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CAPÍTULO 1 – DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO DE DOMINAÇÃO

1.5. RESUMO E CONCLUSÕES

Neste capítulo, assumiu-se como hipótese de pesquisa, de acordo com a fundamentação teórica do cooperativismo, que as cooperativas de crédito brasileiras filiadas ao Sicoob-Brasil não possuem comportamento de dominação nem por membros aplicadores, nem por membros tomadores, ou seja, assumiu-se a neutralidade como o tipo de comportamento predominante nestas cooperativas.

O objetivo foi então o de verificar se existia algum tipo de dominação e avaliar os determinantes desta dominação nas cooperativas de crédito brasileiras filiadas ao Sicoob-Brasil, assim como no estudo de caso do Sicoob- Crediminas.

Avaliaram-se 545 cooperativas singulares filiadas ao Sicoob-Brasil, com dados mensais, referentes ao período de janeiro de 2000 a junho de 2008. No estudo de caso do Sicoob-Crediminas foram estudadas 117 cooperativas singulares com informações referentes ao período de janeiro de 1995 a maio de 2008. A diferença de períodos de análise é em função da implementação do seguro depósito no Sicoob-Crediminas, que será objeto de estudo específico no capítulo 3.

Para determinação do índice de dominação, utilizou-se o referencial de Patin e McNiel (1991a) e o modelo de dados em painel para estimar os determinantes do índice de dominação nas cooperativas de crédito.

Como proxy para o indicador de dominação (ID), utilizaram-se informações contábeis das cooperativas e diferentes tipos de taxas de mercado tanto para aplicação quanto para concessão de recursos financeiros a pessoas físicas. Foi verificado que, indiferente da proxy utilizada, as cooperativas de crédito filiadas ao Sicoob-Brasil assim como ao Sicoob-Crediminas, apresentaram dominação por membros tomadores, ou seja, a hipótese de pesquisa foi refutada. Este resultado indica que, no caso destas cooperativas brasileiras, os cooperados utilizam-nas mais para a obtenção do que para a aplicação de recursos financeiros.

A princípio, dada a natureza igualitária dos princípios Rochdalianos para o cooperativismo, assim como as afirmações de Smith (1986) de que as

cooperativas são homogêneas com relação aos seus objetivos e, por este motivo, não seria possível a partição da amostra com diferenças entre os membros. Cabe também destacar as observações de Llewellyn e Holmes (1991), que mencionam que o caráter de mutualidade das cooperativas impede estratégias arriscadas além da limitação para obtenção dos retornos financeiros destacada por O´Hara (1981), a qual implica que não se espere uma dominação nem de membros tomadores, nem de membros aplicadores, ou seja, a proporção do grupo de cooperados tomadores seria igual ao grupo de associados aplicadores.

Por outro lado, Taylor (1971) afirma que alguns cooperados podem usar estas cooperativas exclusivamente para aplicações de recursos financeiros, enquanto outros as consideram fonte de consumo de crédito. O fato é que grupos dentro das cooperativas de crédito possuem diferentes relações econômicas, que implicam certo grau de conflito de interesses entre os membros. Este autor afirma ainda que uma das características das cooperativas não é o lucro individual, mas sim alcançar objetivos econômicos e sociais do grupo. Assim, o objetivo da cooperativa seria o de se engajar em atividades econômicas de maneira a oferecer mais vantagens aos seus cooperados.

Neste contexto, apesar de refutada a hipótese de neutralidade no presente estudo, não se pode negar que as cooperativas estão oferecendo vantagens aos seus cooperados ao atuar com taxas sobre empréstimos inferiores às praticadas no sistema bancário e também oferecendo maiores remunerações sobre os recursos aplicados na cooperativa pelos associados, constatadas nas análises dos benefícios monetários líquidos para membros tomadores (NMBB) e nas as análises dos benefícios monetários líquidos para membros aplicadores (NMBS).

No caso do Sicoob-Crediminas, que inicialmente era constituído apenas por cooperativas de crédito rural, a dominação de membros tomadores tem uma justificativa adicional, a redução do crédito rural oficial e as mudanças dela decorrentes na década de 90, que tornaram as cooperativas de crédito rural uma alternativa para suprir as demandas de financiamento dos produtores, propiciando, assim, uma orientação para cooperados tomadores de recursos.

Todavia, como estas cooperativas singulares filiadas ao Sicoob-Crediminas têm uma característica muito direcionada a membros tomadores, este fato não tornou viável a captação pelo modelo econométrico de diferenças significativas entre o grupo de cooperativas dominadas por tomadores e grupo dominado por aplicadores, o que gerou alguns sinais de variáveis contrários aos obtidos pelo grupo maior de observações, referentes ao Sicoob-Brasil.

Desta forma, pode-se afirmar que o Sicoob-Brasil representa melhor os resultados para os determinantes do índice de dominação, pois existe uma maior heterogeneidade nas cooperativas pesquisadas, permitindo assim, indicar os principais determinantes do índice de dominação nas cooperativas brasileiras, que foram as seguintes: “empréstimo/capital social”, “idade”, “patrimônio líquido ajustado/ativo total” e “despesas operacionais/ativo total”.

O indicador “empréstimo/capital social- ESC” apresentou sinal negativo, indicando que o aumento do indicador ECS provoca uma pequena redução no índice de dominação nas cooperativas de crédito. O aumento da variável ECS pode ser devido ao aumento do volume de empréstimos ou a uma redução do capital social relativo ao volume de empréstimos. Estas características são condizentes com maior alocação de benefícios monetários líquidos para o tomador, que é representado pela redução do índice de dominação.

A variável “idade” apresentou sinal positivo, ou seja, nas cooperativas filiadas ao Sicoob-Brasil, quanto mais antiga a cooperativa maior o índice de dominação. Esta relação é condizente com os estudos de Smith (1986), Kohers e Mullis (1990) e Goddard e Wilson (2005), que indicam que cooperativas mais jovens tendem a ser dominadas por tomadores, já as mais antigas tendem a ser dominadas por aplicadores.

O indicador “patrimônio líquido ajustado/ativo total - Plat” apresentou sinal negativo, indicando que o aumento do indicador Plat reduz o índice de dominação nas cooperativas de crédito. Na perspectiva de solvência, quanto maior, melhor o indicador Plat para a cooperativa de crédito. No entanto, é importante destacar que o Plat é um dos determinantes do índice de dominação das cooperativas de crédito, e que o aumento deste indicador sinaliza tendência de dominação por tomadores, mas que não se deve inferir que o aumento do Plat indica uma dominação de membros tomadores e, consequentemente, propicia uma melhora na situação financeira da

cooperativa, pois este tipo de análise requer a avaliação de um grupo de indicadores econômico-financeiros.

O indicador “despesas operacionais/ativo total – Despat” apresentou sinal positivo, indicando que uma redução no Despat, reduz o índice de dominação nas cooperativas de crédito filiadas ao Sicoob-Brasil, tendendo para a dominação de membros tomadores. Este indicador mede o custo associado com o gerenciamento de todos os ativos da cooperativa de crédito, refletindo o grau de eficiência ou ineficiência operacional. Esta redução do índice de dominação sinaliza uma maior eficiência relativa das cooperativas, com maior alocação de benefícios monetários líquidos para os tomadores

A refutação da hipótese de neutralidade e a aceitação da dominação por membros tomadores podem ser justificadas também por alguns aspectos já previamente discutidos na literatura, tais como o argumento de Walker e Chandler (1977) de que, por um lado, uma cooperativa para manter baixas taxas sobre empréstimos teria que limitar a capacidade de distribuir sobras. Por outro lado, se a cooperativa mantiver altas sobras, seria necessário praticar altas taxas sobre os empréstimos, impedindo assim, a cooperativa de tratar a competição grupal imparcialmente na alocação dos benefícios monetários líquidos para os membros, resultando em um viés pró-tomadores.

Outra justificativa para tal dominação é que, apesar de as cooperativas de crédito representarem um percentual significativo dentre as instituições participantes do Sistema Financeiro Nacional, elas ainda possuem uma participação pequena no total dos ativos, da ordem de 3%, o que torna estas cooperativas uma alternativa mais atrativa para membros interessados em tomar recursos, pois as cooperativas filiadas ao Sicoob-Brasil oferecem empréstimos a taxas inferiores as praticas no mercado. E é provável que a pouca expressão em termos de participação no Sistema Financeiro Nacional até o presente ainda não atraia um maior grupo de membros interessados em mecanismos de aplicação, mesmo com as cooperativas oferecendo taxas mais rentáveis.

Em síntese, as cooperativas de crédito brasileiras filiadas ao Sicoob-Brasil e ao Sicoob-Crediminas são dominadas por membros tomadores de recursos, ou seja, a maioria dos cooperados utiliza as cooperativas de crédito como fonte de

aplicações e menores taxa de juros sobre os empréstimos dos seus cooperados, se comparado às taxas praticadas pelo sistema bancário, ou seja, todos os cooperados são beneficiados nas cooperativas de crédito brasileiras.

CAPÍTULO 2 – ANÁLISE DE INSOLVÊNCIA DAS COOPERATIVAS DE

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