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A Segurança sob o olhar do Governo – Programas do XVII e XVIII Governo

CAPÍTULO 3 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA

3.9. A Segurança sob o olhar do Governo – Programas do XVII e XVIII Governo

“Político é a pessoa que deve ser capaz de dizer o que vai acontecer amanhã, no próximo mês e no ano vindouro e de explicar, depois, porque não aconteceu” (Churchill)

A segurança é um direito fundamental “conexionado” com o direito à liberdade e quanto a isso os Programas do XVII e XVIII Governo Constitucional estão em sintonia. O principal objectivo do governo, tanto do XVII como XVIII, é prevenir e reprimir as causas e as consequências da criminalidade. No plano das causas, criando políticas de combate à exclusão social e o tratamento de toxicodependentes. No que diz respeito às consequências, apostar num “policiamento visível, eficaz, de integração e proximidade, orientado para a protecção dos cidadãos em geral e, em particular, das pessoas especialmente vulneráveis, como as crianças, os jovens, os idosos e as vítimas de maus-tratos” (Programa do governo, 2005-2009, p. 147).

O Governo está ciente dos perigos que ameaçam a segurança do Estado e dos cidadãos, nomeadamente, a proliferação de armamento (armas de destruição maciça), o terrorismo internacional, a criminalidade organizada e transnacional, a globalização, a eliminação de fronteiras internas que facilitam a circulação das associações criminosas e o branqueamento de capitais, o fundamentalismo religioso, são um conjunto de novas ameaças que parecem não ter fim.

E será que os governantes estão altura destes mesmos desafios? A questão principal centra-se na necessidade de projectar uma mudança a longo prazo e de querer correr o risco de implementar essas mesmas mudanças, sabendo que irão acontecer ocorrências e períodos em que as coisas vão estar pior. É obvio que quando se faz uma mudança deve-se estar preparado para correr riscos e os políticos têm que ter capacidade de projectar a longo prazo e promover as necessárias mudanças de forma coerente e concertada, não ter medo de arriscar (cf. entrevista, anexo A). No entanto, uns estão altura e outros nem tanto, mas num Estado democrático há sempre uma solução, na escolha através do voto (cf. entrevista, anexo B).

Perante o novo quadro de ameaças à segurança, o Governo Português compromete-se a dar respostas mais eficazes em articulação com a sociedade civil. O conceito de segurança é hoje compreendido numa perspectiva mais alargada, não se cinge apenas a uma única área – segurança rodoviária, (tentar reduzir o número de acidentes com vítimas mortais, eliminando os “pontos negros”), segurança alimentar (garantir a qualidade dos alimentos, reforçando a actuação da Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar) e

segurança ambiental, bem como a prevenção e a minimização das consequências de catástrofes naturais (cheias, incêndios florestais e abalos sísmicos) (Programa do governo, 2005-2009), com a criação de planos de emergência e acções de sensibilização.

O Governo propôs aplicação de novos meios tecnológicos, a instalação do Sistema de Comunicações de Emergência, Segurança e Protecção (SIRESP) com articulação entre as FSS, protecção civil, os bombeiros e a emergência médica; a instalação de videovigilância; melhorar a coordenação entre SSI, SIRP, Sistema de Investigação Criminal e Sistema de Protecção Civil e aperfeiçoar o Sistema Integrado de Informação Criminal. Reforma das polícias municipais e a segurança privada, que “desempenham uma função subsidiária relevante na preservação da segurança das pessoas e das comunidades” (idem, p. 146).

O programa do XVII governo constitucional refere a importância de combater a criminalidade organizada e económico-financeira e para isso é preciso melhorar a investigação criminal articulando os vários órgãos de polícia criminal (por exemplo os Serviços de Informações). Em relação ao terrorismo defende a coordenação entre os Serviços de Informações e o Secretário-geral do SISI, os vários órgãos de polícia criminal e os organismos “congéneres” estrangeiros (idem).

Relativamente ao Sistema de Segurança Interna, no mesmo programa, propõe-se a criação de quadros de pessoal sem funções policiais nas Forças de Segurança (GNR e PSP); a revisão da disposição territorial das Forças de Segurança (GNR e PSP), “conjugando a sua missão de manutenção da ordem pública com o papel de coadjuvação cometido às polícias municipais” (idem, p. 150); celebração de Contratos Locais de Segurança; reforma da Lei de Segurança Interna; no domínio do SIRP, alterar as leis orgânicas do SIS e SIED, tornando-os mais unificados e eficientes.

O governo propõe, a nível internacional, reforçar a sua participação, contribuindo para uma ordem internacional assente num multilateralismo efectivo através da adopção como prioridade a operacionalização do espaço europeu de liberdade, segurança e justiça, do melhoramento do processo de decisão interno em matéria europeia, da concretização da Estratégia de Lisboa (idem), bem como desenvolver a sua estratégia na cooperação com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa e na cooperação transatlântica.

A nível internacional, o cenário é também marcado por um novo tipo de ameaças, riscos e um novo tipo de conflitos. O conceito de segurança regista duas alterações: uma primeira, considerando que a segurança não é, exclusivamente, a segurança dos Estados, é também, a segurança das pessoas: num quadro de Segurança Humana. Uma segunda que defende uma resposta baseada essencialmente na cooperação internacional contra riscos, ameaças e conflitos transnacionais, num quadro de Segurança Cooperativa (idem). Na política de Defesa Nacional, o Governo aponta uma concepção mais larga da segurança e uma concepção mais integrada da política de defesa, tanto a nível estratégico e operacional, como de comando e controlo das missões das Forças Armadas e propõe a sua modernização para se adequarem aos novos tempos e a novos desafios.

A maioria das medidas que o Governo assumiu como importantes para 2005-2009 ao nível da segurança, foram implementadas, mas outras ficaram muito aquém do espectável. Contudo são medidas que não produzem resultados a curto prazo e não podem ser quantificáveis apenas num curto espaço de tempo, é necessário arriscar e criarem-se mecanismos de suporte para no futuro produzirem os devidos resultados.

O novo Governo Constitucional XVIII, não traz muitas diferenças, estabelece algumas medidas novas, mas que vão muito de encontro ao que o anterior governo vinha prosseguindo. Institucionalização de medidas legislativas e operacionais de prevenção e de combate à criminalidade - com aprovação do regime das Forças de Segurança, a criação de extensões especiais da PSP e GNR para reforçar o patrulhamento, a criação de um programa contra a delinquência juvenil e equipas multidisciplinares de apoio às vítimas da criminalidade grave, campanhas de sensibilização e a criação de uma Brigada de Investigação Tecnológica visando o combate à criminalidade cibernética. Reforço do efectivo policial (concursos anuais), melhoria das condições de trabalho e a participação da sociedade civil, continuando a promover a segurança comunitária e o policiamento de proximidade que tem sido a aposta dos últimos governos constitucionais, a criação de um instrumento para a segurança interna, denominado de Estratégia de Prevenção e Redução de Criminalidade, a continuação da celebração de Contratos Locais de Segurança e uma nova reforma nas polícias municipais.

A nível da política de defesa nacional, “Portugal reafirmará o seu empenhamento no desenvolvimento da Política Externa e de Segurança Comum e quer estar na primeira linha da construção da Política Comum de Segurança e Defesa” (Programa do governo, 2009-2013, p. 119), participação das Forças Armadas em missões tradicionais e internacionais de natureza militar e contínua modernização das mesmas.

Como pode ser evidenciado, o programa do actual governo é uma continuação do que foi definido pelo anterior, não acrescentando grandes alterações, mas o importante é que sejam medidas susceptíveis de serem aplicadas e que visem principalmente, potenciar o país num rumo com mais e melhores níveis de segurança.