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A metodologia psicodramática compreende contextos, elementos, etapas e técnicas que auxiliam o profissional "na leitura dos fenômenos grupais e no manejo técnico" (Malaquias, 2012). O trabalho psicodramático é realizado, considerando a realidade suplementar. Ela é uma realidade cósmica onde tudo é possível (Moreno, 2001). Não tem barreira de tempo e o limite

é a imaginação. Segundo a autora, nesse contexto do "como se" estão presentes o passado e o futuro, é um lugar mágico em que tudo ganha vida e tudo pode acontecer. Ela é um instrumento cênico, é o próprio palco do ato teatral ou da dramatização.

A realidade suplementar é usada como espaço de cura (Moreno, 2001), um espaço seguro em que a pessoa pode vivenciar suas questões e receber o devido apoio emocional para encarar as questões. Em seu livro, Moreno (1978) afirma que a única maneira que temos para resolver uma questão é estando presente na situação, e o teatro e a realidade suplementar são o instrumento que permite que a pessoa reproduza de forma mais fiel a situação de modo que ela possa, dentro do problema, resolver sua questão. A realidade suplementar é um facilitador do empoderamento e transformação das pessoas (Moreno, 2001).

Segundo Perazzo (2010), a realidade suplementar nos leva para o plano da fantasia e se mostra uma ferramenta poderosa para acessar o intangível, e reconstruir modelos, pensamentos, valores, atitudes e comportamentos. Ela oferece ao grupo um lugar confortável e seguro para se reorganizar. As técnicas facilitam e traduzem as comunicações permitindo aos participantes se colocarem de maneira plena e verdadeira. Por onde passa, o Psicodrama toca corações e mobiliza pessoas dentro desse espaço imaginário do como se, onde tudo é possível.

1.4.1 Contextos

Moreno considerava três contextos: o social, o grupal e o dramático (Malaquias, 2012). O contexto social compreende os papéis sociais que desempenhamos no dia a dia, e as relações complementares que desenvolvemos. Eles são visíveis e caracterizados com o tempo pela conserva cultural. O contexto grupal diz respeito ao espaço criado por um grupo, seja ele físico ou subjetivo, que envolve as comunicações e papéis que surgem a partir das relações estabelecidas dentro do grupo, assim como as conversas co-conscientes e co-inconscientes.

O contexto dramático acontece no palco dramático durante a prática, é o espaço do "como se" onde se desenrolam as cenas, e onde os ego-auxiliares assumem papéis que interagem com o protagonista. O contexto dramático é o espaço de realidade suplementar, em que os sujeitos, ao se sentirem aquecidos e continentes, irão buscar apresentar e criar a ação e é o lugar onde os papéis psicodramáticos ganham espaço para se desenvolver em sua espontaneidade.

1.4.2 Elementos

Moreno considera cinco elementos presentes na prática, são eles: o diretor, o ego- auxiliar, o protagonista, a plateia e o cenário (Malaquias, 2012; Nery, 2010). O diretor é o produtor e coordenador do grupo, tem a função de colaborar para que o grupo desenvolva o trabalho, tendo cuidado e expertise para realizar o feito. "Embora em papel hierárquico diferenciado, é um membro do grupo que vive empaticamente os dramas que emergem" (Nery, 2010, p. 123). O ego-auxiliar está a serviço do grupo e do diretor (Malaquias, 2012), e pode ser treinado ou não (Nery, 2010). Treinado é o profissional colaborador da prática, podendo ser mais de uma pessoa. O ego-auxiliar não treinado é qualquer membro do grupo que venha a participar e contribuir com a produção sociodramática. A dupla de ego-auxiliar e diretor é denominada unidade funcional (Nery, 2010).

O protagonista é o representante emocional grupal do drama trazido pelo grupo naquele determinado momento, "que se dará sempre por intermédio de personagens, reais ou simbólicas, metafóricas, exclusivas do contexto dramático" (Alves, 1999, p. 91). A plateia são todos os membros presentes restantes e possuem o papel ativo de interagir e colaborar com a produção, diferente de uma plateia passiva que somente assiste. O cenário ou palco, é o espaço dramático do "como se", onde a ação acontece (Nery, 2010).

1.4.3 Etapas

A prática sugerida por Moreno segue quatro etapas, como explicadas por vários autores, sendo um exemplo, Bustos (2005). A primeira etapa é o aquecimento que, por sua vez tem dois momentos, inicialmente se realiza o aquecimento inespecífico, para aquecimento físico e preparo para a ação. Em seguida, é realizado o aquecimento específico que também tem o propósito de preparar para a ação, mas já é direcionado para o tema em questão e preparo da cena. A segunda etapa é a dramatização, com a emergência do protagonista e do tema protagônico, o diretor utiliza as técnicas psicodramáticas para ajudar o protagonista a desenvolver sua cena e buscar chegar a uma cena reparadora (Nery, 2010).

A terceira etapa é o compartilhar ou sharing. Nesse momento, os participantes do grupo compartilham seus sentimentos e como a cena apresentada tem relação com suas vidas pessoais e questões. Bustos (2005) chama a atenção para que esse momento não seja contaminado por uma comunicação de julgamentos, críticas e resoluções e sim, que seja um momento de identificação em que os membros do grupo expressem como aquela prática se relaciona com a sua vida. Esse é o momento em que acontece a catarse de integração.

A quarta etapa, chamada processamento, tem caráter didático de analisar a prática sob a luz da teoria psicodramática e observar qualidades e sugestões de melhoria. Segundo Bustos (2005), tem maior incidência em grupos formados por profissionais da área que têm interesse em aprofundar o conhecimento a respeito da prática. Diferente do compartilhar, o processamento tem caráter técnico, demanda um distanciamento em termos racionais, representando uma "ampliação da vivência afetiva" (Aguiar & Tassinari, 1999, p. 114).

1.4.4 Técnicas

Em seu livro, Maria da Penha Nery (2010) descreve com clareza as técnicas psicodramáticas. Elas são: duplo, solilóquio, espelho, inversão de papel e interpolação de

resistência. No duplo, o ego-auxiliar ajuda o protagonista a expressar um sentimento ou pensamento que está tendo dificuldade, assumindo o lugar do protagonista e dando voz à sua angústia. A técnica do solilóquio consiste no personagem realizar os seus pensamentos em voz alta para que possam ser compartilhados com os outros atores e com a plateia. A técnica do espelho promove o afastamento da pessoa do personagem, permitindo que ele se olhe de fora da cena. A interpolação de resistência consiste em acrescentar um elemento novo e inesperado na cena para provocar a reação espontânea dos atores.

A inversão de papéis é a técnica mais terapêutica, pois resulta no aprendizado de papéis sociais (Nery, 2010). Ela consiste em colocar o ator para olhar o mundo sob o olhar, os pensamentos, crenças e valores do outro. Ela amplia o olhar do mundo e do outro e melhora a capacidade imaginativa e intuitiva. Essa técnica traz conteúdos inconscientes capazes de ampliar a capacidade empática e fazer o encontro acontecer.