• Nenhum resultado encontrado

A renovação da consciência dominante

Da última vez tentamos ampliar o simbolismo do sa- pateiro e do alfaiate e entender os princípios opostos que representam. Suas funções foram consideradas com relação ao rei. Ainda há mais para ser dito. Em Myste-rium Coniunctionis, o rei é o dominante da consciência coletiva, um símbolo do Self que se tornou manifesto e é venerado no interior de uma comunidade.

Cada símbolo do Self tem o poder de unir os opostos, mas se perder sua força, deixa de funcionar desse modo e os opostos se separam. Se o rei fosse totalmente poderoso, estabeleceria as regras de tal modo que o sapateiro e o alfaiate não se disporiam a brigar mas a cooperar — o fato de que se opõem, torna evidente a fraqueza do rei. Neste caso ele concede sua confiança ao sapateiro e dá ouvidos às más insinuações que levam o altaiate a dificuldades. O rei não é justo e já nào estabelece as regras como deveria, ouvindo tudo o que os outros lhe dizem. No final tudo acaba bem, mas não exatamente como se espera. Podemos dizer que um poderoso dominante da consciência coletiva ainda está aqui representado; entretanto, ele perdeu o seu poder de unir °s opostos adequadamente, pois estes começam a se se-Parar e a se jogar um contra o outro. Esse enfraquecimento com o seguinte diagrama:

Rei

Sapateiro...Alfaiate (opostos um ao outro) Coroa (Self)

Se o rei começa a perder seu poder o eixo da oposição aumenta, a tensão se consolida e o rei oscila entre ambos, colocando sua confiança em um e depois no outro: o símbolo unificador começa a enfraquecer. Eu não me referiria a isto na psicologia pessoal, mas há de fato uma analogia com o desenvolvimento individual, isto é, os dois opostos se mantêm juntos na medida em que o ego está fortemente engajado na vida e em harmonia com os instintos. Existem sempre fases em que a pessoa se sente cheia de vida e o problema dos opostos não é tão intenso; sabe que tem uma sombra e que há sempre um mais e um menos, mas de alguma forma os opostos não a perturbam muito. Então, por alguma razão, o ego empaca, perde suas possibilidades e sua habilidade criativa, os opostos se separam e surgem conflitos de todos os tipos. Nessas circunstâncias, o ego, oscilando entre os dois como o rei, luta para se identificar com um lado ou com o outro. Não consegue manter um equilíbrio entre os dois mas escuta insinuações, tomando o partido ora de um, ora de outro.

Isto é típico numa situação de análise, mas é também um processo normal na vida, quando o ego não está em harmonia com os níveis mais profundos da personalidade instintiva, caso em que se divide entre os opostos. Se o ego pudesse se relacionar diretamente com o Self ou com um símbolo unificador, o conflito se resolveria e o ego funcionaria outra vez em sua totalidade. Este é o modo normal de os opostos funcionarem e o impulso principal é mais uma vez o fluxo da vida, sendo que o ego acompanha ou serve a esse fluxo proveniente da totalidade. Na verdade o conflito nunca é realmente resolvido, mas a emoção investida nele diminui; é superado pelo sofrimento e absorvido por uma nova forma de vi-

um ângulo diferente. Assim o rei não consegue manter os opostos juntos se tomar partido e de fato deixar de governar.

O alfaiate e o sapateiro caminham juntos, o alfaiate feliz e o sapateiro sozinho e invejoso; quando atravessam a floresta a tragédia se inicia e o sapateiro despeja sua vingança sobre o alfaiate. O sapateiro tem qualidades saturninas introvertidas como Prometeu. Ele se previne e leva mais pão do que o alfaiate, que como Epimeteu só aprende através da experiência. Esta é a diferença entre o introvertido e o extrovertido: o introvertido segue preocupado com a vida, sempre olhando para frente, com o perigo de se tornar amargo; o extrovertido primeiro dá o pulo e depois olha e quando cai num buraco diz que não o tinha visto. Naturalmente, se muito unilaterais, ambas as atitudes são destrutivas. Aqui os dois se perdem na floresta e estão famintos, o sapateiro tem pão e o vende ao alfaiate pelo preço de seus olhos, isto é, tenta destruir a beleza do alfaiate, que lhe faz inveja.

Vocês poderiam dizer que a contrapartida do incons- ciente, a atitude melancólica, desconfiada e introvertida, cega o outro lado, tirando-lhe a capacidade de enxergar. Por exemplo, um homem de negócios bem sucedido, com uma energia extrovertida-fônte, aos poucos uma natureza desconfiada, nascida do seu lado introvertido negligenciado; se ele não se voltar para a figura da sombra procurando descobrir a origem de seu estado de espírito, ficará cego, cometendo um erro após outro, pois a sombra o forçará a mudar de atitude — voluntária ou involuntariamente. Terá insucesso nos negócios, ou ficará doente, sendo então forçado a desenvolver o outro lado. Eu me lembro de um advogado bastante extrovertido que tinha tido sucesso com esse tipo de atitude; a partir de certo ponto, ele começou a ter acessos de infelicidade e estados de espírito negativos. Uma vez, conversando com ele, eu lhe disse que seria uma boa ideia passar umas férias sozinho e encarar seu outro lado. Mas ele nao aceitou minha sugestão, dizendo que sozinho ficava

melancólico e submerso em depressão. Daí ele sofreu um acidente que afetou sua bacia e teve que ficar oito meses no hospital, com férias forçadas — o outro lado se! impôs a ele. Este seria o mecanismo de funcionamento dos opostos, como ocorre entre o sapateiro e o alfaiate, em que este abandona aquele cego sob as forcas.

As forcas, com os dois pobres diabos pendurados, constituem um tema interessante que passaremos a desenvolver. O hábito de matar criminosos enforcando-os em árvores é bastante arcaico. Originalmente, era praticado como sacrifício: por exemplo, os germânicos nos tempos antigos enforcavam pessoas como sacrifício ao deus Wotan. Não somente criminosos eram enforcados, mas também inimigos capturados numa batalha. O vencedor dizia ao seu prisioneiro: "Agora você será sacrificado a Wotan". O próprio Wotan é o deus que se enforca na árvore, tendo ficado pendurado no carvalho Yggdrasil por nove dias e nove noites e tendo depois encontrado os sinais rúnicos, adquirindo dessa forma uma sabedoria secreta. A suspensão numa árvore é uma antiga ideia germânica de sacrifício a esse deus. No cristianismo encontramos essa ideia arquetípica na crucificação de Cristo, e na região da Ásia Menor, Átis é pendurado num pinheiro. Depois de morto, sua imagem é enforcada num pinheiro, sendo ritualmente exibida nos festivais da primavera. É uma ideia pré-cristã encontrada nos círculos mitológicos germânicos e mediterrâneos. Todos os enforcados ou crucificados são dedicados a tal deus.

Devemos nos perguntar o que há por trás da ideia de matar o inimigo não como vingança social ou em julgamento, mas segundo a forma mais arcaica de sacrifício aos deuses. Acho que existe uma ideia muito mais profunda e mais significativa do que a de mera punição. Se alguém tem que lutar contra o mal demoníaco num ser humano, o que mais assusta é o fato de que se a pessoa for realmente destrutiva — e não, como todo mundo, meramente preguiçosa, enganadora etc. — a reação imediata é a de que se trata de algo desumano, especialmente na psicose ou

mesmo tempo tão "divina", que se fica fascinado.' Isto nos dá um frio na espinha porque não sabemos o que fazer — é por demais terrível e chocante; e é esta coisa, horrível e chocante nas pessoas, que as leva a cometer um assassinato a sangue frio.

Nunca lidei com alguém que tivesse de fato cometido um assassinato, mas conheci gente que poderia tê-lo feito. Isto nos faz tremer e pensar "tire as mãos de mim", mas ao mesmo tempo tem-se o sentimento de que se trata de algo divino, além da esfera humana. Nós usamos o termo "desumano" mas poderíamos igualmente dizer "demoníaco" ou "divino". A ideia primitiva de que alguém que comete um assassinato ou um crime terrível não é realmente ele mesmo e faz algo que só um deus poderia conseguir, expressa muito bem a situação. No momento em que uma pessoa comete um assassinato, ela se identifica com a divindade e não é mais humana. As pessoas tornam-se instrumentos das trevas, ficam possuídas ou completamente identificadas. O fato de que alguém possa se imaginar matando um semelhante, alguém da mesma substância, o que não é normal em animais de sangue quente, transcende a natureza humana e nesse sentido adquire essa qualidade divina ou demoníaca. Por exemplo, é por isso que nas execuções rituais de certas tribos primitivas os criminosos são mortos sem nenhum julgamento moral, eles apenas sofrem as consequências de suas ações. O primitivo diz que se um ser humano age como se fosse divino, então deve sofrer o destino de um deus e da mesma forma que um deus, deve ser enforcado, morto, esquartejado, e assim por diante. Não se pode viver numa sociedade humana e se com- portar como um ser divino que pode matar ad libitum. Emprestaram-me uma vez um estudo a respeito da execução de um membro de uma tribo primitiva de índios norte-americanos. Um feiticeiro cometeu o erro de cobrar honorários muito altos de seu povo e abusou a tal ponto desse hábito que se tornou desumano. Tomou udo de uma viúva e deixou-a arruinada ultrapassando,

assim, os limites humanos. Esses fatos levantaram suspeita na tribo, mas demoraram muito para amadurecer; em vez disso, a suspeita cresceu subrepticiamente. 0 feiticeiro continuou a agir dessa forma e sentindo as críticas à sua volta tornou-se cada vez mais exigente, provavelmente para compensar sua própria insegurança. Vangloriava-se de ser o melhor feiticeiro, até que o zunzum de que pudesse estar possuído por um mau espírito cresceu cada vez mais na tribo.

Um dia os homens mais velhos da tribo lhe disseram que o seu próprio povo acreditava que ele estava possuído pelo mal. Como o feiticeiro nada negasse, eles o levaram para o deserto a fim de provar e descobrir se era ou não verdade. Pintaram e desenharam na areia e todos os feiticeiros invocaram os espíritos, dizendo que ele estava possuído por demónios e perguntando- lhes se não queriam salvá-lo. O feiticeiro acusado rezou junto com os outros. Como nenhuma resposta fosse dada, ele foi executado: esquartejado por quatro cavalos. Ele próprio concordou com a sentença. Para ele não era uma questão de ser condenado moralmente, mas apenas de ter caído inexoravelmente nas mãos dos deuses do mal, perdendo sua humanidade. Estava em absoluta paz consigo mesmo. É esse o comportamento natural do homem frente às forças do mal, tão impressionante e próximo da verdade psicológica do fenómeno. Essa proximidade talvez revele porque os criminosos são frequentemente executados de um modo que os identifica com um deus; reconhece-se que caíram nas mãos da divindade das trevas e que por isso devem sofrer seu amargo destino.

O simbolismo do deus suspenso, a forca e a cruz devem ser examinados. Tal destino normalmente afeta aquela parte da divindade mais interessada no homem-A parte filantrópica da divindade cai na tragédia da suspensão e tem a ver com o início da civilização — como no mito de Wotan que depois de suspenso numa árvore descobre os sinais rúnicos, o que implica num progresso da consciência. Primeiro temos que penetrar no simbo-

lismo da árvore. Provavelmente todos vocês conhecem o capítulo "A Árvore Filosófica" nos Estudos Alquímicos de Jung. Aí Jung mostra que a árvore simboliza a vida humana, o desenvolvimento e o processo interior de formação da consciência no ser humano. Vocês podem dizer que ela simboliza na psique aquilo que cresce e se desenvolve inalterado em nós, a despeito do que o ego faz; é o impulso em direção à individualização que se desenrola continuamente, sem referências à consciência. Quando nasce uma criança é, ao mesmo tempo, plantada uma árvore que morrerá quando a pessoa morrer. A ideia é que a árvore fornece uma analogia à vida humana, carregando em si a vida, como as luzes numa árvore de Natal e que quando o sol nasce do pico de uma árvore isso significa um crescimento em direção a uma cons- ciência maior. Existem muitos escritos mitológicos que ligam a árvore ao ser humano ou nos quais a árvore aparece como um homem-árvore. 0 Self é a árvore — aquilo que no homem é maior que seu ego.

Parte de nossa vida se desenrola como um drama escrito por um romancista biógrafo, mas por trás das peripécias biográficas há um processo misterioso de crescimento que segue suas próprias leis, estendendo-se da infância à velhice. Num contexto mitológico, o mais antigo ser humano, o ântropos, se assemelha a uma árvore. 0 ser humano é suspenso numa árvore porque costuma se evadir, tentando se libertar e agir livre e consciente-mente, e por isso ele é dolorosamente arrastado de volta ao seu processo interior. A luta revela uma constelação trágica se representada dessa forma dolorosa. É por isso que toda a filosofia da religião cristã tem uma visão trágica da vida: para seguir Cristo é preciso aceitar a mortificação e reprimir um certo crescimento natural. A ideia básica é que a vida humana está baseada num con-Nito, ansiando por uma espiritualidade que não surge P°r si mesma mas nasce de um parto doloroso. A mesma ideia é representada de uma forma mais arcaica no mito de Wotan — Wotan suspenso numa árvore. Ele é ° eterno peregrino que perambula pela terra, o deus dos

impulsos, da raiva, da inspiração poética, daquele elemento no ser humano sempre incansável, que explode numa emoção; e se suspenso numa árvore por nove dias e nove noites, esse deus acaba descobrindo os sinais rúnicos, sobre os quais se apoia a civilização baseada na palavra escrita.

Sempre que a personalidade consciente e animal se encontra em conflito com o processo interior de crescimento, ela sofre a crucificação e se vê na situação do deus suspenso na árvore, involuntariamente presa ao desenvolvimento inconsciente do qual gostaria de fugir, mas não consegue. Conhecemos os estados em que caímos quando somos amarrados a algo maior do que nós mesmos e que nos impede o movimento, sobrepujando-- nos.

0 mito de Átis, mais antigo que o mito do Deus crucificado no cristianismo, evoca isso de forma específica. Átis, o filho bem amado da Grande Mãe, representa o modelo do puer-

aeternus, o ser divino que não envelhece nem decai, mantendo-se

perenemente um jovem deus, eternamente belo, figura que não pode sofrer tristeza, restrições humanas, doenças, feiúra e morte. Como este deus, muitos jovens, em determinado momento de suas vidas, têm que resolver seu complexo materno e perceber que o curso da vida não permite a permanência eterna nesse estado; ele tem que morrer. Em sua plenitude, a vida se encontra à nossa frente, cheia de significado e esplendor — mas nós sabemos que isto não dura, que é sempre destruído pelo outro lado da vida. Portanto este jovem deus sempre morre cedo, pregado a uma árvore, que é novamente a mãe; o princípio mater- no que o gerou o engole numa forma negativa, e ele é atingido pela feiúra e pela morte.

Às vezes se vê isso no caso de um jovem que deve se casar, escolher uma profissão, ou que descobre que a juventude o está abandonando, sendo portanto obrigado a aceitar o destino comum a todos os homens. Muitos jovens desse tipo, nesse momento, preferem morrer num acidente ou na guerra do que envelhecer. Nesse momen-

to crítico entre os trinta e quarenta anos a árvore cresce contra a vontade deles; o desenvolvimento interior desses jovens não está mais em harmonia com sua atitude consciente, mas cresce contra ela e aí é preciso sofrer uma espécie de morte; tal morte deveria significar uma mudança de atitude, mas pode acarretar de fato uma morte física, uma espécie de suicídio disfarçado, porque o ego não consegue desistir de sua atitude — este é o momento crucial em que tais indivíduos são sacrificados por um processo de desenvolvimento interior que se voltou contra eles. Quando o crescimento interior é inimigo da consciência, algo dentro do homem luta para ultrapassar o próprio homem que não conseguindo acompanhar esse crescimento deve, portanto, morrer; a vontade própria da personalidade consciente deve morrer e se render ao crescimento interior. Cristo foi crucificado porque no Império Romano esta era a punição normal e a mais humilhante para os escravos fugitivos e criminosos. Este símbolo sempre se manteve por detrás do tema cristão.

Um outro aspecto do enforcamento se encontra no fato de que em muitos sistemas mitológicos o ar é considerado como o lugar por onde vagueiam os fantasmas e os espíritos, como Wotan e seu exército de fantasmas da morte voando pelo ar, especialmente em noites de tempestades, caçando com os mortos. Eles moram no ar. Assim, se alguém é enforcado vira um fantasma e deve cavalgar com outros mortos, como Wotan no ar. No culto a Dionísio, as oferendas eram colocadas em balanços numa árvore, com a ideia de que sendo Dionísio um espírito, ele as veria; assim as oferendas eram levantadas no ar e dadas de presente aos seres espirituais que aí viviam. Uma expressão ilustra esta situação de um certo ângulo: falamos de suspensão. Quando um con-tlito psicológico interior fica muito ruim, a vida fica sus- pensa; os dois opostos se igualam, o Sim e o Não ficam COin a

mesma força e a vida não consegue fluir. Quere-m?smover a perna

direita mas a esquerda se recusa a sair do lugar e vice-versa; temos, assim, a situação de

suspensão que significa uma parada completa no curso da vida e um intolerável sofrimento. Empacados num conflito estéril nada acontece, e esta é a mais dolorosa! forma de sofrimento.

Podemos dizer que o momento em que o sapateiro cegou o alfaiate onde os dois criminosos estavam enforcados simboliza uma suspensão do conflito, com uma parada do processo da vida. Os opostos colidiram e a vida empacou. Os dois mortos na forca refletem agora a situação de estéril suspensão do alfaiate e do sapateiro. Naturalmente, como tínhamos referido toda a estória a uma situação da era cristã, devemos perguntar quem eram esses dois. Se fosse apenas um homem suspenso seria fácil concluir que se tratava de forma velada do símbolo de Cristo, o símbolo básico da religião cristã, o Deus pendurado numa cruz. Mas aqui há dois pecadores e por isso devemos perguntar: quem seria o segundo?

Existem muitos contos de fada, especialmente alemães, que representam o espírito do mal pregado numa árvore ou parede. Do mesmo modo, as duas pessoas podiam aludir a Cristo suspenso na cruz e Wotan na árvore, o Deus bom na cruz e o outro na árvore. Isto não nos parece tão artificial assim, porque o tema de dois seres divinos pregados em uma árvore ou cruz aparece em muitas lendas cristãs, bem como nas do ciclo do rei Artur e do Santo Graal. Persival é realmente um devoto de Cristo e tem a missão de encontrar não apenas o Graal que continha o amor de Cristo, mas também uma cabeça de cervo pregada num carvalho, do qual deveria arrancá-la. Na versão principal ele não se descuida, encontra o Graal antes da cabeça de cervo e o entrega a uma divindade feminina; ora o cervo é tido como agente do diabo, destruidor das florestas e sombra de Cristo. Com sua bonita galhada, enfeite desnecessário que atrapalha sua movimentação e cujo objetivo é atrair a fêmea, o cervo sugere a ideia de uma criatura arrogante e por isso representa a sombra do princípio cristão, uma arrogância e soberba incríveis que adquirimos e que parece

uma das piores atitudes de sombra divulgadas pelo ensinamento cristão.

Uma ilustração concreta do que significa essa sombra arrogante frequentemente surge na análise: sob a máscara de uma postura cristã e compreensiva para com o próximo, não falamos de nossas resistências mas, ao contrário, produzimos uma série de juízos negativos, acompanhados por uma atitude cristã adocicada, até que ura sonho mostre realmente o que está acontecendo. 0 analisando não toca em suas resistências porque isto lhe traria dificuldades e de qualquer forma o analista "já foi perdoado". Isto é arrogância! Seria muito mais simples dizer ao analista: "Você é o culpado disso e daquilo e o que tem a me dizer a esse respeito?"

Documentos relacionados