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Romulo Fróes: o Porta-voz da Nova MPB

3 CARTOGRAFANDO A CONTROVÉRSIA DA NOVA MPB

3.1 O Surgimento da Nova MPB

3.1.2 Romulo Fróes: o Porta-voz da Nova MPB

A revista Bravo!, da Editora Abril, portanto, assume as ações de mediação da nova MPB e publica em seu blog no ano seguinte (2009), o texto ―A nova música brasileira e seus

novos caminhos‖, do cantor e compositor paulista Romulo Fróes, apontado na revista como um dos representantes da nova MPB. Romulo Fróes publica textos sobre música brasileira desde 2007, tais como releases para lançamentos de discos pela gravadora independente YB Music e textos críticos sobre cantoras, músicos, projetos e discos, atuando como o principal ―porta-voz‖ de sua geração, falando pelo grupo, definindo regras e justificando sua existência. Assim traçou pontos comuns entre os artistas que surgiram na música brasileira nos anos 2000, no texto para o blog da revista, e descreveu convenções e práticas de produção dos artistas contemporâneos, especificamente a qualidade sonora das gravações, como justificativa de singularidade em sua geração:

O artista de hoje produz seu disco, porque afinal conquistou essa liberdade e também porque, em última instância, é a única maneira de fazê-lo. Por isso seu conhecimento de todas as etapas, da captação à edição e chegando mesmo até sua fabricação. (...) Com o avanço da tecnologia, a experiência e o acesso a novos recursos de gravação, abriu-se aos artistas um vocabulário de produção artística, a meu ver inédito na música brasileira. É muito comum hoje, um jovem artista falar de seu trabalho mais do ponto de vista técnico, do que das questões artísticas de sua obra (...) É um fato relevante, pra não dizer histórico, que aconteça de novos artistas se envolverem profundamente com o processo de gravação, tendo mesmo um interesse verdadeiro por seus aspectos técnicos. (FRÓES, 2009).

Romulo Fróes contesta o termo nova MPB, questionando a preocupação geral sobre a nova geração de artistas estar ou não à altura da tradição brasileira, se ela é capaz de criar algo inédito e original na música popular brasileira, alegando que essas questões não são tão importantes quanto a contínua produção de arte, e que se os novos artistas sofrem grandes e diversas influências artísticas, cabe a eles aceitá-las e dominá-las. Para Fróes, o conceito de novidade já nasce datado e a palavra novo é questionável em sua geração porque talvez ―não seja aplicável ao que vêm fazendo, mas sim ao modo ‗como‘ vêm fazendo‖ (FRÓES, 2009), pois se apresenta mais com o desenvolvimento técnico de produção musical, que uso ideológico ou inovação estética das canções. Dessa maneira, a inovação e ruptura na arte para Fróes ocorre no campo da estética, separado de sua perspectiva técnica e material (esse aspecto será trabalhado com profundidade no próximo capítulo).

Utilizando a palavra geração para se referir aos artistas, os textos de Fróes costumam ser pautados pela busca do novo estético e/ou singularidades em sua geração, tendo em vista que os aspectos técnicos em sua visão não garantem inovação e ruptura, revela tentar encontrar indícios de algumas renovações na nova música brasileira, reconhecendo em alguns nomes atuais projetos de atualização da música brasileira, como no disco de estreia da cantora

e compositora paulista Céu (Céu_2005), e no segundo disco do músico Curumin (JapanPopShow - 2008).

Céu quer o novo. E se armou para isso no seu disco de estreia. Céu_2005 traz nos créditos nomes de músicos e artistas que vem lidando com novas informações dentro da música brasileira, incorporando novos sotaques a ela, aprendido de estilos musicais como o Hip Hop, Afrobeat (estilo criado da fusão do jazz com música africana) e o Dub (uma derivação do Reggae). Fazem parte desta cena artistas como a Nação Zumbi, Instituto, Beto Villares, Curumin, Z‘Africa Brasil e Lucas Santtana, entre outros. (...) O primeiro que chama atenção é o som desenvolvido nele... (FRÓES, 2007).

Curumin faz parte de uma geração com total acesso às tecnologias de gravação e tem mesmo, apreço pelo ofício. Pesquisa modos de captação, estilos de produção, equipamentos, instrumentos, novos e antigos. Junto a seus grandes parceiros, Gustavo Lenza e Lucas Martins, é responsável pelo fenomenal som do disco, um dos melhores já produzidos na música brasileira e que certamente virará referência de produção daqui pra frente. (FRÓES, 2008).

Nos textos de Romulo Fróes, os artistas-produtores, que se familiariza com os aspectos técnicos da música, com as novas tecnologias de captação e gravação de áudio, que gravam seus próprios discos e divulgam na internet são os principais atores na renovação da música brasileira, e que será a partir das contribuições desses novos artistas que a música brasileira começará a ganhar outra forma. Parte das contribuições dos novos artistas - e agora pensando que como representante da nova MPB, Romulo Fróes fala também de si em seus textos - são encontradas nas próprias ações de Fróes quando produz discos e atua como crítico musical escrevendo sobre música. Todas as publicações de Fróes se encontram disponíveis em seu site oficial (www.romulofroes.com.br), fazendo do próprio site um mediador dos seus pontos de vista, como também o site da gravadora YB Music, onde pode-se ler os releases dos discos produzidos por ele, e na página online da revista Novos Estudos, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEPRAP).

Se na escrita de Romulo Fróes existe também narrativas de nostalgia restauradora, na MPB como sinônimo da verdadeira tradição musical brasileira, e de nostalgia reflexiva, na descrição das novas habilidades individuais dos músicos contemporâneos quando se trata dos aspectos técnicos e de como lidam com novas informações musicais nas composições das músicas, ele não faz comparações entre os novos e velhos artistas e também não repete convenções ou costumes estabelecidos para a MPB. O que o cantor e compositor paulista traduz em seus textos é o contexto contemporâneo de produção musical e como uma nova geração de músicos encontra-se articulada a ele, sem mencionar a aceitação de ser classificado como nova MPB por jornalistas.