• Nenhum resultado encontrado

REFLEXÕES ACERCA DE SABERES E FAZERES NO ENSINO DA

2 ASPECTOS DA INTELIGÊNCIA HUMANA NA PRÁTICA

2.4 REFLEXÕES ACERCA DE SABERES E FAZERES NO ENSINO DA

Quando se faz educação, deve-se pensar naturalmente na melhor maneira de exercê-la, de praticá-la, especialmente quando se refere ao ensino da alfabetização de jovens e adultos, que exige um saber fazer especial, por se tratar de pessoas a quem foi negado, durante muito tempo e por diversos fatores, o direito de estudar, como assinala a professora entrevistada Anita Garibaldi, “o aluno trabalhador [...] precisa de algo especial [...]”.

O educando da alfabetização de jovens e adultos precisa de uma prática educativa que atenda suas necessidades básicas de vida, de comunicação, de relação com o mundo, para que se torne um autêntico cidadão e, sobretudo para que ele mesmo se perceba, como agente construtor de sua cidadania. Assim, é no movimento do processo ensino-aprendizagem, nas experiências de vida, que educadores(as) e educandos constroem na cotidianidade escolar sua prática educativa.

Contudo, é preciso compreender os limites e possibilidades dessa prática educativa, considerando o contexto sócio, político, econômico e cultural em que os sujeitos estão inseridos. E, também é importante entender que na ação do(a) educador(a) se encontra sua visão de mundo e nela estão implícitas e explícitas as idéias que defende e para quem as defende. Como assinala Freire (2003, p. 46) “A compreensão dos limites da prática educativa demanda indiscutivelmente a claridade política dos educadores com relação a sua proposta. Demanda que o educador assuma a politicidade de sua prática”.

Assim, no cerne das discussões sobre o ensino da alfabetização de jovens e adultos, vale salientar a percepção de mundo que o(a) educador(a) e a educadora revelam em sua prática educativa, demonstrando sua posição política frente aos acontecimentos sócio- educacionais na realidade na qual estão inseridos. Como assinala Freire (2003, p. 47)

Não posso reconhecer os limites da prática educativa - política em que me envolvo se não sei, se não estou claro em face de a favor de quem pratico. O a favor de quem pratico me situa num certo ângulo, que é de classe, em que diviso o contra quem pratico e, necessariamente, o porquê pratico, isto é, o próprio sonho. O tipo de sociedade de cuja invenção gostaria de participar.

Nesse sentido, dependendo da forma como o sujeito compreende a sociedade, a política, a escola, o trabalho, ele organiza para si sua concepção de mundo e, esta referenciará toda a sua prática. Assim, entende-se por concepção de mundo o conjunto de saberes que conduz a ideologia do indivíduo, numa relação que determina seu fazer, que poderá ser crítico ou acrítico, como ressalta Melo (In WEBER, 1993, p. 25)

[...] o homem torna-se crítico consciente ou acrítico, dependendo de suas relações com o mundo, com os outros homens e com as diferentes formas de ver e pensar a sociedade. A defender certas crenças, certos princípios e valores sócio-culturais, o homem está construindo suas concepções de mundo.

Dessa forma, o(a) educador(a) da alfabetização de jovens e adultos, com uma visão de mundo crítica, se torna capaz de refletir sobre sua prática, aprendendo a compreendê-la e a questioná-la através da experiência de outros e de sua própria experiência de vida (considerando que na vida já está inserido o profissional). É, especialmente por meio das experiências do(a) educador(a), que se produz o saber fazer pedagógico. Como diz Schön (In NÓVOA, 1992, p. 60), ao destacar uma característica fundamental da profissão de educador(a), “é uma profissão em que a própria prática conduz necessariamente à criação de um conhecimento específico e ligado à ação, que só pode ser adquirido, através do contato com a prática, pois se trata de um conhecimento tácito, pessoal e não sistemático”.

Sendo assim, o(a) educador(a) ao pensar seu saber fazer pedagógico e suas experiências apreendidas, constrói um conhecimento de si mesmo e de sua ação educativa, que lhe permite tornar-se aberto ao novo, compreendendo a necessidade de ser flexível face às novas informações do mundo contemporâneo, estabelecendo condições de inteligir a real função do processo ensino-aprendizagem. Como assinalam Marland; Osborne (In NÓVOA, op. cit. p. 60), “esta nova perspectiva de análise da profissão docente tem vindo a destacar a importância do estudo do pensamento prático do professor como fator que influencia e determina sua prática de ensino”

Este pensamento prático refere-se à compreensão que cada educador(a), tem em particular do ensino, é uma forma peculiar da sua práxis educacional “verifica-se, assim, que os professores possuem teorias, (teorias práticas, implícitas, de ação) sobre o que é ensino. Estas teorias, que influenciam a forma como os professores pensam e atuam na aula,

permanecem inconscientes para os professores ou poucos articulados internamente [...]” (Ibid. p. 60). É preciso que os(as) educadores(as) entendam a importância de discutir o que pensam e o que fazem, em busca da qualidade e aperfeiçoamento de um ensino-aprendizagem aberto a situações inusitadas.

Ao preocupar-se a respeito do que pensa de sua ação no ambiente da escola, o(a) educador(a) apresenta em seu cotidiano escolar, uma prática educativa aberta e renovadora, permitindo possibilidades de rever procedimentos, despertando através da análise de erros e acertos, a criatividade para uma melhor prática. Como assinala Gómez (In NÓVOA, op. cit. p. 110) “O profissional competente atua refletindo na ação, criando uma nova realidade, experimentando, corrigindo e inventando através do diálogo que estabelece com essa mesma realidade”.

Queremos defender que o(a) educador(a) da alfabetização de jovens e adultos, no processo ensino-aprendizagem encontra vários desafios exigindo, automaticamente, atitudes que não estão previstas nos livros ou nos currículos pré-estabelecidos, porque são provocações imprevisíveis que requerem, além de outros fatores, desempenhos intuitivos e criativos. Como diz Gómez ao citar Schön (In NÓVOA, op. cit. 110)

Na vida profissional, o professor defronta-se com múltiplas situações para as quais não encontra respostas pré-elaboradas e que não são suscetíveis de ser analisadas pelo processo clássico de investigação científica. Na prática profissional, o processo de diálogo com a situação deixa transparecer aspectos ocultos da realidade divergente e cria novos marcos de referência, novas formas e perspectivas de perceber e de reagir.

Desse modo, é necessário que, o(a) alfabetizador(a) de jovens e adultos seja capaz de analisar e re-analisar sua prática docente, buscando um novo olhar sobre o que pensa e faz, sobre o que os outros pensam e fazem. E, dessa forma, no exercício cotidiano com seu educando, encontra um novo saber fazer que, nunca ficará pronto e acabado, porque deve ser sempre flexível ao contexto social, no qual está integrado. Nesse sentido, o(a) educador(a) têm que ser um pesquisador a fim de melhorar sua prática e ser sensível à realidade de vida do educando. Como ressalta Garcia (1996, p. 22) “a investigação da professora é decorrência de sua preocupação em melhor ensinar e sensibilidade para compreender seus alunos e alunas, em melhor identificar os fundamentos teórico-epistemológico e ideológico de sua prática”.

O trabalho do(a) educador(a) tem toda uma organização anterior, teórica, reflexiva, metodológica, para que no exercício de sua prática, seja capaz de, a partir do que já sabe, nas situações inesperadas que possam surgir no universo da sala de aula, esteja apto para agir

coerentemente, numa postura aberta, atenta ao novo e ao imprevisível. É, como pensa Garcia (Ibid. p. 26), referindo-se à leitura de um texto artístico, “cada autor vai aparecendo num momento oportuno, embora sempre estivesse esperando a hora de falar. São os nossos coringas, que não podem ser gastos à toa [...]. O importante é não perder a hora, e saber quem sabe faz a hora”.

Queremos mostrar diante exposto, a necessidade dos(as) educadores(as) construírem e desenvolverem saberes, inteligências através de suas teorias e experiências de vida, que lhes permitam uma construção de fazeres capazes, num movimento de ordem e desordem do ensinar-aprender com seus educandos. A preocupação do(a) educador(a), em buscar um fazer melhor lhes proporcionará adquirir uma prática renovadora, intuitiva, criativa, dando-lhes condições de responder ao imprevisível no processo ensino-aprendizagem.

Assim, ao caminhar na prática, o(a) educador(a) da alfabetização de jovens e adultos, munidos de conhecimentos teórico e experiencial devem estar abertos, flexíveis ao novo, características fundamentais de um fazer inteligente e capaz.

Contudo, vale ressaltar que o saber fazer docente no ensino da alfabetização de jovens e adultos poderá obter melhores resultados se estiverem em conexão com os saberes pré- existentes do educando. Estes se encontram em sua prática social, em sua experiência de mundo que, se revela na sua oralidade, como veremos no próximo capítulo.

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE