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Em nossa análise est am os considerando os Superm ercados, os Hiperm ercados e as Loj as de Conveniência com o três diferentes form as de com ércio introduzidas no Brasil em três diferentes m om entos - década de 50, 70 e 80, devido a um a série de fatores sócio - econôm icos e políticos que perm itiram os seus surgim entos, principalm ente ligados às m udanças que vinham ocorrendo no espaço urbano.

O funcionam ent o 24 horas dest es est abelecim ent os m ost ra com o ocorre part e do processo de reprodução do espaço urbano na m et rópole, principalm ente o m odo de vida das pessoas, pois se estes estabelecim entos perm anecem abertos durante dia e noite é porque há consum idores e, principalm ente, a em presa tem lucro com o horário estendido de suas lojas, já que, segundo Pintaudi

“ O capitalista do com ércio procurará, de acordo com suas possibilidades de investim ento de capital o m elhor lugar de venda para a m ercadoria que com ercializa, pois sua m elhor localização j unto ao m ercado consum idor lhe perm itirá m aior rotatividade do seu estoque de m ercadorias e, consequentem ente, m aior lucro4 7” .

Segundo a ABRAS, as em presas que m antém loj as 24 horas garantem que 20% de seus consum idores fazem com pras depois da m eia noit e e os gast os com funcionários em t urno not urno não afet am em nada o lucro de um a loj a 24 horas. Segundo a Assessoria de I m prensa do Pão de Açúcar, a loj a que fecha a noite e som ente reabre após as 8: 00 da m anhã, tam bém perm anece em funcionam ento já que, alguns de seus equipam entos nunca podem ser desligados, o que significa gastos para a em presa, pois o consum o de energia elét rica e os gast os com o pessoal da segurança são os m esm os.

47 PI NTAUDI , S.M. Os superm ercados na grande São Paulo – Cont r ibuição ao est udo da

t r ansfor m ação do com ér cio v ar ej ist a de gêner os alim ent ícios nas gr andes m et r ópoles. São Paulo: USP, 1981, Dissert ação ( m est rado em Geografia) – FFLCH – USP, 1981, p.50-5 1 .

O Pão de Açúcar m ant ém em funcionam ento incessante as loj as de m elhor localização e de m aiores vendas, segundo as estratégias da em presa, onde os gast os com funcionários não acarret em em gast os excessivos para a loj a. Dest e m odo, após a m eia noit e, um a série de funções são desenvolvidas por alguns funcionários nas loj as. São tarefas de lim peza, organização dos estoques, arrum ação de gôndolas, retirada de produtos com datas de validade para vencer, arrum ação das prat eleiras com as m ercadorias que ent rarão em prom oção nos próxim os dias e rem arcação de preços. Nas loj as que não funcionam 24 horas, estas tarefas são feitas durante o dia, m as segundo a própria em presa, nessas loj as, não há problem as com os consum idores, pois são atividades feitas ao longo de t odo o dia de m odo a não incom odar os com pradores. São feit as nos horários de m enor m ovim ent o.

A partir dos questionários aplicados aos consum idores noturnos dos superm ercados e hiperm ercados da Grande São Paulo, pudem os perceber diferenças, de loja para loja, em seus consum idores. Ent retanto algum as observações são iguais para t odas as loj as, t ant o de superm ercados com o para hiperm ercados.

A sem elhança principal é quanto à proveniência do cliente. Do t ot al de ent revist ados ( 150 pessoas) , quase a t ot alidade ( 91% ) eram do próprio bairro ou do m esm o dist rit o de localização da loj a4 8. Os clientes que não eram ,

estavam de passagem pela loja, pois haviam ido a algum lugar próxim o dali e aproveit aram para fazer com pras.

Um exem plo é o das loj as Sé Superm ercados e Pão de Açúcar localizadas na Praça Panam ericana. Do total de entrevistados entre m eia noite e duas da m anhã todos eram do bairro de Alto de Pinheiros e m uitos confessaram utilizar som ente aquelas lojas, dizendo que m uito dificilm ente iam a algum hiperm ercado, m as se o necessitassem , iriam ao Carrefour do Shopping Eldorado, no distrito de Pinheiros.

Outra constatação foi a da região de Santo Am aro/ Morum bi/ Vila Andrade com cinco hiperm ercados próxim os a Ponte João Dias e as Av. das Nações Unidas e Giovanni Gronchi. Dos entrevistados entre 22: 00 e 2: 30 hs da m adrugada, a grande m aioria (90% ) eram provenientes dos distritos de Santo Am aro, Morum bi, Jardim São Luís, Cam po Lim po e Vila Andrade. O restante

48 Os super m er cados at endem pr incipalm ent e aos m or ador es do bair r o onde est ão inser idos e das

áreas m ais próxim as a ele. Já o hiperm ercado, at ende a t odo o dist rit o ( que envolve vários bairros) e aos bair r os pr óx im os dos dist r it os adj acent es.

eram do m unicípio de Taboão da Serra, que passou a contar, a partir de outubro de 2001, co m um hiperm ercado Extra.

Por est e m ot ivo que os hiperm ercados est ão crescendo em grande velocidade na Grande São Paulo, pois perceberam que seu público é efetivam ente de um a região m enor do que pensavam antes (regional), e assim , novas inaugurações ocorreram em vários distritos de São Paulo nos últim os três anos, principalm ente na periferia de São Paulo e nos m unicípios da Grande São Paulo

Sobre o perfil dos entrevistados são 78 m ulheres e 72 hom ens, principalm ente com idades variando entre 20 e 30 anos ( 43,3% ) e 30 e 40 anos ( 28,1% ) . As faixas et árias ent re 15 e 20 anos e com m ais de 60 anos j unt as, totalizaram apenas 4,54% do total de entrevistados. Vale ressaltar que durante o dia ( 6: 00 e 18: 00 horas) as m ulheres freqüent am m ais as loj as do que os hom ens, sendo o período not urno o horário que os hom ens realizam m ais as suas com pras.

Dentre as loj as visitadas e os consum idores entrevistados durante o período das 22: 00 às 6: 00 horas, visualizam os que durant e os dias de Segunda- Feira, Terça- Feira e Quarta- Feira, o m ovim ento m aior é de adultos (idade superior a 25 anos e inferior a 60 anos) e solteiros. Nas Quintas- Feiras, Sext as- Feiras e Sábados, o m ovim ent o m aior é de casais j ovens e solt eiros e aos Dom ingos, a prevalência é dos solteiros j ovens.

Quando perguntados sobre o horário de funcionam ento das loj as, havia um a unanim idade em relação aos benefícios para São Paulo destes estabelecim entos, pois, segundo os entrevistados, significavam facilidade e tranqüilidade para os consum idores. Dentre as respostas m ais encontradas dest acam os:

Ø “ Adapt ação ao crescim ent o de São Paulo” ;

Ø “ Ót im o para quem t rabalha e não t em t em po durant e o dia para est e t ipo de tarefa” .

Quando questionados sobre as diferenças entre fazer com pras durante o dia e a noite, os entrevistados diziam :

Ø “ Corredores livres, m ais rapidez nos caixas, sem filas” ;

Ø “ A circulação pela loj a é m ais fácil e posso ficar em frent e a um a seção com m eu carrinho o tem po que eu quiser lendo em balagens de produtos” ;

As loj as durant e o dia, conform e o quadro 03, est ão sem pre cheias fazendo com que as pessoas que possuem m enos t em po livre para as com pras se utilizem das noites, pois, além de perm itir m ais rapidez, o atendim ento é m elhor e podem escolher com m ais calm a as m ercadorias.

Quando perguntados sobre o por quê de estar na loj a naquela hora, as respostas eram bem variadas, das quais destacam os:

Ø “ Sem pre que t enho fom e de algo diferent e venho ao superm ercado em qualquer horário pois trabalho em casa” ,

Ø “ Passei pela avenida, vi o superm ercado abert o e decidi com prar algo” , Ø “ Saím os da igrej a e resolvem os parar para com prar algum a best eirinha” , Ø “ Trabalho longe daqui m as est a loj a est á no m eio do m eu cam inho para a

m inha casa na periferia e sem pre passo para com prar algo antes de chegar em casa” ,

Ø “ Est ávam os passando em frent e ao hiperm ercado e com o t em os que esperar m eu irm ão, resolvem os entrar e dar um as voltas” ,

Ø “ Est ou com prando m inha j ant a pois t rabalho aqui pert o e ent ro a m eia noit e e saio as oito do hospital” .

Ø “ Est o u apenas passeando para gast ar t em po e ver se encont ro algo” .

A frase “ falt a de t em po” apareceu com o um a const ant e em t odas as respost as de pessoas com m aior poder aquisit ivo com profissões com o Médicos, Publicitários, Em presários, Advogados, Engenheiros e pessoas que trabalham na área de com putação.

O t em po encont rado nest as frases é o t em po produt ivist a, ist o é, o da linha de m ontagem , da reprodução do capital: “ Tim e is m oney” . A articulação espaço- tem po vai refletir a dinâm ica das relações sociais de produção, o m ovim ent o de sua reprodução e t odos os elem ent os que a constituem , tanto dentro quanto fora da fábrica. A produção de um obj eto em si e seu respectivo tem po sai da fábrica e invade todo o cotidiano das pessoas, tornando- se discurso hegem ônico a partir da globalização econôm ica e seus efeitos na cultura e no consum o.

“ O rit m o do urbano, dado pelo processo de produção, invade a vida social e acaba im pondo aos cidadãos m et ropolit anos alguns com port am ent os de consum o, dados pela escassez do t em po4 9” .

As com pras contêm um sentido além da sim ples necessidade biológica de com er ou de se lim par, elas possuem um sentido lúdico que envolve a necessidade/ satisfação e insatisfação e é assim que se processam as atividades ligadas ao consum o, num j ogo de signos e sím bolos produzidos pela m ídia e pela publicidade que form am o consum idor e a form a de consum ir.

“ Com prar é um ato público que envolve, não apenas o preço de cust o, m as porque se é vist o pelos out ros no at o de escolher o que se t ornará refeição5 0” .

O im portante é a representação que o consum idor realiza em seu at o de com prar coisas, onde o at o de consum ir t ornou- se arte de consum ir conform e as palavras de Henri Lefèbvre.

“ O consum idor, tam bém vem consum ir o espaço, o aglom erado de obj et os nas loj as, nas vit rinas, m ost ras, t orna- se razão e pret ext o para a reunião das pessoas, elas vêm , olham , falam , falam- se. E é o lugar de encontro, a partir do aglom erado das coisas. Aquilo que se diz e se escreve é, ant es de m ais nada, o m undo da m ercadoria, a linguagem das m ercadorias, a glória e a extensão do valor de t roca5 1” .

Por esta razão, de lugar de encontro a partir da exacerbação do m undo da m ercadoria e de seu rit m o im post o aos consum idores, que podem os perceber t rês t em pos diferent es gast os no consum o de m ercadorias nas três form as em análise.

A partir do trabalho de cam po e dos questionários aplicados, percebem os tem pos de consum o diferenciados nas três form as em análise, isto

49 ORTI GOZA, S.A.G. O t e m po e o espaço da alim entação no centro da m etrópole paulista.

Rio Claro: UNESP, 2001, 195p. Tese ( dout orado em Geografia) – I GCE – UNESP, 2001, p.03

50 CERTAU, M., GI ARD, L., MAYOL, P. A I nvenção do Cotidiano 2 – Morar e Cozinhar.

Pet r ópolis: Vozes, 1998, p.127.

é, diferenças no t em po gast o para realizar as com pras, no m odo e por quem são feitas.

No superm ercado, devido a sua proporção na área de vendas, ao seu núm ero lim itado de itens vendidos, principalm ente centrados em gêneros alim entícios e de prim eira necessidade para o lar com o higiene e lim peza e a sua localização ( de sobrem aneira próxim os aos bairros residenciais), os consum idores despendem um tem po para realizar suas com pras m enor do que aquele despendido nos hiperm ercados, já que a enorm e diversidade de itens a venda e a grande proporção territorial e localização prim ordial em grandes avenidas e vias expressas, faz com que o consum idor planej e m elhor seu tem po deixando pelo m enos o dobro para ir a um hiperm ercado.

O hiperm ercado significa ter m ais tem po disponível para as com pras, prim eiram ente por causa do transporte. O autom óvel é quem dita as facilidades de com pra num hiperm ercado, pois sua localização é distante das áreas residenciais e o consum idor sai de casa e m uitas vezes enfrenta um certo tráfego nas grandes avenidas onde estão as grandes loj as. Chegando à loj a, ele procurará um a vaga em m eio a m ais de 600 no parque de est acionam ent o e se dirigirá a loja. Na entrada ele pega um carrinho e planeja passar ou não por todas as seções conform e sua necessidade de com pra e o principal, encontrar em

m eio a 10.000 m2 e m ais de 50.000 itens os que forem de seu interesse.

Nos superm ercados as com pras são m ais rápidas, pois, ainda que a pessoa tenha que se deslocar de carro, pegar carrinho e entrar na loja, a diversidade de produtos é bem inferior e não há tantas seções e tanta diversidade em produtos. Nos superm ercados, há m ais caixas rápidos de até 10 ou 20 volum es em proporção ao núm ero t ot al do que nos hiperm ercados. Em um a loj a com 15 check- outs, pelo m enos cinco ( 33% ) serão para poucas m ercadorias. Nos hiperm ercados com 60 check- outs por exem plo, o núm ero de caixas rápidos são de no m áxim o 10 ou sej a 16% do total, pois a quantidade de m ercadorias vendidas por check- out é, em sua m aioria, superior do que nos

superm ercados, o m esm o correndo com o ticket médio5 2.

Segundo o censo 2000 da ABRAS, a m aior parte dos consum idores de um hiperm ercado fazem suas com pras com um a lista de produtos que procuram e que faltam em suas dispensas, além de terem m aior tem po para realizar as com pras, j á que necessitam percorrer m uito m ais

gôndolas e seções. Mesm o assim , 70% das pessoas que utilizam lista de com pras acabam com prando m ais.

Já os consum idores de superm ercados costum am não levar listas, pois crêem ser m ais fáceis as com pras e encont ram com m aior rapidez as m ercadorias que procuram .

Baseado nisso, as grandes em presas m undiais do setor superm ercadista, têm desenvolvido novos form atos de loj as, principalm ente de hiperm ercados com m aiores facilidades para a entrada e saída das pessoas e para a busca de m ercadorias nas lojas. A francesa Auchan, a norte- am ericana Wal- Mart e a alem ã Met ro, j á possuem alguns hiperm ercados com seções t em át icas, ist o é, loj as que possuem a divisão de suas seções por cores e form at os de gôndola. Por exem plo, as seções de m ercearia e produt os elet ro - eltrônicos que j untas correspondem a 40% das vendas t ot ais em um hiperm ercado estão em lados extrem os das loj as, pois as em presas perceberam que o consum idor que vai a um hiperm ercado para fazer com pras de alim entos não passa pela seção de eletro- eletrônicos, têxtil, som e im agem , ut ilidades para o lar, bricolagem ou jardinagem , vai direto às gôndolas de alim entícios. Assim , nesses novos form atos de loj a, as duas entradas facilitam para o consum o de diferentes tipos de m ercadoria, auxiliando na m aior rapidez e conforto para o cliente.

O que foi possível observar neste prim eiro capítulo é que no cont ínuo processo de reprodução do espaço urbano, o com ércio t em desenvolvido novas técnicas de venda, e sua m aterialização no espaço acarreta novas contradições que serão condição para a repro dução do espaço urbano. A partir das relações cidade e form as do com ércio foi possível enxergar a relação condição/ produto entre am bas, onde cada um a influencia a outra e vice- versa, num incessante processo de construção e desconstrução da cidade.

O papel do com ércio para os habit ant es da m et rópole t em diversas interpretações, a partir do uso que os consum idores fazem dele. Porém , destacam os com o o principal aquele que possibilita o encontro. O com ércio é por natureza o lugar da diversidade de encontros, pois as com pras cont ém m uit o m ais do que o sim ples fato de com prar para sobreviver.

“ O act o de com prar é cada vez m ais um a at ividade lúdica. O sim ples fact o de im plicar escolha, com paração ent re diversos art igos, relação com o vendedor, cont ribui para fazer dest a act ividade um act o social; at racção exercida pelas m onst ras, a inform ação que oferecem e que a escolha pressupõe propiciam o passeio, m as a reunião de vendedores e at racção de client es reforçam a concent ração de gent e e fazem do com ércio um a função com um a fort e dim ensão social, onde o encont ro é possível5 3” .

O com ércio surge com o a possibilidade de ver e fazer algo diferente do rotineiro, pois a diversidade de situações que podem ocorrer dentro de um superm ercado, hiperm ercado ou m esm o loj a de conv eniência, atrai os consum idores para além do fato de com prar algum obj eto ou alim ento.

Ent ret ant o, o com ércio significa t am bém adapt ação aos novos padrões sociais, criando novos form atos de loj as e técnicas de venda que at endam aos m ais variados consum idores com suas diferentes necessidades e m odos de vida. O funcionam ento 24 horas é um a destas adaptações, inserindo- se com o um novo at ribut o para o rit m o da m et rópole.

O consum idor noturno é m ais um elem ento produzido pela sociedade a partir dos anos setent a no Brasil, fruto do processo de globalização que vem ocorrendo no m undo, onde novos m odelos de vida, de produção, de consum o são difundidos com o hegem ônicos e dest e m odo, a m et rópole se t orna o lugar prim ordial para reproduzir estas novas contradições.