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Sekhmet nas fontes de carácter mágico

No documento Bastet e Sekhmet : aspectos de natureza dual (páginas 114-117)

2. Bastet e Sekhmet: os testemunhos

2.2. Sekhmet

2.2.5. Sekhmet nas fontes de carácter mágico

Dentro desta tipologia documental, começa-se com um feitiço contra o mau olhado: «A flecha de Sekhmet está em ti, a magia heka (ḥkȝ) de Tot está no teu corpo, Ísis amaldiçoa-te, Néftis castiga-te, a lança de Hórus está na tua cabeça. Eles tratam-te/curam-te repetidamente, tu que estás na fornalha de Hórus em Chenuet, o grande deus que reside na Casa de Vida! Ele cega os teus olhos, ó todos vós pessoas (rmṯ), todos os nobres (pˁt), todas as pessoas comuns (rḫyt), todas as pessoas do sol (ḥnmmt) e assim por diante, que vai lançar um mau olhado (ỉrt

bỉnt) contra Padiamonnebnesuttaui nascido de Mehtemuesekhet, de qualquer forma má ou

ameaçadora! Serás morto como Apópis, vais morrer e não viverás para sempre»402.

Do «Livro do último dia do ano» tem-se: «Ó Sekhmet, a grande, senhora de Acheru! (...) Ó Olho de Ré, senhora das Duas Terras, governante da Ilha de Fogo! (...) Ó glorioso Olho de Hórus, senhora do vinho! (…) Saudações a vós (...), assassinos (ḫȝyty) que esperam Sekhmet, que vieram do Olho de Ré, mensageiros (wpwty) presentes em todo o lado nos distritos, que trazem o massacre, que criam o tumulto, que se apressam pela terra, que disparam as suas flechas pela boca, que vêem de longe! Sigam o vosso caminho, mantenham-se distantes de mim! Continuem, vós, eu não vou convosco! Vós não tendes poder sobre mim, vós não me dareis ao/a [texto em falta], vós não [texto em falta] sobre mim de forma a [texto em falta] os

399 SALES, J. C., «Hórus». Dicionário do Antigo Egipto, pp. 433-435. 400 GERMOND, TE, pp. 83-87.

401 Tal como nas fontes mágicas para Bastet, também aqui se mantiveram as transliterações usadas pelo autor. 402 BORGHOUTS, J. F., Magia, p. 2.

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vossos esforços (?). Vós não ireis entregar-me a nenhuma desgraça (ṯmsw) deste ano. Pois eu sou Ré, que aparece no seu olho! Eu surgi como Sekhmet, eu surgi como Uadjit (...). Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Pé! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Dep! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Letópolis! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Heliópolis! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Busíris! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Abido! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais em Kheriaha! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais no céu! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais na terra! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais na planície (šȝ)! Eu não vou cair no vosso massacre, vós que estais nas margens (ḥtrw) do rio! Olá, jovem terrível (ḥwnwty nrw) [texto em falta] o chefe dos demónios errantes (šmȝyw) [texto em falta] no [texto em falta] ano. Uadjit está apaziguada! O ataque dos que estão entre os demónios errantes vai passar, eles que [texto em falta] feitos para aquele/a cujo nome é oculto. (...) Hórus, descendente de Sekhmet, coloca-te por detrás da minha carne, para que seja mantida inteira para a vida! Palavras para serem ditas sobre um pedaço de linho fino. Estes deuses devem ser desenhados nele e devem ser feitos doze nós. Devem ser oferecidos pão, cerveja e incenso ardente. Para ser aplicado na garganta de um homem. Um meio de salvar um homem da praga (ỉȝdt) do ano; um inimigo não terá poder sobre ele. Um meio de aplacar os deuses no séquito de Sekhmet e Tot. Palavras para serem ditas por um homem desde o último dia até ao primeiro dia do ano, no festival Uag e na aurora do festival Ernutet»403.

Feitiço para apagar o sopro (?) (ṯȝw) da praga (ỉȝdt) do ano: «(...) eu estou sob a autoridade daquele que toma posse do grande, ó filho de Sekhmet, poder dos poderes, filho de uma assassina (ḫȝyty), furioso (dnd <n>) (...), possas tu viajar no Nun, possas tu viajar na barca diurna - quando apenas tu me salvaste de qualquer vexação (dḥrt) e por aí adiante, deste ano, na forma de uma brisa (nfwt) de qualquer sopro maligno. Hórus, descendente de Sekhmet, coloca-te por detrás do meu corpo, para que seja mantido inteiro para a vida! Palavras para serem ditas sobre um par de plumas de abutre. Afagando um homem com elas. Para ser aplicado como protecção (sȝw) para ele, para qualquer local que vá. É uma protecção contra os efeitos do ano. É algo que afasta a vexação num ano de praga»404.

Outro para afastar o sopro da vexação (dḥrt) dos assassinos (ḫȝyty) e incendiários (nḏsty), os emissários (wpwty) de Sekhmet: «Retirem-se assassinos! Nenhuma brisa irá alcançar-me para que os transeuntes (swȝw) passem, para se enfurecerem contra a minha cara.

403 Idem, pp. 12-14. 404 Idem, pp. 14-15.

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Eu sou Hórus que passa pelos demónios errantes (šmȝyw) de Sekhmet. Hórus descendente de Sekhmet! Eu sou o único (wˁty), o filho de Bastet. Eu não vou morrer por vossa culpa! Palavras para serem ditas por um homem com uma clava de madeira dés (ds) na mão. Deixem-no ir para o exterior e circundar a sua casa. Ele não morrerá pela praga do ano»405.

Outra protecção contra a praga do ano: «Regozijo e júbilo (hy hnw)! Não levem este meu coração (ỉb), este meu peito (ḥȝty) para Sekhmet! (...) Ó assassinos (ḫȝyty) que pertenceis aos que estão no séquito do ano e da sua adenda (ẖr.t)! Hórus descendente de Sekhmet, coloca- te por detrás da minha carne, para que seja mantida inteira para a vida! Palavras para serem ditas sobre Sekhmet, Bastet, Osíris e Nehebkau, desenhados em mirra numa faixa de linho fino. Para ser aplicado na garganta de um homem, de forma a não deixar que um burro (?) entre nele por causa d'aquele que é belo (nfrỉ), ou que um peito verde salte (bsbs) para mim»406.

Feitiço para purificar qualquer coisa durante a praga/peste: «Que os teus emissários (wpwty) sejam queimados, Sekhmet! Deixa os teus assassinos (ḫȝyty) retirarem-se, Bastet! Que nenhum demónio do ano (rnpt) passe para se enfurecerem contra a minha cara. A tua brisa (nfw.t) não vai chegar até mim! Eu sou Hórus, sobreposto (ḥr) aos demónios errantes (šmȝyw), ó Sekhmet. Eu sou o teu Hórus Sekhmet. Eu sou o teu único, Uadjit! Eu não vou morrer por vossa culpa. Eu sou aquele que rejubila. Eu sou o jubilado, ó filho de Bastet! Não caias sobre mim ó devorador (wnmw)! Desgrenhados (spspw) não caiam sobre mim, não se aproximem de mim, eu sou o rei dentro do seu santuário (ḥȝyt)! Um homem dirá este feitiço sobre ... (ḥȝt-nfrt) atado a um pouco de madeira dés, enrolado (nb[ȝ]) num pedaço de tecido ḥȝȝ. Deve ser feito para escovar ao longo dele. Um meio de afastar a praga, de repelir a passagem de assassinos sobre tudo o que é comestível, bem como sobre um quarto»407.

Outro: «Uma planta šȝms está em mim, o horror dos teus seguidores! Agora os teus errantes (šmȝyw) irão poupar-me; o caçador (sḫty) com a tua rede (ỉȝdt) irá poupar-me. Eu sou alguém que escapou dos teus pássaros! Hórus, descendente de Sekhmet, coloca-te por detrás da minha carne, para que seja mantida inteira para a vida! Um homem dirá este feitiço depois de colocar uma planta šȝms na sua mão»408.

Invocação do deus do sol contra um crocodilo: «(...) Ó habitantes da água, as vossas bocas são fechadas por Ré, as vossas gargantas são sufocadas por Sekhmet»409.

405 Idem, p. 15. 406 Idem, p. 16. 407 Idem, p. 17. 408 Idem, p. 17. 409 Idem, p. 86.

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«L’autre forme de Sekhet [sic], qu’on nomme Bast ou

Beset, personnifie la paix dans le ciel et sur la terre. Elle

est la chaleur qui vivifie. Elle est la déesse tranquille, la déesse de la mansuétude et de la cohésion. Sekhet, au contraire, tue avec le glaive, sème la désolation sur la terre».

Auguste Mariette, Dendérah, VI, p. 183.

No documento Bastet e Sekhmet : aspectos de natureza dual (páginas 114-117)