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Reinserção Social no Sistema Prisional Brasileiro

4 REINSERÇÃO SOCIAL DOS PRESOS NO BRASIL

4.1 Reinserção Social no Sistema Prisional Brasileiro

Ressocialização, reintegração social, reinserção social, reabilitação, recuperação e inclusão social são todos termos utilizados para um dos objetivos da pena.

O termo socialização corresponde a um processo que cada indivíduo se encontra submetido desde seu nascimento, pois neste momento ainda não é considerado membro da sociedade, apesar de sua pré-disposição para integrá-la. Para Luckmann e Berger (1974,

p.175), socialização é “a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”. Para os referidos autores, o processo de socialização

se dá por meio de duas fases. A primeira fase trata-se da socialização primária, na qual o indivíduo passa a fazer parte da sociedade, em termos gerais, como membro. A segunda fase trata-se da socialização secundária, na qual o indivíduo passa a ser membro de um estrato social específico.

Tanto a socialização quanto a ressocialização são conceitos influenciados pelo âmbito social do indivíduo. São processos constantes, sempre vinculados às experiências de vida de cada um. Desse ponto de vista, temos a realidade do detento, que se encontrando em uma situação calamitosa, interioriza o que se passa ao seu redor, vinculando sua ressocialização às vivências obtidas dentro do sistema prisional.

Para Toledo (2013, p. 52), para que um processo de ressocialização seja bem sucedido:

[...] é necessária uma estrutura coerente e plausível, em que o indivíduo, inserido no processo de ressocialização, crie uma identificação afetiva com os outros significativos que mediam esse processo, que possibilite a objetivação de um novo

mundo e, em contrapartida, o deslocamento dos outros mundos pré-concebidos. [...] O conceito de ressocialização apropriado pelo discurso jurídico e político visa justificar e legitimar a adoção da pena privativa da liberdade no exercício dos jus puniendi e, neste contexto, assume a função de desenvolvimento de uma disciplina, uma normalização do sujeito desviante capaz de permitir a sua convivência com os demais integrantes da sociedade, através do aprendizado dos valores sociais gerais vigentes. O termo se vincula à lógica de que a privação da liberdade, através das práticas punitivas, desempenhariam o papel de ensiná-lo a conviver em sociedade e passar a respeitar as normas gerais, notadamente do sistema penal, evitando que o indivíduo volte a cometer delitos.

É notório que o ambiente prisional não é adequado para realizar a reinserção social.

A recuperação do condenado e a sua readequação ao convívio social, mesmo que inseridos da Lei de Execução Penal, têm se mostrado verdadeira falácia nos termos de sua aplicabilidade no sistema prisional. O Estado, detentor do ius puniendi, não exerce controle efetivo sobre a população carcerária a qual tutela, e quando intervém, o faz errónea e tardiamente. Em suma, existe uma comunidade carcerária que necessita de maiores cuidados e um sistema de execução penal que necessita de reparos para que a ressocialização do delinquente seja possível.

A questão da delinquência não encontra explicação somente na maldade do homem, mas sim, muitas vezes, na ausência de oportunidades, e por este motivo, caso não haja o estabelecimento de políticas públicas com fito na melhora social, a crise no sistema penitenciário irá se agravar ainda mais.

A prisão se apresenta como um espetáculo deprimente, atingindo além da pessoa do delinqüente; orfana filhos de pai vivo; enviúva a esposa de marido combalido; prejudica o credor do preso tornado insolvente; desadapta o encarcerado à sociedade; suscita graves conflitos sexuais; onera o Estado; amontoa seres humanos em jaulas sujas, úmidas, onde vegetam em olímpica promiscuidade. (OLIVEIRA, 2001, p. 07)

A humanização do condenado é finalidade da reinserção, estando este no centro da reflexão científica. Daí, a ineficiência da Execução Penal no Brasil revela que a reclusão, a detenção, a pena privativa de liberdade, em geral, não é o meio mais adequado para a humanização do condenado, um dos objetivos da ressocialização, nem é o meio mais efetivo para que o mesmo possa ser reintegrado à sociedade, evitando sua reincidência no crime. Destarte, resta afirmar que a aplicação de penas alternativas, por vezes, parece ser o melhor caminho a ser seguido, pois o condenado não precisa deixar o meio social, mesmo que tenha uma pena a cumprir.

A pena é vista como um mal necessário, por isso busca-se a redução ao mínimo da solução dos conflitos sociais por meio do Direito Penal. Uma das características é a

aplicação de sanções alternativas ou substitutivas à pena de prisão, tais como: reparação do dano; penas restritivas de direitos; transação penal; suspensão condicional do processo (sursis processual). (SALIM, 2017, p. 45).

E a questão da pena alternativa além de facilitar o processo de ressocialização do preso, ainda incide na problemática da superlotação dos presídios.

De qualquer forma, a pena de prisão deve considerar um modelo que apresente como finalidade o indivíduo, e este deve ser orientado enquanto se mantiver no cárcere para que possa ser reinserido à sociedade de forma eficaz, coibindo a reincidência.

Reafirmando o exposto acima, encontramos supedâneo em diversos julgados dos tribunais pátrios, conforme:

Drogas (normas para repressão). Conversão da pena privativa de liberdade em restritivas de direitos. Conversão (possibilidade). 1. Não são de hoje nem de ontem, mas de anteontem os apelos no sentido de que se deve, por uma série de razões de todos amplamente conhecidas, incentivar sejam adotadas sanções outras para os denominados delinquentes sem periculosidade. 2. As penas devem visar à reeducação do condenado. A história da humanidade teve, tem e terá compromisso com a reeducação e com a reinserção social do condenado. Se fosse doutro modo, a pena estatal estaria fadada ao insucesso. 3. O agravamento das penas, bem como a adoção de regime mais rigoroso para o seu cumprimento, por si sós, não constituem fator de inibição da criminalidade. 4. Admite-se, em hipóteses tais, o emprego do art. 44 do Cód. Penal; em caso assemelhado, ver o HC-32.498, de 2004. 5. De mais a mais, se a progressão de regimes (cumprimento da pena) tem a ver com a garantia da individualização da pena, de igual modo, é óbvia, a substituição – as penas privativas de direitos substituem as privativas de liberdade. 6. Ordem concedida, admitindo-se a conversão de uma noutra pena menos gravosa.

(STJ - HC: 118776 RS 2008/0230619-8, Relator: Ministro NILSON NAVES, Data de Julgamento: 18/03/2010, T6 - SEXTA TURMA Data de Publicação: DJe 23/08/2010)

O termo reintegração social, compreendido como a volta do condenado para viver em sociedade, não condiz com a realidade, em verdade, o que se constata é que o cárcere dificulta a reintegração social e o condenado não apresenta condições de volta. O que se observa é que a lei de execução penal não consegue efetivar a adaptação do reeducando a sociedade conforme determina o artigo 1º da LEP, a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

Vê-se, claramente, pela disposição do artigo 1º, da lei em comento, que o legislador brasileiro adotou um dos postulados da novíssima defesa social ao dispor que o objetivo da execução penal não se limite ao cumprimento da pena, já que também deve propiciar ao condenado ao condenado condições para seu o retorno harmônico à sociedade. Observa-se , portanto, que a reinserção social do condenado constitui um dos objetivos fundamentais da execução da pena,de forma que o Estado deve providenciar todos os aparatos para sua efetivação. (PRADO, 2011, p. 32)

A LEP atribui ao Estado o dever, através de instrumentos normatizados, de buscar a prevenção da prática de novos delitos, e, ao mesmo tempo, efetivar a volta dos que estão encarcerados ao convívio social. Estes instrumentos de reintegração e prevenção estão elencados entre os artigos 10 a 27 da LEP, que são os que fazem referência à assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa e do trabalho.

Porém, na execução penal, o que se percebe é que os regimes prisionais não apresentam um acompanhamento efetivo, faltam estruturas que os façam eficazes, a população carcerária é maior que a estrutura que o Estado oferece para o cumprimento da pena.

O sistema não consegue atribuir atividades a todos os reeducandos deixando uma parcela na ociosidade, não são todos que estão no cárcere que têm acesso à assistência educacional ou às atividades laborais.

O fato é que o Sistema atual produz efeitos que são criados pelo Estado para transmitir à sociedade a sensação de segurança, criam-se leis com as melhores técnicas cujos efeitos não surtem em resultados práticos, pois são criadas de maneira imediatista como resposta a algum fato que chamou atenção da sociedade, Ottoboni (2006) acredita ser comum providências oficiais quando algum fato delituoso alcança projeção que cause intranquilidade social.

A violência aprisiona apenas aquele sujeito aprisionado? A condição violência paralisa, imobiliza tanto quem se utilizou dela, encontrando-se mais tarde num ambiente hostil e violento, mas pode também aprisionar outros sujeitos que, cada vez mais, encontramos encarcerados em seus mundos, sendo os mesmos que buscam cada vez mais a tão almejada mobilidade e aceleração ao mundo atual. (ALMEIDA, 2010, p. 100)

Inúmeros são os problemas no sistema prisional brasileiro, alguns têm sido considerados verdadeiros entraves para a concretude da ressocialização do detento. A título exemplificativo temos: as questões relacionadas à higiene e à alimentação do preso25, à superlotação carcerária, à atividade das organizações criminosas dentro e fora do cárcere e à violência26 que o mesmo sofre durante o cumprimento de sua pena.

25 (BITENCOURT, 2011, p. 166): Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer efeitos nefastos

sobre a saúde dos internos. As deficiências de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões. Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de ar, na umidade e nos odores nauseabundos.

26 (Ibidem, p. 186): A influência do código do recluso é tão grande que propicia aos internos mais controle

sobre a comunidade penitenciária que as próprias autoridades. Os reclusos aprendem, dentro da prisão, que a adaptação às expectativas de comportamento do preso é tão importante para seu bem-estar quanto a obediência às regras de controle impostas pelas autoridades.

Quanto à problemática referente à higiene e à alimentação, a LEP, em seu artigo

12, prevê: “a assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”. O que na prática tem se mostrado falho.

Quanto à superlotação, observa-se que é crescente, e que se associa com diversos outros problemas os quais o Poder Público não tem conseguido sanar, como a morosidade do judiciário, o aumento da violência que consequentemente aumenta o número de infratores e o número de prisões, entre outras evidências do descaso estatal perante a população.

Outro impasse para a ressocialização do detento é a ação das organizações criminosas dentro dos presídios brasileiros, visto que tem se intensificado sobremaneira no decorrer dos últimos anos, ocasionando um aumento considerável no número de adeptos.

O preso encontra na organização criminosa um status que não consegue ter nem na sociedade nem perante o Estado. É ela que garante sua proteção dentro da prisão, e é por meio dela que a comunidade carcerária consegue dialogar com o Poder Público. Assim, o crime organizado acaba por exercer grande influência no tratamento ressocializador do preso.

O egresso ainda encontra dificuldades quando deixa o cárcere, pois passa a ser estigmatizado27 pelos seus precedentes, nesse sentido Greco (2011, p.443) destaca:

Parece-nos que a sociedade não concorda, infelizmente, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de retornar ao normal convívio em sociedade.

Uma das maiores dificuldades que o egresso encontra é adentrar no mercado de trabalho, pois a grande maioria é jovem, pertence a uma classe social marginalizada, de baixa renda, com baixa qualificação profissional e baixo nível de escolaridade28, fatores estes que contribuem para o aumento dos índices de reincidência.

É importante insistir, a grande preocupação nas propostas de políticas públicas para o egresso do sistema prisional é criar condições para que o mercado de trabalho possa recepcionar sua mão de obra, seja através da formação profissional em cursos básicos, educação para o aumento da escolaridade ou na organização de grupos de produção no modelo de economia solidária. (DINIZ, 2007, p. 4 e ss)

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