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O supereu como constitutivo da a-nomia e do mal-estar do sujeito a-social

CLÍNICA, ÉTICA E JURÍDICA NO LAÇO SOCIAL

2.2 SUPEREU FREUDIANO, MAL-ESTAR E A RESPONSABILIDADE DO SUJEITO COMO QUESTIONAMENTO DA RAZÃO JURÍDICA NO LAÇO SOCIAL

2.2.1 O supereu como constitutivo da a-nomia e do mal-estar do sujeito a-social

O supereu freudiano não pode ser dissociado de um mal-estar que é constitutivo do sujeito. A clivagem entre o eu e o supereu é a clivagem de um sujeito dividido. Ele não é um sujeito suscetível de definição e integração, como pretende Parsons, porque a sua relação com o Outro não é uma relação suscetível de ser normatizada.

A alteridade que constitui o sujeito não o torna um lugar substancial, mas o institui numa posição perante o Outro, que o responsabiliza e o questiona. A alteridade não é, pois, um fato objetivo, mas um ato subjetivo. Na instituição do supereu — do Outro como supereu — o sujeito está, com efeito, implicado: ele é responsável pelas conseqüências de seus atos. Afinal, se o supereu é uma consciência moral, ele não o é de modo inconseqüente, porque ele produz efeitos — efeitos problemáticos: ele, ao supostamente garantir o sujeito contra as incertezas da relação com o outro, institui uma certeza arbitrária, compulsiva, insana, sem-razão. O sujeito faz-se objeto da crueldade supereuóica ao se fazer, repetidamente, objeto de uma garantia e de uma certeza, o que produz satisfação e o faz gozar.

Desse modo, a divisão subjetiva não tem a ver com a simples oposição entre dois termos radicalmente contrários — o bem e o mal, o prazer e o desprazer, a vítima e o algoz, o santo e o pecador, o ego e o superego —, porque eles se implicam. O sujeito está aí implicado, ainda que sintomaticamente não queira saber dessa implicação — disso que o implica e produz conseqüências, efeitos propriamente subjetivos, que fazem da ética, como

diz Freud, um campo “[...] rico em problemas [...]”62 — dentre eles os problemas do

masoquismo e do mal-estar na cultura:

O sadismo do super-eu e o masoquismo do eu complementam-se mutuamente e se unem para produzir as mesmas conseqüências. Na minha opinião, só assim se pode compreender que da subjugação dos instintos [pulsões] resulte – com freqüência ou em geral – um sentimento de culpa e que a consciência moral se torne tão mais severa e sensível, quanto mais amplamente se abstém o sujeito de toda agressão contra os outros.63

E ainda:

[...] a consciência moral [...] se comporta tanto mais severa e desconfiadamente quanto mais virtuoso é o homem, de modo que, em última instância, quem tem ido mais longe

62

FREUD, El malestar en la cultura, 1981c, p. 3055, tradução nossa. Consultar também O Mal-estar na Civilização (1974h, p. 149).

63

FREUD, El problema económico del masoquismo, 1981b p. 2758, tradução nossa. Consultar também O Problema Econômico do Masoquismo (1976h, p. 212).

no caminho da santidade são precisamente os que se acusam da pior pecaminosidade. A virtude perde assim uma parte da recompensa prometida; o eu submisso e austero não desfruta da confiança de seu mentor e se esforça, ao que parece, em vão, por ganhá-la [...] e se os santos se acusam de pecadores, não o fazem sem razão, tendo em vista as tentações de satisfazer seus instintos [pulsões] [...]64

A divisão subjetiva, se não é sem razão, é porque é correlata da relação supereuóica, relação com o Outro, uma relação, como vimos, sem-razão, que intima o sujeito a decidir. É o caso, por exemplo, do Homem dos Ratos, que se coloca entre a opção (ou) de casar com uma moça pobre ou de cumprir o mandamento familiar, casando-se, como o pai, com uma moça rica. Há aí um problema de decisão, em que o sujeito está implicado. De um lado, porque a imperatividade do mandamento pressupõe um campo ético e pulsional que constitui o sujeito, constitui a condição humana, ao barrar a certeza biológica de realização instintual. De outro, porque a resposta sintomática envolve uma escolha por parte do sujeito. Um sujeito que escolhe se submeter ao mandamento do Outro... ao não escolher entre as suas alternativas categóricas, já que em uma hipótese ou noutra do que se trata é de uma perda. Ao recusar, (de)negar o mandamento, o sujeito sintomaticamente o institui, por supor aquilo que o sustenta, ou seja, a possibilidade de um mundo sem perdas, um mundo onde se esconde um gozo absoluto, em que não existe a responsabilidade pelo ato de de-cisão.

A situação de não escolha, em que se coloca o sujeito, não é, portanto, decorrência de um conflito existente, de fato, na realidade. A relação causa-efeito seria, no caso desse conflito, uma relação empírica e linear, o que é incompatível com o estatuto do sujeito freudiano (e durkheimiano). Ora, como vimos, a escolha da neurose importa uma retificação subjetiva e é por isso que a neurose não funciona no discurso freudiano como um impedimento empírico. Ela não impede o sujeito de decidir frente a alternativas empiricamente dadas, mas, ao contrário, institui o sujeito em uma posição em relação ao Outro e é então condição da solução sintomática, condição da não escolha. A escolha da neurose importa a divisão do sujeito, um sujeito responsável pela de-cisão de não escolher, por escolher não decidir. Ele escolhe o sintoma para não decidir, não perder. Ele ganha o sintoma — o sofrimento sintomático importa um ganho, um gozo, um modo de gozo — e com isso não decide.

Se o sujeito escolhe a relação sintomática com o supereu, não é ou porque se quer bem, ou porque se quer mal, mas porque deseja, porque o desejo do homem é o desejo do Outro: ela importa — ao contrário do que supõe Parsons — uma alienação constitutiva na

64

FREUD, El malestar en la cultura, 1981c, p. 3055, tradução nossa. Consultar também O Mal-estar na Civilização (1974h, p. 149).

linguagem. O sujeito na relação supereuóica não é, pois, um ser-assujeitado, não é um objeto, mas se faz objeto para o Outro e goza. Ele se coloca em uma posição de objeto e é o ato de se colocar nessa posição que faz corte com o ser, produzindo um hi-ato na relação com o Outro, condição da subjetividade, da ex-sistência do sujeito.

O supereu freudiano, portanto, não substancializa o sujeito, mas o institui como sujeito dividido ao instituir a questão da de-cisão em ato. O supereu, ao pretender normatizar as relações com o outro, ao pretender regular as satisfações pulsionais e o gozo, ao pretender disciplinar a alteridade, não faz senão instaurar esta como um mal-estar constitutivo do sujeito. Se o supereu tem uma dimensão moral ou cultural, se ele tem, em suma, uma dimensão ética, ele não a tem por ser-objetivo, e sim porque atualiza o sintoma que institui o sujeito, como sujeito dividido, sujeito a-social — ele é sintomático.

O supereu em Freud não é assim compatível com o discurso da psicologia — e da psicologia social em particular. A pretensão parsoniana de instituir padrões morais ou de estabelecer a comunidade cultural, a partir de uma categoria freudiana, só é possível porque o uso que faz desta não é ele mesmo freudiano. Diferente do que pretende Parsons, a moral ou a cultura não interessam a Freud enquanto discursos que supostamente constituiriam uma Weltanschauung. Se ele as aborda, é justamente porque não constituem uma totalidade ou objetividade, mas, ao contrário, são produções subjetivas que, enquanto tais, não podem ser desconhecidas da psicanálise.

Os discursos sociais não são, pois, um problema teórico para Freud, mas um problema clínico. Freud, quando se reporta às produções sociais, não está fazendo psicologia social, ou tratando abstratamente de teoria psicanalítica, mas articulando esta aos problemas clínicos. Os problemas éticos de que falamos são problemas clínicos, o que faz possível que Freud relacione os discursos sociais às manifestações subjetivas — manifestações de um sujeito dividido, sintomático, neurótico:

As neuroses apresentam, por um lado, surpreendentes e profundas analogias com as produções sociais da arte, religião e filosofia, e, por outro, se nos mostram como deformações de tais produções. Poderíamos quiçá dizer que uma histeria é uma caricatura de uma obra de arte, que uma neurose obsessiva é uma caricatura de uma religião e que um delírio paranóico é uma caricatura de um sistema filosófico deformado.65

A ética freudiana não é assim uma ética racionalizante, mas uma ética que tematiza o problema do mal-estar moderno como constituinte da subjetividade, o que faz com que

65

Freud recuse o lugar de profeta66. A questão ética é, com efeito, inafastável de uma escolha subjetiva67. Ora, é a ilusão do acerto nessa escolha, é a ilusão de uma escolha certa sob a garantia do Outro, que constitui a escolha supereuóica. Não se trata de uma ilusão patológica: “O que é característico das ilusões é o fato de derivarem de desejos humanos” e é por isso que “[...] não precisam ser necessariamente falsas [...]”, ou seja: “Classificar-se [...] [uma] crença como ilusão ou como algo análogo a um delírio dependerá da própria atitude pessoal”68, da posição do sujeito.

A ilusão é, pois, constitutiva do sujeito. Um sujeito que ex-siste como alteridade, na relação supereuóica, na escolha desse modo supereuóico de se relacionar com o Outro. Uma escolha sem risco — supostamente serta —, mas por isso mesmo perigosa, como alerta Freud:

Qualquer escolha levada a um extremo condena o indivíduo a ser exposto a perigos, que surgem caso uma técnica de viver, escolhida como exclusiva, se mostre inadequada. Assim como o negociante cauteloso evita empregar todo seu capital num só negócio, assim também, talvez, a sabedoria popular nos aconselhe a não buscar a totalidade de nossa satisfação numa só aspiração. Seu êxito jamais é certo, pois depende da convergência de muitos fatores.69

É essa complexidade de fatores mencionada por Freud que faz da escolha subjetiva uma escolha sem-causa e do sujeito freudiano um sujeito moderno, insuscetível de regulação por qualquer norma que se pretenda uniformizante, totalizante: “[...] não existe — diz Freud — uma regra de ouro que se aplique a todos [...]”70. O sujeito freudiano, nesse aspecto, é um sujeito kelseniano.

Não existe, como o sabe Kelsen, uma norma de justiça universal, não existe um direito natural absolutamente válido, fundado na natureza ou na Razão, como já o mostra a diferença entre as normas de justiça71. A questão moderna72 — “[...] os problemas de justiça

66

Cf. FREUD, O mal-estar na civilização, 1974h, p. 170. 67

Cito Freud (O ego e o id, 1976g, p. 66-67, n. 1; grifo do autor): “A luta com o obstáculo de um sentimento inconsciente de culpa não é fácil para o analista [...] envolve, para o analista, a tentação de desempenhar o papel de profeta, salvador e redentor do paciente. Visto que as regras de análise são diametralmente opostas a que o médico faça uso de sua personalidade de tal maneira, deve-se honestamente confessar que temos aqui outra limitação à eficácia da análise; afinal de contas, esta não se dispõe a tornar impossíveis as reações patológicas, mas a dar ao ego do paciente liberdade para decidir [...]”

68

Cf. FREUD, O futuro de uma ilusão, 1974g, p. 44. 69

Cf. FREUD, O mal-estar na civilização, 1974h, p. 103. 70

Ibid. p. 103. Freud (O mal-estar na civilização, 1974h, p.105) se refere ainda à “[...] inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade”. Consultar também Rinaldi (A ética da diferença..., 1996, p. 43 et seq.)

71

Cf. KELSEN, A justiça e o Direito Natural, 1979, especialmente, p.143. 72

Essa questão moderna funda e ao mesmo tempo é, de algum modo, afastada, negada pelo projeto de purificação metodológica de Kelsen, que associa, conforme veremos, a validade normativa à norma jurídica posta por um ato de decisão da autoridade juridicamente autorizada. Mas porque (de)negada, ela retorna a partir dos impasses que a sua teoria suscita: notadamente os problemas do sentido e da legitimidade. Não um

decisivos do nosso tempo [...]”73 — exige decisão, escolha. Uma escolha que não é objetiva ou essencial, porque — como o sabe Freud — ela implica a ex-sistência do sujeito na escolha da norma e no modo de se situar lógica74, ética e epistemologicamente no campo normativo.

O sujeito freudiano, desse modo, ex-siste através do sujeito kelseniano. O campo normativo não é simplesmente sem razão, por falta de norma ou pela dissolução da metáfora paterna; ele se institui como um campo sem-razão e sem-fundamento, pelo f-ato de ex-sistir a norma.

A crença de que existe uma norma anterior e superior ao sujeito, é ela própria efeito de uma posição subjetiva. Isso vale também para a suposta racionalidade absoluta da ordem jurídica moderna, que se sustenta em uma posição de crença em relação ao Outro75 e, desse modo, constitui, atualiza o mal-estar na modernidade. O direito moderno na sua função de regular o gozo não o faz de modo apriorístico ou natural, mas institui um corte constitutivo do sujeito e do seu mal-estar.

A implicação do sujeito na insanidade da norma, na sua pretensa racionalidade absoluta, é também a implicação no hiato entre o excesso e a falta de norma, implicação no f-ato da exclusão... como efeito de uma inclusão na norma. É através da implicação do sujeito que se pode modalizar sua posição de gozo perante o mandamento normativo supereuóico, categórico e é por isso que esta é condição da ex-sistência do sujeito e da produção da norma, da norma jurídica... como a-nomia.

A lacuna normativa é, pois, estrutural, como estrutural é o mal-estar moderno. Esse mal-estar é tão mais radical quanto ele não é simplesmente empírico, mas efeito do desconhecimento daquela alienação constitutiva. Ele não é uma pura violência física ou psicológica, no sentido de que reconhece um in-divíduo realmente existente, capaz de ser assujeitado, maltratado, vitimado, mas uma violência simbólica, violência real76, que institui o sujeito como sujeito dividido e produz efeitos no real do seu corpo, pela ação do imperativo categórico. Uma ação que determina o fazer do sujeito, mas da qual ele não sabe e,

sentido e uma legitimidade absolutos, mas uma legitimação que, se é de um tipo ideal, trata-se de um ideal vazio de conteúdo objetivo, que implica o sujeito, importa um ponto de vista, uma posição subjetiva, fazendo da relação social um relação problemática, contingente (WEBER, A ´objetividade` do conhecimento..., 1993) — uma relação a-social.

73

Cf. KELSEN, A justiça e o Direito Natural, 1979, p. 144. Kelsen (Ibid., p. 144) destaca dois problemas, ou seja, “[...] a questão: democracia ou autocracia e a questão: economia livre (capitalismo) ou economia planeada (socialismo)”.

74

Como veremos, para além, ou aquém, da lógica kelseniana, do que se trata é de uma lógica deôntica Ics, quer dizer, inconsistente e não trivial, que articularemos à lógica do não-todo lacaniana.

75

Ver nota supra, onde nos reportamos à sociologia weberiana (WEBER, A ´objetividade` do conhecimento..., 1993). Em relação à questão da suposição, a partir da sociologia de Durkheim, ver Capítulo 1, seção 1.2. 76

sintomaticamente, não quer saber... nem se responsabilizar, ou seja: a violência simbólica, real, funciona a partir de um desconhecimento constitutivo do sujeito.

O sujeito identificado ao mandamento Amarás ao próximo como a ti mesmo, por exemplo, desconhece que não é mesmidade, mas alteridade, extimidade77. E desconhece, que esse meu semelhante, meu próximo, é familiar e estranho, é um outro radicalmente outro que me constitui78. O complexo do próximo, que está desde o início do projeto... a-científico de Freud, e que se estrutura em torno desse vazio, dessa hiância, que é a-Coisa79, enquanto objeto radicalmente perdido, estranho, resíduo constitutivo do processo de julgar80, pode ser entendido aqui como estruturante da problemática do próximo moderno: um próximo que não faz identidade, mas diferença, ou seja, institui o sujeito como autodiferente, em um mundo de mal-estar, mundo a-nômico.

Amar ao próximo (enquanto exigência, recusada por Kelsen, de que “[...] prestemos ajuda a todo aquele que — com culpa ou sem ela — subjectivamente sofre ou se encontra necessitado”81) desconhece, em suma, o estatuto problemático do supereu, correlato do que Freud denominou sentimento de culpa82 — um senti-ment (Lacan) constitutivo do sujeito.

77

J. Forbes (In: FORBES; REALE JR.; FERRAZ JR., A invenção do futuro..., 2005, p. 33) recorre a essa noção lacaniana, para afirmar que o “[...] ‘si mesmo’ é um outro” e concordar com a problemática colocada por Ferraz Jr., relativa à complexidade do direito e da sociedade modernas, cuja discussão envolve temas como direitos humanos (para além do amor ao próximo), diferença social, funcionalidade jurídica, que implicam uma nova concepção do campo jurídico (Ibid., p. 31 et seq.), uma outra-razão jurídica. Essas questões serão retomadas, sobretudo nos Capítulos 5, 7 e 8 desta tese.

78

Cf. FREUD, O mal-estar na civilização, 1974h, p. 133 c/c p. 130-131; 134. Consultar também Rinaldi (A ética da diferença..., 1996, p. 131).

79

Lacan (O seminário - livro 7, 1988, p. 68), que se reporta à coisa freudiana (das Ding) (FREUD, Projeto para uma Psicologia científica, 1990f, por exemplo, p. 444 et seq.).

80

Cf. FREUD, Projeto para uma Psicologia científica, 1990f, por exemplo, p. 443-444. Cito Freud (Ibid., p. 444, grifos do autor): “Assim julgar é um processo [...] que só se torna possível graças à inibição pelo ego e que é evocado pela dessemelhança entre a catexia de desejo de uma lembrança e a catexia perceptual que lhe seja semelhante.” E adiante, colocando o problema da repetição: “É de se supor que [...] a imagem perceptiva seja novamente hipercatexizada [...] ela gora recordará e reviverá uma imagem perceptiva mnêmica com a qual coincida pelo menos em parte. O processo de pensamento prévio é agora repetido, em conexão com essa imagem mnêmica, embora até certo ponto, sem o objetivo que foi anteriormente proporcionado pela idéia de desejo catexizada [...] as partes discrepantes ‘despertam interesse’ e podem dar lugar à atividade de pensamento de duas maneiras. Ou a corrente se dirigirá para as lembranças despertadas e porá em ação uma atividade mnêmica sem objetivo, que assim será dirigida pelas diferenças, e não pelas semelhanças ou [a corrente] permanecerá nos componentes [da percepção] recém-surgidas e em tal caso exibe uma atividade judicativa igualmente sem objetivo.” (Ibid., p. 446-447, grifos do autor). Consultar ainda, sobre essa questão do juízo, Freud (A negação, 1976i). Ver também seção 2.2.2 deste capítulo.

81

Cf. KELSEN, A justiça e o Direito Natural, 1979, p. 59. 82

Freud (O mal-estar na civilização, 1974h, p. 146-147): “A tensão entre o severo superego e o ego, que a ele se acha sujeito, é por nós chamada sentimento de culpa; expressa-se como uma necessidade de punição.” E ainda:“O sadismo do super-eu e o masoquismo do eu complementam-se mutuamente e se unem para produzir as mesmas conseqüências. Na minha opinião, só assim se pode compreender que da subjugação dos instintos [pulsões] resulte — com freqüência ou em geral — um sentimento de culpa e que a consciência moral se torne tão mais severa e sensível, quanto mais amplamente se abstém o sujeito de toda agressão contra os outros.” (FREUD, El problema económico del masoquismo, 1981b, p. 2758, tradução nossa. Consultar também Freud (O problema econômico do masoquismo, 1976h, p. 212).