• Nenhum resultado encontrado

Trata-se de um caso pequeno, porém adequado a nos revelar as condições espirituais de nosso mundo atual. E isto é o que mais interessa observar. O Prêmio Nobel da Literatura de 1964 foi outorgado a Jean-Paul Sartre. Quem era Sartre?

Em primeiro lugar, é absurdo negar a existência de Deus, como o faz Sar- tre. De uma coisa que verdadeiramente não existe não se possui sequer a ideia, e quando se nega sua existência, é porque essa coisa é conhecida, o que signi- fica que existe. E quanto mais se nega sua existência, tanto mais o próprio fato de negá-la prova que ela existe. Mas, então, o que se quer negar quando se nega a Deus? Com a própria negação, pretende-se destruir não a existência de Deus, o que é impossível, porque ela não depende das nossas opiniões, mas somente a afirmação e a ideia alheia de que Deus existe. Isto não passa de uma guerra entre pensamentos humanos opostos, fato com o qual a existência obje- tiva de Deus nada tem a ver. Assim ele continua existindo independentemente das afirmações ou negações humanas, que não vão além de quem as expressa e, obviamente, nenhum poder tem sobre a existência de Deus.

Não tendo bases objetivas, a negação de Sartre não é o resultado positivo de observações baseadas em fatos e deduções racionais deles extraídas. A sua negação é simplesmente um estado psicológico seu, como reação aos duros sofrimentos que encontrou na vida. Arrastado pela Segunda Guerra Mundial, com sua terra invadida, oprimido e isolado, forçado ao silêncio, a uma vida subterrânea, num ambiente inimigo, prisioneiro num campo alemão de con- centração, cavou dentro de si, no seu eu, e extraiu essa filosofia desesperada que se chama existencialismo. Os seus romances apresentam uma série de cri- ses emocionais, tristemente vividas por pessoas atormentadas. A sua mais im- portante obra filosófica é um tratado com cerca de 700 páginas, intitulado

L’être et le Néant5.

“Diz-me como reages e direi quem és”. Golpes na vida há para todos. Dian- te deles, cada indivíduo reage de forma distinta e, com isso, revela a sua ver- dadeira natureza. Não sendo positiva a sua filosofia, a única coisa que Sartre pode nos oferecer é nos mostrar seu tipo de reação. Ao expressá-la, atribui a causa a Deus, ao absoluto, à filosofia, ao mundo, mas, na realidade, expressou

apenas a sua reação pessoal, não fazendo mais do que se revelar a si mesmo, elevando a sistema filosófico, como premissa axiomática e indiscutível de ca- da afirmação sua, a sua forma mental, o seu temperamento, o seu tipo de per- sonalidade e, portanto, seu modo de reagir. Pode-se afirmar isto porque, em iguais condições de opressão e de dor, outros indivíduos, de diferente estrutura mental e moral, reagiram de um modo totalmente diverso e, fazendo aflorar elementos opostos aos negativos, responderam não com uma reação egocêntri- ca contra Deus, mas sim com a afirmação de Sua ordem vitoriosa sobre o mal, reencontrando nessa ordem, em defesa da própria vida, o manancial da própria potência espiritual.

Então, a filosofia de Sartre não é uma filosofia de potência, apoiada em ba- ses positivas, mas sim de fraqueza, porque se apoia sobre bases negativas, tal como o egocentrismo do indivíduo que se auto eleva, pretendendo substituir-se a Deus; não é uma filosofia de esperança e salvação, mas de desespero e per- dição; não é a filosofia de quem vence, mas de quem fica derrotado na luta pela sobrevivência. A própria vida, medindo tal filosofia negativa com o seu metro biológico positivo, condena-a perante o supremo fim da sobrevivência, como sendo uma coisa gasta, decadente, antivital. Nietzsche, outro negador de Deus, teve pelo menos, se bem que emborcada, uma fé involuída, mas podero- sa e vital, acreditando num super-homem bestial, arremedo de herói satânico, que tem a força de se erguer num desafio diante de Deus, possuindo a coragem de conduzir, sozinho contra todos, uma luta sobre-humana para se manter e vencer em posição de anti-Deus, como dominador do caos.

Em Sartre não há sequer esta força positiva que, apesar de involuída e hor- rorosa, ainda assim constitui uma tentativa de potência e grandeza. Em Sartre, a vida retrocedeu um passo a mais em direção à anulação. Ele expressa e per- sonifica o processo humano, hoje em andamento, de destruição dos mais altos valores morais, que são a única perspectiva de um futuro melhor, a esperança na qual a vida se aferra, a antecipação do ideal ao longo do caminho da evolu- ção para dar a força de chegar até lá. Em vez de avançar para ascender e viver sempre mais, Sartre nos canta a marcha fúnebre da vida. Em lugar de despertar o espírito com altos conceitos vivificantes, a mente se esvazia no nada, a alma se apaga sem esperança, tudo se afunda na negação. Sartre se enxerta na anu- lação espiritual e moral dos tempos modernos, que ele simboliza e reflete, des- cendo ainda mais do que Nietzsche. A pintura, a escultura, a música – nas suas loucas expressões, negadoras de qualquer princípio de harmonia ou beleza e

feitas de deformações involuídas que se querem fazer passar por profundos conceitos – assim como outras formas da arte e do pensamento, encontram-se hoje em fase de destrucionismo. Vivemos na época das demolições.

É verdade que a velha casa está podre e está sendo destruída. Mas a vida ao negativo é morte. Em nossos dias há que se contrapor à negação uma paralela afirmação, que permita à vida ressuscitar em outra forma. De momento não se veem sinais de reconstrução de uma nova casa, que, no entanto, é necessária para se poder viver em qualquer lugar. Sartre é simplesmente um destruidor que tende ao vazio, através da anulação das ideias fundamentais, fruto do tra- balho milenar que conduziu à conquista dos mais altos valores da humanidade, os quais são, perante a evolução, inclusive biológica, de primeira necessidade. Os homens práticos, de ação, poderão zombar destas afirmações, para eles teóricas e fora da realidade da vida. Mas não sabem que a demolição espiritual implica, como consequência, na demolição material – a qual representa a últi- ma fase do mesmo processo de destrucionismo – fazendo-se, nesta forma con- creta, compreensível a todos, quando já é demasiado tarde para deter o movi- mento. Mesmo que o mundo não compreenda isso, a destruição dos valores espirituais, que constituem o mais precioso tesouro para o homem atual, leva à destruição dos materiais, dano provocado por ele próprio com a inconsciência de uma criança que, brincando com um revólver carregado, poderá matar-se a qualquer momento. Para melhor satisfazer a voracidade do estômago, é mais prático e de tangível utilidade imediata eliminar o esforço de fazer o trabalho de alimentar o cérebro. Assim se goza e se engorda. Possuirá, porventura, o estômago a sabedoria e a consciência para dirigir os movimentos do corpo? Aonde irá ele terminar, se for abandonado a si próprio? Assim como a defesa e a sobrevivência do corpo depende da direção do cérebro, que o move, também a conservação dos bens materiais depende da existência das diretivas espiritu- ais. Hoje, neste mundo, devido à potência dos meios destrutivos, é necessário redobrado juízo para não acabarmos nos matando a todos, impulsionados por desapiedados egoísmos. Vai-se perdendo a cabeça ao eliminar esses freios espirituais, feitos de ordem e justiça, que são os mais aptos para nos salvar.

É alarmante que o mundo tenha respondido à tendência destrucionista de Sartre sem reagir ou se rebelar, mas sim seguindo-o. Isto é grave, porque prova também que o mal não é a exceção de um caso individual, mas sim um fato coletivo, dado por uma corrente psicológica, expressa com a filosofia da moda, que se chama existencialismo. Se não se trata de um caso isolado e isolável, se

o mundo aceita Sartre, se este é o tipo de pensamento que a Europa, à frente, como representante do ponto mentalmente mais avançado – o cérebro do mundo – lança como modelo de vida, então devemos crer que tudo está se desfazendo, porque o cérebro está gasto e segue à deriva, sem diretivas. Esta- mos, pois, em fase de involução ao invés de evolução; caminha-se para trás, e não para diante. Quem conhece as leis da vida sabe que terrível coisa significa, em termos de embrutecimento e dor, um retrocesso involutivo. Quando a ca- beça se põe a olhar para trás, todo o corpo a segue e se põe a caminhar na mesma direção. Se não há reação ao mal, este entra e vence, destruindo o or- ganismo. Quando, na alta cultura, encontra ressonância o que é corrosivo e destrutivo, então é a própria vida que está ameaçada nas suas primeiras origens espirituais. Isto não é questão de fé ou de opinião. Falamos em termos de uma biologia positiva do espírito, que, para quem a conhece, é cientificamente con- trolável. Quando vemos que os bons exemplos passam despercebidos, sem despertar eco algum nos espíritos, quando vemos que os maus exemplos são espontaneamente seguidos, despertando ecos, interessando à crítica e encon- trando seguidores, então devemos concluir que se deu a precipitação pelo ca- minho da negação e o pior está por acontecer, porque se vai em direção ao vazio e ao nada, onde a vida se apaga.

O fato de, neste ano de 1964, ter sido conferido a Sartre o Prêmio Nobel de Literatura, que representa o pensamento oficial, julgado o melhor produzido em nosso tempo, confirma as precedentes afirmações, havendo motivo, então, para se crer que foi conferido em sentido oposto ao desejado pelo próprio Al- fred Nobel, fundador do prêmio. Pode-se assim compreender o erro e o perigo que este estímulo representa. Não se trata apenas de ter tirado uma ajuda para os construtores, mas de ter ajudado aos destruidores, acelerando a velocidade na descida. Não se pode deixar de ver em tudo isto uma vingança histórica, lançada em direção destrutiva, que se inicia no campo espiritual e que, no ter- reno material, está sendo preparada com a contínua e sempre mais difundida construção de bombas atômicas. Assim, o destrucionismo no campo espiritual chegará até às últimas consequências no campo material. Vivemos num uni- verso em que tudo está ligado e repercute de um polo ao outro, de modo que nenhum movimento pode isolar-se das suas repercussões.

Falamos de vingança histórica. Não é possível que a ameaça de um cata- clismo possa ser justificada como resultado somente da inabilidade ou inexpe- riência de quem o provoca. Mesmo que na superfície seja ao contrário, o que

rege na profundidade da vida é um princípio de justiça, pelo qual o que nos acontece, em bem ou em mal, é merecido. Assim, quando durante séculos acumularam-se erros e culpas, continuando-se a cometê-los hoje, com acrés- cimo de potência e requinte; quando o pensamento filosófico, em lugar de di- rigir, é um cancro que corrói e a ciência, o mais alto produto da inteligência, prepara a destruição da humanidade, perguntamo-nos, então, se não será mere- cido e fatal o destino que cada um terá de cumprir? Há quem creia que basta negar uma coisa para que ela deixe de existir, que seja suficiente ignorar as leis da vida para que elas deixem de funcionar!

Já falamos de uma grande alma, Teilhard de Chardin, que trabalhou no sen- tido construtivo, oposto a Sartre, para trazer um ideal à Terra, e não para des- truir os vestígios de outros; para nos fazer avançar, e não para nos fazer retro- ceder evolutivamente. Como cientista, ele procurou nos trazer Cristo pelas vias positivas da observação e da lógica. Mesmo assim, foi condenado pela sua Igreja ao silêncio e a morrer tristemente no exílio. Eis o tratamento que em nosso mundo obtêm os construtores. No entanto eles são indispensáveis à vida, para compensar o trabalho dos destruidores, que tendem a deixá-la abandona- da no vazio. Junto aos cemitérios cheios de túmulos, é necessária uma contí- nua produção de recém-nascidos. Somente vive-se enquanto se caminha. Li- vremo-nos de parar ou retroceder. A Igreja se alia com os distribuidores do Prêmio Nobel e realiza o mesmo movimento, seguindo o mesmo caminho, que vai no sentido oposto e conduz ao mesmo resultado. Tudo caminha na direção negativa, tanto no caso de Sartre como no de Teilhard de Chardin, uma vez que, por um lado, estimula-se o mal e, por outro, obstaculiza-se o bem. O pon- to de chegada é o mesmo. Impulsiona-se o avanço dos destruidores e paralisa- se a obra dos construtores. Colabora-se em plena concórdia. A conclusão não pode ser outra senão aquela que explicamos. Quando se trata de uma vingança histórica, portanto de um destino merecido, este se torna fatal. Quando se op- tou pela corrida em descida e já não é possível deter-se, então, para que a Lei se cumpra, ficamos cegos, não sendo mais capazes de ver o perigo nem a pró- pria salvação. E talvez o drama do atual momento histórico consista justamen- te nesta cegueira, necessária para que se faça justiça.

Sim! Neguemos os valores superiores! Emborquemos as partes. Ao invés de colocar o estômago a serviço do cérebro, coloquemos o cérebro a serviço do estômago. Abandonemos o leme da vida, deixando-a ir à deriva, sem dire- tivas, em vez de guiá-la com sabedoria, mantendo-a ao longo do caminho da

evolução, que conduz à salvação. Onde pode ir bater um automóvel numa cor- rida, quando o motorista está enlouquecido? Esqueçamo-nos da fundamental função biológica de orientação que os ideais cumprem para nos levar em dire- ção ao melhor. Assim seremos presos no vórtice medonho dos retrocessos in- volutivos, que se fecham em espirais cada vez mais estreitas, até chegar ao fim, com a destruição da raça humana, caso esta se demonstre inepta para a vida. A vida já destruiu outros tipos biológicos que se colocaram nessas condi- ções e, portanto, está pronta a fazê-lo também com o homem. Sabemos que este é o seu sistema. Tornemo-nos loucos então. Mas a vida não brinca!

Há dois milênios que o cristianismo luta para civilizar o homem, realizando um trabalho paralelo ao das religiões irmãs nos outros continentes. Agora de- sencadeia-se de novo a besta, que já não possui somente dentes caninos e gar- ras, flechas e espadas, mas também bombas atômicas! Premiai os destruidores! Que o mundo os proclame e os siga! Sufocai os construtores, fazendo-os mor- rer sepultados no silêncio! Ciência, filosofia e religião, todos parecem ignorar as leis que regem estes erros. Admita-se ou ignore-se Deus, estas leis funcio- nam, sendo feitas de forças invencíveis, cuja atuação se dá segundo princípios que nenhuma negação pode anular. Constituindo alimento vital, estas forças exaltam a quem trabalha segundo a sua ordem, mas se negam e esmagam a quem tenta rebelar-se, indo contra a sua corrente. Negai, negai! Mas negareis antes de tudo a vós próprios. Destruí e sereis destruídos. O que lançais para fora de vós cairá sobre vós. Este é o produto que advirá de vossa atual semea- dura e que pesa sobre o mundo. Daquilo que foi feito ninguém pode escapar às consequências, pois elas são merecidas. De nada serve negar. Os erros se pa- gam da mesma forma. Age-se, no entanto, como se as opiniões humanas tives- sem o poder de alterar a estrutura da existência e as leis que dirigem o seu fun- cionamento. Sim, proclamemo-nos livres! Experimentemos violar as leis da vida e logo veremos o que sucede. A nossa cegueira pode nos fazer crer que sabemos vencer. Mas, quando, pela nossa astúcia, imaginarmos ter enganado a Deus, então tudo cairá em cima de nós. Destruamos os alicerces da casa da vida, suprimindo os superiores valores do espírito, e encontraremos o nosso fim. Tanta fome de liberdade, mas é somente fome de animalidade, impulso em direção negativa, para retroceder e ficar embaixo, eximindo-se da fatigante disciplina da evolução. Retroceder significa voltar aos níveis evolutivos mais baixos, onde a vida é mais dura, significa involuir até ao estado feroz da besta.

Quem sabe se não é este o futuro para o qual a humanidade está se preparan- do?

O momento é tremendo. Os velhos valores esgotam a sua tarefa e só funci- onam com esforço. Não se vê surgirem novos. Que diretivas daremos ao cami- nho da vida? Como já vimos, abusou-se tanto dos velhos ideais, que hoje, na sua forma atual, eles já não servem, embora contenham pontos a serem reno- vados. Mas, para renová-los, é necessário substituí-los por melhores, e não por piores. Para retroceder, basta não se mover. Se não avançarmos em direção aos valores superiores, continuando o caminho neste sentido, retrocederemos até ao nível animal. Em certo momento, oferecem-nos um existencialismo ateu e pessimista como sistema filosófico levado a conclusões éticas, com pretensões de moralista! Deseja-se encher o vazio com o vazio. Oferece-se como diretiva uma ausência de diretivas, ou pior ainda, uma diretiva em descida, que acelera a destruição. Esta é a vitalidade do câncer. Até mesmo este é movido por um impulso de multiplicação vital, mas no sentido da autoanulação. Temos, por- tanto, uma filosofia emborcada, dirigida no sentido de destruir a vida, porque nega o espírito, que é vida, e de nos fazer retroceder para mais longe de sua meta, Deus, ponto para o qual caminha a evolução. Num momento crítico, é necessário um impulso para diante, no entanto é dado um impulso para trás, com a oferta de um banquete de pseudovalores e de negatividade destruidora!

Em Sartre, não encontramos uma revalorização de valores, mas uma sua desvalorização. A destruição, quando se torna necessária, somente é admissí- vel como condição e primeiro momento de uma paralela construção. Aqui falta o segundo termo, que justifica o primeiro. Isto é nihilismo, desagregação do existir, triunfo do não-ser. É necessário, pelo contrário, saber reconstruir e ter a força de subir, se não quisermos deter a nossa evolução, na qual está a salva- ção. É certo que estamos carregados com todos os erros do passado, mas vi- vemos para não os cometer mais. Podemos estar cheios de imperfeições, mas vivemos para nos aperfeiçoarmos. O mundo está repleto de falsos cultos e de ideais prostituídos ao interesse, mas vivemos para nos purificar e nos aproxi- marmos sempre mais de Deus. Sobretudo no momento atual, temos necessida- de de uma filosofia sã, vivificadora, saneadora, cheia de valores vitais. Contu- do nos é oferecida, ao invés disso, uma filosofia cheia de ansiedade e de de- sespero, que não resolve problema algum. A negação mata, não saneia. Uma filosofia feita de pessimismo não pode cumprir funções vitais e curativas. A angústia só abate. Nada se pode construir sobre um estado de espírito apreen-

sivo. Poderíamos ver neste fato a verdadeira face do mundo, que nos aparece assim com uma expressão de angústia. Mas esta é a tristeza de quem perdeu o caminho da evolução e, com isso, a esperança da salvação, encontrando-se perdido e sozinho no deserto. Corresponderia à tarefa do pensador, que repre- senta a intelectualidade dirigente, o dever de orientar o caminhante desviado. Mas, ao contrário, ele faz sua esta angústia, deixando-se arrastar por ela e apresentando-a como sistema filosófico. Mas quem assume a função diretiva de médico, tem o dever de curar, tratar e dar saúde ao doente. Se, pelo contrá- rio, adoece junto com este, então usa o mesmo leito, preparando-se ele tam- bém para morrer. Um médico assim, mais doente do que o próprio doente, não serve para este, eliminando assim qualquer possibilidade de salvação.

Assim caminha o mundo de hoje, indiferente ao seu eterno destino, sem en- tender o profundo significado da existência e a sua suprema finalidade. É ab- surdo dizer: “(...) à existência febril é impossível que se chame destino (...)”, quando isso significa, para quem queira, a ascensão ao céu, a conquista de uma existência superior. Quem segue a filosofia da anulação é natural que se en- contre isolado, aniquilado, perdido no vazio, oprimido pela angústia, na qual a vida chora o seu fracasso. A negação entristece porque a vida é feita para afirmar. Este é o sofrimento dos que, repelindo a supervida do espírito, conde-

Documentos relacionados