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do VET de gorduras ou manter a alimentação habitual na perda de peso em adultos com exces-so de peexces-so20. Foram incluídos 14 RCTs, com um total de 1.805 participantes (906 submetidos à dieta com restrição de carboidratos e 899 à dieta controle) e o tempo de seguimento variou entre 2 e 24 meses. Nos estudos com menos de 12 meses de duração, observou-se perda de peso e de gordura maior nos pacientes que foram submetidos à dieta low carb. Nos estudos com mais de 12 meses de duração, a diferença na perda de peso entre os grupos não foi significativa, porém, ainda assim, houve maior perda de gordura com a restrição de carboidratos20.

Revisão sistemática avaliou 10 revisões sistemáticas com metanálise e duas sem1. Foram incluídos somente artigos que compararam qualquer tipo de dieta com baixo teor de car-boidrato com dietas controles, sem o uso de drogas ou atividade física em indivíduos com excesso de peso. Essa revisão teve como objetivos demonstrar diferenças nos métodos, na qualidade dos estudos e nas conclusões de revisões sistemáticas publicadas, além de avaliar os desfechos relacionados a peso observados nas metanálises de acordo com a qualidade das publicações. Verificou-se que, em metanálises com maior restrição de carboidratos e com duração mais curta, a perda de peso foi significativamente maior em relação às dietas com restrição de energia ou gordura. Porém, quando a quantidade de carboidratos foi menos res-trita e o seguimento mais longo, esse efeito foi atenuado. Considerando-se a qualidade das metanálises, houve superioridade da dieta low carb na perda de peso quando a qualidade foi criticamente baixa, os resultados foram inconsistentes em metanálises de qualidade mode-rada e houve pouca ou nenhuma diferença quando a metanálise tinha alta qualidade. Con-clui-se, portanto, que é o consumo de energia menor do que o gasto que leva à perda de peso, independentemente da composição de macronutrientes das dietas1.

As divergências nos desfechos observados nas revisões sistemáticas podem ser consequên-cia de diversos fatores. Observa-se variação nos métodos, o que contribui para a qualidade metodológica. A definição de baixo teor de carboidratos é variada, abrangendo desde 20g até 120g (ou 6 a 45% do VET) de carboidratos, há diferenças nos critérios de inclusão e exclusão de artigos, no número de bancos de dados pesquisados e na avaliação do risco de viés1. Além disso, os estudos nem sempre avaliaram o grau de aderência dos participantes à dieta21.

Um apontamento importante feito por Churuangsuk et. al. (2018)1 é de que a maioria das metanálises não incluiu os efeitos adversos1. De fato, poucos são os RCTs que registram esses dados, mas já foram descritos na literatura efeitos adversos como: constipação, dor de cabe-ça, halitose, cãibra muscular, diarreia e fraqueza22.

Por fim, a dieta low carb induz redução de peso em estudos de curta a média duração (3-6 meses) (Classe de Recomendação IIa, Nível de evidência A) e parece ser segura em curto prazo, podendo estar relacionada à restrição da opção de alimentos, monotonia e sim-plicidade da dieta, além do efeito mais potente da proteína na saciedade. Porém, a dieta low carb não induz maior perda de peso em relação a outros tipos de dieta em estudos de longa duração (Classe de Recomendação IIa, Nível de evidência A). Além disso, são neces-sários estudos mais longos e com amostras maiores para que seja possível avaliar o equilíbrio energético, a composição corporal, os efeitos adversos, os fatores de risco cardiovascular e de diabetes, a saúde óssea e renal e garantir a adequação nutricional durante a fase de manuten-ção de peso21, além de analisar o efeito do baixo consumo de grãos integrais, frutas e fibras, inerente em dietas pobres em carboidrato, no risco de alguns tipos de câncer1.

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REFERÊNCIAS

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Nos últimos anos, a dieta cetogênica voltou a ganhar notoriedade como estratégia para o tratamento da obesidade1 e diabetes mellitus tipo 2 (DM2), possivelmente em razão da pro-pagação de dietas que promovem rápido emagrecimento em curto prazo, como a low carb, paleolítica e Atkins2,3. Caracterizada por aumento expressivo do conteúdo de gorduras em de-trimento da baixa quantidade de carboidratos, favorece a produção de corpos cetônicos. No entanto, apesar de seu efeito agudo na perda de peso ter sido observado em alguns estudos, é importante avaliar prováveis riscos, possíveis benefícios e a sua aplicabilidade, para reduzir ou evitar possíveis prejuízos aos pacientes2.

A dieta cetogênica tem sido utilizada desde 1920 como protocolo alternativo para o tra-tamento da epilepsia refratária e se inicia com a razão gorduras/carboidratos+proteína de 3:1 ou 4:14,5. Essa proporção é ajustada para manter a cetona urinária em concentração moderada ou alta, variando entre 80-160 mg/dL. Apesar de a maior produção de corpos cetônicos poder conferir melhor controle da doença, a tolerabilidade a uma dieta muito restrita é pequena6.

A associação entre o consumo de carboidratos com obesidade se fortaleceu em função da recomendação para que a população estadunidense diminuísse o consumo de gorduras em função da alta prevalência de doenças cardiovasculares, observada na década de 1960-19707. Assim, a diminuição da ingestão de gorduras resultou em maior consumo de carboidratos8, o que coincidiu com aumento da obesidade, quando se comparou o período anterior a 2007-20089. Apesar da coincidência, essa associação deve ser analisada com cautela, pois o consu-mo de carboidratos passou de 44% para 48,7% do valor calórico total (VCT), enquanto o con-sumo de gorduras, que passou de 36,6% para 33,7% do VCT ou mesmo8. Esses percentuais

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