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A SEGUNDA CISÃO: A FORMAÇÃO DO COLÉGIO DE GRÃO-MESTRES DA MAÇONARIA BRASILEIRA – ATUAL CONFEDERAÇÃO MAÇÔNICA DO BRASIL

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 71-77)

PARTE II – FUNDAÇÃO E HISTÓRIA DA MAÇONARIA BRASILEIRA 2 COMO A MAÇONARIA SURGIU E ESTÁ ORGANIZADA NO BRASIL?

2.3 A SEGUNDA CISÃO: A FORMAÇÃO DO COLÉGIO DE GRÃO-MESTRES DA MAÇONARIA BRASILEIRA – ATUAL CONFEDERAÇÃO MAÇÔNICA DO BRASIL

(COMAB)

Uma nova (e última) grande ruptura institucional ocorreu no Grande Oriente do Brasil em 1973. Após a cisão de 1927, esta divisão marcaria definitivamente o número de potências maçônicas existentes no país em três. Para compreender como houve tal cisão, se faz necessário olharmos para a história, a fim de que

possamos verificar os processos que a ocasionaram, além é claro do desenvolvimento pós-origem deste novo organismo maçônico: o Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira, posteriormente batizado de Confederação Maçônica do Brasil – ou simplesmente COMAB.

O início das contendas envolvendo os integrantes do GOB ocorreu a partir das ações de parte da maçonaria paulista, que veiculou um informativo contra o Grão-Mestre da época, Moacyr Arbex Dinamarco, acusando a existência de grupos comunistas infiltrados na potência. Um dos expoentes desta acusação foi o maçom Félix Cotaet, tendo Danilo José Fernandes como um dos protagonistas do movimento de ruptura (CASTELANI & CARVALHO, 2009).

Após a eleição de Danilo José Fernandes para o grão-mestrado de São Paulo, o grupo que havia publicado o informativo veiculando as notícias sobre possíveis comunistas infiltrados – liderado por Félix Cotaet, continuou a sustentar tal afirmação. Cotaet acabara sendo expulso da instituição, mas a crise permaneceria em 1971, ano eleitoral para Grão-Mestre geral do Grande Oriente do Brasil, ou seja, de relevância política interna da organização (SCHÜLER, 1998).

Como o Grão-Mestre (Moacyr Arbex Dinamarco) indicou os membros de seu mandato – e, a maioria deles eram eleitores, havia uma pequena possibilidade de um candidato oposicionista vencer o pleito. Danilo José Fernandes se posicionou contrariamente à Dinamarco e, em 19 de abril de 1972, houve o lançamento das candidaturas de Athos Vieira de Andrade (Minas Gerais) e Raphael Rocha (Rio de Janeiro), para os cargos de Grão-Mestre e Adjunto, respectivamente, nas eleições que seriam realizadas em 1973 (SCHÜLER, 1998).

Mesmo com o lançamento da candidatura desta chapa oposicionista, Danilo José Fernandes teve os direitos maçônicos suspensos em 9 de maio de 1972, sob a justificativa de que o Grande Oriente de São Paulo não havia pago as dívidas existentes com o poder central do GOB. Iniciou-se uma disputa jurídica envolvendo a maçonaria paulista e o Grande Oriente do Brasil, terminando em uma das varas cíveis do Rio de Janeiro (SCHÜLER, 1998).

Apoiavam a chapa oposicionista nas eleições de 1973 para o GOB os seguintes Grão-Mestres estaduais:

Danylo José Fernandes, Grão-Mestre do Grande Oriente de São Paulo;

Enoch Vieira dos Santos, Grão-Mestre do Grande Oriente do Paraná;

Miguel Christakis, Grão-Mestre do Grande Oriente de Santa Catarina;

Frederico Renato Móttola, Grão-Mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Sul; Gumercindo Inácio Ferreira, Grão-Mestre do Grande Oriente de Goiás; Manuel Paes de Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente de Pernambuco; Salatiel de Vasconcellos Silva, Grão-Mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Norte; Celso Fonseca, Grão-Mestre do Grande Oriente de Brasília; Cyro Werneck de Souza e Silva, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. (CARVALHO, 2010, p. 54-55)

Diante de esta chapa oposicionista contar com importantes apoios no período eleitoral, o Grão-Mestre do GOB decide lançar como situacionistas Osmane Vieira de Resende (que era Grão-Mestre Adjunto, uma espécie de Vice-Grão-Mestre), para Grão-Mestre, e Osiris Teixeira, de Goiás, Senador da República, como candidato a Grão-Mestre Adjunto.

Schüller (1998) lembra que durante o período eleitoral, diversas honrarias foram concedidas pelo comando do Grande Oriente do Brasil, em apoio a chapa de Osmane Vieira de Resende:

Foram despejadas 575 honrarias, das quais 151 Beneméritos da Ordem; 29 Grandes Beneméritos da Ordem; 44 Beneméritos da Ordem; 13 Grandes Benfeitores da Ordem; 300 medalhas de sesquicentenário; 18 Estrelas da Distinção Maçônica; 04 cruzes de Perfeição Maçônica; 08 Reconhecimentos maçônicos; 03 Membros Honorários do Grande Oriente do Brasil e 05 Membros Honorários do Instituto Maçônico de Estudos Superiores.

(SCHÜLER, 1998, p. 215)

Além da concessão de condecorações aos maçons (e, portanto, eleitores do pleito vindouro), diversas foram atribuídas a militares e políticos. Outra estratégia relativa à disputa vindoura foi o perdão das dívidas de lojas maçônicas. Segundo os dados oficiais presentes nos Atos nº 3.459 e nº 3.492, de 14 de novembro e de 20 de dezembro de 1972, respectivamente, 517 “perdões” foram concedidos pelo poder central do GOB (SCHÜLER, 1998).

Após as eleições, Osmane obteve 2.129 votos, contra 1.107 de Athos; do mesmo modo, Osiris Teixeira venceu Raphael Rocha por 2.046 votos a 1.180 votos.

Entretanto, estes números não foram considerados “oficiais” em relação ao anunciado após o pleito: Athos obteve 7.175 votos e Osmane 3.820; Raphael fez 7.195 votos contra 3.794 para Osiris. Pelo exposto, houve grande diferença para

cada resultado. Este fator deve-se à anulação de mais de 6 mil votos de Athos Vieira de Andrade contra cerca de 2 mil votos de Osmane (CARVALHO, 2010).

Nas duas situações, a anulação ocorreu por alguns motivos relatados por Schüller (1998), tais como a nulidade pelo número de votantes (com menos de sete maçons votantes na sessão de eleição), por falta de autenticação da lista de votantes, por cadastro maçônico vencido, por recebimento dos votos fora do prazo e por dívidas de lojas maçônicas com o poder central do GOB.

Depois da anulação de mais de 70% (setenta por cento) dos votantes, a crise político-institucional estava deflagrada novamente no Grande Oriente do Brasil.

Diante deste desgaste, em 27 de maio de 1973, uma carta lavrada no Rio de Janeiro conclamou que os integrantes das lojas maçônicas dos Estados que apoiaram a chapa de Athos Vieira de Andrade pudessem concentrar esforços em torno dos organismos estaduais, dispensando atenção ao poder central (SCHÜLER, 1998).

Decidiu-se, portanto, em 04 de agosto de 1973, fundar oficialmente o Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira, após a convocação de Athos Vieira de Andrade e a adesão dos Estados de São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Além dos líderes de cada destacamento estadual, vale ressaltar que 643 lojas maçônicas do país acompanharam tal decisão, demonstrando o descontentamento do ocorrido no pleito eleitoral (SCHÜLER, 1998).

Interessante notar é que, em virtude da formação deste Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira, os primeiros presidentes eram os expoentes da crise político-institucional que atravessara o Grande Oriente do Brasil, como podemos observar:

Athos Vieira de Andrade (Minas Gerais) 1973/1975 Osmar Maia Diógenes (Ceará) 1974/1975

Danylo José Fernandes (São Paulo) 1975/1976

Frederico Renato Móttola (Rio Grande do Sul) 1976/1977 Enoch Vieira dos Santos (Paraná) 1977/1978

Nilson Constantino (Mato Grosso) 1978/1979

Armando de Lima Fagundes (Rio Grande do Norte) 1979/1980 Miguel Christakis (Santa Catarina) 1980/1981

Raimundo Ferreira Marques (Maranhão) 1981/1982 José Menezes Junior (São Paulo) 1982/1983 Djalma Marques de Melo (Pernanbuco) 1983/1984

Willian Atallah (Mato Grosso do Sul) 1984/1985

A partir de 1973, o Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira passou a intensificar as ações e, em face da consolidação institucional comprovada pela

Os objetivos da fundação da Confederação Maçônica do Brasil são:

a) Representar, de forma confederada, as Potências e Obediências filiadas, mediante deliberação específica, perante as organizações, de maçons do país e do estrangeiro, e perante o mundo profano, tendo em vista a grandeza, a harmonia e a glória da Maçonaria;

b) Congregar as Obediências no estudo da Filosofia, História, Liturgia e Simbologia Maçônica, induzindo-as à prática da filantropia, do civismo, do desenvolvimento científico, cultural e artístico e ao aprimoramento moral das sociedades sob sua circunscrição;

c) Colaborar com as autoridades legitimamente constituídas no sentido da ordem, do progresso e do bem-estar da população brasileira;

d) Incrementar a difusão, pelas federadas, da doutrina e dos postulados da Maçonaria universal e do ideal maçônico;

e) Estudar e coordenar medidas que possam interessar aso federados, no sentido da ação maçônica conjunta;

f) Sugerir e estimular instruções maçônicas entre as federadas;

g) Ativar as relações das federadas entre si, e destas, com outras Potências;

h) Manter cursos no campo educativo, científico e assistencial, diretamente ou por intermédio das federadas; conceder bolsas de estudos como pessoa humana útil e produtiva à sociedade; e

i) Manter, em sua sede, biblioteca que contenha departamento público e maçônico, e estimular a criação e o desenvolvimento de organismos similares pelas federadas. (SCHÜLER, 1998, p. 316).

O ideal da fundação da COMAB difere um pouco da estrutura administrativa do Grande Oriente do Brasil: enquanto este possui os Orientes Estaduais subordinados ao poder central, a COMAB apenas filia as potências maçônicas estaduais, conferindo-lhes liberdade e autonomia de ação. Assim, o caráter de confederação é garantido ao sistema proposto pela instituição, diferenciada nitidamente do modelo utilizado no GOB.

Além disso, ficou estabelecido o rodízio da presidência da Confederação Maçônica do Brasil entre os Grão-Mestres dos Grandes Orientes afiliados, isto é, daqueles que integram tal sistema. Esta medida permite que haja a integração entre as instituições maçônicas afiliadas, além de garantir a confederação proposta, sem a interferência nacional em atividades regionais, tampouco o predomínio de grupos políticos no poder – algo visado desde a fundação da COMAB, considerando provavelmente as experiências vivenciadas no GOB na década de 1970 (SCHÜLER, 1998).

Com a formação da COMAB a partir de 1991, eis os Grão-Mestres estaduais que presidiram a instituição:

Milton Barbosa da Silva (Rio Grande do Sul) 1991/1992 Hirohito Torres Lage (Minas Gerais) 1992/1993

João Batista Coringa da Silva (Rio Grande do Norte) 1999/2000 Milton Barbosa da Silva (Rio Grande do Sul) 2000/2001

Plínio Ferreira Marques (Maranhão) 2001/2002

José Aristides Fermino (Rio Grande do Sul) 2009/2010 Rubens Ricardo Franz (Santa Catarina) 2010/2011 José Simioni (Mato Grosso) 2012/2013

Lázaro Emanuel Franco Salles (Minas Gerais) 2013/2014

Jurandir Alves de Vasconcelos (São Paulo) 2014/2015 (COMAB, 2014)

Enquanto instituição, não visualizamos atuação política ou social contundente da COMAB, quando comparada à do início do Grande Oriente do Brasil, por exemplo. A tônica dos trabalhos é praticamente a mesma citada em relação ao GOB, como as questões culturais, internas e assistenciais, ainda que proclamações isoladas reivindiquem melhorias nos aspectos políticos e sociais em relação ao Governo Federal32. Quanto à congregação de potências, atualmente são 21 Grandes Orientes confederados à COMAB, atingindo praticamente todos os Estados da federação (SCHÜLER, 1998).

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 71-77)