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PARTE A – BIOGRAFANDO UM LÍDER NEONAZISTA

A.4 Explorando categorias do neonazismo: a codificação dos textos de Lane no N*VIVO

A.4.2 Sistemas Econômicos

Para ele, a construção do capitalismo, principiou-se quando, ―por volta de 1750 D.C., os níveis mais altos de Maçonaria foram infiltrados e assumidos pelos judeus‖. A América se tornou, segundo Lane, judaica ―em espírito, alma, prática, linguagem e moral‖.

<etno10>―Aceita-se dinheiro dos negros e considera esse tão verde como o dos branco‖ </etno STF - Fórum>

Essa afirmação foi feita num fórum neonazista, numa postagem de mais de 500 páginas, ao comentar a passagem em que Lane reclama que sua mãe foi desalojada por não dar conta de pagar impostos. Essa afirmação demonstra como a obra de Lane tem capilaridade no pensamento do movimento. Uma família negra foi morar na casa da mãe do escritor nazista, e isso trouxe grande irritação para Lane, que amaldiçoou mais de uma vez o governo americano por usar o fundo fiduciário de segurança social ―para criar dezenas de milhões de imóveis para não-brancos‖ e para ―impor integração, ou seja, o assassinato de nossa raça‖. Este, segundo Lane, é o modo capitalista da América, e por esse fato, ele ―cuspiu‖ em ―suas listras e estrelas‖. Ele advertiu em muitas passagens que o judaísmo controlaria o governo, a economia, a mídia e os esportes, com o objetivo de aniquilar o povo branco.

Todavia, para David Lane, o judeo-comunismo não era mais perfeito. Ele assegurou que o custo do comunismo para o mundo dos ―arianos‖ foi de ―30 a 80 milhões de mortos, dentro e depois da revolução bolchevique‖. E o pior ainda estava por vir: sob Stalin, homens arianos da Ucrânia morreriam aos milhões, e em todo o império comunista os judeus cometeram o pior dos crimes: tomaram como propriedade e prostituíram ―as garotas brancas mais desejáveis em todo o império comunista‖. Em muitas passagens ele clama para que os neonazistas do leste Europeu reajam e que os neonazistas da Rússia reconstruam o mundo branco, unindo-se aos do EUA.

A.4.3 Poligamia

A questão da poligamia aparece 25 vezes nos textos analisados pelo NVIVO, em 15 passagens diversas, pois Lane se repete bastante. Além disso, mesmo em passagens diferentes, alguns temas são muito recorrentes quando Lane trata da poligamia. O primeiro deles é a associação entre a poligamia e o fortalecimento da masculinidade, elevando-a à categoria heróica. Lane afirmou especificamente: ―uma raça de homens que são predadores sexuais lutará até a morte‖. E ainda: ―mas uma raça de homens que são predadores sexuais lutará até a morte para manter os haréns que dominam‖. E completa: ―o desejo sexual dos machos de uma raça que deseja sobreviver não deve ser prejudicado, caluniado, diminuído, mal direcionado e, em tempos revolucionários, até mesmo os excessos devem ser desculpados‖.

Lane afirmou que, apesar das controvérsias, a poligamia é ―um estilo de vida preferível‖.

<DL> Até que os homens brancos mostrem a coragem de nossos

antepassados e façam o que for preciso – recebendo o que aguarda do outro lado – não há chance de vitória. Apenas um povo cujos homens aceitam e acolhem a morte por escravidão pode ser livre. Novamente, os machos são projetados para capturar fêmeas, não imploram por seus favores. Os machos da mesma espécie colocam suas rivalidades sobre as fêmeas quando necessário para caça ou defesa da tribo ou raça. Mas, uma vez que as ameaças externas acabaram, a competição deve retomar, pois a natureza declara que "o melhor deve se reproduzir mais. <DL>

Ele apontou dois pontos a favor da poligamia:

<DL> (1) se, na guerra, a população masculina é dizimada, então o senso

comum e as leis da natureza exigem que os úteros sejam preenchidos, ou (2) na abominação de uma sociedade multi-racial, se um homem branco de energia e capacidade pode suportar muitas esposas para que seus genes tão raros devam ser transmitidos em abundância. </DL>

Lane afirma que da mesma forma que uma mãe ama igualmente filhos diversos, o homem é capaz de amar muitas esposas, e que a poligamia ―é decretada pela natureza‖. Para ele, todos os códigos sociais dos derradeiros dois séculos e dos últimos dois mil anos apenas destruíram a raça ariana. Ele se manifesta contra a Igreja ou o Estado ditarem acerca das relações sexuais para os membros da raça ariana. As mulheres brancas deveriam compreender seu papel como ―úteros brancos‖ no mundo.

Ele usa o exemplo dos Mórmons para validar a poligamia em cinco passagens:

<DL> a)Os verdadeiros maçons formaram a religião Mórmon, que originalmente era racialmente exclusiva e ensinava a poligamia. b) A lei natural é por que a escolha religiosa Mórmon original, tanto quanto possível. c) Por volta de 1830, um homem chamado Joseph Smith, juntamente com Adeptos maçônicos nos "Mistérios", formou uma religião para a preservação da raça branca. Foi chamado de Mormonismo. Estava restrito à raça branca e tolerava a poligamia. d) Como sabem, a religião Mórmon original era racista. Permitiu apenas os brancos e promoveu a poligamia. O governo americano assassinando a raça primeiro forçou-os a desistir da poligamia, então eles emanciparam as mulheres, e, finalmente, forçou os Mórmons a aceitar a integração racial. e) Sobre os Mórmons, é necessária uma pequena história. A seqüência não foi um acidente, porque uma raça de homens castrados é fácil de subjugar. </DL>

Preciso destacar que a discussão acerca da poligamia aparece muito mais nos textos políticos de Lane que em qualquer outro grupo da coletânea analisada. A sociedade pensada por ele, forjada numa masculinidade forjada em brutalidade e virilidade, não permite comportamento desviante. É impossível não pensar em Peter Gay (1995) e especificamente em Cultivo do Ódio, quando ele sujeita a construção da irracionalidade do ódio ao culto à masculinidade105. Na árvore do N*VIVO, poligamia aparece como uma estratégia para se construir um novo Vallhala. Robert Mathews, para David Lane, foi o melhor exemplo do herói que realizou esta estratégia, mas foi traído por uma de suas mulheres, que o denunciou ao FBI. Para resolver isso, Lane o recompensa, dando o nome de Trebor (―Robert‖ ao contrário, como vimos acima, pp. 67 e 68) ao protagonista de sua obra de ficção, o líder do grupo de rebeldes que realizará pilhagem, seqüestro e estupro de mulheres, odiará gays e destruirá, junto com neonazis russos, o governo dos EUA.