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As principais ideias conceituais deste trabalho focam na avaliação docente realizada pela CAPES e como ela mantém esta lógica através de uma prática gerencialista de medição de desempenho por metas. Será ainda estudada a existência do produtivismo acadêmico nas pós-graduações, oriundo deste método de avaliação docente realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) desde 1998.

Como o Brasil adota o modelo corporativo de organização, ao Estado compete o controle da sociedade em geral e o controle externo das associações e do indivíduo. Mas,

21 internamente, cada associação tem seu autocontrole ético. Geralmente, as profissões são controladas por autarquias (organismos estatais) que se denominam Ordem ou Conselho Regional. Os Conselhos possuem competência para controlar determinada atividade social. A coletânea de normas jurídicas que regulamenta o exercício de uma profissão compõe a sua legislação profissional. Contudo, segundo a lei 5.540/68, que fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e a Constituição Federal, as universidades possuem autonomia e não possuem um Conselho que as rege (PUSCH, 2011, p. 33).

Este trabalho trata da CAPES que, contraditoriamente, acaba por operar de maneira discricionária, como uma Ordem do ensino superior, ditando regras e normas que são fundamentadas pelo Ministério da Educação (MEC) e, por isso, tornam-se instrumentos legais. Sendo assim, um curso de pós-graduação pode até mesmo ser descredenciado (art. 56 da Portaria Normativa nº 40/2007) por determinação do MEC em decorrência de irregularidades. Um dos principais problemas é quando estas irregularidades significam o não cumprimento de metas. Processo típico do modelo gerencialista de operar, quando os aspectos quantitativos se elevam diante de qualquer outra consideração. Nas empresas produtoras de bens, este recurso de fixação de metas é fundamental e em grande medida adequado, uma vez que há fornecimento e contratos a atender e há padrões definidos geralmente em formas e modelos estruturados. A transferência deste modelo para as organizações públicas educacionais é um problema pelas dificuldades de conformação de objeto, sujeito e objetivos. Mas esta transferência ganhou a preferência da reforma do Estado na maior parte dos países e se assumiu como reforma gerencial de que, por exemplo, falou extensamente o ex-Ministro da Administração e Reforma do Estado, Bresser-Pereira, nos documentos e textos que assinou entre os anos 1995 e 1997. É também da reforma gerencial de onde se declinou a expressão gerencialismo, exatamente a adoção pelo setor público das ferramentas gerenciais privadas, destacando-se as metas como um ponto nodal.

O modelo gerencialista tem por base o neoliberalismo e traz consigo sua principal ideia – excluir do Estado a responsabilidade pelas políticas sociais somando a isto a necessidade de dar mais dinamismo e eficiência às práticas governamentais, recorrendo para isto às tais ferramentas gerenciais. Isto é, doutrina-se que o uso de instrumentos da gestão privada na esfera pública, objetivaria alcançar melhores resultados. Este modo de produção capitalista coloca o ser humano em confronto com um sistema onde a riqueza é o

22 mais importante dos valores e leva o trabalhador a se sentir inseguro e incapaz diante de metas impossíveis de serem atingidas (CALGARO, 2013, p. 183).

O modelo CAPES de avaliação docente, dentro da lógica gerencialista, traz consigo uma abordagem quantitativa que prioriza pontuações em periódicos, submetendo os docentes a uma avaliação por pares, levando-os a competição entre si e a escreverem uma quantidade desarrazoada de artigos, geralmente de pouca profundidade intelectual e muitas vezes repetindo textos já usados em publicações passadas. O produtivismo acadêmico, correspondente a uma lógica de mercado, diz respeito ao aumento de quantidade de artigos científicos publicados, mas que não está relacionado com a melhora de qualidade intelectual (ZUIN e BIANCHETTI, 2015, p. 7; PATRUS et al., 2015, p. 1; DOMINGUES, 2013, p. 197; WOOD, 2012; ALCADIPANI, 2011, p. 1174; RICCI, 2009, p. 16).

Além de se relacionar com o quantitativo de artigo, o termo produtivismo acadêmico pode ser remetido às várias incumbências as quais os professores devem executar dentro de suas 40 horas de trabalho semanais: preparar e ministrar aulas; elaborar, aplicar e corrigir provas; participar de congressos e simpósios; orientar monografias, dissertações e teses; avaliar trabalhos e participar de bancas; analisar e dar parecer sobre artigos para eventos e publicações, dar entrevistas à imprensa, além de responder por atribuições administrativas no seu departamento ou instituto (sobre tarefas administrativas, não é foco deste trabalho, mas é muito criticado o fato de docentes terem de assumir tais tarefas em conjunto com a vida acadêmica; tal fato foi abordado entre os entrevistados e uma docente do curso de Arquitetura e Urbanismo também criticou isto no questionário: “as universidades por não contarem com administradores e infraestrutura administrativa de qualidade e em quantidade, sobrecarregam os professores com funções burocráticas, roubando-lhes tempo a utilizar em pesquisa, mas obrigando-os a publicar para que os cursos sejam bem avaliados. Produz-se, assim, uma incompatibilidade fundamental na atividade docente”).

É neste contexto que a CAPES entra como um avaliador de peso, dado que, ao integrar um programa de pós-graduação, o docente, dentre todas as atividades acima descritas, vai priorizar aquelas que têm direta relação com seu programa até mesmo porque algumas delas podem lhe auxiliar na obtenção de verbas – pelas bolsas produtividade e pelos editais de fomento.

Sobre a CAPES então que se dirige o foco desta pesquisa. Neste referencial teórico, não se separará os debates ditos teórico-abstratos dos ditos teórico-empíricos. Assim,

23 encontram-se conjugados os termos históricos e técnicos da CAPES e a teoria da educação em blocos – razão porque este capítulo se estenderá mais do que o habitual.

Já de início, para se discutir as principais vertentes que orientam este estudo, apresentar-se-á um breve relato da CAPES e seus fatos históricos mais relevantes.