• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 REVISÃO DE LITERATURA

1.4 Síntese do Capítulo 1

A preocupação com a história da extração seletiva de madeiras nativas iniciou na época da Bíblia com a proibição de corte de árvores frutíferas, por servirem de alimento ao homem (Deuteronômio 20:19). Em um segundo momento ocorreu a exploração do Pau Brasil no Brasil para abastecer Portugal de madeira para construção de imóveis e embarcações e tingimento de tecidos.

A ocupação desordenada do litoral do Brasil e a exploração de Pau Brasil provocaram os primeiros sinais de desmatamento. Diante disso, a Coroa Portuguesa estabeleceu que as florestas eram suas propriedades, limitou a exploração do Pau Brasil e de outras espécies como tapinhoã e mangue vermelho e permitiu a extração das árvores somente com autorização das Câmaras Municipais. Os outros ciclos econômicos existentes no Brasil como o cultivo de cana-de-açúcar, pecuária e a mineração também contribuíram com o desmatamento brasileiro.

O contrabando de madeira já ocorria nessa época e era realizado por estrangeiros e pela própria Coroa. Diante desse fato, a Coroa criou as Capitanias Hereditária para conter a extração ilegal do Pau Brasil. Em anos posteriores, foi criado a Autorização de Transporte de Produtos Florestais (ATPF) disponibilizada em papel para controle da produção de madeira no Brasil. Posteriormente a ATPF foi substituída pelo Documento de Origem Florestal (DOF), disponibilizada em formato eletrônico. Em Mato Grosso, a produção de madeira é controlada pela Guia Florestal, disponibilizada pelo SISFLORA.

A extração seletiva de madeiras é uma atividade na qual poucas árvores são selecionadas e extraídas da floresta. No desmatamento, ao contrário da extração seletiva, são extraídas todas as árvores da floresta de maneira rápida e completa da vegetação. Nesse caso a área será utilizada para agricultura ou pecuária. Os maiores impactos causados na floresta são provenientes do desmatamento ao ser comparado a degradação por extração seletiva. A extração seletiva é originada de manejo florestal ou de planos de exploração florestal (desmatamento).

A degradação florestal consiste na remoção do dossel da floresta de forma definitiva ou temporária, deixando a floresta ainda de pé. A degradação causada pela extração seletiva resulta em impactos em maior ou menor extensão conforme a intensidade de exploração, frequência de extração da madeira e das técnicas de extração. A extração seletiva de madeira resulta na abertura de clareiras e da fragmentação, diminuindo o número de manchas florestais, fazendo com que o material verde seque, favorecendo a ocorrência de incêndios na floresta. Em geral a extração seletiva fornece capital para o desmatamento em anos posteriores a degradação.

As áreas de extração seletiva são difíceis de se detectar por satélites, pois o impacto causado na floresta deve ser grande e a exploração ser realizada em anos mais recentes. A extração apresenta padrão espinha de peixe (pátios de estocagem de madeira irradiam das estradas florestais), com evidências de estradas, pátios de estocagem, ramais de arraste e clareiras provenientes do corte de árvores. Na extração legal, a exploração apresenta características de simetria e de planejamento da infraestrutura de exploração. No entanto, a extração ilegal é ainda mais difícil detectar por satélite, pois a infraestrutura de exploração é mínima e a extração é realizada de forma rápida, provocando danos que não são visíveis pelo satélite. Outras vezes a extração ilegal possui padrão anárquico e com maiores danos ao dossel.

Na extração seletiva legal, as áreas de florestas são exploradas seletivamente com autorização de exploração emitida pelo órgão ambiental competente. Já a extração ilegal

ocorre quando a exploração acontece dentro de áreas de preservação permanente, terras indígenas e unidades de conservação. Outros exemplos são a violação das leis relacionadas ao manejo florestal, a exploração florestal, aos direitos das populações tradicionais, e também ao não cumprimento de contratos entre agentes públicos e/ou particulares, além do não pagamento de taxas e entre outros.

Com base em artigos encontrados na literatura sobre a extração seletiva de madeiras, obteve-se a principal inovação da tese que foi estimar a ilegalidade da madeira utilizando áreas de floresta explorada seletivamente detectadas por satélite e dados georreferenciados da SEMA. Além disso, estimou-se a produção de madeira em tora utilizando a intensidade de exploração de 27,14 m3.ha-1 e o volume de madeira em tora transportado dentro do estado de Mato Grosso reportado pela SEMA.

CAPÍTULO 2 - DINÂMICA DA EXTRAÇÃO SELETIVADE MADEIRAS NO ESTADO DE MATO GROSSO ENTRE 1992 E 2016

RESUMO

Neste capítulo, foi avaliada a dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso a partir de uma série histórica (1992 a 2016) de detecção de florestas nativas impactadas por essa atividade utilizando dados de sensoriamento remoto. Imagens Landsat, interpretação visual e classificação semiautomática com filtro textura foram utilizadas para detectar florestas impactadas por atividades de extração seletiva de madeiras na área de estudo. Com base nos resultados deste estudo, estima-se que 41.926 km2 de florestas nativas foram exploradas pelo menos uma vez entre 1992 e 2016 no estado de Mato Grosso, uma média de 1.747 km2.ano-1. As áreas de extração seletiva recorrentes também foram mais frequentes nos anos mais recentes desta análise. Não foi possível comprovar a hipótese de que a extração seletiva é precursora do desmatamento, uma vez que 95% das florestas exploradas seletivamente ainda permaneceram na área de estudo. Observou-se também que uma média de 18 km2.ano-1 e 268,18 km2.ano-1 de florestas foram exploradas seletivamente dentro de UC e TI, respectivamente, entre 1992 e 2016, porém não foi observada a tendência de aumento da extração seletiva nessas áreas protegidas no período analisado. Os polos de exploração seletiva de madeira se deslocaram nos últimos anos de análise para a última fronteira florestal nativa de Mato Grosso. Por fim, conclui-se que é preciso repensar nas estratégias de desenvolvimento e sustentabilidade futura do setor florestal de madeira nativa em Mato Grosso.

Palavras-chave: Extração seletiva. Boom e bust. Mato Grosso. Sensoriamento Remoto. Sistema de Informações Geográficas

ABSTRACT

In this chapter, we aimed to understand the space-temporal dynamics of selective logging activities in the state of Mato Grosso based on a historical series (1992 to 2016) of mapping selectively logged forests using remotely sensed data. I used Landsat imagery, visual

interpretation, and a semi-automatic detection technique (texture algorithm) to detect forests impacted by selective logging activities in the study area. Based this study results, I estimated that 41,926 km2 of native forests had been selectively logged between 1992 and 2016 in the state of Mato Grosso, which corresponds to an average of 1,747 km2.year-1. The recurrent selective logging activities were more frequently observed in the recent years of this analysis. It was not possible to prove the hypothesis that selective logging is precursor of deforestation, because 95% of the selective logged forest still remained in the study area. I also observed that an average of 18 km2.year-1 and 268.18 year-1 of native forests had been selectively logged within Conservation Units (CU) and Indigenous Land (IL), respectively, between 1992 and 2016. There was no growth trend of selective logging within those protected areas (CU and IL) in the period of analysis. I observed that the timber centers have recently migrated to new native forest frontiers in the state of Mato Grosso, spatially located in microregion of Colider and Aripuanã, which is closer to border between the states of Mato Grosso and Pará. Finally, I would recommend further insights regarding new strategies of sustainable development of the forest sector in the Mato Grosso, especially at this time that the last selective logging frontiers have been reached by loggers.

Keywords: Selective logging. Boom and collapse. Mato Grosso. Remote Sensing. Geographic Information System.