• Nenhum resultado encontrado

1.3 Contextualização das unidades escolares rurais

1.4.3 Resultados da recuperação paralela

Ao investigar os documentos referentes aos Projetos de Recuperação Paralela e registros do desempenho dos alunos que frequentaram as referidas aulas, pode-se observar na unidade vinculadora que,entre 21 e 28 alunos matriculados do 2º ao 5º ano de escolaridade, foram encaminhados para as aulas de recuperação paralela.

Dentre os alunos matriculados no 3º e 5º anos de escolaridade, uma média de doze alunos em cada ano manteve grande defasagem na aprendizagem, tendo sido encaminhados para as aulas de recuperação paralela, exceto em 2009. Desses, foram reprovados uma média de três alunos por ano. Verifica-se que, em média nove alunos – a maioria dos encaminhados para a recuperação paralela – conseguiram aprovação, superando teoricamentea defasagem.

Já na V1, o número de encaminhamentos para as aulas de recuperação paralela foi de dez a onze alunos matriculados do 2º ao 5º ano de escolaridade, sendo todos aprovados.

Essas informações, em um primeiro momento, mostram que as aulas de recuperação paralela foram eficientes, garantindo a aprendizagem, visto que a

maioria os alunos que as frequentaram foram aprovados. Entretanto,é fundamental analisar se essa superação se concretizou nas salas de aula regulares e nas avaliações de desempenho. Para tanto se realizou comparativo entre os resultados da Prova Brasil, os da recuperação paralela e as taxas de aprovação e reprovação das escolas pesquisadas.

Durante o ano de 2009, observa-se que na unidade escolar vinculadora, de acordo com as escalas de aprendizado apresentadas no Portal IDEB MERITT - QEDU12 (2011), 52% dos alunos obteve desempenho escolar adequado na área de Língua Portuguesa e 48% abaixo do adequado, referente a pouco (41% - 11 alunos) ou nenhum (7% - 2 alunos) aprendizado. Na área de Matemática, somente 30% dos alunos atingiram aprendizado adequado, sendo que 70% ficaram abaixo do básico, que se refere a pouco (48% - 13 alunos) ou nenhum aprendizado (22% - 6 alunos). Vale lembrar que adequado é o aprendizado que se encontra nos níveisproficiente e avançado.

Considerando que a taxa de reprovação foi baixa (1,4% - 2 alunos) em 2009, pode-se inferir em um primeiro momento que os alunos aprovados (98,6%)demonstraram domínio adequado dos conteúdos, competências e habilidades, possuindo as estruturas necessárias para interagir com a proposta curricular no ano/série subsequente.

Todavia, ao comparar esse índice de reprovação com os resultados da Prova Brasil - 4ª série, aplicada no mesmo ano, verifica-se que do total de alunos aprovados nesse ano de escolaridade (98,6%), aproximadamente 20% avançou sem nenhum aprendizado em Matemática e 42% com pouco aprendizado nas duas disciplinas.

Desta forma, visto que em 2009 foram encaminhados quatro alunos da 4ª série para as aulas de recuperação paralela com defasagem em Língua Portuguesa, e diante dos resultados na Prova Brasil, duas situações preocupantes se apresentam.

A primeira refere-se aos critérios utilizados para o encaminhamento dos alunos às aulas de recuperação paralela, visto que, apesar da defasagem de aprendizagem em Matemática de 70% (19 alunos) dos discentes da 4ª série, a

12

Disponibiliza“informações sobre o aprendizado dos alunos do 5º e 9º anos em matemática e português; o perfil dos alunos, professores e diretores; o número de matrículas; taxas de aprovação, abandono e reprovação; e informações sobre infraestrutura escolar. Os dados são da Prova Brasil e do Censo Escolar” (PORTAL IDEB MERITT - QEDU, 2013).

escola não elaborou um Projeto de Recuperação Paralela que os atendesse nessa disciplina. Além disso, embora a defasagem em Língua Portuguesa tenha atingido 48% dos discentes (11 alunos), somente quatro foram encaminhados às aulas de recuperação paralela.

A segunda questão evidencia que alguns alunos avançaram para a série subsequente, embora não tenham adquirido nenhum ou pouco aprendizado em Matemática.No que se refere à área de Língua Portuguesa, dos quatro alunos da 4ª série que frequentaram as aulas de recuperação paralela, somente dois conseguiram avançar na aprendizagem, sendo promovidos, enquanto os outros foram reprovados.

De maneira geral, dos 21 alunos encaminhados, dois permaneceram na mesma série e 19 discentes foram aprovados. Dos aprovados, 12 continuaram na unidade escolar no ano subsequente, e os demais foram transferidos. Cinco dos discentes que ficaram na escola foram novamente encaminhados às aulas de recuperação paralela em 2010 e oito permaneceram nas classes regulares com recuperação contínua.

Quantitativamente observam-se avanços da maioria dos alunos; no entanto, ao analisar os registros nos Relatórios de Turma e as Atas de Conselho de Ciclo, verifica-se que esses oito alunos citados anteriormente continuaram com defasagem de aprendizagem. Isso leva a inferir que as aulas de recuperação paralela resolvem parcialmente as defasagens dos alunos, já que eles continuam com desempenho inferior aos demais alunos na série/ano em que estão matriculados.

Há também que se considerar o fato da queda na média de desempenho do SARESP. Se as aulas de recuperação paralela têm, de forma geral, melhorado o desempenho da maioria dos alunos que as frequentam, porque razão a média de desempenho nas avaliações externas vem diminuindo nos três últimos anos? Ademais, há que se observar que nos anos pesquisados, dos alunos da 4ª série/5º ano que apresentaram defasagem de aprendizagem, a maioria foi para o Ensino Fundamental II sem adquirir os conhecimentos adequados o que pode implicar em futuras reprovações e/ou abandono.

A Tabela 16 apresenta a formação das turmas entre os anos de 2009 a 2012 da unidade vinculadora, considerando a quantidade dos alunos encaminhados às aulas de recuperação, o número de aprovados e retidos.

Tabela 16 - Formação de turmas da recuperação paralela da unidade vinculadora: EMEIEF Rural Flor do Campo

RECUPERAÇÃO PARALELA – EMEIEF RURAL FLOR DO CAMPO

ANO SÉRIE/ANO TURMA ENCAMINHADOS APROVADOS RETIDOS 2009 1ª etapa Módulo I ALF. 8 8 - 2ª série PÓS-A. 6 6 - 3ª série PÓS-A. 3 3 - 4ª série PÓS-A. 4 2 2 Total 21 19 2 2010 2º ano ALF. 9 9 - 3º ano ALF. 7 7 - 3ª série PÓS-A. 4 4 - 4ª série PÓS-A. 12 9 3 Total 22 19 3

2011 2º ano 3º ano ALF. ALF 4 3 4 3 - -

3º ano PÓS-A. 6 6 - 4º ano PÓS-A. 8 8 - 4ª série PÓS-A. 7 7 0 Total 28 28 0 2012 2º ano ALF. 5 5 - 2º ano PÓS-A; 3 3 - 3º ano PÓS-A; 5 3 2 4º ano PÓS-A. 4 4 - 5º ANO PÓS-A. 11 9 2 Total 28 24 4

Fonte: Adaptada dos dados do Programa de Recuperação Paralela (2009, 2010, 2011, 2012).

Na escola V1, a porcentagem dos alunos que atingiram o nível adequado em Língua Portuguesa foi de 41%, referente a menos que a metade do total de alunos. Consequentemente, 59% dos alunos não alcançaram aprendizado adequado, apresentando pouco (36%) ou nenhum (23%) aprendizado. Em Matemática, somente 32% atingiu o nível adequado, sendo que 68% adquiriram pouco aprendizado (27%) e nenhum aprendizado (41%).

Partindo da informação de que a taxa de reprovação se fixou em 1,9%, verifica-se teoricamente que 98,1% dos alunos aprovados demonstraram domínio dos conteúdos, competências e habilidades, possuindo as estruturas necessárias para interagir com a proposta curricular no ano/série subsequente. No entanto, ao correlacionar esses índices com os níveis de aprendizado adquiridos na Prova Brasil, evidencia-se uma situação preocupante, uma vez que 23%, ou seja, um quarto dos alunos apresentou nenhum aprendizado em Língua Portuguesa e 41% nenhum aprendizado em Matemática. Como mencionado, a V1 também aprovou

alunos com defasagem de aprendizagem, visto que somente um aluno foi reprovado diante do contingente de discentes com desempenho insatisfatório e/ou pouco aprendizado.

Quanto às aulas de recuperação paralela, estas foram contempladas somente na área de Língua Portuguesa, o que pode ter impactado no número de alunos que apresentaram maior defasagem em Matemática, de acordo com os dados da avaliação externa.

Dos dez discentes encaminhados às aulas de recuperação na área de Língua Portuguesa, somente um foi reprovado. Dos que avançaram, quatro foram transferidos para outras escolas e os cinco discentes que permaneceram foram novamente encaminhados para a recuperação paralela no ano de 2010.

Ao analisar os registros nos Relatórios de Turma e as Atas de Conselho de Ciclo, verifica-se que esses alunos continuaram com defasagem de aprendizagem.

Isso leva a percebertambémque as aulas de recuperação paralela pouco resolvem as defasagens dos alunos, já que eles continuam com desempenho inferior aos demais alunos na série/ano em que estão matriculados. A Tabela 17 apresenta a formação das turmas entre os anos de 2009 a 2010 da V1, considerando os alunos que foram aprovados ou retidos dos encaminhados às aulas de recuperação.

Tabela 17 - Formação de turmas da recuperação paralela da V1 RECUPERAÇÃO PARALELA – V1

ANO SÉRIE/ANO TURMA ENCAMINHADOS APROVADOS RETIDOS 2009 1ª ETAPA MÓDULO I ALF. 3 3 - 2ª SÉRIE ALF. 2 2 - 3ª SÉRIE ALF. 1 1 - 3ª SÉRIE PÓS-A. 1 1 4ª SÉRIE PÓS-A. 3 2 1 Total 10 9 1 2010 2º ANO ALF. 5 5 - 3ª SÉRIE PÓS-A 2 2 - 4ª SÉRIE PÓS-A. 4 4 - Total 11 11 -

Fonte:Adaptada dos dados do Programa de Recuperação Paralela (2009/2010).

Nos casos das duas escolas analisadas, verificar-se a necessidade de melhorar o desempenho dos alunos para que eles possam progredir na escala de aprendizado para o nível adequado. Para isso, a unidade vinculadora vem

possibilitando a eles aulas de recuperação paralela como forma de auxiliar na superação das dificuldades. Já a V1 tem enfrentado algumas dificuldades para garantir a formação de turmas.

Ao pesquisar sobre a implementação do Projeto de Recuperação Paralela no contexto das respectivas escolas, percebe-se que ele apresenta entraves que podem comprometê-lo em relação à legítima qualidade da recuperação do desempenho dos alunos. Assim, neste primeiro capítulo procurou-se apresentar o contexto das escolas pesquisadas, sua caracterização frente à localização rural, organização pedagógica e administrativa, assim como levantamento de dados das avaliações externas, taxas de reprovação e sua correlação com a implementação do projeto de recuperação paralela. Há também a identificação dos efeitos da recuperação paralela sobre o desempenho dos alunos, que comprometam a efetiva recuperação da aprendizagem.

As constatações feitas neste capítulo serão analisadas no capítulo 2 do trabalho, a luz de referenciais teóricos que embasem a pesquisa realizada, a fim de aperfeiçoar a implementação do Projeto de Recuperação Paralela nas referidas escolas.

2 ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE RECUPERAÇÃO