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OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS EM PORTUGAL

2.2. A P ROBLEMÁTICA DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

A violência nas escolas em Portugal ganhou maior visibilidade sensivelmente na década de 90 com intensa variabilidade, tendo-se tornando tema de discussão política e social, tendo a sua abordagem sido efectuada de duas formas: uma através da comunicação social e outra pelos estudos que lhe são dedicados (Leonardo, 2004:2). Contudo, como afirma João Sebastião “os estudos relativos à violência em meio escolar são recentes e escassos, tendo sido desenvolvidos, sobretudo, no âmbito da psicologia e da sociologia” (Sebastião e outros, 2004:8).

A preocupação por este fenómeno levou à constituição a 16 de Janeiro de 2007 de um Grupo de Trabalho dedicado ao tema “Violência nas Escolas” (GTVE), com vista à promoção de uma séria reflexão sobre as vertentes, abordagens e soluções possíveis em função de cada realidade constatada.

36 Este normativo veio revogar o Despacho n.º 147-/ME/96 de 8 de Julho.

37 Estes vigilantes são recrutados de entre os aposentados ou reservistas fora da efectividade de serviço das

25 Um dos momentos do GTVE consistiu na realização de uma Audição Pública realizada na Assembleia da República, no dia 6 de Março de 2007, subordinada ao tema “Segurança nas Escolas”, onde participaram vários especialistas nesta matéria38.

Nesta sessão interveio Ana Tomás de Almeida da Universidade do Minho, a qual alertou para os cuidados a ter na formulação conjunta de segurança e de violência na escola, pois poder-se-ia “estar a reforçar a ideia de que as escolas, hoje, são contextos onde a situação da violência atingiu limites de enorme gravidade ou de que as instituições escolares não estão a exercer a função social para a qual foram consagradas”39. Esta ideia, à qual a designou de “fantasia social da violência, (…) descredibiliza a imagem social da escola, denigre a confiança pública e a legitimidade política da escola, como elemento central das nossas sociedades”40.

Para a autora, importa perceber que formas a violência assume e quais as mais preocupantes para alunos, professores e pais. Daí que “falar de violência e meter tudo no mesmo saco pode levar a assumir que a solução para enfrentar distintos problemas é a mesma ou só uma”41, o que de facto não é, portanto a necessidade de separação dos comportamentos enquadráveis como violência dos comportamentos enquadráveis como indisciplina, embora a realidade seja que ambos os comportamentos estão juntos na escola. Referiu ainda esta autora que parte dos programas para enfrentar a violência nas escolas passa pela imagem mais positiva e mais preparada dos professores, em novos sistemas de formação atinentes aos novos desafios com que a escola se depara.42

Sobre esta última problemática interveio também Inês Castro, do Agrupamento de Escolas do Monte da Caparica, que reforçou a ideia de formação dos professores para a gestão de conflitos essencialmente verificados nas salas de aula.43

Também nesta Audiência Parlamentar interveio o professor Jorge Santos, da Federação Nacional de Sindicatos da Educação, o qual alertou para a desvalorização da actuação profissional de muitos docentes trazendo como consequência a diminuição da auto-estima da profissão, não sendo claro esse o único meio. Defendeu ainda a passagem

38 Relatório Final produzido em Abril de 2007, pela Deputada Fernanda Asseiceira, disponível em

http://app.parlamento.pt/forum/pub/GetDoc.aspx?NomeFich=Doc_115.pdf, acedido em 17-09-2009. 39 Idem, p.29. 40 Idem, p.30. 41 Idem, p.30. 42 Idem, p.34. 43 Idem, p.71.

26 dos actos entendidos como violentos contra professores deixassem de ser crimes particulares ou semi-públicos para passarem a ser considerados de crime público44.

Segundo o Procurador-Geral da República (PGR) Fernando Pinto Monteiro (2009), referindo-se às agressões dos alunos aos professores, refere que a violência nas escolas apareceu porque “as escolas e os conselhos executivos não a participavam como deviam participar”,45 nem mesmo os professores que eram ofendidos o faziam, apontando a massificação do ensino, a quebra de valores, a degradação das causas económicas, a quebra do respeito tradicional ao professor, as tentativas de desculpabilização do aluno e acima de tudo, o sentimento de impunidade criado, como elementos motivadores deste fenómeno. Ainda segundo o PGR, o fenómeno da violência nas escolas “mina os alicerces de uma sociedade democrática e não é um pequeno ilícito”46, funcionando como uma espécie de embrião para níveis mais graves de criminalidade47, razão pela qual seleccionou este fenómeno como uma prioridade de investigação no âmbito da nova Lei-Quadro da Política Criminal48.

Assim em cumprimento com a Lei-Quadro da Política Criminal, a Assembleia da República definiu como objectivos gerais da política criminal, a prevenção, a repressão e a redução da criminalidade, promovendo a defesa de bens jurídicos, a protecção das vítimas e a reintegração dos agentes do crime na sociedade49, bem como elencou quais os crimes de prevenção e de investigação prioritária. A nível da prevenção, dos crimes contra pessoas, destaca-se em primeiro lugar os crimes de “ofensa à integridade física contra professores, em exercício de funções ou por causa delas, e outros membros da comunidade escolar”50. Quanto ao nível da investigação este crime aparece em segundo lugar, logo após o homicídio51, o que demonstra desde logo a vontade de uma resposta rápida para uma resolução deste fenómeno.

44 Idem, pp. 57-59. Nota: De realçar que os crimes contra os professores são crimes de natureza semi-pública

ou pública, dependendo do crime que foi praticado, conforme foi referido anteriormente.

45 De acordo com a entrevista de S. Ex.ª o Procurador-Geral da República Fernando Pinto Monteiro,

concedida ao Analítico Periódico “Ordem dos Advogados”, publicada no n.º 53 – Abril de 2009, p. 29.

46 Idem.

47 Junho de 2008 – Fonte: http://www.smmp.pt/?1274 – Acedido em 14-09-2009.

48 A política criminal é uma medida política assente nos pilares da prevenção e da repressão como ferramenta

que pretende regular a ordem na sociedade, e tem “por objectivos prevenir e reprimir a criminalidade e reparar os danos individuais e sociais dela resultantes, tomando em consideração as necessidades concretas de defesa dos bens jurídicos (Artigo 4.º da Lei n.º 17/2006, de 23 de Maio).

Segundo Von Liszt (cit in Dias e Andrade, 1997:93), a política criminal é um “conjunto sistemático dos princípios fundados na investigação científica das causas do crime e dos efeitos das penas, segundo os quais o estado deve levar a cabo a luta contra o crime por meio da pena e das instituições com esta relacionada”.

49 Artigo 1.º da Lei n.º 38/2009 de 20 de Julho. 50 Artigo 3.º n.º 1 da Lei n.º 38/2009 de 20 de Julho. 51 Artigo 4.º n.º 1 a) da Lei n.º 38/2009 de 20 de Julho.

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CAPÍTULO III

PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E OS INSTRUMENTOS DE ACÇÃO