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CAPÍTULO 3: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

3.2. Representação Social

Foi no contexto da representação concebida como construção que Moscovici desenvol- veu o conceito de representação social (Vala, 2004).

Segundo Moscovici (1961, cit. por Vala, 2004), para que se possa apreender o conteúdo das representações é necessário que se distingam as seguintes dimensões constitutivas:

 A atitude que exprime uma orientação geral, positiva ou negativa, em relação ao objecto da representação;

 A informação, ou seja, os tipos de conhecimentos que os sujeitos têm e que podem ser mais ou menos estereotipados e que dependem da idade, da inserção no meio social, da profissão … e

 O campo da representação que diz respeito à organização do conteúdo da represen- tação e à hierarquização dos diferentes conhecimentos que a compõem.

No conceito de representação social, têm sido estudados muitos tipos de representações, sendo o conceito apresentado como tendo um duplo alcance. Nuns casos é visto como envolvendo um problema de âmbito mais geral ― até mesmo universal ― enquanto noutros casos, o conceito reveste elementos de particularização, assumindo-se, nesta última situação, que as representações sociais, na actualidade, são equivalentes aos mitos ou aos sistemas de crenças próprios de outras sociedades ou de tempos remotos (Vala, 2004).

O conceito de representação social remete para fenómenos psicossociais complexos. É Abric (1997:19) que nos lembra que uma representação social será ―constituída por um conjunto de informações, de crenças, de opiniões e de atitudes a propósito de um dado objecto [e que] este conjunto de elementos é organizado e estruturado‖. No entanto, a riqueza destes fenómenos psicossociais dificulta a construção de um conceito que, em simultâneo, os delimite e não descolore a multidimensionalidade dos mesmos. Conse-

quentemente, não é fácil definir tal conceito (Semin, 1989; Vala, 2004). A este propósi- to, Moscovici (1976, cit. por Vala, 2004: 464) diz mesmo que se ―é fácil darmo-nos conta da realidade das representações sociais, não é fácil defini-las conceptualmente. Há muitas razões para que assim seja. Há razões históricas (…). E há razões não históricas que finalmente se reduzem a uma só: a sua posição «mista», na confluência de conceitos sociológicos e psicológicos. É nesta confluência que teremos de nos situar.‖

Todavia, o que se verifica é que não existem noções imprecisas do conceito, mas sim uma multiplicidade de definições polissémicas, conforme os propósitos de cada investi- gação. Regra geral, na maior parte dos casos, as definições incluem, segundo Vala (2004), conceitos de médio alcance (atribuição, crença, atitude, esquema, opinião, etc.) de natureza psicológica ou psicossociológica. No entanto, há um aspecto que se mantém inalterado, independentemente das definições apresentadas. Este prende-se com o facto das representações sociais remeterem sempre para um dado objecto posicionado num conjunto de dimensões relacionadas e para um sujeito produtor dessa representação.

Segundo Jodelet (1989), as representações sociais são fenómenos complexos sempre presentes na vida social, comportando elementos diversos, por vezes, estudados de for- ma isolada: elementos informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valo- res, atitudes, opiniões, imagens, etc. São, no fundo, produções mentais sociais. A autora (op. cit.: 36) caracteriza a representação social, como ―uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objectivo prático e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social‖, orientando e organizando as condutas e as comunicações sociais.

Para Doise e Palmonari (1986: 83), a representação social caracterizando-se por uma ―focalização sobre uma relação social" permite gerir, mediar as interacções que ocorrem entre os actores e construírem-se e re-construirem-se nessas mesmas interacções. Desta forma, a representação social não é apenas o conjunto das representações individuais ou mentais de um dado sujeito ou de um conjunto de sujeitos. Ela será um construto, comum, partilhado por um conjunto de actores que comungam objectivos, crenças, valores, experiências através das interacções sociais em que acontece estarem envolvi- dos.

Assim, a representação social será vista como configuração de ―uma força, (…) um campo de tensões, de entrelaçamentos, de conexões‖ (Seca, 2002: 32). Para Vala (2004: 479), ―as representações sociais têm como função a atribuição de sentido ou a organiza- ção significante do real.‖

Na perspectiva de Abric (1994), existem quatro grandes tipos de representação a intervir na situação de interacção: a representação do eu, a representação do outro, a representa- ção da tarefa e a representação do contexto.

De acordo com a especificidade do nosso estudo, tentamos definir os tipos que conside- ramos mais ajustados. Para Abric (1994), na representação do eu existe a dimensão do Eu privado e do Eu público. O Eu privado refere-se àquilo que pensamos ser, ou seja, é a imagem que fazemos de nós próprios. Por sua vez, o Eu público é a imagem que pre- tendemos transmitir aos outros, quer seja consciente, quer seja inconscientemente. Sem- pre que interagimos, a imagem do nosso Eu é aquilo que pretendemos parecer.

Miras (2002) refere que a representação afectiva que temos das nossas características, num dado momento, deve deixar de ser vista, por alguns autores, como estática, suge- rindo os mesmos que se deve considerar, também, a representação que a pessoa tem de si mesma no futuro. É neste contexto que surge a noção de ―eus possíveis‖ proposta por Markus e Nurius (1986, cit. por Miras: 2002). Esta representação de si no futuro inclui o eu que a pessoa espera ser, o eu que a pessoa acredita que deveria ser, o eu que a pessoa desejaria ser e o eu que a pessoa teme chegar a ser. De acordo com Miras (2002), os ―eus possíveis‖ orientam e guiam o comportamento da pessoa, uma vez que existem ―eus possíveis‖ que a pessoa pretende alcançar e, por outro lado, há aqueles que preten- de evitar, funcionando como representações das aspirações e dos temores pessoais e dos estados afectivos que lhes podem estar associados. Por outro lado, esses ―eus possíveis‖ constituem marcos de referência que permitem à pessoa avaliar e interpretar o seu auto- -conceito e o seu comportamento e, consequentemente, influenciam a auto-estima.

Quanto à representação do Outro, podemos referir que o nosso comportamento face ao outro depende da imagem que temos dele, independentemente de ser correcta ou não. A representação que temos do outro não depende exclusivamente da realidade, mas, também, de opiniões que estão relacionadas com valores, cultura e estereótipos que alteram a realidade.

De acordo com Santos (2006), investigações citadas por Durkin (1995) e Schaffer (1996) defendem que a representação dos outros é um reflexo tanto do desenvolvimento cognitivo do sujeito como da sua experiência social. Acrescenta, a autora, que alguns trabalhos revelam que a representação que o indivíduo tem de si e dos outros, regra geral, está em sintonia, isto é, a uma representação positiva de Si corresponde uma visão positiva do Outro (Salmivalli, Ojanen, Haanpaa & Peets, 2005, cit. por Santos, 2006).

Por sua vez, a organização do espaço e o contexto influenciam a representação de uma dada situação e também dos comportamentos.

CAPÍTULO 4: MOTIVAÇÃO