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ARQUITETURA E URBANISMO

REFORMA DO ENSINO (1959-1963)

A segunda direção de Anhaia Mello (28/02/1959 a 28/08/1961) foi marcada pela interrupção dos concursos de cátedra e pela contratação de jovens arquitetos como auxiliares de ensino, entre eles: Carlos Barjas Millan (1927-1964, Mack/59-64), Leo Quanji Nishikawa (?- ?, FAU/59-67), Ariaki Kato (1931, FAU/59-68), Jose Ribamar da Silva (?-?, FAU/59-69), Paulo Mendes da Rocha (1928, Mack/60-69 e 80-98), Miranda Maria Esmeralda Martinelli Magnoli (1932, FAU/60-88), Gian Carlo Gasperini (1926, ENBA/60-96). Também foram contratados o engenheiro de produção Max Barcellos Correa (1928, EP/60-63)102 e o

engenheiro inglês John Manoel de Souza (1930 /60-70), que atuava próximo aos arquitetos modernos.103

Em maio de 1959, Rino Levi se afastou para lecionar como professor convidado na Faculdade de Arquitetura da Universidade Central da Venezuela, de onde surgiu a oportunidade de projetar hospitais na Venezuela. Nessa ocasião, já sob a direção de Anhaia Mello, Artigas assumiu interinamente a cadeira. No início do ano letivo de 1960, Rino Levi se afastou definitivamente da escola e Artigas foi designado para substituí-lo, tornando-se o regente da cátedra mais prestigiada da escola – a mesma que Anhaia Mello havia oferecido para Oscar Niemeyer oito anos antes.

Apesar de não haver documentos que comprovem, três indícios permitem supor que foi nesse momento, entre o segundo semestre de 1959 e o início de 1960, que Artigas começou a projetar o novo edifício da FAU. O primeiro deles é um artigo de Miguel Pereira, de 1960, que traz o primeiro registro textual encontrado do projeto.104 A nota da republicação

deste artigo traz a informação que naquele ano o projeto de Artigas havia sido exposto no hall de exposições da FAU-UFRS e objeto de um “seminário”. É muito provável que tal seminário tenha ocorrido no 2º Encontro Arquitetos, Professores e Estudantes de Arquitetura, mencionado no texto, e realizado em Porto Alegre, em abril de 1960, sob patrocínio do IAB-RS.

Naquele encontro, ainda pautado pela campanha nacional por uma nova legislação profissional, a reforma do ensino de arquitetura foi novamente tema central. Pela primeira

vez nesse tipo de evento, os participantes enfatizaram que além do currículo oficial, que representava uma razão particular para as deficiências do ensino de arquitetura, havia também uma razão geral, que afetava todo ensino superior, que era a centralização e a rigidez da estrutura da universidade, bem como a insuficiência de recursos.105 Desse modo

a campanha pela reforma do ensino da arquitetura passava a combater com maior ênfase o caráter permanente e estanque das cátedras e a falta de autonomia das faculdades.106

Para Miguel Pereira, o projeto da FAU despontava como o fruto mais promissor daquele movimento de renovação do ensino de arquitetura e urbanismo, em discussão desde os anos 1950. A grande contribuição de Vilanova Artigas teria sido materializar as propostas de reforma do ensino da FAUUSP em um projeto de arquitetura dentro e apesar da estrutura vigente do ensino, invertendo a expectativa de se passar à prática apenas depois de uma improvável vitória legal.

“Em todas as conversas que mantivemos com o arquiteto Artigas sobre esse trabalho, vimos bastante claro o propósito do arquiteto em utilizar a oportunidade no sentido de levar à prática as nossas, já bastante conhecidas, reivindicações no plano do ensino. [...] E a propôs através de um projeto, de uma formulação espacial, de uma organização do espaço, onde passará a viver a massa do estudantado e seus mestres. Cabe, desde já, advertir aos mais exigentes, que não pertence à estrutura cultural de Vilanova Artigas esse propósito de descobrir qualidades mágicas no campo da Arquitetura, a ponto de acreditar que um projeto, uma organização espacial, possa resolver os graves problemas que envolvem o ensino de arquitetura, e em geral o ensino superior no Brasil. [...]. É fácil compreender-se que o simples fato desta Faculdade ter sido construída para abrigar um novo estilo de vida universitária venha a constituir-se num elemento catalisador de grande importância na preparação do elemento humano. De nada nos valerá o texto frio da lei, preceituando uma reforma adequada, se não dispusermos do campo preparado – o elemento humano, preparado e consciente”.107

Ainda de acordo com Miguel Pereira, a “experiência paulista”, que se realizaria com a construção da nova FAU dentro de dois anos, constituiria um campo fértil e dinâmico, capaz

105 Entre as resoluções do encontro, destacamos: 1) repudiar o projeto de lei do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia

(CONFEA), que subordinava as atividades profissionais a entidades comerciais e negava a paridade no órgão incumbido de delimitar os campos profissionais; 2) manifestar que a obsolescência do ensino de arquitetura tornou-se incompatível com as necessidades de desenvolvimento cultural do país; 3) indicar a necessidade de substituição da legislação do ensino superior vigente por formas mais flexíveis; 4) reafirmar que o desenho industrial, a decoração, o paisagismo e o planejamento fazem parte do campo da arquitetura, devendo ser incorporados em sua formação; 5) e manifestar-se contrariamente aos cursos de pós-graduação, por desmembrarem o campo profissional da arquitetura. CERQUEIRA CÉSAR, Roberto de. Op. Cit

de dar sentido prático à reforma teórica do ensino. Essa seria a “única medida em condições de salvar do descrédito esta campanha pela reforma do ensino da arquitetura, que há tantos anos vem ocupando nossas preocupações”.108 Além do programa funcional do edifício, cujos

ateliês, departamentos109, oficinas e museu constituiriam os pontos fundamentais da

proposta de ensino, o projeto de Artigas se destacava como um manifesto dos novos caminhos da arquitetura moderna.

O segundo indício de que o projeto já podia estar pronto em 1960, encontra-se no Relatório das Atividades do Fundo para a Construção da Cidade Universitária, de agosto daquele ano, que trazia uma relação dos projetos a serem desenvolvidos e a informação de que o anteprojeto da FAU se encontrava “em estudo entre os próprios alunos do 4o ano daquela

Faculdade”.110 Na verdade, deve ter havido um erro nessa informação, sendo mais provável

a disciplina do 5º ano.111 Por fim, o terceiro indício, que comprovaria tal erro, vem do

depoimento de Sérgio Ferro (aluno do 5º ano em 1961), segundo quem Artigas teria dado dois temas de projeto aos alunos daquele ano: a embaixada do Brasil em Cuba e o projeto de uma faculdade de arquitetura.112

Assim, é muito provável que Artigas tenha proposto o tema da escola de arquitetura como exercício aos alunos em 1960 e repetido o exercício em 1961, enquanto trabalhava no projeto da FAU. De tudo isso, resulta uma interessante relação entre o projeto, o debate sobre o ensino e a docência de Artigas em ‘composição de arquitetura’.

O que, no entanto, chama a atenção é a ausência de outras menções ao projeto de Artigas nos debates sobre o ensino que sucederam, como o I Encontro de Diretores, Professores e Alunos das Escolas e Faculdades de Arquitetura, realizado em agosto de 1960, em Belo Horizonte, cujas resoluções seguiam a mesma direção dos eventos anteriores.113 Ou então

o Encontro Regional de Educadores Brasileiros, promovido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) e pelo Ministério da Educação, em São Paulo, no mesmo ano, cuja Comissão de Arquitetura e Urbanismo foi composta basicamente por professores da FAU.114 Desse

108 Idem, p. 82.

109 Segundo Pereira, os departamentos propostos por Artigas seriam: Departamento de Matemáticas; Departamento de História

encontro, aliás, resultou o relatório de Cerqueira César intitulado “O ensino da arquitetura e do urbanismo”, citado até aqui. Encomendado por Anhaia Mello, o célebre relatório sintetizava os debates e resoluções aprovadas nesse e noutros encontros anteriores, sem qualquer menção ao projeto de Artigas.

Nessa ocasião, Cerqueira César notou um consenso em relação à revisão da regulamentação profissional; à crítica ao sistema de cátedras – responsável por um ensino atomizado, de alto padrão teórico, mas exclusivamente analítico; à defesa do ateliê como forma de integrar as cadeiras técnicas nos trabalhos de projeto; ou em relação à concentração da formação técnica nos anos iniciais. Para Cerqueira César algumas propostas poderiam ser implantadas imediatamente, como a de que todo o ensino fosse ministrado ou orientado por um arquiteto. Mesmo as cadeiras técnicas poderiam ter arquitetos como assistentes, o que favoreceria uma feição aplicada às matérias teóricas. Nas cadeiras de composição, contudo, dever-se-ia evitar o contrato em tempo integral, sendo desejável que o professor mantivesse sua experiência profissional.

Mas a principal contribuição pessoal de Cerqueira César dizia respeito ao planejamento, o que pode ser um reflexo do impacto do Plano de Metas e do Plano de Ação do Governo Carvalho Pinto.

“Hoje, em todos os campos de atividades humana qualquer ação ou esforço criador, tanto do poder público como da iniciativa privada, está estreitamente ligado ao planejamento. Só o planejamento prévio permite a ação coordenada, lógica e consequente”.115

Citando o diretor do Departamento de Planejamento Regional e Urbano da Universidade da Califórnia, o professor Violich, Cerqueira César lamentava que no Brasil apenas o urbanismo fosse ensinado, no último ano, e como uma matéria formal, pouco ligada com os problemas urbanos, enquanto na Colômbia, Chile, Peru e Uruguai o planejamento estaria na base do ensino de arquitetura. Nesse sentido, o formalismo acadêmico e a supervalorização da técnica seriam vícios de origem do ensino de arquitetura no Brasil, enquanto o planejamento representaria o lado humano e social da arquitetura.

Apesar de todo o avanço e consenso nos debates, a reforma do ensino continuava teórica e sem base regimental. É nesse contexto que devemos situar a atuação decisiva de Anhaia Mello junto ao Fundo para Construção da Cidade Universitária para que o projeto da FAU fosse confiado a Artigas. Os documentos encontrados não dão conta de explicar de onde Rubens Meister (1922-2009), fundador do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Paraná. Todos demais

partiu a iniciativa do projeto – foi uma iniciativa pessoal do arquiteto, um encargo de Anhaia Mello ou fruto de negociações extraoficiais centralizadas no FCCUASO? De todo modo, se a data de abril de 1960 estiver correta, a iniciativa foi anterior aos processos institucionais que a ratificaram. Mais do que isso, parece claro que a iniciativa estava relacionada com uma convergência entre Anhaia Mello e Vilanova Artigas sobre como se poderia precipitar a reforma do ensino dentro e apesar da estrutura vigente.

Por isso, a sucessão de Anhaia Mello, aposentado compulsoriamente pelos 70 anos de idade completos em 23 de agosto de 1961, representou um grande impasse. Os arquitetos mais altos na hierarquia acadêmica eram os Livre-docentes Ernst Mange (1956), Hélio Duarte (1957) e Ariosto Mila (1961), mas sendo necessário um professor catedrático, nenhum deles poderia assumir a direção. Foi então que Vilanova Artigas assumiu novamente a liderança e redigiu uma carta ao reitor Ulhôa Cintra, assinada por um grupo de arquitetos da FAU, solicitando a reformulação do ensino no contexto da escolha do novo diretor.116 O manifesto mencionava as resoluções dos principais eventos dedicados ao

assunto e concluía que o currículo da FAU era “como um agregado de informações sem a coordenação que a nossa experiência dentro da própria Faculdade já permite corrigir”. Por esse motivo, os professores arquitetos solicitavam que a indicação de um novo diretor levasse em consideração o processo de reformulação do ensino que estava em andamento. Mais especificamente, apelavam para que o reitor procurasse “um meio prático de fazer contribuírem os professores arquitetos com sua experiência, na direção dos destinos do Instituto”. Usando o Artigo 212 da Lei 3.233/55, que regulamentava a FAU, os requerentes sugeriam “dar à Comissão de Ensino estrutura e atribuições para que pudesse substituí-lo no que achar de direito dando-lhe força para opinar em matéria de orientações e aprimoramento do ensino”.

A estratégia de Artigas era permitir que um engenheiro assumisse a direção da escola – supostamente Escorel, que era catedrático de ‘Materiais de Construção’ de quem Joaquim Guedes era assistente –, assegurando o controle do processo de reforma do ensino aos arquitetos através da Comissão de Ensino. Tal estratégia, no entanto, já não satisfazia uma parte dos docentes, principalmente os mais jovens, que ambicionavam rupturas mais rápidas e mais profundas com os engenheiros. Foi assim que um grupo ligado à FFCL,

liderado por Nestor Goulart Reis Filho117, conquistou apoio de estudantes e decidiu buscar

outra solução.

“Discutimos qual seria o futuro da FAU, porque estávamos sempre sendo dirigidos por engenheiros civis. Desejávamos autonomia e um diretor da própria escola. Como fazer isso? Estudamos o estatuto e descobrimos que o catedrático que vinha nos dirigir não precisava ser da Escola Politécnica. Fomos conversar com Lourival Gomes Machado, nosso ex-professor, catedrático de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, onde eu já estava estudando. Contei os problemas, falei que não havia departamentos, nem recrutamento de jovens, pesquisa, publicações etc. E ele aceitou ser candidato, com o apoio de muita gente desde o palácio do governo, como Hélio Bicudo, que era promotor público e chefe da Casa Civil. A universidade não era autônoma e o governador nomeava os diretores. Lourival foi nomeado por Carvalho Pinto e aí começou a reforma da FAU”.118

Vilanova Artigas teria ficado muito contrariado e com a ajuda de Joaquim Guedes – que havia entrado no Partido Comunista – e de seu sócio, Carlos Millan, teria tentado persuadir o grupo de Nestor, formado basicamente por alunos do 5º ano (Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre, Flávio Império, Júlio Barone e Benedito de Toledo) a retirar a indicação de Lourival. Não houve acordo. A esta altura, o presidente do grêmio, Benedito de Toledo, já havia lançado o nome de Lourival ao grupo católico progressista do governo Carvalho Pinto, do qual era próximo. Ainda segundo Reis Filho, para ter maioria no Conselho Universitário o reitor precisava que a FAU votasse independentemente da Poli e a nomeação de Lourival foi acordada nesse sentido. Em contrapartida, o reitor teria dado seu apoio incondicional à FAU.119

A frustração inicial de Artigas revela mais do que seu compromisso e alta estima pelos politécnicos. Afinal, surgia uma nova força dentro da FAU que refletia um alargamento da profissão para as ciências humanas e que era capaz de dividir o apoio dos alunos. Com uma visão mais ampla do que deveria ser o ensino superior, Nestor e seu grupo avaliavam

117 Nestor Goulart Reis Filho (1931) se formou na FAU em 1955 e iniciou sua carreira docente no ano seguinte, como

assistente de Kneese de Mello, na cadeira de ‘História da Arquitetura’. Com a reforma de 1962, ano que se formou também em Ciências Sociais, passou a reger a cadeira História da Arquitetura II, tendo como assistentes Rodrigo Lefèvre e Benedito de Toledo. Em 1963 era o único pesquisador em tempo integral da escola e contratou o arquiteto Paulo Bruna e as sociólogas Maria Ruth Amaral de Sampaio e Maria Irene Szmrecsanyi. Em 1964 tornou-se o quarto livre-docente da escola, com apenas 33 anos. Em 1967 defendeu seu doutorado tornou-se o primeiro arquiteto catedrático. Foi diretor da FAU entre 1972 e 1975.

118 Entrevista publicada em MOURA, Mariluce. “Nestor Goulart Reis Filho: do prédio à cidade para interpretar a evolução

urbana” Pesquisa Fapesp, n. 226. São Paulo: Fapesp, dez 2014. Disponível em

que os arquitetos formados na politécnica não tinham condições nem interesse em promover uma reforma profunda do ensino, abrindo-se para a pesquisa e para a renovação do quadro docente.

Para Nestor, Anhaia Mello e os engenheiros da Poli haviam sido responsáveis por impedir que a geração de Kneese de Mello, Vilanova Artigas, Hélio Duarte, Eduardo Corona e outros arquitetos, se titulasse, mantendo-se como único catedrático sem deixar sucessores.

Lourival Gomes machado assumiu a direção em 11 de outubro de 1961 e logo tratou de sinalizar a continuidade com a gestão de Anhaia Mello, solicitando a colaboração de todos os professores e organizando grupos para estudar a reestruturação do curso de arquitetura. A Comissão de Estudo do Ateliê, que deveria propor uma estrutura preliminar do ateliê, foi entregue a Carlos Millan, Jon Maitrejean, Giancarlo Gasperini e Lucio Grinover.

O relatório de Millan, intitulado “O ateliê na formação do arquiteto”, foi apresentado em janeiro de 1962.120 Além de reproduzir na íntegra o relatório de Cerqueira César, o novo

documento propunha que se partisse da proposta de 1957, que organizava o ensino pela prática em ateliê com ênfase em Composição.

A estrutura proposta por Millan, na verdade, não aprofundou muito a proposta de 1957. Tratava-se da mesma seriação de disciplinas. Durante o período da manhã as matérias “técnicas” seriam progressivamente substituídas por matérias de “cultura apropriada”, enquanto no período da tarde as aulas seriam no ateliê, enfatizando o “aprendizado gráfico e plástico-construtivo” nos dois primeiros anos e a “mentalidade de construtor”, com urbanismo e composições a partir do 3º ano. Os termos não eram os mesmos que seriam adotados pela chamada Reforma de 1962. O desenho industrial ganhava o status de uma matéria específica, mas não de uma disciplina. Do mesmo modo, ainda se mantinham os termos “Composição” e “Plástica” ao invés de “Projeto”, “Desenho Artístico” ao invés de “Comunicação Visual” e “Urbanismo” e “Paisagismo” ao invés de “Planejamento”. A principal novidade foi o detalhamento de duas etapas nos ateliês. A primeira, horizontal, coordenaria as disciplinas do mesmo ano. A segunda, vertical, seria constituída de trabalhos de Urbanismo, entendido como “a prática da coordenação, integração e equipamento do espaço exterior”. Imaginava-se um grande espírito de colaboração entre os alunos e entre

em tantos debates sobre o ensino de arquitetura. Ainda mais nesse caso, de uma comissão da própria FAU, cujos membros eram próximos de Artigas, e que tratava da função do ateliê, proposto por ele em 1957.

De todo modo, o projeto do edifício representava uma ação paralela da reforma do ensino e independente de mudanças na lei. Mas a possibilidade de uma reforma completa se tornou concreta quando o governo de João Goulart sancionou a Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que fixou as Diretrizes e Bases da Educação, conferindo autonomia didática, administrativa, financeira e disciplinar aos órgãos de ensino – incluindo as universidades estaduais. Como resultado, a USP criou seu Estatuto, aprovado em 7 de julho de 1962, através do Decreto n. 40.346 do governador Carvalho Pinto.

O Estatuto da USP manteve o regime vitalício das cátedras, mas agora as unidades indicariam em seus Regulamentos as disciplinas através das quais o ensino seria ministrado, podendo ser integrantes de cátedras, subordinadas a elas, ou autônomas. As disciplinas podiam ser criadas, ampliadas, reduzidas ou suprimidas pelo Conselho Universitário, mediante proposta da Congregação – no caso da FAU, a Comissão de Ensino. Com apoio do reitor, a FAU iniciou a chamada “Reforma de 1962”, que implantou os departamentos. As cátedras continuavam existindo, mas a metodologia e a coordenação das matérias seriam feitas por quatro departamentos: Departamento de Ciências Aplicadas, Departamento de Construção, Departamento de História e Departamento de Projeto.121 Ao

que tudo indica as mudanças começaram no segundo semestre, quando a nova grade curricular foi implementada e novos instrutores de ensino foram contratados.122

Vilanova Artigas logo assumiu a liderança na criação do Departamento de Projeto, juntamente com os demais regentes de ‘composição de arquitetura’, Hélio Duarte, Abelardo de Souza e Roberto Cerqueira César. “Projeto” passou a ter uma dimensão mais ampla, abrangendo edificação, cidade, produção industrial e linguagem. Dai as sequências de Planejamento, Edificações, Desenho Industrial e Comunicação Visual, com suas cadeiras e disciplinas autônomas, que deram início aos ateliês.

Para atender à ampliação do escopo, foram contratados novos professores, quase todos recém-formados pela FAU. Na sequencia de Comunicação Visual, Flávio Império (1935- 1985, FAU, 1961/61-77), Abrahão Velvu Sanovicz (1933-1999, FAU, 1958/62-99), João

121 Ver: PONTES, Ana Paula et al. “Fórum: o percurso do ensino na FAU”, Editorial da Revista Caramelo, n. 6, FAUUSP, 1993. 122 A adaptação curricular dos alunos dos diferentes anos à nova grade parece ter sido complexa. Foram consultados boletins

de alunos formados entre 1963 e 1973. Os boletins dos formados em 1963 traziam a grade antiga. Os dos formados em 1964 também trazem a grade antiga, porém com anotações que indicam que os alunos cursaram as matérias em anos diferentes da

Baptista Alves Xavier (?-?, FAU, 1958/62-74) e José Fernandes de Lemos (1926, EAD Portugal, 1943/62-64); na sequência de Desenho Industrial, João Carlos Rodolpho Stroeter (?-?, FAU, 1957/62-64), Marlene Picarelli (1932, FAU, 1958/62-97) e João Carlos Cauduro (1935, FAU, 1960/64-97); na sequência de Projeto de edifícios, Pedro Paulo de Mello Saraiva (1933, Mack, 1955/62-75) e Ludovico Antônio Martino (1933-2011, FAU, 1962/64-