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Relevância da análise dos processos de formulação de políticas públicas O processo de formulação e implementação de políticas públicas é contínuo,

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 61-63)

Capítulo 2. METODOLOGIA DA PESQUISA

2.1. Relevância da análise dos processos de formulação de políticas públicas O processo de formulação e implementação de políticas públicas é contínuo,

especialmente no caso das políticas de direitos fundamentais como o trabalho. Na complexidade que se observa em todos os processos que exigem um amplo diálogo e a obtenção de consensos para eleger as prioridades que vão nortear o planejamento e o direcionamento das políticas públicas, uma questão por responder é como as questões relacionadas ao trabalho surgiram na agenda governamental e como continuam em evidência, apesar do constante surgimento de novos temas na pauta de políticas públicas.

Esse campo de investigação ganhou espaço e importância dentro das ciências política e administrativa e a discussão teórico-metodológica que surgiu nos países desenvolvidos, onde já existiam regimes democráticos consolidados, foram trazidos pelos pesquisadores para os países em desenvolvimento e com democracias emergentes com o objetivo de racionalizar a formulação e a análise de políticas públicas, de maneira a permitir sua efetivação no campo político e social.

Frey (2000) distingue três abordagens na análise de políticas públicas. Em primeiro lugar, salienta o questionamento clássico do sistema político vigente, onde a validade do regime implantado é confrontada com a proteção e a felicidade dos cidadãos. Em segundo lugar, o autor faz o questionamento político efetivamente dito, referindo-se às forças cruciais no processo decisório. E em terceiro lugar, analisa os resultados que um dado sistema político vem produzindo. Neste caso, o interesse primordial consiste na avaliação das contribuições que certas estratégias escolhidas podem trazer para a solução de problemas específicos.

O autor corrobora que o interesse na análise de políticas públicas não se restringe meramente a aumentar o conhecimento sobre planos, programas e projetos desenvolvidos e

implementados, mas visa interpretar as inter-relações entre as instituições políticas, o processo político e os conteúdos da política propriamente dita.

É importante mencionar que nos seus argumentos, Frey (2000) leva em consideração o fato de que o instrumento analítico-conceitual foi elaborado nos países industrializados e, portanto, deve ser ajustado às particularidades das democracias emergentes. As peculiaridades socioeconômicas e políticas desses países não podem ser tratadas da mesma forma como o são nas democracias mais consolidadas.

Assim, segundo Frey, a literatura diferencia três dimensões da análise da política. A dimensão institucional, que se refere à ordem do sistema político e à estrutura institucional do sistema político-administrativo; a dimensão processual, que diz respeito à imposição dos objetivos, aos conteúdos e às decisões de distribuição; e a dimensão material, que se refere aos conteúdos concretos, à configuração dos programas políticos, aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas.

Todavia, é preciso considerar que estas dimensões são entrelaçadas e se influenciam mutuamente, e estão sujeitas a mudanças ao longo do tempo, transformando e reestruturando o processo político que leva à formulação das políticas públicas.

Dentro desse conceito, é preciso também definir as redes políticas. De acordo com Heclo, citado por Frey (2000) estas seriam as interações das diferentes instituições e grupos tanto do executivo, como do legislativo e da sociedade na elaboração e na implementação de uma determinada política. Miller (1994) define estas interações como sendo as redes de relações sociais que se repetem periodicamente, mas que são menos formais e delineadas do que as relações sociais institucionalizadas, onde está prevista a distribuição real dos papéis organizacionais. No entanto, essas redes sociais devem ser suficientemente regulares, para que possa surgir a confiança necessária entre seus integrantes e se estabelecer valores e opiniões comuns.

Na análise de políticas públicas essas redes sociais assumem grande importância, especialmente enquanto fatores dos processos de conflito e de coalizão político- administrativa. Frey (2000) observa que no caso da realidade política das democracias mais consolidadas, os membros destas redes tendem a rivalizar-se, mas acabam por criar laços internos de solidariedade, o que lhes possibilita se defender e agir contra os que são considerados concorrentes. No caso brasileiro, na luta pelos escassos recursos financeiros, essas disputas tornam-se particularmente acirradas, comprometendo algumas vezes a

capacidade de ação, mas fortalecendo, por outro lado, os grupos mais integrados e atuantes.

Ainda dentro desses conceitos, surge a arena política, referente aos processos de conflito e de consenso dentro das diversas áreas de política, e que podem ser distinguidas de acordo com seu caráter distributivo, redistributivo, regulatório ou constitutivo (FREY, 2000).

Na abordagem de análise de políticas de Frey surge o que ele chama de ciclo político. Como as redes sociais e as arenas das políticas setoriais sofrem modificações no decorrer dos processos de elaboração e implementação das políticas, o ciclo político se apresenta como as fases correspondentes da seqüência político-administrativa que determinam o caráter constitutivo da política. Essas fases podem ser denominadas de percepção e definição de problemas, inserção na agenda, elaboração de programas e processo decisório, implementação das ações e finalmente avaliação da política.

Durante a análise do ciclo político é fornecido o ambiente de referência para a comparação das diversas fases do processo político-administrativo que possibilita a identificação das causas e das dificuldades do processo de resolução de um problema.

Outros autores, como Rua (1997) e Pinto (2004) corroboram a relevância da análise de políticas públicas para a compreensão da atividade do sistema político e do próprio processo de desenvolvimento de políticas, elencando as decisões que terminam por afetar, de uma forma ou de outra, a própria coletividade.

No documento ANA LÚCIA DE OLIVEIRA MONTEIRO (páginas 61-63)

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