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FASE EMERGENTE

III.3 A REDE HIDROGRÁFICA

A elevada altitude média da ilha da Madeira, associada à elevada pluviosidade, confere ao agente exógeno água uma grande capacidade modeladora do relevo. A ilha é sulcada por muitos vales profundos, escavados pelas águas que correm sem regularidade, sem permanência, mas de carácter essencialmente torrencial. A história da Madeira está muito ligada às ribeiras e às torrentes que nelas correm. Grandes inundações, designadas por aluviões, provocaram, ao longo dos tempos, em alguns pontos da ilha, pelos enormes caudais e materiais carreados, muitas mortes de pessoas e animais e grandes destruições de bens materiais, a última das quais, ainda bem presente na memória de todos nós, ocorreu em Outubro de 1993.

Apesar de a ilha não ser estruturalmente constituída por um único cone, geometricamente tem uma forma cónica, condicionando a rede de drenagem que é radial, divergindo as ribeiras, das zonas altas do interior, para as baixas da periferia da ilha. Os cursos de água, são, em geral, curtos e de orientação aproximadamente perpendicular à costa.

Loureiro (1982) delimitou 126 bacias hidrográficas, das quais foram identificadas 234 linhas de água. As características das bacias hidrográficas encontram-se no Quadro III.1.

Quadro III.1

Bacia Hidrográfica Área (Km2) Comprimento do curso de água (Km) Janela 53 21 Seixal 16 9 São Vicente 39 8 Vigário 16 7 Brava 44 11 Ponta do Sol 22 9 Porco 22 8 São Jorge 34 10 Faial 53 10 Machico 25 9 Porto Novo 19 9 João Gomes 14 8 Santa Luzia 15 10 São João 16 10 Socorridos 42 12

O mais longo curso de água, a Ribeira da Janela, com 21 km de extensão, situado na parte ocidental da ilha, constitui um caso particular, uma vez que o seu troço inferior, perpendicular à linha de costa, muda repentinamente em cerca de 65º, a sua orientação para montante (Mata, 1996). Esta inflexão foi por Carvalho e Brandão (1991) explicada pelo prosseguimento do recuo da cabeceira, por aproveitamento de uma falha de direcção próxima de N 35º W.

A rede hidrográfica apresenta indícios de grande juventude, que se traduz, por exemplo, na ausência de capturas e na reduzida importância da erosão lateral ou regularização dos perfis longitudinais, que mantêm declives acentuados (Ribeiro, 1985). Os vales são geralmente profundos, estreitos e de perfil transversal em U: o processo erosivo, ao mesmo tempo que carreia os materiais, vai desnudando os mantos, cujos bordos apresentam desagregação relativamente facilitada pelos prismas e lajes resultantes da alteração, formando-se cornijas; estas, faltando-lhes o apoio, desmoronam-se, provocando o recuo das margens na vertical. Processo idêntico sofrem também as arribas, que são, na Madeira, altas e muito

A verticalidade das paredes verifica-se sempre que há predominância de mantos em relação aos níveis de piroclastos (Fotografia III.1). No caso inverso, e ou de os mantos estarem profundamente alterados, em materiais argilosos, então as linhas de água são mais abertas, tendendo para a forma em V, caso do vale de Machico e Porto da Cruz, ambos talhados, na sua zona mais profunda, em Complexo Antigo.

Verifica-se que as grandes depressões, como o Curral das Freiras, Serra d’Água, etc., não são mais do que bacias de recepção alargadas e profundas. O recuo das cabeceiras vai provocando o rebaixamento geral da ilha, à medida que os interflúvios se vão intersectando.

De acordo com Michell Thomé (1979), num futuro geologicamente próximo, cerca de 8 000 a 10 000 anos, é provável que, em algumas ribeiras, ocorram modificações no sistema de drenagem da ilha, passando, então, os sistemas norte e sul a estar ligados.

III.4

AS ARRIBAS

Quase toda a costa da ilha da Madeira, com 153 km de perímetro, é uma sucessão de arribas abruptas, que atingem, no Cabo Girão, a altura máxima de 580 m. A linha de arribas é interrompida no anfiteatro do Funchal, na baía de Machico e, de resto, praticamente, apenas pelas embocaduras das ribeiras mais caudalosas. Algumas ribeiras viradas a norte estão suspensas, e as águas caem em cascata no mar, mostrando claramente que o recuo das arribas é mais rápido do que o encaixe dos vales (Fotografia III.4).

Fotografia III.4– Foz suspensa da Ribeira de João Delgado (Véu da Noiva).

O recuo das arribas está, tal como o do vales, directamente relacionado com os materiais presentes. Elas são sempre verticais e muito altas, quando existe na costa predominância de mantos, que, por efeito da desagregação, a partir da disjunção colunar, se mantêm sempre verticais (Fotografia III.5).

Fotografia III.5– Arriba vertical, na costa sul da Madeira (Fajã dos Padres).

Se os materiais estão muito alterados, com grande percentagem de argilas (caso do Complexo Antigo e Depósito Conglomerático Brechóide alterado) a arriba, embora íngreme, nunca se apresenta vertical.

Encontram-se neste caso alguns lugares da costa norte, onde aflora o CA e o CB, nomeadamente na Fajã do Mar, no Faial.

Como consequência da morfologia das arribas, que as torna instáveis do ponto de vista gravítico, e da abrasão marinha, ocorrem, com alguma frequência, grandes desmoronamentos ou quebradas, originando as fajãs.

São exemplos de desmoronamentos históricos os que ocorreram no Cabo Girão, em 1930, nas Desertas, em 1894, e, mais recentemente, na Penha d’Águia, em 1992, tendo este último movimentado cerca de 1 800 000 m3 de rocha, originando uma fajã com cerca de 300 m de diâmetro (Rodrigues e Ayala, 1994) (Fotografia II.29).

A arriba que se desenvolve entre a Ponta do Pargo e Ponta do Tristão, de traçado impressionantemente rectilíneo, numa extensão de cerca de 2,5 km, é, segundo Mata (1996), controlada por um acidente tectónico de direcção N 50º E.

Existe ainda, nas ilhas vulcânicas, outro tipo de litoral baixo e a subir gradualmente para o interior, relacionado com o morfologia das escoadas subaéreas que mergulham no mar. Mesmo nestes casos, que não são muitos, em todo o litoral, o mar talha pequeníssimas arribas verticais, tal como as maiores. São exemplos deste caso a fajã lávica do Porto Moniz, o “leque lávico” do Seixal (Fotografia III.6) e as escoadas que entraram no mar, no cais de Câmara de Lobos, no cais do Porto da Cruz e na Ponta da Cruz (Poças do Governador), no Funchal.

IV.

CLIMATOLOGIA

" N´alguns logares, cahem as aguas, formando cascatas naturaes, e até uma serie d´ellas, da altura de centenas de pés de queda perpendicular, de cujo maravilhoso effeito bem se póde fazêr idéa: n´outros sitios, onde o ápice da rocha parece descambar do centro de gravidade e pendêr além da base, despenha- se o jorro d´agua arqueando-se, e, batendo em penedos agudos e sinuosos, resalta, parte-se, diffunde-se em subtís frocos, em tenues arestas, de modo que, ao longe estas cachoeiras parecem nuvens aquosas, que os ventos arrojaram para cima dos rochedos: contemplei estes quadros de bronca magnficencia, e confesso que a solemne magestade do espectaculo excede quanto a poesia pincta e a imaginação representa das obras sublimes da natureza. "

James Macauly Edinburg New Philosophical Journal (1840) ____________________________________________________________________________________

IV.1

CARACTERIZAÇÃO

GENÉRICA

DO

CLIMA

DO

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