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Foram utilizados dois critérios de análise neste trabalho: no que concerne à legislação foi histórico-documental; com relação aos dados coletados das pesquisas foi utilizada a metodologia de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

A metodologia de análise do discurso do sujeito coletivo (DSC) foi proposta por Lefèvre e Lefèvre (2000, 2003, 2005, 2006) ao final da década de 1990 para ser aplicada no campo dos estudos da área de saúde como alternativa de enfrentamento dos problemas relativos à análise de corpus qualitativo e à análise quantitativa de pesquisas de opinião que findam por negligenciar1a discursividade. O desafio que o DSC buscou responder foi o da expressão do pensamento ou opinião coletiva, respeitando a sua dupla condição qualitativa e quantitativa. A dimensão qualitativa é o discurso. A quantitativa se expressa na frequência de compartilhamento de discursos entre indivíduos (GONDIM e FISCHER, 2009, pag.13).

Essa técnica de análise foi proposta pelos professores brasileiros Fernando Levèfre e Ana Maria Cavalcanti Levèfre5 como alternativa ao esquema das pesquisas puramente quantitativas onde, quando se deseja pesquisar o que pensa, ou acha, ou sente uma determinada coletividade sobre um dado tema, o modo tradicional de realizar essa pesquisa implica decompor o tema em uma série de questões fechadas com alternativas de resposta. Esse modo de pesquisar, contudo, é inadequado quando o objeto é o pensamento coletivo, porque não permite uma correta apreensão desse pensamento como objeto de investigação. De fato, no quadro da pesquisa tradicional, de base puramente

5 LEVÈFRE, F.; LEVÈFRE, A.M.C.; TEIXEIRA, J.J.V. O discurso do sujeito coletivo: uma nova

quantitativa, o objeto: pensamento fica severamente deformado na medida em que, para se enquadrar nos moldes quantitativos, precisa ser previamente reduzido à escolha (forçada) de uma alternativa de resposta dentro de um rol de alternativas arbitrariamente prefixadas, para que as mesmas escolhas por indivíduos diferentes possam ser somadas (LEVÈFRE e LEVÈFRE, 2005, pág. 9).

O intuito maior desta pesquisadora, no entanto, foi justamente o de analisar as relações de trabalho entre docentes e TAEs a partir de suas próprias manifestações, permitindo que se expressassem livremente, fora de qualquer padrão de respostas, mas que, paralelamente, permitisse, ainda, que se identificasse um ou vários pensamentos comuns de cada categoria acerca do tema proposto.

Vale aqui uma comparação com a relação terapêutica na psicanálise: um dos princípios básicos da técnica analítica consiste em deixar o paciente o mais livre possível para expressar seu pensamento, permanecendo o terapeuta numa discreta posição de escuta (LEVÈFRE e LEVÈFRE, 2005, pág. 32).

Ainda sobre o método do DSC, o casal de autores (2005, pág. 38) apresenta um roteiro para a coleta dos discursos professados pelos sujeitos sociais. Sucintamente, os quesitos mais importantes e que foram levados em conta para este trabalho:

A escolha dos sujeitos: (...) é aquela em que o pesquisador tem conhecimento aprofundado das características de todo ou de quase todo o universo a ser pesquisado, mas como se trata de um campo extenso, uma investigação qualitativa integral com toda a população seria muito onerosa e trabalhosa. Nesse caso, o pesquisador pode proceder a uma escolha intencional dos sujeitos a serem pesquisados;

Elaboração do roteiro de perguntas: Na construção do roteiro de investigação, o pesquisador deve lançar mão de todo seu tempo, criatividade, habilidade e experiência para que seja possível a elaboração criteriosa de perguntas que respondam exatamente àquilo que deseja investigar:

- Necessita de que as respostas sejam as mais espontâneas ou menos dirigidas possíveis e que, ademais, estejam sempre se referindo, do modo mais preciso possível, ao tema sobre o qual se deseja que os indivíduos falem;

A pergunta ideal: leva o entrevistado à produção de um discurso; responde com exatidão àquilo que o pesquisador está investigando; leva o entrevistado a responder o que acha e não o que o entrevistador tem em mente; é apropriada e perfeitamente compreensível pelo sujeito entrevistado.

Em face disto, a pesquisadora optou por uma única questão que, elaborada de forma ampla, foi perfeitamente adequada e compreensível pelos docentes e TAES e, ao mesmo tempo, permitiu aos entrevistados que produzissem seu próprio discurso e respondessem com exatidão ao que estava sendo perguntado:

COMO VOCÊ AVALIA A RELAÇÃO ENTRE TÉCNICOS E DOCENTES NA INSTITUIÇÃO ONDE TRABALHA? (o texto enviado é o Apêndice 3).

Findo o prazo, foram recebidas 14 respostas de TAEs e 15 de docentes, de várias unidades da UFRGS. Para a tabulação dos dados pela metodologia do DSC foram seguidos os seguintes passos (LEVÈFRE e LEVÈFRE, 2005, pág. 46):

- Foram elaborados dois IAD – Instrumentos de Análise do Discurso, um para as respostas dos TAEs e um para os docentes;

- Foram copiadas integralmente todas as respostas;

- Com o recurso do I (itálico do word) foram identificadas, em cada uma das respostas, as expressões-chaves das ideias centrais;

- Foram identificadas as ideias centrais, a partir das expressões-chaves e colocadas na casela correspondente;

- A seguir, foram identificadas e agrupadas as ideias centrais, de sentido equivalente ou de sentido complementar e etiquetado cada grupamento com as letras A B, C, D, etc.

- Para cada um dos grupamentos A B, C, D, foi criada uma ideia central que expressou, da melhor maneira possível, todas as ideias centrais de mesmo sentido;

- Finalmente, foi construído um discurso do sujeito coletivo (DSC) para cada grupamento identificado.

- Terminada a exposição dos quadros com as ICs e seus DSCs, foi elaborado um capítulo com os comentários descritivos dos dados obtidos em cada questão, da mesma forma como se comentam tabelas em pesquisas quantitativas.

5. BREVE RESGATE HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DAS UNIVERSIDADES