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A seleção para entrada de alunos com vistas ao desempenho e à aprendizagem

2 FATORES QUE TÊM POSSÍVEL INFLUÊNCIA NO SUCESSO ESCOLAR DOS

2.1 DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1.1 A seleção para entrada de alunos com vistas ao desempenho e à aprendizagem

Há uma discussão entre teóricos da educação que destacam que os processos de seleção na matrícula escolar favorecem um sistema de segregação que resulta em sucessos e fracassos escolares. Aliado a isso, abordam a questão financeira, ligada ao capital cultural com fator importante no desempenho dos alunos e os respectivos resultados escolares. Sobre isso, Soares e Collares (2006, p. 616) afirmam que “o sucesso escolar dos estudantes está associado a características inatas a estes e, principalmente, às oportunidades que lhes são oferecidas pela família e pela sociedade em geral”. Contrapondo esse pensamento, Charlot

(1996) destaca que alguns alunos, mesmo nas condições desfavoráveis e pertencendo a classes mais pobres, alcançam o sucesso escolar. O autor faz referência que “se, afinal, é fácil mostrar porque não é tão surpreendente que as crianças de meios populares fracassem, ficamos sem explicação diante daquelas que obtêm sucesso” (CHARLOT, 1996, p. 48).

Nos estudos de Nogueira (1990) e Forquin (1995), é reforçado o conceito de que os efeitos da família e das habilidades individuais dos alunos são maiores em relação aos efeitos das escolas para explicar as diferenças de aprendizagem.

Sobre essa questão, Kolisnki e Carvalho (2015) discutem as políticas de seleção de escolas; inicialmente apresentam o modelo inglês adotado a partir de 1988 de school choice e a carta escolar, dispensando a livre escolha dos estabelecimentos de ensino pelos pais, do zoneamento e das habilidades dos alunos.

Outro modelo abordado por Kolisnki e Carvalho (2015, p. 921) é o sistema de voucher adotado no Chile, em que “as famílias podem optar por quaisquer escolas, sejam públicas ou privadas subvencionadas”. As autoras ainda apresentam o modelo francês, com o sistema carte scolaire, e, semelhantemente a este, o sistema alemão – todos submetidos às regras do zoneamento, ou seja, a matrícula escolar estava subordinada ao local de residência da criança.

No Brasil, conforme o parágrafo 2 do artigo 8º da LDB n.º 9394/96, os sistemas de ensino têm liberdade de organização, estando a política de matrícula escolar inserida neste contexto. De um modo geral, “estados e municípios adotam procedimentos de matrícula que alocam alunos nas escolas com base no local de moradia” (KOLISNKI E CARVALHO, 2015, p. 923), a partir de um cadastro prévio em sistema integrado feito pelos responsáveis dos estudantes.

Verifica-se que a seleção dos alunos pode interferir nos resultados escolares; contudo, não é fator determinante para o sucesso ou fracasso escolar. Nessa perspectiva, apresentaremos outros possíveis fatores que influenciam no desempenho dos estudantes.

A comprovação da influência dos fatores externos nos resultados escolares expõe a situação de exclusão social de grandes grupos populacionais. Sobre isso, Ferrão e Fernandes (2003) alertam para o fato de que “a associação entre os resultados escolares e o capital humano das famílias […] corrobora a tendência para a reprodução de desigualdades sociais na formação do capital humano das gerações futuras”.

Soares (2006) reafirma que o desempenho acadêmico é determinado por uma gama de fatores que vão desde os valores da sociedade até as leis educacionais, a administração dos sistemas de ensino, a família e a comunidade e, por fim, a escola. Há, segundo ele, um efeito tanto direto como indireto das condições econômicas no desempenho dos alunos. Isso não

significa a impossibilidade de a escola exercer uma influência positiva sobre a aprendizagem, porém haverá necessidade de um esforço maior para garantir a qualidade do ensino em regiões de concentração de famílias empobrecidas.

Bonamino et al (2010), em sua pesquisa sobre “os efeitos das diferentes formas de capital no desempenho escolar”, destacam dois entendimentos sociologicamente significativos relacionados com o conceito de capital social familiar. O primeiro resultado sinaliza o “diálogo familiar” como um elemento com grande poder explicativo do desempenho escolar, independente do capital econômico. Já o segundo resultado da análise diz respeito às variáveis “posse de bens” e “recursos educacionais familiares”, o qual, segundo as autoras, consentiu averiguar como arranjos estruturais diferenciados de capital econômico e social se relacionam com o desempenho escolar.

Entre esses arranjos, os efeitos mais ilustrativos da potencialidade desse tipo de análise para a compreensão da mobilização de capital social baseado na família são os relacionados com “Alta posse de bens/Baixa posse de recursos educacionais familiares” e “Baixa posse de bens/Alta posse de recursos educacionais familiares”. O primeiro arranjo permite concluir que, apesar de as famílias possuírem alto capital econômico, este não é disponibilizado na forma de recursos educacionais para apoiar a escolarização dos filhos. Nesse grupo, os estudantes têm, em média, desempenho abaixo da média geral (401 e 407, respectivamente), indicando baixa mobilização de capital social familiar. Em contraste, o alto grau de mobilização de capital social identificado pelo segundo arranjo mostra que, a despeito de as famílias deterem baixo capital econômico, disponibilizam para seus filhos recursos educacionais que redundam em um desempenho acima da média geral (411 e 407, respectivamente). (BONAMINO et al, 2010, p. 497)

Desta forma, os autores concluem que, em países com características socioeconômicas semelhantes às do Brasil, o capital social baseado na família é relevante para a vida e a aprendizagem escolar dos filhos. Sobre essa questão, Guará (2009, p. 70) pondera que “consideramos que todo aluno (e toda escola) está inserido em um contexto familiar, social e político que influencia seu processo de aprendizagem, criando restrições ou oportunidades a seu desenvolvimento”.

A autora avalia ainda que o desejado avanço no desempenho escolar dos alunos depende, portanto, de ações educativas que se completam numa perspectiva mais ampla, “que não apenas focaliza as possibilidades e condições escolares, mas também se articula a diferentes agências de educação” (GUARÁ, 2009, p. 69).

Soares e Andrade (2006, p. 110) retratam que atualmente são reconhecidos “os fatores que determinam o desempenho cognitivo do aluno pertencem a três grandes categorias: a

estrutura escolar, a família e características do próprio aluno”. Nesse sentido, iremos abordar na próxima seção a estrutura escolar a partir da perspectiva da gestão pedagógica.