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Tecendo considerações sobre as feiras livres

No documento MARIA VANDA DOS SANTOS (páginas 31-34)

Foto 5 - Ituiutaba (MG): Mostra da diversificação das mercadorias na Feira do

2. A FEIRA COMO ESPAÇO DA REPRODUÇÃO DA AGRICULTURA

2.3 Tecendo considerações sobre as feiras livres

As feiras livres no Brasil possuem características regionais e diversas tipologias. Desta forma, mantêm a preservação dos costumes e tradições e, ao mesmo tempo, trazem inovações através da comercialização, ampliação socioeconômica e expansão na variedade dos produtos expostos.

Outra nuance das feiras livres é apresentada por Silveira et al. (2017), ao informar que existem no Brasil feiras livres com importante potencial turístico e que atraem sempre os visitantes que passam por essas cidades como, por exemplo, a feira livre de Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul.

Analisando este aspecto, o Estado de Minas Gerais também possui grandes feiras com forte potencial turístico, dentre elas, a feira hippie em Belo Horizonte, ou as feiras de artesanato, conforme destaca Barbosa (2008), encontradas na região norte do estado, mais precisamente, na cidade de Montes Claros onde a marca do homem e as belezas naturais estão retratados nas feiras. Por esse lado “é possível visualizar, logo na chegada da cidade, os montes de rocha calcária de coloração cinza claro. Nas chapadas entre o cinza-ocre da caatinga e o verde-amarronzado dos cerrados, os vales úmidos e verdes” (BARBOSA, 2008, p. 58).

Além disso, a importância das feiras livres no Norte de Minas é ressaltada por Fonseca et al. (2017) ao enfatizar que nesse espaço acontece o encontro entre o mundo

rural e o urbano através da comercialização de diversos produtos oriundos da agricultura familiar, funcionando, ainda, como um palco onde acontecem as manifestações culturais e as trocas de saberes entre esses dois mundos.

Por meio dessa descrição percebe-se a motivação que impulsiona a transformação do material bruto em arte através do conhecimento, saberes e sentimentos que esculpem o ato de criar de um artista. “Nesse contexto, a Feira revela-se um atrativo turístico. Torna-se uma possibilidade de desenvolvimento, pois, através da Feira, o artesanato e o folclore são inseridos no cotidiano da população” (BARBOSA, 2008, p. 58).

Ao abordar as feiras livres no estado de Minas Gerais, vale adentrar o mérito do município de Ituiutaba, onde as feiras livres fazem parte do cotidiano da cidade.

De acordo com a Secretaria de Agricultura do Município, a feira livre em Ituiutaba -MG é uma tradição, e sua valorização e preservação cabem também ao poder público municipal, uma vez que “além do seu aspecto cultural, a feira livre é também uma oportunidade para que os pequenos produtores possam comercializar sua produção, gerando renda e contribuindo com o fortalecimento da nossa economia”.

Atualmente existem na cidade além da Feira do Sindicato, mais seis feiras que ocupam e transformam o espaço urbano e que serão abordadas na seção 4, por serem consideradas como importantes centros fomentadores da economia, das tradições e da cultura local.

Conforme Medeiros (2012), as feiras livres se constituem num espaço cultural de importância significativa, uma vez que ali são apresentadas as particularidades locais, através de bens materiais como artesanato, frutas, verduras, produtos gastronômicos e bens abstratos como os costumes, o folclore, a dança e a música. Dessa forma, o turista que ali circula vivencia diversas experiências culturais ao mesmo tempo, absorvendo-as das tradições que perduram e resistem às transformações diárias que acontecem nos espaços urbanos.

Dentre as regiões brasileiras foi no Nordeste que as feiras livres conquistaram uma importância que ficou registrada, de forma concreta, na paisagem nordestina, conforme elucidação de Madeira e Veloso (2007), ao afirmar que o surgimento de cidades como Pernambuco, Caruaru e Campina Grande, situadas na Paraíba, bem como Feira de Sant’Anna, na Bahia, iniciou-se através das feiras pois, no período colonial era exigência para o consentimento de iniciar uma cidade, que fosse escolhido um dia para a realização da feira para abastecer a população do lugar com variados tipos de alimentos.

Madeira e Veloso (2007, p. 20-21) afirmam serem referenciadas muitas feiras no século XVIII, localizadas em várias freguesias como “na Mata de São João, na vila de Nazaré, Bahia, em Cruz das Almas, Pernambuco, ou em Laranjeiras, Sergipe”; destaca a Feira de Caruaru como uma das mais antigas, considerada como uma das maiores no Brasil pois nela circulam anualmente mais de um milhão de pessoas e é tida assim como um “celeiro da cultura popular, tendo no cordel, na xilogravura e na cerâmica imaginária alguns dos pontos mais evidentes de seu interesse para o patrimônio nacional”.

Comungando com a tese de Madeira e Veloso (2007), tem-se a explicitação de Dantas (2008, p. 5) que também destaca ser a feira livre um tipo de comércio que no Nordeste brasileiro obteve grande aceitação e sucesso em grande parte devido à “própria formação socioespacial da região, das condições socioeconômicas da população, dos meios de comunicação, do tipo de agricultura e pecuária praticadas na região”.

Além disso, outro fato importante é mencionado por Dantas (2008):

Devido ao nível de integração com a forma de organização social nordestina, as feiras estão profundamente envolvidas nos sistemas de mercado regional. Assim, na maioria das vezes, elas deixam de ser um fato rotineiro para assumir um papel de destaque, sendo, às vezes, difícil distinguir até que ponto a feira depende da cidade ou a cidade depende da feira (DANTAS, 2008, p.10).

Corroborando com a convicção de que a feira livre é uma sobrevivente, Bonamichi (2013, p.4) afirma que “a tradição das populares feiras livres, está embutida na cultura da vida de rua dos pequenos e grandes centros urbanos brasileiros. Ainda que historicamente remodelada, persiste até mesmo nas grandes metrópoles”.

Atualmente as feiras livres alcançaram diversos segmentos comerciais fora do tradicional hortifruti, sendo vistas como importantes eventos pelo mundo e, no Brasil, essa realidade não é diferente. As feiras temáticas como de animais, antiguidades, gastronomia, vinhos, a feira hippie, de livros, de automóveis, de negócios, dentre outras, fazem parte da programação econômica e sociocultural dos grandes centros urbanos.

Dessa maneira, levando em consideração todas as informações referenciadas entende-se que a feira livre merece ser reconhecida como um evento que além das práticas comerciais, produz uma intensa atividade social com importante potencial cultural resistente às modernidades, mantendo, assim, a preservação histórica dos atores sociais envolvidos na atividade de feirante.

Desta forma, no próximo item, o tema tratado referir-se-á às relações econômicas e socioculturais que resultam em ricas trocas de experiências no interior das feiras, mantendo vivas as tradições, a arte, a cultura e os saberes dos feirantes que, com uma diversidade de práticas e manifestações, têm registrado sua história e permanecem como sujeitos que constroem e modificam o espaço geográfico, ao mesmo tempo em que realizam sua reprodução social.

No documento MARIA VANDA DOS SANTOS (páginas 31-34)