• Nenhum resultado encontrado

Os sujeitos da relação laboral são aqueles para os quais as normas de direito do trabalho surgem e ganham sentido. Como titulares da relação laboral, sem eles não existe qualquer situação jurídica laboral.

Antes de descortiná-los, é importante ter em conta o tipo de relação laboral, isto é, se individual ou coletiva.

Na relação individual de trabalho, podem desde logo identificar-se como sujeitos o empregador e o trabalhador. Neste particular, o conceito de “sujeito” não significa propriamente pessoa singular. Na verdade, enquanto o empregador pode corresponder a uma pessoa coletiva32, já o trabalhador deve ser

uma pessoa singular33.

No que concerne à relação coletiva de trabalho, os sujeitos revelam-se como associações sindicais e associações de empregadores, ambas com capacidade jurídica e poder para negociar convenções coletivas de trabalho. Existem também as comissões de trabalhadores, dotadas de personalidade jurídica e com funções representativas junto do empregador e ainda há que tocar, neste contexto, nos conselhos europeus de empresa.

1.5.1 Sujeitos das relações individuais de trabalho

32 Veja-se o exemplo de quando a posição de empregador é assumida por um grupo empresarial.

33 FERNANDES, Monteiro, Direito do Trabalho, p. 181; PINTO, M., MARTINS, F., CARVALHO, N.D., Comentário às Leis do Trabalho, Volume I, Lex, Lisboa, 1994, anot. II.2 ao art. 3.º, p. 39; GOMES, Júlio, Direito do Trabalho, I, p. 108 e ss; vide CORDEIRO, Menezes, Manual de Direito do Trabalho, Almedina, 1999, p. 108 e ss. – sobre a inadmissibilidade de o trabalhador ser uma pessoa coletiva.

1.5.1.1 Trabalhador

De acordo com o art. 11.º do CT, o trabalhador é a pessoa singular34que “se obriga, mediante

retribuição, a prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob autoridade destas”. Apresenta-se como devedor ou sujeito passivo da atividade e credor ou sujeito ativo da retribuição, ocupando uma posição pessoal e intransmissível no contrato de trabalho.

Atualmente, a lei, regra geral, atribui o termo “trabalhador” às pessoas que estejam a exercer uma atividade para alguém, sob um regime de subordinação jurídica35. Assim, desta noção ficam de

parte os trabalhadores autónomos e os trabalhadores em funções públicas, sendo estes últimos designados por “funcionários públicos”.

Para o Direito do Trabalho, o trabalhador é ainda aquele que está vinculado por um contrato de trabalho de direito privado.

Hoje em dia, há ainda uma tendência para a flexibilização do conceito unitário de trabalhador, assumindo mesmo em determinadas situações a existência de tipos diferenciados de trabalhadores. É o caso por exemplo, dos trabalhadores que ocupam cargos de administração, de direção ou de secretariado pessoal que estão sob um regime específico, plasmado no Código do Trabalho – o regime do trabalho em comissão de serviço36.

Noutros diplomas existem igualmente regimes especiais para certos prestadores de trabalho, tais como os trabalhadores rurais, domésticos, portuários ou da função pública37. Pode-se ainda

diferenciar os trabalhadores com um contrato de trabalho – seja em regime comum ou especial – daqueles que prestam uma atividade a outrem por intermédio de um contrato equiparado ao contrato de trabalho tal como refere o art. 10.º do CT e a Lei n.º 101/2009.

Também se podem distinguir os trabalhadores consoante, no exercício das suas funções, atuem como representantes ou não do empregador38.

Os trabalhadores podem ainda ser distinguidos consoante a sua qualificação, uma vez que o próprio Código do Trabalho leva a crer que certas profissões só podem ser levadas a cabo por pessoas qualificadas para tal, quando refere que há contratos que estão condicionados à posse de título profissional/carteira profissional39, sendo certo que “a sua falta determina a nulidade do contrato”40.

34 Se uma dada atividade for realizada por uma pessoa coletiva estamos perante um contrato de prestação de serviços e não perante um verdadeiro contrato de trabalho.

35 O art. 10.º do CT admite, porém, que o termo “trabalhador” seja empregue em certas situações em que não exista subordinação jurídica. 36Vide arts. 161.º e ss. do CT.

37 Esta distinção leva a que surjam contratos de trabalho com regime especial, que estão sujeitos às regras gerais do Código do Trabalho que sejam compatíveis com as suas especificidades. – vide o art. 9.º do CT.

38 Vide PINTO, M., MARTINS, F., CARVALHO, N.D., Comentário às Leis do Trabalho, Volume I, Lex, Lisboa, 1994, p. 14. 39 Determinada especialização numa dada área através da obtenção de um diploma universitário ou de qualquer outra aptidão.

Uma outra classificação possível pode estar relacionada com os aspetos pessoais que podem atribuir a alguns trabalhadores uma maior proteção, como é o caso dos menores, das mulheres, dos trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida ou dos trabalhadores-estudantes que usufruem de regras específicas e de maior proteção.

1.5.1.2 Empregador

O empregador é aquele que contrata a pessoa singular para, por sua conta, risco e direção, desempenhar determinada atividade, estando obrigado, em contrapartida, a pagar uma retribuição pela atividade prestada. É o credor da atividade e o devedor da remuneração. Assume, assim, uma posição de autoridade, contrariamente à posição de subordinação jurídica assumida pelo trabalhador.

O empregador, que pode ser pessoa singular ou coletiva, é ainda, regra geral, entendido como uma empresa41, devido, sobretudo, ao facto de a situação jurídica laboral ter deixado de ter por base

uma relação pessoal, passando os contratos de trabalho, muitas vezes, a ser celebrados entre entidades que mal se conhecem. A empresa corresponde a uma “organização de meios (materiais e humanos) articulada ou montada por alguém para, através dela, exercer certa atividade económica”42.

Como tipos de empresas temos a microempresa – que emprega menos de 10 trabalhadores; a pequena empresa – que emprega de 10 a menos de 50 trabalhadores; a média empresa – que emprega de 50 a menos de 250 trabalhadores e a grande empresa – que emprega 250 ou mais trabalhadores43.

Para além disto, tem de ter – ainda que esporadicamente – trabalhador(es) ao seu serviço.

1.5.2 Sujeitos das relações coletivas de trabalho

1.5.2.1 Associações sindicais

As associações sindicais – previstas nos arts. 55.º e 56.º da CRP e reguladas nos arts. 440.º e ss. do CT – são estruturas de representação coletiva de trabalhadores, com vista à defesa e promoção dos seus interesses socioprofissionais.44

40 Vide o art. 117.º, n.º 1, do CT.

41 Contudo, é possível existirem empregadores que não são uma empresa, como, por exemplo, a dona de casa que contrata uma empregada doméstica. 42 FERNANDES, António Monteiro, Direito do Trabalho, 17.ª Edição, Almedina, p. 229. Outras definições de empresa vide CORDEIRO, Menezes, Manual de Direito do Trabalho, Almedina, 1999, p. 117; VEIGA, Motta, Lições de Direito do Trabalho, Universidade Lusíada, Lisboa, 8.ª Edição, 2000, p. 334; ABREU, Coutinho de, Da Empresarialidade, p. 299 e ss.; CARVALHO, Orlando de,A Empresa e o Direito do Trabalho – Temas de Direito do Trabalho, p. 227 e ss. 43 Vide o art. 100.º, n.º 1, do CT.

De acordo com o art. 440.º, n.º 3, do CT, as associações sindicais abrangem sindicatos, federações, uniões e confederações.

1.5.2.2 Associações de empregadores

A sua concretização dá-se à luz do art. 440.º, n.º 2, do CT e correspondem a um agrupamento de empregadores – sejam ou não empresas – e empresários sem trabalhadores, com vista à defesa e promoção dos seus interesses empresariais. De acordo com o art. 442.º, n.º 2, al. a), do CT, só podem fazer parte desta associação as entidades privadas, pelas mesmas razões invocadas quanto aos sindicatos.

As associações de empregadores abrangem associações, federações, uniões e confederações45, cujos significados se encontram postulados no art. 442.º, n.º 2, als. a) a d), do CT.

Às associações de empregadores são ainda atribuídos um conjunto de direitos que se encontram plasmados no art. 443.º, n.ºs 1 e 2, do CT.

No que concerne à celebração de convenções coletivas de trabalho ou de outros meios de regulamentação coletiva laboral, não só as associações de empregadores, as uniões, as federações e as confederações têm capacidade para os celebrar - à luz do art. 443.º, n.º 1, al. a), do CT– como também os próprios empregadores o podem fazer, segundo o art. 491.º, n.º 1, do CT46.

1.5.2.3 Comissões de trabalhadores

As comissões de trabalhadores encontram-se previstas no art. 54.º da CRP e disciplinadas – quanto à sua constituição e atribuições – nos arts. 415.º e ss. do CT. São formadas por trabalhadores de uma empresa e beneficiam de diversos direitos – consagrados no art. 423.º do CT – como o direito a receber a informação necessária ao exercício da sua atividade, o de fiscalizar a atividade da empresa, o de intervir na reorganização das unidades produtivas e o de participação na elaboração de legislação de trabalho e dos planos económico-sociais que contemplem o respetivo setor ou região.

Contudo, na prática, as comissões de trabalhadores têm um papel bastante reduzido47. Para

além disso são detentoras de personalidade jurídica de acordo com o art. 416.º, n.º 1, do CT e têm capacidade para o exercício de direitos e obrigações necessários ou convenientes para o prosseguimento dos seus fins, nos termos do art. 416.º, n.º 2, do CT.

45 Vide o art. 440.º, n.º 4, do CT.

46 Ao contrário do que acontece com as associações de trabalhadores, em que a capacidade negocial só é reconhecida às associações sindicais. 47 MOREIRA, António José, Compêndio de Leis de Trabalho, 11.ª Edição, Coimbra, 2002, p. 195, afirma que estão a cair em desuso, havendo cerca de 400 em todo o país.

1.5.2.4 Conselhos de Empresa Europeus48

Os conselhos de empresa europeus encontram-se regulados na Lei n.º 96/2009, de 3 de setembro, que transpôs para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2009/38/CE, e apresentam, muitas das vezes, finalidades concorrentes à das comissões de trabalhadores.

1.6 Direitos, deveres e garantias dos sujeitos das relações individuais de