretamente a estes órgãos para viabilização das funções legais determinadas por sua legislação, formando uma trama enunciativa de atribuições para o funcionamento das atividades legais e educacionais, dando condições para este ato normativo vigorar.

Em relação à EJA, após a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96, cujas séries enunciativas colocam a EJA na condição de Modalidade da Educação Básica, este acontecimento implica no surgimento do direito e garantia à inclusão escolar. Doravante, fica garantido por lei o direito à educação à parcela da população que historicamente tem sido excluída da escolarização no país. Desse modo, como um ato jurídico, isto vai significar que o relacionamento entre a EJA e o LD passa a ser regulamentado pelo PNLD, implicando o suprimento deste material à Alfabetização de Jovens e Adultos, executado através do

Programa Nacional do Livro Didático Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA). Como um órgão oficial, trata-se de um programa criado e instituído no âmbito da Resolução (BRASIL, 2007), para suprir com o LD os alfabetizandos do Programa Brasil Alfabetizado (PBA). Assim sendo, foi por meio da Resolução Ministerial nº 18/2007 que os educandos da EJA do curso da alfabetização, inicialmente, passaram a receber o LD. Em texto enunciativo desta norma inscreve:

Art. 1º Regulamenta a execução do Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos – PNLA 2008, no âmbito do Programa Brasil Alfabetizado, para distribuição, a título de doação, de obras didáticas às entidades parceiras, com vistas à alfabetização e à escolarização de pessoas com idade de 15 anos ou mais (BRASIL, 2007, p. 2).

A partir desta Resolução, com regulamentação específica no contexto do PNLA, para suprir com o LD, inicialmente, o curso de alfabetização-EJA, passando a acontecer efetivamente, tal norma culmina, em seguida, com a contemplação deste material ofertado de forma integral aos educandos da EJA, ou seja, passa a ser um direito de todos os educandos do ensino fundamental da EJA o recebimento do LD. Como visto, tal acontecimento normativo, somente vai ser regulamentado em relação ao suprimento dos educandos na sua totalidade, num segundo momento, neste, os educandos da EJA em todo o seu conjunto do ensino fundamental, passou a receber os livros didáticos relativos aos seus respectivos níveis de escolarização. Mas, para este segundo momento acontecer, foi preciso emergir outra legislação normativa, contendo um conjunto de regras específicas para tratar deste assunto. Este acontecimento foi materializado por meio da Resolução nº 51/2009, cujo texto enuncia seus propósitos legais.

Art. 1º - Prover as entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado (PBA) e as escolas públicas de ensino fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) federais ou das redes de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal com livros didáticos no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático para Educação de Jovens e Adultos (PNLD EJA). (BRASIL, 2009, p. 2, grifos nossos).

Através deste instrumento legal, o Estado cria o PNLD-EJA, o qual entra em funcionamento a partir do ano de 2010, executando a distribuição do LD a todos os educandos do ensino fundamental da EJA, favorecendo ao Estado continuar exercendo controle, agora integral, sobre os livros didáticos utilizados, neste nível, por esta modalidade de educação. No âmbito normativo, como programa ministerial regulador para o LD, o PNLD-EJA, tem como atribuição principal, gerir as relações entre o LD e todas as escolas públicas que oferecem a

modalidade de ensino EJA, o qual “[...] distribuirá as obras didáticas para todas as escolas públicas que abrigam alunos jovens e adultos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, além das entidades parceiras do Brasil Alfabetizado” (BRASIL, 2010b, p. 13).

Outro ato normativo diz respeito à execução do processo de avaliação do LD-EJA. Esta ação se constitui em uma atividade de natureza técnica e pedagógica. No âmbito do Guia do PNLA, trata-se de um trabalho público, que se desenvolve através de um conjunto de ações que promove e executa o processo seletivo, o qual aprova ou reprova os livros didáticos apresentados ao programa por diversas editoras. Esta avaliação é realizada

[...] em duas etapas: a triagem e a avaliação pedagógica. A triagem é um processo de seleção dos materiais de caráter eliminatório, que obedece a critérios técnicos definidos no Edital, que determina os elementos que devem constituir a estrutura editorial do livro. [...] Após a triagem, as obras didáticas passam para a segunda etapa do processo de avaliação, a avaliação pedagógica. A execução desta etapa é de responsabilidade da SECAD/MEC e foi realizada pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (BRASIL, 2010a, p. 14, grifos dos autores).

Sobre este assunto, pode-se observar em séries enunciativas presentes em documentos oficiais, nos quais o discurso pedagógico e o jurídico se perpassam, certa justificação, de caráter amplo, subjacente à tarefa do Guia do PNLA em assumir e exercer o controle sobre o processo de avaliação empreendido, e assim, justifica-se.

A escolha de um livro didático de alfabetização para jovens, adultos e idosos não é, entretanto, uma tarefa simples e fácil. Estudos atuais sobre os livros didáticos têm demonstrado que os manuais escolares são um objeto de natureza complexa, de difícil definição, e que apresenta múltiplas dimensões. O livro didático pode ser visto como uma mercadoria, um objeto material, como um depositário de conteúdos escolares e um instrumento pedagógico ou ainda, como um veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. É devido a essa complexidade e às conseqüências que cada uma dessas dimensões pode ter para o trabalho de sala de aula que a seleção do livro didático deve ser respaldada por uma